PT tenta minar impacto de indicadores econômicos de Bolsonaro e adota discurso de crescimento artificial
Por Jeniffer Gularte e Bruno Góes — Brasília / O GLOBO
A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta criar antídotos para descontruir o impacto eleitoral de indicadores econômicos que favorecem o presidente Jair Bolsonaro (PL). Apesar de um cenário desfavorável nas pesquisas de intenção de voto, o atual chefe do Palácio do Planalto diminui a distância para o petista nos últimos meses.
O crescimento do PIB — de 1,2% no segundo trimestre —, a queda no preço da gasolina — desde julho baixou19% —, recuo da inflação e a redução da taxa de desemprego (9,1%, menor taxa desde 2015) são os principais alvos da campanha petista. Os resultados econômicos foram citados por Bolsonaro durante seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidos (ONU) nesta terça-feira. A estratégia da campanha à reeleição tem sido explorar os dados para contrapor a atual gestão com os governos do PT.
O partido de Lula, contudo, adotou o discurso de que esse crescimento econômico é artificial, no qual, o avanço do PIB, na leitura de petistas, está apoiado no aumento da inflação do primeiro semestre deste ano, que atinge sobretudo as camadas mais pobres da população.
A campanha do PT também pretende apontar que o governo maquia o desequilíbrio das contas públicas com a venda de patrimônio, como a venda ações da Petrobras, Eletrobras e imóveis. Petistas afirmam os lucros da Petrobras estão sustentados na venda de refinarias e gasodutos da estatal. Para traduzir isso de maneira simples, o PT vai usar a metáfora de uma família que está vendendo os móveis para poder equilibrar as contas do mês e comprar comida, mostrando que isso, ao longo do tempo, não se sustenta.
— 2023 será um ano que o país vai mostrar uma situação muito grave. O tempo todo o presidente querendo desviar o foco, queremos levar esperança, mas também trazer o mundo real para a pauta — afirma o ex-governador do Piauí, Wellington Dias (PT-PI).
Em Londres, Bolsonaro foi a um posto de gasolina mostrar que o combustível inglês é mais caro que o brasileiro — apenas convertendo o valor das duas moedas, sem considerar o poder aquisitivo do cidadão de cada país. No Brasil, um fatores que levou à queda do preço da gasolina foi a medida incentivada pelo governo que limitou a cobrança de ICMS sobre os combustíveis pelos estados.
Porta-voz da legenda para assuntos energéticos, o senador Jean Paul (PT-RN) afirma que há uma tendência de aumento do barril de petróleo no mercado internacional demonstrado em contratos futuros que já projetam preços mais altos para a segunda quinzena de setembro, o que poderia impactar no preço na bomba. A aposta, no entanto, é de que os valores serão mantidos por interferência do presidente devido ao período eleitoral. Com isso, o PT explora a narrativa que o governo só conseguiu baixar o preço da gasolina por temer uma vitória de Lula.
— Por que não se importou antes? Nós não estamos livres da oscilação dos preços internacionais, de forma nenhuma. Continuamos igualmente vulneráveis de quando começou a alta mais alta que houve. Não foi criado conta de estabilização e nenhum mecanismo de amortecimento dos preços internacionais e os estoques estão baixos. Estão segurando os preços da Petrobras colocando a mão no velocímetro — afirma o senador.
Para contrapor os dados que apontam melhora nos indicadores econômicos, a campanha petista também deve reforçar nos últimos programas eleitorais a imagem de pessoas passando fome nas ruas, de dificuldade para encontrar emprego, do alto preço dos alimentos e do endividamento das famílias. Em quase todos os discursos, Lula toca no tema do desemprego e da falta de garantias trabalhistas para trabalhadores informais. Internamente, petistas reconhecem, no entanto, que não é simples demonstrar ao eleitor o caráter populista das medidas de Bolsonaro. Uma das estratégias é falar do efeito limitado e de curto prazo dessas ações.
Candidato a vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB) também tem dito a interlocutores que, em caso de segundo turno, a campanha deverá estar preparada para enfrentar Bolsonaro com números melhores de inflação e desemprego e com um efeito dos R$ 600 do Auxílio Brasil mais perceptível entre a população, com três parcelas pagas até a data do segundo turno e mais cadastrados recebendo o benefício. Nesse cenário, o presidente poderia se tornar mais competitivo.
Petistas apostam que o eleitor do Nordeste – justamente onde há maior concentração de público que se beneficiou com esses indicadores, mas que está tradicionalmente mais identificado com o partido – já entendeu que as medidas de Bolsonaro têm objetivo eleitoral, mas admitem efeito favorável ao presidente no Sudeste e no Sul.
— Tudo ficou tão ruim que quando aliviou um pouquinho parece que está bom, mas é muito pior do que estava antes. O que o passamos nesses últimos anos é tão ruim que não tem outra saída que não seja tentar vender ilusão que o bode da sala tirado gerou a sensação que agora vai arrebentar a boca do balão, mas não vai — afirma Jean Paul.