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Para que servem as alianças e como elas estão sendo disputadas no Ceará

Escrito por  / DIARIONRDESTE

 

Finalizado o período da janela partidária, as próximas semanas serão decisivas para os acordos pré-eleitorais no Ceará. O perfil das alianças deve dar o tom da eleição de outubro. 

Com o cenário mais consolidado do ponto de vista da representatividade legislativa, os partidos de maior capilaridade eleitoral, naturalmente, devem cobrar mais espaços nas chapas. 

Diário do Nordeste conversou com alguns dirigentes partidários do Estado para projetar os próximos passos para o ano eleitoral. 

A menos de seis meses da eleição, o Ceará tem ao menos dois palanques competitivos e que devem estar na preferência do eleitor para ocupar a cadeira do Executivo estadual. 

Capitão Wagner (União Brasil), líder da oposição, e o grupo do ex-governador Camilo Santana (PT) demonstraram, até o momento, maior capacidade para reunir força política e recursos financeiros para a campanha que se avizinha. 

E essa capacidade passa pela união de agrupamentos políticos em torno do mesmo projeto não apenas na disputa eleitoral, mas também na rotina da governabilidade. 

VICE

A queda de braço que se vê nos bastidores pós-janela é pela indicação da vaga de vice na chapa do PDT para a sucessão de Camilo Santana. 

Duas importantes forças partidárias do Ceará, PT e PSD, dialogam com os pedetistas para garantir a indicação. As duas legendas possuem a maiores quantidades de prefeituras do Ceará, atrás apenas do PDT. 

O presidente estadual do PT, Antônio Filho, o Conin, diz que o fortalecimento do partido na janela, com a segunda maior bancada na Assembleia Legislativa, e o crescimento no número de prefeituras, dá "autoridade política" ao PT para pleitear mais espaços no grupo. 

"Não vamos fazer exigências indevidas, mas apenas dimensionar o nosso tamanho real nesse processo", pontua o dirigente. 

Para Conin, a aliança partidária não deve ser apenas uma preocupação no período eleitoral, mas também vista sob o prisma da governabilidade. 

Ninguém governa só. Você tem que ter coerência com os compromissos, alianças que você faz para ganhar e para governar. Nesse momento do país a gente tem que distinguir bem quem está do lado da defesa da democracia e do enfrentamento ao negacionismo
CONIN
Presidente do PT Ceará

Quem também reivindica a indicação do posto de vice na base governista é o PSD de Domingos Filho. 

Para o ex-vice-governador, a "disputa é legítima" pelo tamanho da sigla no Estado. "O partido já tinha substância (mesmo antes da janela). O PSD nas eleições foi o que mais cresceu no Estado. Está presente em 75% dos municípios do Ceará como a primeira ou segunda força", diz.  

Domingos, que já colocou o nome para compor a chapa majoritária, avisou que não tem plano b caso as movimentações não se confirmem. "Quem trabalha com plano b é porque não tem plano a", disse.  

O presidente estadual do PDT, deputado federal André Figueiredo, aponta o protagonismo da legenda no Ceará, que tem o maior número de deputados estaduais, federais e de prefeituras. O pedetista, porém, reforça a importância dos aliados nesse processo que serão fundamentais para a eleição e governabilidade. “O PDT tem sempre dialogado com parceiros”, reforça. 

BANCADA

O MDB de Eunício Oliveira aumentou em uma cadeira a representação na Assembleia Legislativa. Agora, com seis deputados estaduais, o partido tem a terceira maior força no parlamento, e ainda negocia a postura que deve adotar nas eleições. 

O partido vem ocupando a base do Governo estadual por conta da aliança pessoal do então governador Camilo Santana com Eunício Oliveira. Durante a presidência do Senado, o emedebista se aproximou do petista em pautas administrativas. 

Com o fim do mandato de Camilo, as seis cadeiras na AL ficam indefinidas para o ano que vem. Caso se mantenham no governo, é mais um período de tranquilidade para a base com a extensa aliança. Porém, se for para a oposição pode dificultar a rotina administrativa da próxima gestão. 

