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Terceira via agoniza, União Brasil, PSD e Podemos vão liberar geral, cada um por si

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

01 de maio de 2022 | 05h00

A terceira via agoniza, com o União Brasil fora, o PSDB se autodestruindo, o MDB revirando suas velhas agonias e o Cidadania impotente, enquanto a "opção única” vai deslizando do improvável para o patético e nem se sabe mais se haverá anúncio de qualquer coisa em 18 de maio, à espera de um milagre. Desfecho melancólico.

Com fundo eleitoral gigante, tempo de TV para dar e vender e ramificação pelo País, o União Brasil conseguiu engabelar os parceiros de terceira via, matou a candidatura Sérgio Moro e inventou a de Luciano Bivar. A turma esquece rápido. Quem é Bivar? É o que deu a sigla PSL para Jair Bolsonaro em 2018.

A jogada do União Brasil, fusão artificial de PSL e DEM, que abortou lamentavelmente um belo voo, é liberar geral – especialmente pró-Bolsonaro. Esse movimento se repete com o Podemos, de onde Bivar arrancou Moro para jogar no vazio, e com o PSD, que foi parar em Irajá. Seu líder Gilberto Kassab tende para Lula, mas ele e o resto vão com quem for ganhar.

Luciano Bivar
Luciano Bivar é o presidente do União Brasil, partido com o maior fundo eleitoral. Foto: Dida Sampaio/Estadão - 17/11/2020

Com União Brasil, PSD e Podemos prontos para lavar as mãos, a polarização entre Bolsonaro e Lula entra numa nova fase: a pescaria feroz dos peixes graúdos, jogando a rede para o eleitorado órfão. Inclusive de PSDB, MDB e Cidadania.

A desenxabida terceira via afunila para João Doria Simone Tebet. Na última reunião, o União Brasil já nem mandou representante e os três tucanos eram todos contra Doria. A favor do que? Sabe-se lá. E o MDB finge estar com Simone, enquanto negocia no Nordeste com Lula e está doido para pular no barco de Bolsonaro no Sul.

Ciro Gomes, do PDT, mantém firme e forte a terceira posição das pesquisas, mas sem chegar a dois dígitos, e voltou a ser o de sempre, trocando palavrões e ameaçando com tapas e socos quem grita contra, algo tão natural em campanhas.

Enquanto isso, Bolsonaro faz duas horas de homenagens no Planalto para um ex-policial que sofreu dezenas de sanções disciplinares, ironizou máscaras na pandemia, é casado com uma beneficiária do auxílio emergencial, ameaça STF, ministros e a democracia. O presidente tenta, assim, disfarçar inflação, desemprego e queda de renda. Se não colar, resta o Plano B: desacreditar o sistema eleitoral.

Do outro lado, Lula tem problemas no PT, mas faz política. Consolidou o apoio do PSB e da Rede, amplia o de setores de MDB, PSD e União Brasil e ganhou um troféu e tanto para a campanha: o relatório do Comitê de Direitos Humanos da ONU contra Moro e Lava Jato e a favor dele, que tira munição de Bolsonaro e ataca com a comparação entre os dois governos. Viúvas da falecida terceira via, o que sobra é isso.

Bolsonaro cresce e ultrapassa Lula em São Paulo, mostra pesquisa

O presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece numericamente na frente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Estado de São Paulo, de acordo com o levantamento do instituto Paraná Pesquisas, realizado entre os dias 24 e 29 de abril e divulgado neste sábado, 30. Em relação à última pesquisa, houve uma inversão de posições entre os dois principais postulantes ao Palácio do Planalto.

 

No principal cenário, que inclui o nome do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), Bolsonaro tem 35,8% das intenções de voto contra 34,9% do petista. A diferença está dentro da margem de erro de 2,3 pontos percentuais para mais ou para menos. Entre os entrevistados, 9,7% afirmaram que não irão votar em nenhum deles, anular o voto ou votar em branco. Outros 4,3% não souberam ou não quiseram responder.

 

No final do mês de março, Lula tinha 34,1% das intenções de voto, ante 31% do atual chefe do Executivo. Ou seja, em um intervalo de um mês, Bolsonaro, que busca a reeleição, cresceu quase cinco pontos percentuais. A pesquisa também mostra Doria, que deixou o Palácio dos Bandeirantes há um mês, com 5,5% das intenções de voto, empatado com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que tem 5,4% da preferência do eleitor paulista. A senadora Simone Tebet (MDB), de atuação destacada na CPI da Covid-19, aparece com 1,9%, seguida por André Janones (Avante), que tem 1,2%, Luciano Bivar (União Brasil), com 0,6% e Luiz Felipe D’Ávila (Novo), com 0,6%.

