Ciro Gomes abre a campanha de rua na periferia de São Paulo com público tímido
Por Marcela Villar / O ESTADÃO
Em Guaianases, periferia de São Paulo, o candidato Ciro Gomes (PDT) começou sua campanha para a Presidência da República, na manhã desta terça-feira, “à frente” de seus concorrentes. Entre os principais concorrentes, ele foi o primeiro a ir às ruas neste dia 16, quando se inicia o período formal de caça aos votos. Antes mesmo das 8h, o pedetista iniciou uma caminhada pelo bairro, falando com moradores e comerciantes e pedindo “desculpas por incomodar” tão cedo.
O público que se reuniu estava bem longe de ser uma multidão. Eleitores tímidos apareciam nas janelas e portas das casas e cerca de 100 pessoas o acompanharam na passeata pelas ruas do bairro da Zona Leste da capital. Alguns o conheciam, outros não sabiam para qual cargo ele se candidata (estes eram maioria) e uma minoria nunca tinha ouvido falar. “É para vereador né?”, perguntou uma moradora, que logo estava segurando uma bandeira com o rosto dele.
Em uma conversa rápida com a imprensa, Ciro Gomes destacou a criação do programa de renda mínima, que vai conjugar auxílios à população de baixa renda, como o Auxílio Brasil, passando a somar R$1 mil. “A ideia é unificar as transferências de renda. Todo cidadão que por domicílio ganhar até R$417 será complementado sua renda até R$1 mil”, afirmou Ciro.
Ele aproveitou a oportunidade para criticar outros projetos de seguridade social, como o Bolsa Família. “O programa tem o objetivo de erradicar a pobreza no Brasil de forma definitiva e como ferramenta da seguridade social, ou seja, protegendo nosso povo de tentativas de chantagens ou de subornos em véspera de eleição, que tem acontecido lá atrás com o PT e agora com Bolsonaro”, disse.
A vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos (PDT), vice na chapa pedetista, também estava presente no evento, assim como outros candidatos a deputado federal e estadual. À noite, a exemplo de outros presidenciáveis, Ciro participa da posse do ministro Alexandre de Moraes na Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Bolsonaro volta a Juiz de Fora e diz que eleição é luta do ‘bem contra o mal’ mais uma vez
Por Iander Porcella e Rayanderson Guerra / O ESTADÃO
ENVIADO ESPECIAL A JUIZ DE FORA - No primeiro dia oficial da corrida pelo Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, voltou a chamar a eleição de “luta do bem contra o mal” nesta terça-feira, 16. Durante encontro com lideranças religiosas em Juiz de Fora (MG), onde levou uma facada em 2018, o chefe do Executivo também criticou o que chamou de “fechamento de igrejas” na pandemia de covid-19, que exigia isolamento social para evitar o contágio.
Ato de campanha de Bolsonaro em Juiz de Fora (MG) teve segurança reforçada Foto: André Coelho/EFE
Ao falar sobre a eleição, Bolsonaro disse que há uma “batalha enorme” pela frente. “Nós sabemos da luta do bem contra o mal. Nós aqui sempre pregamos e defendemos a liberdade absoluta. Se uma pessoa se sentir ofendida, que vá à Justiça, mas não podemos criar leis, como a de fake news”, afirmou o presidente, em referência a um projeto no Congresso que prevê punições para a divulgação de informações falsas. Em outros eventos este ano, o presidente já havia chamada a eleição de luta “luta do bem contra o mal”.
Bolsonaro também disse que igrejas foram fechadas durante a pandemia de covid-19. Aliados do chefe do Executivo têm espalhado nas redes sociais fake news, dizendo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fecharia estabelecimentos religiosos se eleito para comandar o País.
“Vocês sentiram um pouquinho de ditadura aqui durante a pandemia. Igrejas, por exemplo, sendo fechadas, pessoas sendo proibidas de trabalhar, alguns mandando prender até quem estava na praia”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro voltou ainda a convocar os apoiadores a irem às ruas “pela última vez” no dia 7 de setembro em ato na esquina em que sofreu uma facada em 2018. “Vivemos sem liberdade. No próximo dia 7 de setembro, vamos todos para a rua pela última vez. Num primeiro momento, por nossa independência e, em segundo, pela nossa liberdade. Juro dar a vida pelo nosso povo”, disse.