"O meu candidato (à presidência da República) é o presidente Lula. Minha relação com o ex-governador é de amizade, pessoal, não apenas política. Quanto à decisão do futuro, repito, vou aguardar as federações", disse o dirigente. 

Assim como o MDB, o PT se fortaleceu na AL. Saiu de quatro para sete cadeiras no Legislativo. PSD e PP, ambos governistas, ficaram em posições intermediárias no parlamento. 

APOSTAS DA OPOSIÇÃO

Líder da oposição, Capitão Wagner (União Brasil) trabalha para atrair partidos com objetivo de fortalecer o grupo. Já fechado com o Podemos, do senador Eduardo Girão, o pré-candidato ao governo estadual ainda sonha com o apoio do PL, que é comandado pelo prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves. 

Com boa estrutura financeira, o Partido Liberal pode ajudar a consolidar a candidatura do militar reformado. A legenda, no entanto, ensaia o lançamento de uma candidatura própria que poderia fracionar os votos da direita no Estado. 

O senador Cid Gomes (PDT), porém, ainda acredita que pode reverter a situação antes das eleições, resgatando velhos aliados da legenda. O prefeito, inclusive, esteve recentemente em agenda com a governadora Izolda Cela (PDT).

Legenda: Encontro entre prefeito e governadora para anúncio de investimentos em Eusébio
Foto: Reprodução/Instagram Izolda Cela

Em meio a isso, Wagner espera que o União Brasil, sigla que preside, se fortaleça para a disputa eleitoral do Legislativo. Segundo o parlamentar, a expectativa é eleger cinco deputados federais e seis estaduais. 

O QUE É UMA ALIANÇA

Uma aliança política pode ocorrer de duas formas: legal ou informal. Os acordos são mais debatidos pela população nas campanhas eleitorais.  

O QUE FORTALECE

A aliança, seja qual for o modelo, vai atuar em várias frentes. Entre os pontos positivos para a união estão: 

  • Tempo de rádio e televisão 
  • Dinheiro para investir na campanha 
  • Apoio político para aprovar projetos 
  • Defesa da gestão no parlamento 
  • Quadros para compor a administração da gestão 

O QUE ENFRAQUECE

Apesar dos pontos que favorecem o agrupamento, há dificuldades que aparecem nessa relação. Entre os itens que podem enfraquecer as alianças estão:

  • Contradições ideológicas 
  • Fisiologismo 
  • Lideranças com imagens desgastadas 

ESPECIALISTA

Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará 

QUAL O PAPEL DOS ACORDOS POLÍTICOS PARA A DISPUTA ELEITORAL? 

A gente vive em um regime democrático que exige que os atores dialoguem para incluir o maior número e segmentos e representantes políticos nas decisões do governo. Isso implica dizer que coalizão é algo normal na política, tendo em vista esse conjunto de atores sociais e partidos políticos que acordam em torno de um projeto com objetivo de chegar ao poder. Chegado a esse resultado, os atores dividem os espólios da conquista. O compartilhamento de funções e de espaços de poder para esses aliados dentro da coalizão. Dentro do regime democrático, isso é muito comum. 

Isso significa dizer que temos diferentes partidos e diferentes segmentos representados por esses partidos. O que impõe de alguma forma a adoção de grandes coalizões partidárias, não só do ponto de vista dessa inclusão de segmentos a fim de construir um programa que represente o maior número de pessoas num regime democrático, mas também para fins de governabilidade.  

E PARA A GOVERNABILIDADE? 

Na democracia temos a repartição de poderes entre Executivo e Legislativo e a repartição também de prerrogativas, mas é claro que na administração dos recursos públicos do ponto de vista de governo essa relação entre Executivo e Legislativo passa por esses acordos, principalmente quando a gente olha para esse arranjo político multipartidário de uma fragmentação partidária absurda. 

Esses acordos também passam por entendimento de que a partir de um diálogo e de uma convergência em torno desse projeto, essa repartição de poderes também incluiria o Legislativo e, claro, visando a questão da governabilidade. Quanto mais atores incluídos dentro desse projeto, isso facilitaria a questão da governabilidade. 

