Pesquisa BTG/FSB: Lula sobe a 45%; Bolsonaro tem 34%
Por Gustavo Porto / O ESTADÃO
Pesquisa do Instituto FSB para presidente da República encomendada pelo banco BTG Pactual, divulgada na manhã desta segunda-feira, aponta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 45% das intenções de voto, seguido pelo atual chefe do Executivo e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), com 34%. A diferença, de 11 pontos porcentuais (pp), marca a retomada do fôlego de Lula nos levantamentos, após a pesquisa da semana passada apontar a menor diferença até então entre os dois, de 7 pp, na série histórica iniciada em março deste ano.
Com relação à pesquisa anterior, de 8 de agosto, Lula subiu 4 pp, pois tinha 41%. No mesmo período, Bolsonaro permaneceu em 34%. A alta na diferença entre os dois ocorre na semana quando começou o pagamento do novo Auxílio Brasil, de R$ 600, uma das bandeiras de campanha do atual chefe do Executivo, mas em que foram divulgadas cartas da sociedade civil pela democracia no País, uma resposta ao endurecimento do discurso de Bolsonaro contra o sistema de votação e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ciro Gomes teve 8%, 1 pp a mais do que os 7% da pesquisa da semana passada, e Simone Tebet (MDB) registrou 2%, 1 pp a menos do que na mostra anterior. Os demais candidatos não pontuaram. Brancos e nulos somaram 1%, outros 2% não souberam ou não responderam e 5% declaram não votar em nenhum dos candidatos.
Na simulação de segundo turno, Lula venceria Bolsonaro por 53% a 38%, ante 51% a 39% na pesquisa de 8 de agosto. Nessa simulação, Lula cresceu 2 pp e Bolsonaro cresceu 1 pp. Lula venceria Ciro por 50% a 29% e Simone por 54% a 26%. Ciro bateria Bolsonaro por 47% a 39% em eventual segundo turno entre Bolsonaro e Simone haveria empate técnico: 42% a 40% para o atual presidente.
Avaliação do governo
Na pesquisa, o governo Bolsonaro foi considerado ruim ou péssimo por 44% dos entrevistados, ótimo ou bom por 33%, desempenhos iguais aos da anterior, e regular por 21% (22% na pesquisa passada) A forma de governar de Bolsonaro é desaprovada por 55%, ante 54% na anterior, e aprovada por 38% (40% na passada).
A pesquisa foi feita entre sexta-feira, 12, e domingo, 14, com 2 mil eleitores, intervalo de confiança de 95%, margem de erro de 2 pp e está registrada no TSE sob o número BR-00603/2022.
A DEMOCRACIA DO IMPOSTO
J.R. Guzzo / O ESTADÃO
No Brasil desconexo, despótico e disfuncional criado nos últimos anos pela deposição dos poderes Executivo e Legislativo, e a ocupação das suas funções pelo STF, reduzir impostos tornou-se um ato “antidemocrático”. É uma das aberrações mais grosseiras desta marcha batida rumo à degeneração. Numa democracia de verdade, o Estado existe para servir à população; tem de entregar o máximo, e o melhor, pelo menor custo para o cidadão. No Brasil que está sendo fabricado pelos nossos altos tribunais de Justiça, o que vale é o exato contrário. Para salvar a democracia, dizem eles, é a população que tem de servir ao Estado – e qualquer tentativa de aliviar um pouco essa servidão é imediatamente reprimida pela junta judiciária que hoje governa este país. Menos imposto não é mais eficiência; é “populismo”, dizem seus membros. É transferência de renda do Estado para as pessoas, e isso configura crime de demagogia. Na democracia do STF, só se admite que a renda nacional faça o caminho oposto – seja transferida da população para o Estado.
