Secretária do PT exigiu desvio de verba de projeto do Ministério do Trabalho para campanha
Por Vinícius Valfré / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA – A secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, foi gravada por um ex-aliado cobrando dele que recursos públicos de um projeto de capacitação profissional de jovens fossem desviados para a campanha eleitoral dela, em 2024.
A pasta, controlada por Luiz Marinho (PT), informou que pediu esclarecimentos à ONG e suspendeu o repasse de novos recursos “até que seja finalizada a apuração e análise das informações”. Anne Moura disse que nunca praticou nada ilegal e que o ex-aliado quer prejudicar a imagem dela (leia mais abaixo).
A ONG Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia (Iaja), fundada e controlada por Anne, vai receber R$ 1,2 milhão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para oferecer cursos de qualificação profissional para 750 estudantes. A parceria foi assinada em setembro.
“Eu quero falar do projeto nosso, do MTE. Nós precisamos saber como que... Eu preciso de dinheiro. De forma objetiva: eu preciso de dinheiro. Estamos prestes a ganhar essa eleição, só que a gente precisa saber como a gente vai fazer isso”, afirma a dirigente do PT nacional na gravação a que o Estadão teve acesso.
A conversa foi gravada por Marcos Rodrigues, ex-presidente do Iaja e um antigo aliado de Anne Moura. Ambos romperam em dezembro e ele afirma que operava, a mando da secretária do PT, um esquema de desvios de verbas e de finalidades na ONG em benefício dela.
No diálogo, Anne Moura perguntou sobre os salários que seriam pagos ao coordenador-geral e para a coordenadora-adjunta do projeto e disse que os valores deveriam ser revertidos para a campanha.
“Esse dinheiro já pode ser recebido? Agora, essa primeira parcela? Então vamos acelerar isso aí que isso já me ajuda muito. Eu tô contando os centavos disso aqui. Eu preciso ganhar essa eleição. O nível de perseguição está muito grande. Não podemos desperdiçar nada, nós vamos ter que ganhar essa eleição”, afirmou.
O então presidente da ONG respondeu que não poderia “direcionar todo o valor” da primeira parcela recebida porque “tem um trabalho que foi feito”.
“Mas eu só preciso agora, depois não vou precisar. Eu só preciso agora. O momento que eu mais preciso da minha vida inteira é agora. Depois não vou precisar. Esse que é o problema. E é agora mesmo, antes de chegar a eleição. Por isso que eu tô te falando... Se já pode pagar, já paga”, afirmou a dirigente petista.
Marcos Rodrigues respondeu dizendo acreditar que em poucos dias o dinheiro seria depositado e ele poderia fazer o direcionamento.
“Muito bom, já paga, já paga. E discute para mim qual a forma que chega o dinheiro. Me mande todo o dinheiro possível. Para ganhar a eleição. Não tenho alternativa, não to colocando nada nos bolsos. Eu já estou devendo 1 milhão e 100 mil dessa eleição, do tamanho que tá. Essa eleição cresceu, está muito grande”, disse.
Marcos Rodrigues afirma que não transferiu o recurso porque tomou conhecimento de um “golpe” para tirá-lo do comando da ONG.
A nova denúncia de mau uso de recursos públicos se junta a outras duas. Uma verba do governo do Amazonas destinada para um projeto cultural com crianças foi parar, em parte, em uma escola de samba que homenageou a dirigente petista. Além disso, ela também foi gravada dizendo que a cúpula do Ministério da Cultura deu aval ao uso de um programa do governo federal para beneficiar campanhas.
O Iaja é a ONG que coordena o comitê de cultura do Amazonas, estrutura do Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC), do Ministério da Cultura. A iniciativa, distribuída por todos os estados, é marcada por influência política e partidária do PT.
Em nota, Anne Moura reafirmou que jamais praticou “qualquer ilegalidade no exercício” de suas atividades e que as gravações “estão sendo utilizados em uma ofensiva cujo único objetivo é macular sua imagem, distorcendo falas fora de contexto para alimentar uma campanha massiva de matérias persecutórias e inverídicas contra mim”. Ela acrescentou que, “diante desses absurdos”, está “adotando todas as medidas jurídicas cabíveis para a responsabilização dos envolvidos”.