Nesse período, a legalidade se impõe. Pelo menos dois partidos políticos podem se aliar oficialmente para disputar uma eleição majoritária. Ou seja, para o Executivo. 

Nessa modalidade, o acordo entre as partes vai seguir juridicamente até o fim da eleição. Nesse aspecto, as legendas se ajudam eleitoralmente. Ao término do pleito, a aliança toma outro sentido: a informalidade. 

Os grupos podem se alinhar politicamente sem a necessidade de um regramento jurídico se impor. É o processo da governabilidade.  

Partidos ajudam o(a) governante na administração pública no Legislativo, seja votando as matérias de interesse do governo ou aprovando leis em acordo com os projetos de gestão, e no Executivo, na administração de uma secretaria ou ministério. 

Essa aliança, porém, pode ser desfeita a qualquer momento, ao sabor das emoções de ambas as partes. 

Em estatuto de nova federação, PT, PV e PCdoB formalizam ‘separação de bens’ em caso de irregularidade

Coluna do Estadão

18 de abril de 2022 | 14h06

O estatuto da federação que une PT, PCdoB e PV traz uma regra para evitar que as siglas acabem sócias em eventuais irregularidades, em uma espécie de casamento com “separação de bens”

https://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/wp-content/uploads/sites/352/2022/04/img20191119230254241768x512_060420222702-300x200.jpg 300w" sizes="(max-width: 709px) 85vw, (max-width: 909px) 67vw, (max-width: 984px) 61vw, (max-width: 1362px) 45vw, 600px" pinger-seen="true" style="font-size: inherit; margin: 0px; padding: 0px; color: inherit; display: inline-block; max-width: 100%; height: auto;">

A deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT. Foto: Agência Câmara

Na versão do documento que circulou na manhã desta segunda-feira, 18, há a previsão de que “eventual irregularidade dos gastos de um partido associado não gera solidariedade para os demais”.

O trecho está escrito no capítulo sobre fontes de recursos, responsabilidade e patrimônio, ou seja, sobre como os partidos administram os fundos partidário e eleitoral. 

O texto tenta garantir que caso um dos partidos tenha algum débito ou problema na Justiça, os demais não sejam responsabilizados. 

Os dirigentes das três siglas oficializaram hoje o estatuto de formação da federação. Sob o nome de Brasil da Esperança, o grupo será dirigido pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, com mandato de um ano, tendo como vices Luciana Santos (PCdoB) e José Luís Penna (PV), dirigentes dos dois partidos.

Segundo o estatuto, a Assembleia Geral será composta por 60 membros, sendo três vagas fixas para cada partido e outras 51 distribuídas proporcionalmente ao tamanho da bancada na Câmara. Segundo comunicado do PT, o grupo deverá ser composto por um mínimo de 30% de mulheres e 20% seguindo o critério étnico-racial.

PoderData: Vantagem de Lula para Bolsonaro cai a 5 pontos

Redação, O Estado de S.Paulo

13 de abril de 2022 | 15h37

A distância entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) na corrida eleitoral atingiu o menor patamar registrado pelo PoderData em 2022: diferença de 5 pontos porcentuais. Segundo a última rodada da pesquisa, realizada entre os dias 10 e 12 de abril, o petista tem 40% das intenções de voto para as eleições presidenciais de 2022, seguido por Bolsonaro, com 35%. Na rodada de novembro de 2021, Lula tinha 34% e Bolsonaro, 29%. 

A diferença entre as pesquisas foi a retirada do nome o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil) da lista de pré-candidatos testados. Segundo o levantamento, a saída do ex-juiz da disputa favoreceu Bolsonaro, que variou 3 pontos para cima em 15 dias, enquanto Lula oscilou 1 para baixo.

Moro deixou a disputa eleitoral no final de março quando trocou Podemos pelo União Brasil. Para ser recebido na nova sigla, o ex-juiz teve que abrir mão da pré-candidatura ao Planalto.