O veto à redução de 35% no IPI é a última comprovação desse disparate. A diminuição do imposto beneficiaria diretamente os brasileiros, ao levar à queda nos preços de centenas de produtos que as pessoas consomem em seu dia a dia. Mas, segundo o governo do Amazonas, e mais um partido anão da extrema “esquerda” que usa o STF como seu escritório de despachantes, a redução geral de preços iria diminuir a vantagem dos produtos fabricados da Zona Franca de Manaus, que custam menos por desfrutarem de isenção fiscal. O governo, então, fez uma lista excluindo da redução de 35% uma série produtos que são montados na Zona Franca – esses continuariam com os preços atuais. Não adiantou nada. Os militantes do imposto exigiram que não se tocasse na alíquota, de jeito nenhum, e o ministro Alexandre de Moraes ficou do lado deles. O Brasil tem 220 milhões de habitantes. O Amazonas tem menos de 4 milhões. É assim que funciona o Brasil democrático do STF.
Não se trata, aí, de uma exceção. É a regra: o Supremo é hoje o inimigo número 1 da redução de impostos, por entender que isso dá “popularidade” a um governo que detesta e quer ver derrotado nas eleições presidenciais de outubro. Não se salva, nem mesmo, a diminuição de tributos que levou a baixar os preços dos combustíveis – algo de interesse absoluto, direto e urgente para o cidadão. O Supremo sabota ativamente a gasolina mais barata, ao dar licença para que os Estados, forçados por lei a reduzir seus impostos sobre os combustíveis, não paguem as dívidas que têm com a União. É a “resistência” ao “autoritarismo”.
Pré-campanha de Lula fica marcada por aperto financeiro e freio em viagens
A liberação do fundo eleitoral do PT, de quase R$ 500 milhões, deve deixar para trás um duro período da pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o partido se viu forçado a economizar devido a um aperto nas suas contas.
Despesas com contratos e dívidas judiciais —cobradas até mesmo por antigos aliados— fizeram o PT frear a agenda de viagens de Lula na pré-campanha e reduzir custos com eventos.
Programada para ocorrer há pelo menos dois meses, a viagem do ex-presidente à região Norte do país só acontecerá, por exemplo, a partir da oficialização da campanha, nesta terça-feira (16).
Ao longo da pré-campanha, o PT optou por reuniões virtuais, como na aprovação do nome do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) para vice da chapa.
A realização da convenção partidária em uma sala no subsolo de um hotel do centro de São Paulo foi outra amostra da contenção de despesas nessa pré-campanha.
O problema financeiro também pesou na substituição do publicitário Augusto Fonseca no marketing da campanha de Lula. Segundo petistas, Fonseca não contava com estrutura básica até a liberação do fundo eleitoral.
Pessoas próximas do marqueteiro diziam que o PT queria que ele fizesse uma espécie de empréstimo à campanha, bancando ele próprio a primeira parte das ações até que o partido recebesse recursos do fundo eleitoral.
Dirigentes do partido, porém, dizem que o problema para a saída dele não foi financeiro e, sim, divergências de rumos.
Já seu sucessor, Sidônio Palmeira, tem uma equipe montada, além da estrutura necessária para montagem de um estúdio na zona oeste de São Paulo.
Também por motivos de segurança, nas viagens a equipe do ex-presidente priorizou cidades administradas pelo PT, onde há presença da militância petista.
O aperto fica demonstrado em números. O PT acumulou neste ano em uma das contas do partido R$ 59 milhões, divididos entre o Fundo Partidário e doações. O total de despesas da sigla, porém, está na casa dos R$ 65 milhões.
A razão dos gastos são compromissos com dívidas judiciais antigas, contratos novos e antigos e o dispêndio em si com a pré-campanha do ex-presidente.
Além disso, o partido tem uma dívida de pelo menos R$ 6 milhões com o ex-marqueteiro da legenda João Santana. O débito com o ex-aliado de Lula levou, por exemplo, ao bloqueio de cerca de R$ 200 mil em outra conta que o partido mantém.
A situação reforçou a atuação do próprio Lula, que estimulou doações durante jantar com apoiadores em um restaurante de São Paulo. Segundo participantes do evento, Lula agradeceu as colaborações, afirmando que a iniciativa permitiria cobrir despesas até a formalização da campanha.
Desde então, o partido recebeu mais de R$ 5 milhões de doações de pessoas físicas, que podem ser usados para pagar a dívida com Santana.
Com a oficialização da candidatura, o comitê eleitoral terá acesso ao fundo eleitoral, sendo R$ 130 milhões reservados à campanha do ex-presidente.