O Pé-de-Meia inchado de Lula
Por Notas & Informações ;/ O ESTADÃO DE SP
Criado com o objetivo de estancar a evasão no ensino médio, o Pé-de-Meia já custa mais de R$ 5 bilhões por ano em relação às projeções iniciais do governo Lula da Silva. De agosto de 2024 para este ano, o programa passou do patamar de R$ 7,1 bilhões para R$ 12,5 bilhões. O total de alunos a serem beneficiados com o incentivo financeiro para que não abandonem a escola saltou de 2,4 milhões para 4 milhões, segundo dados do Ministério da Educação (MEC).
De autoria da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), o programa consiste no pagamento ao estudante de R$ 200 mensais, que podem ser sacados ou ficar numa poupança. Além disso, a cada ano cursado, o aluno ganha mais R$ 1 mil. Ao término, o beneficiário pode acumular, nos valores atuais, até R$ 9.200.
Concebido para atender os estudantes regulares da rede pública e de famílias assistidas pelo Bolsa Família, o Pé-de-Meia passou a abranger alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e de famílias com renda mensal per capita inferior a meio salário mínimo. Sua expansão se deu por meio de portaria, numa canetada do MEC.
O programa é daquelas boas ideias que o PT se esforça para estragar. Essa decisão do governo Lula de ampliá-lo suscita questionamentos. É de perguntar quais os critérios que justificaram o seu inchaço, se já houve uma avaliação da sua efetividade e se há recursos no Orçamento de modo que sua expansão não afete outras políticas públicas.
Para o diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa, “o programa ficou muito amplo e muito caro”, considerando que a evasão no ensino médio é de 4% a 5%. Para ter uma ideia, segundo o Censo Escolar de 2023, há 6,8 milhões de alunos no ensino médio público – esse é o dado mais recente, haja vista que o levantamento de 2024 está atrasado.
Corrêa pergunta se o Pé-de-Meia está chegando mesmo ao jovem que precisa. Não à toa, reportagem do Estadão apontou incongruências em seus dados, ao localizar três cidades onde o total de beneficiados supera o número de matriculados. Além disso, em 15 cidades 90% dos alunos do ensino médio estão no programa.
Vale lembrar ainda que o desenho institucional do Pé-de-Meia é problemático. Ele foi criado no ano passado fora do Orçamento, e seus pagamentos foram feitos por meio de um fundo privado administrado pela Caixa Econômica Federal, o que o colocou na mira do Tribunal de Contas da União (TCU). Na peça orçamentária de 2025, o governo até passou a prever o Pé-de-Meia, mas com apenas R$ 1 bilhão. Como o custo total ainda não está assegurado, a gestão Lula poderá ter de pedir crédito suplementar ao longo deste ano.
Como se vê, o governo optou por turbinar uma de suas principais vitrines eleitorais neste terceiro mandato presidencial – talvez a única – sem dimensionar seu público-alvo de forma correta nem se importar com gastos. Por já estar em campanha pela reeleição e com a popularidade em queda, Lula faz do Pé-de-Meia um trunfo eleitoreiro. O custo das irresponsabilidades de uma gestão do PT é sempre alto.
Bolsonaro e apoiadores se reúnem em ato na Paulista pela anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro
Por Aline Ribeiro, Matheus de Souza, Cibelle Brito, Lucas Salgado e Sarah Teófilo— São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília / O GLOBO
Governadores, políticos e líderes da direita próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realizaram novo ato neste domingo, na Avenida Paulista, em São Paulo, com o objetivo de aumentar a pressão sobre a cúpula do Congresso Nacional para pautar a anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro. Bolsonaro, que discursou ao lado de familiares de uma das condenadas pelo Supremo Tribunal Federal por atos antidemocráticos, cobrou o Congresso a aprovar o projeto de anistia articulado pela bancada do PL — cujas lideranças presentes ao ato instaram caciques de outros partidos a declarar apoio à proposta. A manifestação reuniu 44,9 mil pessoas, segundo cálculos do grupo "Monitor do Debate Político" da USP.