O nome de Bivar, que comanda o partido que surgiu da fusão entre DEM e PSL, não havia sido incluído na pesquisa de março. Outra diferença entre os dois últimos levantamentos é que, no último mês, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, que trocou o Podemos pelo União, somava 9,7% das intenções de voto. Na pesquisa de abril, no entanto, Moro não aparece como postulante – o ex-magistrado enfrenta resistência de uma ala da sigla ligada ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto e disse, na segunda-feira, 25, em sabatina ao portal UOL, que pode não ser candidato “a nada”.

O Paraná Pesquisas ouviu 1.820 eleitores em 78 municípios de São Paulo, por meio de entrevistas pessoais e presenciais, e foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sob o número BR-07854/2022. JP NEWS

Aula com slide sobre 'como derrotar Bolsonaro em 2022' na UFMS vira alvo de deputado bolsonarista: 'Uma vergonha'

RIO — Uma aula organizada no fim do ano passado para conscientizar alunos da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) sobre a importância do primeiro voto acabou indo parar no centro de uma polêmica esta semana, quando o deputado estadual Coronel David (PL) usou o plenário da Assembleia Legislativa, na última terça-feira (26), para queixar-se de um slide usado pelos professores, que definia o curso como um "tutorial sobre como derrotar Bolsonaro em 2022". A imagem da peça contida no Power Point foi registrada anonimamente por um dos presentes e enviada ao parlamentar, correligionário do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Para ele, a iniciativa em espaço público fere o Código Eleitoral brasileiro.

 

— Chegou ao meu conhecimento que professores apresentaram um slide com os seguintes dizeres “#MeuPrimeiroVoto – Tutorial – Como derrotar Bolsonaro em 2022”. É uma vergonha que uma Universidade Federal seja palco desse tipo de coisa em recinto público, principalmente no mundo acadêmico — disse o deputado. — Se trata de local público, prédio público, e que, por esta natureza e segundo a legislação eleitoral, é proibida a propaganda de qualquer natureza. Neste sentido o Código Eleitoral, em seu artigo 377, prevê que o serviço público de qualquer repartição, inclusive o respectivo prédio e suas dependências, não poderá ser utilizado para beneficiar partido ou organização de caráter público.

 

O parlamentar bolsonarista afirma também que pediu "providências" — sem destacar quais — através de um requerimento enviado por ele ao Ministro da Educação Victor Godoy Veiga e ao reitor da UFMS, Marcelo Turine.

 

Ao GLOBO, a reitoria da UFMS afirmou em nota que tomou conhecimento do caso no dia 25 de abril, por meio de uma denúncia anônima, "a respeito da imagem de cunho político que supostamente ocorreu na Faculdade de Direito da UFMS". A instituição afirma que, de imediato, a denúncia foi encaminhada para ouvidoria e que, na mesma data, a Ouvidoria providenciou o registro da comunicação no sistema Fala.BR.

 

A universidade acrescentou que as supostas irregularidades são investigadas pela corregedoria interna da instituição.

"Por ser um ano eleitoral e por existir orientações de conduta dos gestores e servidores públicos em âmbito federal, bem como por se tratar de situação que fere a imagem institucional da UFMS, que preza pela excelência no ensino, pesquisa, extensão e inovação, a ouvidoria remeteu a denúncia, na mesma data, à Faculdade de Direito da UFMS e à Corregedoria, unidades competentes pela apuração de supostas irregularidades, conforme disposto na Resolução nº 93-CD/UFMS, de 10 de novembro de 2020". o globo

A disputa inédita entre o ex e o atual

João Gabriel de Lima, O Estado de S.Paulo

30 de abril de 2022 | 03h00

Encontrei Antônio Lavareda em Lisboa no último 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos. Na data nacional portuguesa, que comemora a vitória da democracia sobre uma ditadura, era natural que falássemos de eleições. Lavareda, um dos principais analistas políticos brasileiros, chamou a atenção para uma peculiaridade do pleito de outubro. Se o cenário mais provável se concretizar – com os votos convergindo para Lula e Bolsonaro, sem uma terceira via –, veremos a disputa entre um presidente em exercício e um ex. 