Já para a semana, estão programados dois comícios, um em Belo Horizonte e outro no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. O ex-presidente também fará viagem ao Sul do Brasil.
Os próximos dois meses garantirão outro alívio para o PT, uma vez que os recursos não podem ser bloqueados durante o processo eleitoral.
Encerrado o processo eleitoral, o partido terá de executar a dívida contraída com João Santana, e ainda pode ter de arcar com mais despesas devido ao risco de ver a prestação de contas da campanha de 2018 rejeitada ou aprovada com ressalvas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A assessoria técnica do TSE tem feito uma minuciosa análise sobre as contas da campanha presidencial de 2018, quando Lula chegou a concorrer à Presidência da República enquanto estava preso em Curitiba.
Então na condição de vice, Fernando Haddad —que, em setembro, assumiu a cabeça de chapa— viajou pelo país em nome da campanha. Oficializada sua candidatura, foi constituído um CNPJ específico para a candidatura de Haddad.
Hoje, a assessoria técnica da corte eleitoral questiona as despesas contraídas em nome da campanha de Lula, sob o argumento que os gastos não condizem com o período em que teria concorrido.
Em um processo de cerca de 800 páginas, o TSE cobra, por exemplo, amostras de material de campanha, imagens de gravações e bilhetes de viagens.
Apesar da cobrança da assessoria técnica, o Ministério Público Eleitoral se manifestou em favor dos argumentos do PT que, após apresentar comprovantes, afirmou que o material colhido para a campanha de Lula, incluindo cenas de viagens do Haddad, foram usadas na campanha do ex-prefeito.
Tesoureiro da campanha de Haddad, Chico Macena conta que dedicou um mês à coleta de documentos, material de campanha e imagens, em atendimento às exigências da assessoria técnica de tribunal.
"A campanha é a mesma. Por uma formalidade, houve dois CNPJs", justifica.
Os problemas financeiros da legenda não são novos. No passado, o diretório estadual do PT em São Paulo teve que entregar a própria sede em razão de problemas financeiros.
Protagonismo de Michelle expõe uso ampliado da religião na campanha
Por Gustavo Queiroz, Pedro Venceslau e Davi Medeiros / O ESTADÃO
A fé ultrapassou a pregação do altar para pautar discurso político na campanha eleitoral pelo Planalto – palácio “consagrado a demônios” antes da posse de Jair Bolsonaro (PL), segundo a primeira-dama Michelle. Manifestações da mulher do presidente e de aliados puseram em alerta analistas e políticos para os riscos da intolerância religiosa, enquanto o núcleo de campanha de reeleição de Bolsonaro tenta minimizar o impacto dos episódios.
Em um culto no domingo passado, Michelle afirmou que o Planalto “hoje, é consagrado ao senhor Jesus”. Dois dias depois, em uma rede social, compartilhou um vídeo que mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no ano passado, em um ritual do candomblé, o que foi associado às “trevas”. “Isso pode, né? Eu falar de Deus, não”, escreveu.
Pela Constituição, Michelle pode falar de Deus, assim como os adeptos de quaisquer crenças têm o direito de professá-las. A própria primeira-dama já sofreu preconceito, quando, após aprovação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal, no ano passado, orou em línguas – uma expressão da fé pentecostal – e foi alvo de comentários pejorativos.
As declarações recentes, no entanto, indicam o uso de um equipamento da administração pública – no caso, o Planalto – com objetivos privados e eleitorais, o que, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, fere o Estado laico. Para o cientista político Vinicius do Valle, diretor do Observatório Evangélico, Michelle pôs a relação entre política e religião em um patamar inédito no Brasil.
“Em matéria de religião, ritualística é tudo”, afirmou Valle. “Ela (Michelle) faz um discurso com uma prosódia, um vocabulário, toda a performance de um pentecostal conduzindo o culto”, disse. Neste sábado, 13, a primeira-dama foi destaque em evento religioso no Rio. “O Estado é laico, mas eu sou cristã. Nós vamos, sim, trazer a presença do Senhor Jesus para o governo”, declarou Michelle ao participar da Marcha para Jesus ao lado de Bolsonaro.