Três semanas depois de um ato com mote semelhante, no Rio, ter reunido pouco menos de metade deste público, Bolsonaro desta vez foi ladeado por outros nomes cotados como presidenciáveis no campo da direita. O ex-presidente foi acompanhado pelos governadores Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, Romeu Zema (Novo), de Minas, e Ronaldo Caiado (União), de Goiás, que não estiveram no ato anterior.
Outra presença, a exemplo do que ocorrera no Rio, foi a do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, principal cotado a herdeiro político de Bolsonaro. Tarcísio puxou um coro de "anistia já", usado por outros participantes do ato para pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), seu colega de partido, a pautar um requerimento de urgência para a análise do projeto.
Bolsonaro chegou à manifestação por volta das 13h45, acompanhado de aliados e foi o último a discursar. O ex-presidente voltou a atacar o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do inquérito da tentativa de golpe — no qual Bolsonaro se tornou réu no último mês. Ele também criticou o governo Lula ao discursar junto a familiares de Débora Rodrigues dos Santos, que ficou notória por pichar a frase "perdeu, mané", com um batom, na estátua da Justiça diante do STF. Débora foi condenada por Moraes a 14 anos de prisão, acusada de crimes contra a democracia, e hoje cumpre pena em regime domiciliar — o caso dela segue em análise na Corte, e alguns ministros já sinalizaram que podem rever o tamanho da pena.
— Eu não tenho adjetivo para qualificar quem condena uma mãe de dois filhos a uma pena tão absurda por um crime que ela não cometeu. Só um psicopata para falar que o que aconteceu no 8 de janeiro foi uma tentativa armada de golpe militar — disse o ex-presidente ao lado da mãe de Débora.
Pressão sobre a Câmara
Primeiro a discursar no ato deste domingo, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti (RJ), aproveitou a fala para pressionar os colegas parlamentares sobre pautar a votação da urgência da PEC da Anistia. Desde que os trabalhos na Câmara voltaram este ano, pautar a anistia tem sido o principal objetivo da sigla, que chegou a ameaçar obstruir votações para pressionar os líderes da Casa a acelerarem a tramitação da PEC. No entanto, até o momento, o texto segue paralisado.
— Nesse momento a gente tem 162 assinaturas para acelerar o projeto da anistia — disse Sóstenes, afirmando que nesta segunda-feira vai publicar o nome e a foto de cada deputado e correr atrás das 257 assinaturas restantes. — Ninguém vai nos parar até que a anistia seja aprovada.
Outro a cobrar o Congresso foi o deputado Altineu Cortes (PL-RJ), vice-presidente da Câmara. Em sua fala, ele questionou uma autoridade de cada partido presente se a sigla apoiava a anistia. O primeiro questionado foi o governador de Sâo Paulo, Tarcísio de Freitas, representando o Republicanos, seguido pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto; pelos governadores Ronaldo Caiado, Wilson Lima (Amazonas) e Mauro Mendes (Mato Grosso), representando o União Brasil; por Romeu Zema, representando o Novo; e pela vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, representando o PP.
Todos foram ao microfone endossar o projeto. O governador Ratinho Junior, do Paraná, que representava o PSD, não estava no carro de som, e por isso não se manifestou. Na sexta, o presidente da sigla, Gilberto Kassab, havia afirmado ao GLOBO que o PSD está "dividido" sobre a anistia e disse não ter opinião formada sobre o tema. Altineu, no entanto, apresentou uma versão distinta ao público bolsonarista:
— O presidente do PSD, (Gilberto) Kassab, deu a palavra dele que o partido apoia a anistia — disse o deputado no trio elétrico.
Presente ao ato, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), de São Paulo, disse que está cobrando parlamentares de seu partido a também se posicionarem a favor da anistia.
Organizador do ato, o pastor Silas Malafaia, por sua vez, foi o único a citar o nome do presidente da Câmara, Hugo Motta, para pressionar pelo andamento do texto na Câmara. Em uma fala mais dura, Malafaia alegou que Motta pediu aos líderes da Casa para não assinarem a urgência do texto sobre anistia.
— Ditadores de toga, principalmente como Alexandre de Moraes, se utilizou do dia 8 para nos amedrontar. Se lascou! Olha a gente aqui, essa é a resposta para você, seu covarde! E digo mais: fizeram de tudo para poder massacrar a maior liderança política desse país, que é Bolsonaro! E digo novamente: se lascou!