A primeira-dama Michelle discursou em tom eleitoral e fez uma oração, ao lado do presidente. “Essa campanha, mais uma vez, é um milagre de Deus. Começou em 2019 [2018, ano da facada], quando Deus fez o milagre na vida do meu marido, porque aqueles que pregam o amor e a pacificação atentaram contra a vida dele. Mas Deus é maior e a justiça do Senhor será feita”, declarou a primeira-dama. “Que Deus dê sabedoria e discernimento ao nosso povo brasileiro, para que não entregue o nosso País, a nossa nação tão amada por Deus na mão dos nossos inimigos”, emendou.
Lula diz que Bolsonaro é ‘possuído pelo demônio’ e que tenta manipular evangélicos
Por Beatriz Bulla e Eduardo Gayer / O ESTADÃO
Ao lançar oficialmente nesta terça-feira, 16, sua candidatura ao Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar manipular a boa-fé de evangélicos e disse que Bolsonaro é “possuído pelo demônio”. A campanha de Bolsonaro tem abordado a religião em apelo aos eleitores e tentado vincular de modo pejorativo o petista e sua mulher, Janja da Silva, a religiões de matriz africana.
“Você (Bolsonaro) foi negacionista, você não acreditou na ciência, não acreditou na medicina, você acreditou na sua mentira. Se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro”, afirmou o petista. “Ele é um fariseu, está tentando manipular a boa fé de homens e mulheres evangélicos. Eles ficam contando mentira o tempo inteiro, sobre o Lula, sobre a mulher do Lula, sobre vocês, sobre índio, sobre quilombola. Não haverá mentira nem fake news que mantenha você governando esse país, Bolsonaro”, disse o petista.
O ex-presidente escolheu seu berço político para iniciar oficialmente a campanha à presidência. O petista deu o pontapé na campanha eleitoral na porta de uma fábrica da Volkswagen na cidade de São Bernardo do Campo (SP), onde viveu por quatro décadas e construiu sua trajetória política como sindicalista.
Luiz Inácio Lula da Silva inicia sua campanha em São Bernardo do Campo (SP) Foto: Carla Carniel/Reuters
O candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), não participou. Na segunda-feira, 15, em evento de Lula na Universidade de São Paulo, o ex-governador paulista e ex-tucano também não esteve presente ao lado do petista. Na USP, o candidato ao senado na chapa petista, Márcio França (PSB), foi vaiado. França participou do evento em São Bernardo do Campo nesta terça-feira e pediu esforço dos presentes para trabalhar pela vitória de Lula no primeiro turno.
Em um discurso mais rápido do que o normal - Lula viaja nesta terça-feira para Brasília, o petista disse ainda que Bolsonaro está “pensando que o povo é besta” e atacou o caráter eleitoreiro do pagamento do Auxílio Brasil.
“Ele não cuidou do povo, mas, faltando três meses, resolveu aumentar o auxílio emergencial, que nos queríamos desde o ano passado”, disse. “Eu fui favorável a votar no aumento emergencial, pedi pra bancada do PT votar. Se vocês conhecerem alguém que está desempregado, que está precisando de dinheiro e cair um dinheirinho na conta dele, manda ele pegar e comer. Porque se ele não pegar, o Bolsonaro vai tomar”, disse Lula, aplaudido pelo público de trabalhadores.
Ele prometeu que a primeira medida que tomará, se eleito, será voltar à porta da mesma fábrica para anunciar o reajuste da tabela do imposto de renda.
Lula, que se emocionou no final de sua fala, lembrou sua trajetória como sindicalista. “Eu queria vir aqui não só para agradecer a vocês, mas porque foi aqui que tudo aconteceu na minha vida. Foi aqui que aprendi a ser gente e foi por causa de vocês que acho que fui um bom presidente”, disse.
O PT escolheu a fábrica da Volkswagen do Brasil, na Rodovia Anchieta, para iniciar a campanha. Durante a ditadura militar, trabalhadores foram vigiados dentro da fábrica da Volkswagen do Brasil no ABC paulista, com apoio da segurança da empresa, que já reconheceu que deu apoio ao regime militar. Houve repressão a funcionários dentro da fábrica. Lula citou a época da ditadura e as greves a partir de 1978. “Eu devo praticamente tudo que eu vivi na vida, que eu aprendi na política, nas derrotas e nas vitórias, a essa categoria extraordinária chamada metalúrgicos do ABC”, disse.
Com um papel na mão, Lula citou números de diminuição de venda de carros no Brasil e redução dos empregos na indústria e defendeu a criação de empregos. “Eu não precisaria estar candidato outra vez. Agora, companheiros, o Brasil está pior hoje do que estava quando eu tomei posse da primeira vez”, disse, repetindo o que tem sido um dos seus mantras de campanha.