Trata-se de um caso inédito no Brasil e raro em democracias. Lavareda lembra que isso esteve perto de acontecer, recentemente, na Argentina e na França. Na Argentina, Cristina Kirchner preferiu ser vice de Alberto Fernández, exercendo seu poder nos bastidores, ainda que com incursões barulhentas à ribalta. Na França, Nicolas Sarkozy chegou a ensaiar uma candidatura pelos Republicanos, mas desistiu por enfrentar problemas na Justiça. 

lula bolsonaro
Pré-candidato do PT participa de evento das centrais sindicais; bolsonaristas organizam ato em defesa de perdão a Daniel Silveira. Foto: Lula: André Dusek/Estadão | Bolsonaro: Gabriela Biló/Estadão

O fenômeno tem suas implicações. “As campanhas elaborarão programas detalhados, mas eles terão um papel diminutíssimo na campanha, já que os eleitores conhecem bem os candidatos”, diz Antônio Lavareda. “Tudo isso explica a razão de as pesquisas espontâneas mostrarem uma convicção de voto tão precoce.” Lavareda é o entrevistado do minipodcast da semana – atravessado, com o perdão do leitor, pelos ruídos dos bondes de Lisboa. 

Lavareda analisa pesquisas desde 1985, quando colaborou com a campanha de Jarbas Vasconcelos à prefeitura do Recife. Ele é o autor do livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, que mostra como as escolhas dos eleitores são muitas vezes guiadas pelos sentimentos – algo que, pelo que se viu até agora, poderá prevalecer no próximo pleito. 

Outro dado que as pesquisas mostram é a mudança da localização dos eleitores dentro do espectro político. O Brasil emergiu da ditadura militar com um viés à esquerda, até como reação aos anos de arbítrio. Hoje, a maior parte dos brasileiros a escolher um lado se define como de direita. 

Num país de partidos com pouca densidade ideológica, tal escolha também tem um forte componente emocional. Por isso, na avaliação de Lavareda, a presença de Geraldo Alckmin é tão importante para Lula. “Torna-se inverossímil que Lula atire um coquetel molotov se Alckmin estiver sempre ao lado dele com um extintor de incêndio”, diz Lavareda, de forma jocosa – até porque Lula, em seus oito anos de governo, nunca atirou coquetéis molotov. 

Uma eleição é uma disputa por corações e mentes. Ao que tudo indica, o foco da campanha de 2022 será nos corações.

ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

 

Centrão cresce, nanicos murcham e Assembleias têm nova correlação de forças

João Pedro Pitombo / folha de sp
SALVADOR

Assim como ganharam espaço na Câmara dos Deputados e no Senado, partidos da coalizão que sustenta o governo Jair Bolsonaro (PL) também passaram a ter maior protagonismo nos Legislativos estaduais.

Levantamento da Folha junto às Assembleias Legislativas dos 26 estados e na Câmara Legislativa do Distrito Federal apontam para mudanças na correlação de forças entre as legendas após o encerramento da janela partidária.

Os deputados que vão concorrer em outubro tiveram até 2 de abril para trocar de partido, mas os números finais ainda podem mudar, já que nem todos os parlamentares informaram as trocas às Assembleias.

O PL foi a legenda que mais cresceu em comparação com a eleição de 2018: saiu de 43 deputados estaduais eleitos há quatro anos para os atuais 109, um crescimento de 150%. Com as novas adesões, o partido passou a ser a maior bancada no Legislativo em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O avanço aconteceu após a filiação de Bolsonaro, que atraiu seus correligionários para a nova legenda. Dos novos deputados estaduais, 38 vieram do PSL, antigo partido do presidente que se fundiu ao DEM para criar a União Brasil.

O PP e Republicanos, que completam a principal trinca de sustentação ao presidente, também cresceram nos estados. O Republicanos saiu de 42 para 75 deputados, crescendo em praticamente todos os estados. O PP saiu de 70 para 95.

Professor da Fundação Dom Cabral, o analista político Bruno Carazza afirma que a ascensão do centrão e a filiação de Bolsonaro ao partido liderado por Valdemar Costa Neto fez com que PL, PP e Republicanos ganhassem o reforço do núcleo raiz do bolsonarismo.

Desta forma, uma base de apoio que estava fragmentada entre várias siglas da direita e centro-direita ganhou um comando unificado em meio à estratégia para a reeleição de Bolsonaro.

Carazza diz que a filiação de deputados bolsonaristas a PL, PP e Republicanos funciona como uma estratégia de ganha-ganha. De um lado, os aliados do presidente estarão em uma legenda robusta para concorrer nas eleições. Do outro, os partidos ganham peças novas para ampliar as suas bancadas.

"Bolsonaro é um grande puxador de votos e uma figura importante para o eleitor conservador. A chegada de deputados bolsonaristas é um excelente negócio para os partidos do centrão, que terão condições de fazer uma grande bancada", diz o autor do livro "Dinheiro, Eleições e Poder".