Nikolas ainda comentou sobre o ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, a quem chamou de "debochado":
— Para o debochado do ministro Barroso, que falou "perdeu, mané". Isso é um fala de bandido quando vai roubar alguém. O que você tá querendo dizer com isso, Barroso: que na eleição de 2022 nós fomos assaltados? Se for isso, fique em paz: daqui a um ano e meio tem eleições de novo. Outros caciques do PL usaram o ato para insistir na hipótese de candidatura presidencial de Bolsonaro em 2026, embora o ex-presidente esteja inelegível até 2030 devido a duas condenações na Justiça Eleitoral. Valdemar Costa Neto afirmou que o objetivo no momento é trabalhar pela anistia dos presos do 8 de Janeiro, que não abarca a situação de Bolsonaro, mas chamou o ex-presidente de "único candidato":
— Todos nós vamos fazer esse trabalho. Queremos anistia. Vamos trabalhar para isso. É por isso que estamos fazendo esses encontros. (...) Precisamos ver como é que fica a situação do Bolsonaro. Mas eu tenho certeza que o Bolsonaro vai ser candidato. Tenho certeza.
— Peço que Hugo Motta mude, pois você está envergonhando o honrado povo da Paraíba. E eu tenho certeza que com o que nós ouvimos aqui dos governadores, de que os deputados não vao abrir mão de assinar o pedido de anistia já.
'Prisão para corrupto'
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) chamou atenção para a quantidade de manifestantes no local, e puxou o coro de "Anistia Já". Assim como o senador Rogério Marinho e Sóstenes, também pediu às pessoas que gritassem "volta, Bolsonaro", e comentou sobre o alto custo de itens como ovo, feijão e carne no governo do presidente Lula.
— Eu quero prisão para assaltante, para quem rouba celular, para quem invade terra, eu quero prisão para corrupto — discursou o governador de São Paulo.
Outro nome que costuma aparecer entre os cotados a herdar o espólio político de Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle apelou a um tom emocional, a exemplo do marido, ao comentar a situação de presos pelo 8 de Janeiro. Michelle comparou a pena de Débora às de pichadores comuns, que costumam ser condenados ao regime aberto, sem mencionar os crimes pelos quais ela responde: — Se um pichador pode cumprir pena de três meses em liberdade, por que tanta maldade e crueldade com essa mulher? — questionou.
Débora é acusada de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, com pena de 4 anos e 6 meses de reclusão; golpe de Estado, com pena de 5 anos; dano qualificado, com violência à pessoa ou grave ameaça, ao patrimônio da União, por motivo egoístico ou prejuízo considerável para a vítima, com pena de 1 ano e 6 meses de detenção e multa de R$ 25.300; deterioração do patrimônio tombado, com pena de 1 ano e 6 meses e multa de R$ 25.300; e associação criminosa armada, com pena de 1 ano e 6 meses de reclusão. Segundo a Procuradoria-Geral da República, ela também é suspeita de apagar provas, obstruindo o trabalho de investigadores e da Justiça.
Antes de finalizar seu discurso, Michelle fez um apelo ao ministro Luiz Fux, que já intenção de rever a pena de Débora. Michelle pediu que o ministro "não jogue seu nome na lama" e analise também o caso de Adalgiza Maria Dourado, condenada a 16 anos e seis meses de prisão.
— Temos aqui a Adalgiza de 64 anos, que está doente. Não deixar a Adalgiza morrer, Luiz Fux, como fizeram com Clezão — disse a ex-primeira-dama, em referência a um dos presos pela invasão às sedes dos Poderes, que foi vítima de um infarto fulminante e faleceu na prisão.
Michelle ainda chamou todos os filhos homens de Bolsonaro presentes no ato — o senador Flávio, o vereador de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro — para abraçarem o pai no carro elétrico aos gritos de "anistia humanitária já", e salientou a ausência do deputado Eduardo, que se licenciou no último mês do cargo e está nos Estados Unidos.