Já o vídeo compartilhado por Michelle, segundo Valle, é uma tentativa de estimular eleitoralmente uma batalha espiritual. Nessa cruzada, ela não esteve só. Aliado do presidente, o deputado Pastor Marco Feliciano (PL-SP), que também replicou a gravação, escreveu que votar em Lula é fazer pacto com o maligno. Procurados, parlamentar e primeira-dama não responderam à reportagem.
Oscilante entre criticar Bolsonaro e buscar o apoio do presidente na corrida pelo Senado – uma iniciativa já frustrada –, a deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB-SP) afirmou discordar dos posicionamentos de Michelle. “Tenho preocupação com o tom que a nossa primeira-dama está dando (à religião na campanha)”, disse ela, que é professora licenciada da USP, lecionou a disciplina Direito Penal e Religião e, mesmo em meio a embates com o presidente, disse poder votar em Bolsonaro neste ano.
Aliados, por sua vez, chancelaram o desempenho da primeira-dama, nos púlpitos e nas redes. O senador Guaracy Silveira (Avante-TO), líder da Igreja do Evangelho Quadrangular, afirmou que a liberdade a qualquer culto é garantida constitucionalmente, mas, sobre a declaração de Michelle em relação ao Planalto, disse que “todo obscurantismo não pode ser levado ao palácio”. “O palácio tem de ser abençoado por Deus, para que os líderes abençoados por Deus possam abençoar a Nação brasileira.”
Entidades religiosas querem retratação. O Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras (Idafro), em relação ao vídeo compartilhado, avalia cobrar responsabilização do caso, cuja competência de investigação é do Ministério Público. “Do ponto de vista jurídico, é inaceitável”, disse Hédio Silva Júnior, doutor em Direito e coordenador executivo do Idafro.
Para integrantes do QG de campanha de Bolsonaro, Michelle teria apenas manifestado sua fé. Segundo eles, pesquisas qualitativas mostraram a primeira-dama popular entre as mulheres – segmento no qual o presidente enfrenta dificuldades. Ela atua ainda entre o público evangélico, no qual Bolsonaro tem avançado. De acordo com aliados do presidente, a intenção não é travar batalhas religiosas.
Conselheiro de Lula na comunicação com religiosos, o pastor Paulo Marcelo Schallenberger afirmou temer violência. “A preocupação é virar uma nova intolerância, que vai além da política, e que tragédias como a de Foz do Iguaçu entrem no campo da religião”, disse, ao se referir ao homicídio do petista Marcelo Arruda pelo bolsonarista José Guaranho.
O pastor discute com a campanha petista uma reação “urgente” ao avanço de Bolsonaro. Entre as propostas estão a realização de um culto pentecostal em São Paulo e uma live na qual Lula exporia ações em favor da liberdade religiosa.
As mulheres, hoje, são a maioria no eleitorado, e os evangélicos, cerca de 30% da população. Em Minas Gerais, o presidente reverteu, em um mês, empate técnico com Lula entre evangélicos e, segundo pesquisa Genial/Quaest, está 18 pontos porcentuais à frente.
A cientista política Silvana Krause, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), disse que a questão religiosa é decisiva. “Os neopentecostais têm sido muito mobilizados. Isso fica claro com Michelle Bolsonaro resgatando o bem e o mal, a terra prometida.”
3 perguntas para Eduardo Grin, cientista político
Atrelar a gestão pública a uma confissão fere o conceito de Estado laico?
A Constituição garante que a liberdade religiosa é um direito privado de cada pessoa. O papel do Estado é fornecer as condições para que não haja nenhuma restrição à liberdade religiosa. Quando valores religiosos passam a interferir na política pública, a gente passa a perder espaço que deveria ser da diversidade. Quando o Estado atua dessa maneira, passa a ser Estado de facção, porque deixa de atender a todos e passa a atender a sua facção. Um governo de facção é, por definição, contrário ao interesse público. Isso não só é contra o Estado laico, mas contra a democracia.
Qual papel do Estado laico?
O papel é não permitir que esse tipo de discussão, que é privada, seja transformada em algo que o governante, que deveria zelar pela imparcialidade, pela possibilidade de que todos exerçam o culto, passe a criticar e a condenar a prática de outros cultos.