A pesquisa ainda mostra que os candidatos da terceira via continuam distantes de Lula e de Bolsonaro. Na terceira posição, Ciro Gomes (PDT) atingiu 5%, seguido de João Doria (PSDB) e André Janones (Avante) com 3% cada e Simone Tebet (MDB), com 2%.

A pesquisa PoderData é realizada pelo grupo Poder360 Jornalismo, com recursos próprios, e usou ligações celulares e de telefones fixos para contatar os 3 mil entrevistados. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais, para mais ou para menos, e o registro no TSE é BR-00368/2022.

Exclusivo: Pesquisa ISTOÉ/Sensus revela que, se a eleição fosse hoje, Bolsonaro não seria reeleito

Exclusivo

A segunda pesquisa ISTOÉ/Sensus, que ouviu 2.000 eleitores no período de 8 a 11 de abril, já sem o ex-juiz Sergio Moro como candidato, constatou que Jair Bolsonaro (PL) não conseguiria se reeleger, mesmo que fosse para o segundo turno, em razão de sua alta rejeição (53,9%) e da desaprovação recorde de seu governo: 59% dos eleitores consideram ruim sua gestão. Segundo o levantamento, o mandatário é o mais rejeitado entre os 11 pré-candidatos que já se apresentaram até aqui para a disputa. Lula, o líder da pesquisa, tem uma rejeição de 37,9%. De acordo com o cientista político Ricardo Guedes, presidente do Instituto Sensus, nenhum candidato com uma rejeição tão alta como a do ex-capitão consegue se eleger na segunda rodada da votação. Acrescente-se a isso o fato de Bolsonaro também ter uma péssima avaliação no governo. Apenas 27,7% consideram a administração ótima ou boa, enquanto 44,8% julgam-na ruim ou péssima. “Abaixo de uma avaliação positiva de 40%, o desempenho de um candidato torna sua candidatura inviável”, diz Guedes, explicando que a margem de erro é de 2,2% para mais ou para menos. Os pesquisadores estiveram em 108 municípios de 24 estados e o levantamento está registrado no TSE sob número 01631/2022.

A vantagem petista

Em termos de posicionamento dos candidatos mais bem avaliados pelos eleitores, a pesquisa ISTOÉ/Sensus não difere muito das demais divulgadas até agora por outros veículos de comunicação, mas, faltando seis meses para o pleito, muita coisa ainda deve mudar, especialmente depois de 18 de maio, quando os partidos da terceira via (PSDB, MDB, União Brasil e Cidadania) devem apresentar um candidato único para enfrentar os dois líderes da corrida presidencial. Conforme o levantamento, Lula lidera a disputa com 43,3%, seguido por Bolsonaro, com 28,8%, por Ciro Gomes (PDT) com 6,3%, e por João Doria (PSDB) com 2,6% das intenções de votos. A notícia boa para Doria é que ele aparece empatado tecnicamente e dentro da margem de erro com Ciro. Em quinto, surpreendentemente, está o deputado André Janones (Avante), do baixo clero, com 2%. Depois vêm Vera Lucia (PSTU), com 1,1% e a senadora Simone Tebet (MDB), com 0,8%. De acordo com Guedes, esses números dão ao petista a marca de 50,8% dos votos válidos, tirando-se da conta os 7,8% dos votos brancos/nulos e 7,1% dos que disseram não saber ou não responderam em quem pretendem votar. “Com o atual quadro, Lula poderia ser eleito no primeiro turno se a eleição fosse hoje”, cravou o presidente do Instituto Sensus.

A vantagem do petista se espalha também nos cenários de segundo turno. Lula venceria todos os seus oponentes. Bolsonaro estaria em empate técnico, dentro da margem de erro com Ciro Gomes e João Doria. O ex-presidente também é o preferido pelos eleitores para vencer a eleição, mesmo entre os que não votarão nele. A pesquisa apontou que 52,7% dos entrevistados dizem acreditar que ele será eleito presidente, enquanto apenas 31,2% acham que Bolsonaro deve ser reeleito. Os candidatos da terceira via ainda não aparecem com destaque, mas está evidente que há um bom espaço para crescimento. Segundo a pesquisa, 30,9% admitem que podem vir a votar em um dos representantes dos partidos alternativos à polarização. Por ora, 57,3% dos eleitores dizem que já definiram em quem votarão, embora 22% afirmem que ainda não definiram o voto e outros 17,5% tenham dito apenas ter preferências em quem votarão, sem uma definição sobre qual tecla apertarão na urna eletrônica em outubro.