Bolsonaro 'único candidato'
Os organizadores divulgaram listas no dia anterior confirmando a presença de 117 políticos da direita ou próximos ao ex-presidente, incluindo governadores, deputados federais e estaduais. Um dos poucos parlamentares que discursaram no trio elétrico junto a Bolsonaro, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) fez ataques aos ministros do STF, a quem chamou de "ditadores da toga" que, segundo ele, se utilizaram do 8 de Janeiro para "amedrontar" a direita.
— Ditadores de toga, principalmente como Alexandre de Moraes, se utilizou do dia 8 para nos amedrontar. Se lascou! Olha a gente aqui, essa é a resposta para você, seu covarde! E digo mais: fizeram de tudo para poder massacrar a maior liderança política desse país, que é Bolsonaro! E digo novamente: se lascou!
Nikolas ainda comentou sobre o ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, a quem chamou de "debochado": — Para o debochado do ministro Barroso, que falou "perdeu, mané". Isso é um fala de bandido quando vai roubar alguém. O que você tá querendo dizer com isso, Barroso: que na eleição de 2022 nós fomos assaltados? Se for isso, fique em paz: daqui a um ano e meio tem eleições de novo.
Outros caciques do PL usaram o ato para insistir na hipótese de candidatura presidencial de Bolsonaro em 2026, embora o ex-presidente esteja inelegível até 2030 devido a duas condenações na Justiça Eleitoral. Valdemar Costa Neto afirmou que o objetivo no momento é trabalhar pela anistia dos presos do 8 de Janeiro, que não abarca a situação de Bolsonaro, mas chamou o ex-presidente de "único candidato":
— Todos nós vamos fazer esse trabalho. Queremos anistia. Vamos trabalhar para isso. É por isso que estamos fazendo esses encontros. (...) Precisamos ver como é que fica a situação do Bolsonaro. Mas eu tenho certeza que o Bolsonaro vai ser candidato. Tenho certeza.
Pesquisa Datafolha divulgada neste domingo apontou que 67% dos eleitores defendem que Bolsonaro abra mão de ser candidato e apoie outro nome. Outra pesquisa divulgada neste domingo, da Quaest, mostrou dificuldades também para a pauta da anistia: 56% dos entrevistados defendem que "os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro" devem "continuar presos por mais tempo cumprindo suas penas". Outros 34% acham que eles nem deveriam ter sido presos ou "já estão presos por tempo demais".
Antes mesmo do ato na Paulista, Bolsonaro posou com Tarcísio, que hospedou o ex-presidente no Palácio Bandeirantes, e junto a outros seis governadores: Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Ronaldo Caiado (GO), Wilson Lima (AM), Ratinho Júnior (PR) e Mauro Mendes (MT). O governador do Rio Cláudio Castro, que havia confirmado participação, se ausentou devido às chuvas no estado, mas postou um vídeo nas redes sociais citando seu apoio "à causa (da anistia)".
Caiado afirmou que veio à manifestação porque é um movimento nacional pela “justiça”, e afirmou ser um dos cinco presidenciáveis presentes hoje na Paulista. O governador goiano lançou nesta sexta-feira sua pré-candidatura ao posto pelo União Brasil, em um evento em Salvador.
— Não tem sentido essa situação que leva a um sentimento de total descompasso com aquilo imputado em relação às penas. O Estado não pode vingar, ele tem que julgar. Então este é o momento de julgar com equilíbrio, com apoderação. É a hora de nós caminharmos para pacificar o Brasil.
Ele afirma que sua pré-candidatura à presidência não fragmenta a Direita.
— Olha, hoje aqui nós estamos em Caiado presidenciável, Zema presidenciável, Ratinho presidenciável, Tarcísio presidenciável, Bolsonaro presidenciável. Hoje nós somos cinco. Não fragmenta a direita, mas é a realidade. Essa realidade vai trabalhar.
Já o mineiro Romeu Zema (Novo) voltou a fazer acenos a Bolsonaro e minimizou a fragmentação de candidatos: — A proposta da direita é muito semelhante. Eu já disse que eu quero somar com o projeto Brasil. Em Minas nós fizemos a diferença e eu quero estar contribuindo. E a definição (sobre a candidatura) vai ser feita mais adiante. Nós estamos mostrando aqui hoje que estamos juntos, unidos, sete governadores. Como eu falei, eu quero contribuir com a direita, com o Brasil. A posição para mim é secundária, eu quero contribuir e ajudar.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, ausente no ato realizado há poucas semanas no Rio de Janeiro, posou ao lado de outras mulheres, como a mulher do governador de Goiás, Gracinha Caiado. Já o deputado Nikolas Ferreira disse que Bolsonaro se mostrou um "líder de convergência", em referência à presença de outros possíveis presidenciáveis.