Isso ocorre no ataque a religiões afro-brasileiras?
As acusações feitas por Michelle Bolsonaro associam práticas de religiões africanas ao demônio e são uma distorção daquilo que é a administração pública no Brasil. É uma manipulação da boa-fé das pessoas. / G.Q.
Desinformação viceja na leniência
14 de agosto de 2022 | 03h00
É certo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os partidos políticos e a imprensa profissional, além dos próprios eleitores, estão mais bem preparados para lidar com a desordem informacional do que estavam há quatro anos. Muitas lições foram aprendidas de 2018 para cá. Isso não significa, no entanto, que a eleição de 2022 esteja totalmente blindada contra a influência de mentiras disseminadas por candidatos e seus apoiadores. Longe disso.
Tanto é assim que, em boa hora, uma das ações preparatórias adotadas pelo TSE para a realização do próximo pleito foi convidar as grandes empresas de tecnologia que administram as redes sociais para, juntos, adotarem medidas que visam à despoluição do debate público. Os eleitores devem tomar suas decisões com base em informações fidedignas. Em última análise, trata-se de salvaguardar a própria democracia.
Em uma primeira rodada, reuniram-se com as autoridades do TSE representantes do Twitter, TikTok, Kwai, Telegram, Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) e Google (YouTube). Depois, a Corte Eleitoral também firmou parcerias com o LinkedIn e com o Spotify. A boa notícia é que todas essas grandes empresas de tecnologia reconheceram que são parte fundamental de um ecossistema de combate à desinformação, haja vista que é por meio das redes sociais e dos aplicativos de mensagens que as mentiras e distorções da realidade mais circulam. A má notícia é que, na esmagadora maioria dos casos, as chamadas big techs têm falhado miseravelmente em cumprir a parte que lhes cabe nos acordos firmados com o TSE.
Pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência & Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), da Universidade Federal da Bahia, acompanham o cumprimento desses acordos. Em relatório divulgado há poucos dias, eles alertaram que as big techs já implementaram a maioria das ações acordadas com o TSE, mas, na prática, têm demorado demais para analisar conteúdos, processar denúncias e, assim, aumentar a transparência nas redes sociais para combater a desinformação. “O processo eleitoral é muito dinâmico e, desde o último pleito, o período de campanha oficial foi reduzido para dois meses”, disseram os pesquisadores Rodrigo Carreiro e Maria Paula Almada em seu relatório. Hoje, não há prazo definido para que as empresas de tecnologia analisem e removam, quando for o caso, uma postagem com conteúdo enganoso. O prazo ideal, segundo os pesquisadores, seria de 24 a 48 horas da publicação.
De fato, agilidade é um fator determinante para a eficácia de uma ação de combate à desinformação nas redes sociais, ambiente marcado pela velocidade de propagação de uma mensagem e por seu alcance, virtualmente ilimitado. Quanto mais tempo uma publicação de teor duvidoso permanecer no ar, maior será seu alcance. Consequentemente, qualquer ação de restauração da verdade dos fatos demandará muito mais esforço, e com menos chances de ser bem-sucedida.
O Estadão procurou todas as empresas que participaram das negociações com o TSE para questionar seus prazos para processar uma denúncia de conteúdo falso. Nenhuma delas respondeu. É importante destacar que não há uma lei que determine qual deveria ser o protocolo operacional dessas empresas. E nem haveria de ter. No entanto, foram essas mesmas empresas que, voluntariamente, aceitaram o oportuno convite do TSE e decidiram colaborar para tornar as redes sociais, hoje mídias incontornáveis, um ambiente mais sadio para o debate público. Para isso, assumiram compromissos que, até agora, não têm sido plenamente cumpridos. Não é pedir muito que elas façam o que disseram que fariam.
Os dois candidatos que lideram as intenções de voto para a Presidência da República, Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), não são inocentes no que concerne à disseminação de mentiras nas redes sociais. Os petistas praticamente inventaram a máquina de destruição de reputações na internet, uma nódoa na atividade política no Brasil do século 21. Bolsonaro, por sua vez, elevou a má-fé à categoria de política de governo. De ambos, portanto, não se deve esperar bom comportamento no curso da atual campanha.