“Nós não poderíamos estar em outro lugar que não aqui”, disse a presidente nacional do PT Gleisi Hoffmann, ao discursar. “Começar a campanha aqui é muito significativo e simbólico, é voltar as raizes, é dizer com quem a gente tem compromisso, é por quem a gente faz política, é no que nós acreditamos”, disse Gleisi.
Lula irá focar esforços na região sudeste no início oficial da campanha. Além de concentrar 42% do eleitorado, o PT avalia que é preciso conter o bolsonarismo nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro para garantir a vitória. Segundo o agregador de pesquisas eleitorais do Estadão, o ex-presidente tem 45% das intenções de voto ante 32% de Bolsonaro. Pesquisas regionais recentes, no entanto, mostram o avanço da campanha de Bolsonaro no sudeste.
Lula fará comício em Belo Horizonte na quinta-feira, em São Paulo no sábado e ainda não tem data para agenda no Rio de Janeiro, cidade que deve visitar em breve.
O petista faria uma visita a outra fábrica, na zona de sul, na manhã desta terça-feira, mas cancelou a agenda por falta de tempo para inspeção feita por sua segurança.
Ainda nesta terça-feira, Lula e Bolsonaro devem se encontrar pela primeira vez. Os dois confirmaram presença na posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O evento acontecerá em Brasília, na sede da Corte. Os ex-presidentes Michel Temer e Dilma Rousseff também devem se encontrar no evento..
‘Brasil precisa deixar de ser pária internacional’, diz Simone Tebet em primeiro evento de campanha
Por Ana Paula Grabois / O ESTADÃO
A candidata a presidente pelo MDB Simone Tebet disse, nesta terça-feira, 16, que o Brasil precisa retomar a importância no cenário internacional e fortalecer o Ministério das Relações Exteriores. “O Brasil precisa deixar de ser pária internacional”, destacou a senadora a representantes do setor cultural, em evento para cerca de 40 pessoas na residência do casal Teresa e Candido Bracher, ligados ao banco Itaú, no bairro Alto de Pinheiros, na capital paulista.
Ela disse que a Cultura deve voltar a ser uma ferramenta para projetar o País no exterior, por isso a importância do Itamaraty. “É como o agronegócio, é comprado, mas não é vendido. A cultura precisa ser vendida.”
Se eleita, Tebet afirmou que irá retomar o Ministério da Cultura, extinto no governo Jair Bolsonaro e transformado em secretaria. “É um setor que gera emprego e pode alavancar a economia do Brasil”, completou. A anfitriã Teresa Bracher disse que além de o Brasil ter fome, de fato, o País tem “fome de cultura”. “Ela pode reconstruir o Brasil, essa polarização intestina está fazendo muito mal ao País”, afirmou Teresa.
Tebet completou que as relações internacionais são fundamentais para atrair investimentos privados que estão “parados” em fundos à espera de bons projetos. Neste sentido, será fundamental estruturar uma economia verde, um dos eixos de seu programa de governo, para atrair tais recursos externos. “São US$ 40 bilhões parados nesses fundos que querem investir, mas com compromisso com a economia verde”, completou.
A candidata disse que está confiante com a melhora de seu nome na preferência do eleitorado. “Sei que temos condições de chegar ao segundo turno. A campanha começa hoje”, disse.
Tebet tem como principal desafio ser identificada como presidenciável. Por isso, a propaganda eleitoral no rádio e na TV, que contará com mais de 2 minutos de duração, vai buscar explorar na primeira semana a sua atuação na CPI da Covid-19 no ano passado, que ajudou a projetar a sua imagem nacionalmente. “O desafio maior é o porcentual menor da população que ainda não me conhece de jeito nenhum”, disse Tebet. “Não é uma corrida de 100 metros, são corridas de obstáculos e temos tudo bem planejado”, completou.
A expectativa da campanha da candidata é que entre duas e três semanas de horário de televisão, os eleitores comecem a identificá-la como candidata. Segundo ela, a propaganda vai mencionar que “tem uma candidata, é mulher, é ficha limpa, tem história, experiência de gestão, foi prefeita” e em chapa formada por duas mulheres.
Entre os presentes no primeiro evento de campanha de Tebet, estavam o diretor-executivo da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Marcelo Lopes; o presidente da Fundação Bienal, José Olímpio da Veiga Pereira; o diretor de relações institucionais da Pinacoteca de São Paulo, Paulo Vicelli, e o pianista e maestro Marcelo Bratke.