Varal de mártires e trap
Nas primeiras horas da manifestação, apoiadores do ex-presidente já faziam volume na Avenida Paulista, mesmo sem a presença de nenhuma autoridade. Nas placas, pedidos de anistia e o uso do batom como "símbolo de resistência". “Cuidado ao usar essa arma, te condena há 14 anos” diziam placas com o objeto, em mais uma referência à condenação de Débora Rodrigues dos Santos.
Além de um “varal de mártires” com imagens de pessoa presas por tentativa de golpe, a manifestação também contou com músicas compostas para engrossar o coro por anistia. Uma delas, ao ritmo de trap, entoava que "não houve golpe, nem tentativa de golpe, só tinha mulheres”. Músicas em sertanejo e pop com a mesma temática também foram tocadas.
Críticas da esquerda
Lideranças da esquerda repercutiram a manifestação bolsonarista e fizeram críticas ao tom do discurso de Bolsonaro. A ministra das Relações Institucionais de Lula, Gleisi Hoffmann, afirmou que mesmo após virar réu por tentativa de golpe, Bolsonaro repetiu hoje que "não aceitou o resultado das eleições".
Em postagem na rede social X, a ministra rebateu os ataques feitos ao governo durante o evento e defendeu a responsabilização do ex-presidente pelos crimes "contra o país e a democracia": "A maioria do povo brasileiro não apoia a anistia e os repetidos ataques a ministros do STF e ao presidente da Câmara, no palanque da extrema-direita em São Paulo, reforçam o acerto do Judiciário em processar os comandantes da tentativa de golpe de 8 janeiro", escreveu ela.
Para o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), o ato, em vez de ajudar, dificulta a aprovação do projeto que prevê anistia. Segundo ele, os ataques feitos por Malafaia ao microfone devem isolar ainda mais a oposição.
— O ato dificulta cada vez mais a aprovação do PL da Anistia. Primeiro porque foi fraco. Segundo porque o Datafolha mostrou hoje que a maioria não quer essa anistia. E terceiro foi a forma desrespeitosa que o presidente da Câmara, Hugo Motta, foi tratado. Depois do que falaram dele, acham que ele vai pautar o projeto? Acho inclusive que isso vai gerar uma solidariedade no Parlamento ao presidente Hugo Motta. Esse ato vai isolar cada vez mais o PL — disse o deputado do PT.
Datafolha aponta vários copos meio vazios para governo e oposição
A nova rodada de resultados do Datafolha resume, por meio de variáveis que apontam para direções opostas, o cenário político brasileiro da segunda metade do governo Lula e sua sucessão. A percepção sobre a economia? Vai mal. O governo? Já esteve pior, mas também já esteve melhor, e seu futuro soa pouco auspicioso junto à população. Na oposição, o nome mais viável eleitoralmente está inviabilizado legalmente.
Após o tombo do início do ano, quando viu sua avaliação positiva restrita a 24% da população adulta do país e sua rejeição subir para níveis inéditos (41%), o governo Lula chega a abril bem visto por uma parcela um pouco maior de brasileiros (29%), e mal avaliado por um contingente bastante próximo de seu pior momento (38%).
Dado o saldo negativo persistente, resta ao atual mandatário saudar o fato de essas curvas não continuarem se abrindo no gráfico que será determinante para demonstrar força na construção de sua coalizão para 2026. Além disso, os índices são suficientes para fazê-lo líder da ainda distante sucessão.
Entre os segmentos que garantiram o avanço na avaliação positiva do governo estão aqueles que no Brasil têm uma renda familiar acima de dois salários mínimos, o que significa estar na metade menos pobre do país. Nesses estratos de renda mais alta, o governo recuperou, em abril, índices de avaliação positivos similares aos que vinha registrando na primeira metade do mandato.