Nos cruzamentos de dados, Lula lidera nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, enquanto Bolsonaro lidera somente no Sul. Lula tem mais votos femininos do que masculinos e Bolsonaro mais masculinos do que femininos. O petista lidera ainda entre todas as idades e é o preferido entre a população de renda mais baixa. Já Bolsonaro tem vantagem na população com escolaridade e renda mais altas. O que dá para entender por que Lula disse recentemente que a elite brasileira é “escravista” e a classe média ostentadora.

A vida piorou

As dificuldades de Bolsonaro se expressam também na economia, onde os eleitores consultados pelo Sensus mostram que a política econômica é desastrada. De acordo com os eleitores consultados, 59,8% consideram que o País está no rumo errado, enquanto somente 25,9% consideram que o País está no rumo certo. Nos últimos quatro anos, segundo a pesquisa, a qualidade de vida piorou para 49,1% das pessoas e melhorou para 29,6%. Para 20,6%, a vida está igual.

Se a eleição fosse hoje, Bolsonaro não seria reeleito, em função de sua alta rejeição (53,9%) e de sua enorme reprovação no governo

A inflação, contudo, tem castigado a população e afetando a vida de 87,9% das pessoas, sobretudo as mais pobres. Apenas 9,6% acham que a inflação não os está afetando e 1,7% consideram que a situação está mais ou menos ruim. Os constantes aumentos do preço da gasolina, o grande vilão da inflação e da carestia que está levando muitas famílias à desestruturação, são atribuídos ao governo federal por 31,8%, aos governadores por 19,5%, e à Petrobras por 18,1%. Mais uma vez, percebe-se que o calcanhar de Aquiles desta campanha eleitoral será a economia. E, nesse campo, Bolsonaro deve perder de lavada. Tanto os candidatos de centro, quanto Lula, devem concentrar suas baterias nesses temas.

Embora os problemas econômicos ganhem destaque na pesquisa (o desemprego é o segundo item de preocupação de 14,5% da população e a inflação é o terceiro, com 11,3%), a saúde ainda é o principal problema do País para 40,7% dos eleitores. Isso acontece certamente pelos reflexos da maior pandemia já vivida pela humanidade. Apesar dos números de casos e de mortes por Covid-19 terem sofrido uma queda brutal, os eleitores certamente serão lembrados na campanha que Bolsonaro foi negligente em relação à doença e mostrou-se refratário a dar início à vacinação. Nesse ponto, o ex-governador de São Paulo, João Doria, tem espaço para crescer, pois ele é considerado “o pai da vacina”, por ter produzido a Coronavac no Instituto Butantan, vindo a tornar-se o primeiro imunizante aplicado no País.

A educação, com 10,3%, e a corrupção, também com 10,3%, são outros setores que preocupam a população. E de acordo com a percepção dos eleitores, a corrupção aumentou 41,6% durante o governo Bolsonaro, enquanto 36,3% entendem que a corrupção diminuiu no atual governo. Para 14,5%, a corrupção está igual e não sabem ou não responderam com 7,7%.

Para 41,6% dos eleitores, a corrupção aumentou durante o governo de Jair Bolsonaro, que também é culpado pela alta da gasolina

Apesar dos eleitores estarem optando até aqui pela polarização entre Lula e Bolsonaro, os dois também são lembrados como os maiores responsáveis pela radicalização do País. De acordo com a pesquisa, Bolsonaro é apontado por 41,1% das pessoas como o principal responsável pela radicalização, enquanto o PT é responsabilizado por 28,4%. Outros 11,3% consideram que ambos têm culpa e só 2,4% acreditam que a radicalização vem de outros atores da política nacional. Por isso mesmo, 62,8% consideram que a pacificação do País é imprescindível. Já para 17,5% dos eleitores, a pacificação não é imprescindível, 14,1% não souberam responder e outros 5,6% consideraram mais ou menos imprescindível. O eleitor brasileiro, como se vê, quer tudo, menos Bolsonaro.