PL, PP e Republicanos terão, juntos, R$ 860 milhões de fundo eleitoral para gastar no pleito de outubro. Caso consigam ampliar suas bancadas na Câmara dos Deputados, terão ainda mais recursos nas próximas eleições.

Ao mesmo tempo em que os maiores partidos da base de Bolsonaro cresceram, as legendas de médio porte que estão no entorno do presidente esvaziaram nos estados após a janela partidária.

Foi o caso de PSC e PTB, que estão entre as legendas que proporcionalmente mais perderam deputados estaduais em comparação com 2018.

O PTB, que elegeu 31 deputados estaduais há quatro anos, agora tem apenas 10. As perdas aconteceram após o partido dar uma guinada ideológica, aderindo a um conservadorismo mais radical e expurgando de seus principais líderes nos estados.

O PSC, sigla ligada à Assembleia de Deus, também perdeu espaço para outros partidos do campo conservador e saiu de 30 para 17 deputados estaduais.

O partido também perdeu na janela partidária o governador Wilson Lima, do Amazonas, que vai disputar a reeleição pela União Brasil. No ano passado, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, já havia migrado para o PL.

O esvaziamento das legendas de menor porte reflete uma tendência de maior concentração partidária com o fim das coligações nas eleições legislativas e a retomada da cláusula de barreira.

Conforme apontado pela Folhapolíticos com mandato se aglutinaram em menos partidos e afunilaram as chapas competitivas na disputa para o Legislativo nos estados.

A maior concentração partidária aconteceu sobretudo em estados menores, que têm menos vagas e onde, proporcionalmente, é preciso ter mais votos para atingir o quociente eleitoral.

O resultado foi a criação de superbancadas nas Assembleias. O fenômeno aconteceu em Alagoas (15 deputados no MDB), Piauí (13 no PT), Maranhão (13 no PSB) e Tocantins (11 no Republicanos).

Em geral, os deputados seguiram para mesmo partido do governador, com exceção do Rio Grande do Norte, onde 12 dos 24 dos deputados foram para o PSDB. O estado é governado por Fátima Bezerra (PT), cujo partido manteve seus dois deputados.

Partidos nanicos também sentiram o efeito da janela partidária: a maior parte dos deputados estaduais destes partidos buscaram siglas mais robustas para concorrer à reeleição em outubro.

Legendas que ficaram abaixo da linha de corte da cláusula de barreira em 2018 como PRTB, DC, PMN, PMB e Agir minguaram nas Assembleias Legislativas. Juntas, elas elegeram 47 deputados estaduais há quatro anos e agora têm apenas 12.

No campo da esquerda, o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o que teve maior crescimento nas Assembleias Legislativas, sobretudo em estados do Nordeste. Com as novas adesões, saiu de 85 para 103 deputados.

O avanço foi puxado por estados como o Piauí, onde a bancada petista saiu de 5 deputados eleitos há quatro anos para os atuais 13. Também houve crescimento das bancadas estaduais do partido em estados como a Bahia e o Ceará.

Os demais partidos da esquerda registraram um cenário de estabilidade. O PSB saiu de 64 para 69 deputados nas Assembleias, a despeito de ter registrado baixas em após decidir não participar da federação partidária com PT, PC do B e PV.

As perdas foram compensadas pelo crescimento em estados como Pernambuco e Maranhão. Neste último, onde o PSB filiou o ex-governador Flávio Dino e o governador Carlos Brandão, o partido saiu de 2 deputados eleitos há quatro anos para os atuais 13.

O PDT, que terá candidatura própria ao Planalto com Ciro Gomes, teve uma leve queda saindo de 53 deputados nos estados para 50. Houve perdas para o campo da esquerda, com mudanças para o PSB, e também para direita, com migrações para a União Brasil.

Para o analista político Bruno Carazza, as movimentações na esquerda refletem mais uma lógica mais local e revelam uma dificuldade dos partidos em atrair quadros de centro, a despeito da filiação de Geraldo Alckmin ao PSB.

Legendas de centro-direita como PSDB e MDB, que com a União Brasil tentam definir um candidato único à Presidência, também tiveram uma leve queda em relação à bancada eleita em 2018.

As principais perdas do MDB foram para a União Brasil —​​oito deputados estaduais seguiram para o novo partido. O principal algoz do PSDB, por sua vez, foi o PSD liderado por Gilberto Kassab, saltou de 58 para 84 deputados estaduais.

 

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