Os brasileiros com renda familiar acima de dois salários costumavam atribuir uma avaliação positiva ao governo mais baixa do que na fatia com renda inferior a essa quantia, o colchão de popularidade de Lula.
Agora, os índices se alinham, uma vez que a visão positiva sobre o governo ficou estagnada justamente entre os mais pobres, após queda de 14 pontos em relação a dezembro. Ou seja, o alívio momentâneo veio de um segmento em geral mais desconfiado da gestão petista, enquanto seu público mais fiel não voltou a lhe atribuir o crédito de costume
Em junho de 2005, após dois anos e seis meses de seu primeiro mandato, Lula também enfrentava um mau momento, quando viu sua avaliação positiva cair dez pontos percentuais em seis meses (de 45% para 35%) e uma forte associação do seu governo à corrupção, com possível relação com o caso Roberto Jefferson/Correios.
Chegou ao final do terceiro ano do primeiro mandato com 28% de avaliação positiva, índice próximo ao que tem hoje. Por outro lado, a sua avaliação negativa nunca passou de 29%, enquanto a parcela dos que avaliavam seu governo de maneira regular variou entre 40% e 45%, de 2003 a 2005.
Hoje, seu maior desafio é econômico. De forma geral, 55% avaliam que a situação econômica do país piorou nos últimos meses, 34% enxergam uma piora também na sua própria situação econômica e, para 36%, a economia do país vai se deteriorar ainda mais nos próximos meses. Desde o segundo semestre de 2022 os brasileiros não se mostravam tão pessimistas.
Pelo lado da oposição, Jair Bolsonaro (PL) ainda é o nome mais forte, com desvantagem mínima em relação ao petista quando se considera a margem de erro do levantamento (30% a 36%), no cenário de primeiro turno.
Inelegível e prestes a enfrentar um julgamento que pode colocá-lo na prisão, o ex-presidente está em paridade com o atual no quesito de rejeição: 44% não votariam em Bolsonaro, e 42% descartam escolher Lula. Apesar das declarações confirmando sua candidatura, a maior parte dos brasileiros avalia que Bolsonaro deveria desistir e apoiar outro candidato, sentimento compartilhado por 30% dos que se consideram bolsonaristas.
O cenário atual se desenha muito mais difícil para Lula do que em maio de 2021, quando liderava com 18 pontos sobre Bolsonaro nas intenções de voto (41% a 23%) e via seu oponente abrir a mesma distância no quesito rejeição (54% a 36%).
Caberá aos outros nomes que de fato poderão disputar o Planalto tirar vantagem da aversão ao petista sem atrair para si a repulsa ao ex-capitão. Para isso, também devem estar atentos à percepção pública sobre as pautas em disputa, como a rejeição existente à anistia aos envolvidos no 8 de janeiro.
O ato na avenida Paulista para defender o tema, com a presença de Bolsonaro e governadores de sete estados, reuniu, segundo estimativa do Datafolha, cerca de 55 mil pessoas –público significativo, mas bem aquém dos grandes protestos que já passaram pela avenida.
Mesmo com surpresa no PIB, pessimismo avança
Apesar da interrupção na queda de popularidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a recente pesquisa Datafolha, realizada entre 1º e 3 de abril de 2025, mostra que se tornou mais negativa a percepção da população a respeito do estado da economia, mesmo com crescimento acima do esperado.
Pela primeira vez no terceiro mandato de Lula, a maioria dos entrevistados (55%) considera que a situação econômica nacional piorou nos últimos meses, um salto de dez pontos percentuais desde dezembro de 2024.
A confiança da opinião pública também segue abalada: 36% agora esperam uma piora nos próximos meses, ante 28% em dezembro, enquanto os otimistas caíram de 33% para 29%. Já na esfera pessoal, embora a estabilidade predomine (39%), a sensação de piora subiu de 27% para 34%.
Na mesma direção, há expectativa majoritária de que a inflação continuará em alta (62%, ainda que abaixo dos 67% da leitura anterior) e pessimismo dominante quanto ao poder de compra dos salários —37% acham que vai diminuir, ante 30% que acreditam em aumento, relação um pouco melhor que a de dezembro.