Partidos favorecem a polarização por W.O.

Um dos maiores problemas no surgimento de uma ou mais candidaturas competitivas para enfrentar Lula e Jair Bolsonaro, além da falta de um projeto, é o total desinteresse das cúpulas partidárias em viabilizar qualquer nome.

Essa evidência fica mais clara a cada dia. Os discursos de que “temos de fazer frente à polarização”, ou “nem um nem outro” são para enganar eleitores e pré-candidatos incautos.

Nunca antes numa disputa presidencial houve tamanha inapetência por parte de legendas em chegar ao poder nacional. Isso diante do pior governo já eleito na História da República, que deveria gerar em todos um sentido (real, não teatral) de urgência para resgatar o Brasil do buraco.

BELA MEGALE: ‘Doria é um político que ninguém quer junto’, diz articulador da chapa Lula-Alckmim 

O retrospecto recente em países que se transformaram em autocracias mostra que, a partir da primeira recondução de governantes autoritários, as instituições sofrem corrosão ainda mais severa, e os mecanismos para proteger direitos e garantir a alternância de poder vão sendo subvertidos.

Bolsonaro, se reeleito, terá a possibilidade de indicar dois ministros do Supremo Tribunal Federal no primeiro ano do segundo mandato. Apenas isso deveria ser razão para mobilizar genuinamente o sentido de responsabilidade dos democratas de todas as cores partidárias.

Mas nossos caciques políticos se apequenaram de tal maneira que, hoje, estão mais ocupados com o jogo miúdo da montagem das nominatas, as chapas que assegurarão maiores ou menores bancadas na Câmara.

O único raciocínio político vigente é o monetário: quanto mais deputados federais, mais dinheiro dos fundos eleitoral e partidário. Com bancadas maiores, maior acesso também a nacos do Orçamento, sobretudo às saborosas emendas do relator, que chegam fácil e quase anonimamente à base do parlamentar. Nesse jogo da política do “faz um Pix”, a Presidência da República é tratada como acessório.

O conchavo da ala do MDB próxima a Lula parte desta lógica: rifar a pré-candidata da própria legenda, a senadora Simone Tebet, quanto antes, para que ela não gaste o rico dinheirinho do fundão com uma candidatura que eles, os homens que mandam no cartório, não pretendem defender.

Eles até dizem se preocupar com Bolsonaro, mas o que querem é um caminho fácil para voltar a apitar no poder, algo que vislumbram com o PT.

Viabilizar um projeto próprio? Isso nunca foi prioridade no MDB, e mesmo o mandato incidental de Michel Temer não contou com a simpatia imediata dos comensais do jantar com Lula.

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No PSDB, a situação é ainda mais vexatória. O presidente da sigla, Bruno Araújo, tem dedicado os dias a mandar a João Doria recados de que o gato das prévias subiu no telhado. A alternativa? O ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que nas pesquisas tem a mesma estatura do ex-governador de São Paulo.

De novo, a lógica que vigora não é apostar no candidato mais viável para se contrapor a Lula e a Bolsonaro, e sim tirar da frente um pré-candidato, Doria, considerado uma âncora para os poucos candidatos a governador que o minguado PSDB conseguiu manter.

Nesse jogo, nem as regras do possível tapetão estão claras. Afinal, qual será o rito para tentar melar as prévias e fazer prevalecer um outro nome até 18 de maio? E, se o tapete de Simone Tebet também for puxado pelos coronéis emedebistas, quem é o candidato que esse grupo de partidos acredita ser viável? Haverá W.O.?

Do outro lado tem, sim, um candidato com fome e sede de vencer: Ciro Gomes. Mas a recente conferência que reuniu os pré-candidatos em Boston mostrou quanto é difícil para ele se firmar numa disputa em que seu primeiro adversário por uma vaga na final é justamente o favorito, Lula, o que leva a que faça ataques erráticos ora a este, ora a Bolsonaro.

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