Os números refletem a pressão inflacionária aguda, sobretudo em itens essenciais, como alimentos, que penaliza as famílias mais pobres desproporcionalmente. Tal situação foi impulsionada pelo gasto público e percebida pela população, que se torna descrente de uma virada positiva.
De fato, mesmo os indicadores favoráveis no mercado de trabalho —como a criação recorde de 431 mil vagas formais em 2025, segundo o Caged, e uma taxa de desemprego de 6,8%— não trazem alento nas respostas. Pelo contrário, 43% preveem fechamento de vagas, ante 41% em dezembro.
É um sinal de que o humor econômico pode estar mais atrelado à inflação do que ao emprego. A batalha contra a elevação de preços está longe de ser vencida. As projeções para a alta do IPCA neste ano estão em 5,65%, muito acima da meta de 3%. Não se espera grande melhora nos alimentos
A expectativa há poucos meses era a de que os juros altos, que devem se aproximar de 15% ao ano nos próximos meses, poderiam esfriar a atividade e abrir espaço para taxas menores e uma retomada da economia até 2026.
Para tanto, seria desejável paciência do governo, com contenção de gastos públicos, até que a política monetária pudesse fazer o seu papel. Não é o que indica o Planalto, contudo, ao insistir em medidas de estímulo que a esta altura apenas devem prolongar o período de juros elevados.
No mundo, cresceu o risco de recessão com as medidas tresloucadas do presidente americano, Donald Trump, que já provoca queda dos preços do petróleo e pode desvalorizar o dólar. Uma eventual apreciação do real e menores custos de energia podem reduzir a carestia interna.
De todo modo, trata-se de cenário hostil, com o qual Lula não demonstrou capacidade de lidar após dois governos de bonança.
Acordo com STF reduz farra das emendas parlamentares
FOLHA DE SP
O Congresso Nacional deu mais um passo em seu acordo com o Supremo Tribunal Federal para racionalizar o uso das emendas parlamentares. Já não era sem tempo, pois esses repasses, do modo como têm sido feitos, comprometem sobremaneira a qualidade dos gastos públicos em um Estado já deficitário.
Como parte das exigências do STF, deputados e senadores começaram na semana passada o processo de divulgação, de forma individualizada, dos padrinhos de recursos enviados a estados e municípios por meio de emendas de comissão.
Espera-se, com isso, eliminar ao menos um dos graves problemas dessa modalidade de dispêndio: a falta de transparência sobre o real autor da indicação.
Resolver esse ponto não é questão de somenos. A transparência dos gastos públicos está presente em vários artigos da Constituição, em diretrizes que visam facilitar o trabalho dos órgãos de controle e garantir que o cidadão, por conta própria, possa verificar de que maneira os políticos empregam o dinheiro dos impostos.
A opacidade, contudo, não é a única distorção que precisa ser corrigida. Há outras, como o uso eleitoral das verbas, a baixa eficiência na aplicação e a desigualdade na distribuição —todas exemplificadas nas canetadas de Carlos Fávaro, senador licenciado (PSD) e ministro da Agricultura e Pecuária no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Cotado para concorrer ao Governo de Mato Grosso em 2026, Fávaro destinou R$ 29 milhões a Jangada (MT) em 2023. A cidade de 7.426 moradores reelegeu em primeiro turno o prefeito Rogério Meira (PSD), aliado do ministro. Feita uma conta básica, a bolada equivale a R$ 3.956 por habitante.
O valor chama a atenção em termos absolutos, mas algumas comparações evidenciam o despautério. Na média, municípios com prefeitos reeleitos foram beneficiados por aliados com R$ 85 por habitante. São Felipe d’Oeste (RO), a segunda cidade que mais recebeu dinheiro nesse grupo, ficou com R$ 1.940 por pessoa.
Para piorar, 98% da verba chegou a Jangada por meio das chamadas emendas Pix, que caíram direto no caixa da cidade, sem vinculação a projetos específicos.
A Folha procurou o ministério e a Prefeitura de Jangada para saber por que o valor foi tão alto e onde as verbas foram aplicadas. Não houve resposta.
Como parte do acordo com o STF, as emendas Pix agora só podem ser pagas mediante planos de trabalho. Avança-se aos poucos, mas ainda falta muito para interromper essa farra com a qual o Congresso se habituou.