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Projeto que limita supersalários analisado no Senado aumenta gastos em R$ 3,4 bi, em vez de reduzir

Por Gabriel de Sousa / O ESTADÃO DE SP

 

BRASÍLIA - Um manifesto assinado por 10 entidades divulgado nesta quarta-feira, 9, aponta que o projeto de lei que busca limitar os supersalários deve aumentar os gastos com as remunerações acima do teto em R$ 3,4 bilhões, em vez de reduzir. O número considera somente quatro das 32 exceções ao teto previstos pela proposta. Deste número, 14 estão classificadas incorretamente no texto como indenizatórias segundo as instituições.

 

A cifra de R$ 3,4 bilhões considera o pagamento em dobro do adicional de um terço de férias, a gratificação por exercício cumulativo de ofícios, o auxílio-alimentação e o ressarcimento de despesas com plano de saúde.

 

Os números fazem parte de uma pesquisa divulgada em dezembro do ano passado pelo Movimento Pessoas à Frente e elaborada pelo economista Bruno Carrazza. O levantamento também mostrou que os supersalários custaram R$ 11,1 bilhões aos cofres públicos em 2023.

 

O teto constitucional do funcionalismo público é de R$ 46,3 mil, equivalente à remuneração dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A partir de verbas indenizatórias como auxílios e gratificações (que não entram no abate-teto), as remunerações dos servidores podem ultrapassar a barreira.

 

No posicionamento das entidades, é destacado que os R$ 11,1 bilhões poderiam ser utilizados para “fortalecer a infraestrutura de atendimento à população em diversos setores prioritários”.

 

“A título de comparação, ele corresponde à construção de 4.582 Unidades Básicas de Saúde, o atendimento anual de 1,36 milhão de famílias no Programa Bolsa Família e de 3,9 milhões de alunos do ensino médio no Programa Pé-de-Meia”, destacam.

 

O posicionamento foi assinado pelas seguintes instituições: Movimento Pessoas à Frente Fundação Tide Setubal, Transparência Brasil, Plataforma Justa, Instituto Democracia e Sustentabilidade, Movimento Brasil Competitivo, Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, Associação Livres, Centro de Liderança Pública e República.org.

 

Ao Estadão, a diretora-executiva do Movimento Pessoas à Frente, Jessika Moreira, afirmou que uma das consequências do pagamento bilionário para remunerações acima do teto constitucional é o enfraquecimento da democracia. Para Jessika, os supersalários ajudam a minar a credibilidade do setor público.

 

“O recurso que sai para pagamento desses auxílios sai do mesmo cofre do pagamento das principais políticas públicas. Além disso, isso contamina a credibilidade das instituições e do setor público por parte da população”, afirmou Jessika Moreira

 

Na manifestação, as dez entidades consideraram que o projeto de lei além de perpetuar, deve ampliar privilégios e desigualdades. “Se aprovada, legitima o pagamento de benefícios remuneratórios a título de indenização, cuja consequência imediata é ser livre de incidência de Imposto de Renda, além de banalizar as exceções ao teto constitucional”, afirma o posicionamento.

 

As entidades também exigem que o projeto de lei classifique adequadamente as verbas remuneratórias, indenizatórias e outras vantagens eventualmente recebidas. No caso das indenizatórias, as instituições defendem que sejam seguidos três critérios:

 

  • Ter natureza reparatória, ressarcindo o servidor de despesas incorridas no exercício da função pública;
  • Ter caráter eventual e transitório, não sendo incorporadas em bases mensais, devendo possuir um horizonte temporal limitado, e requerendo uma análise caso a caso;
  • Ser expressamente criadas em lei, não podendo ser instituídas por ato administrativo.
  • O projeto criticado pelas entidades é o n°2721/2021, e está atualmente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Como mostrou o Estadão, a proposta, que busca combater os supersalários, contém 14 regras que abrem brechas para manter esses rendimentos.

  • Essas 14 exceções ao teto, segundo outro estudo do Movimento Pessoas à Frente, são verbas remuneratórias, e não indenizatórias. “Se mantidas como estão no texto original, elas podem, além de manter os supersalários, criar um efeito em cascata, já que abre espaço para que servidores do Executivo que ganham menos do que o estabelecido peçam equiparação, o que pode provocar um rombo de R$ 26,7 bilhões nas contas públicas”, diz um trecho da pesquisa.

  • A proposta veio do Senado e foi aprovado pela Câmara em junho de 2021 com a lista de 32 exceções ao teto que desidratou o projeto que, inicialmente, buscava fazer uma maior restrição às verbas que não são abatidas pelo teto constitucional. Por conta das mudanças, o texto teve que voltar à Casa Alta.

É um erro excluir receita do Judiciário das regras fiscais

Por Editorial / O GLOBO

 

É preocupante a formação de maioria no Supremo Tribunal Federal (STF) em favor de retirar as receitas obtidas pelo Judiciário federal do cálculo dos limites impostos pelo arcabouço fiscal. A decisão em causa própria vem num momento em que o país enfrenta uma crise grave nas contas públicas, e o Executivo tem sido titubeante no compromisso com a responsabilidade fiscal. Não tem faltado em Brasília “criatividade contábil” para driblar as regras já frouxas do arcabouço. Essas manobras parafiscais incluem financiamentos de fundos estatais ou crédito subsidiado pelo BNDES. Poderão alcançar, de acordo com certas estimativas, 1% do PIB ao final deste ano, ante 0,5% em 2024 (o Ministério da Fazenda contesta esses números).
 O novo drible do STF preserva os gastos realizados com o dinheiro que os tribunais arrecadam com emolumentos, com custo de processos e com outros serviços prestados — ao todo, essa arrecadação somou R$ 2 bilhões no ano passado. Ao excluir esse valor das receitas apuradas pelas regras fiscais, automaticamente o limite de despesas também cai, pela fórmula do arcabouço. Resultado: enquanto todas as demais áreas do governo precisarão economizar para cumprir as metas, o Judiciário manterá esses recursos livres para gastar sem restrições. Na prática, o Supremo passou a conta adiante. Num momento em que o país corta investimentos em infraestrutura ou na saúde, o dinheiro dos juízes estará garantido.
 
O julgamento no STF foi motivado por uma ação da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) sustentando que a lei do arcabouço previu exceções: não estão, na base usada para calcular o teto dos gastos, as receitas próprias de universidades públicas federais ou instituições científicas. O paralelo é, porém, imperfeito. Esses centros geram valor por meio de consultorias ao setor privado, produtos e contribuições à sociedade. A origem das receitas do Judiciário é outra. São serviços públicos, equivalentes aos prestados por qualquer departamento do governo.
 
O artigo 99 da Constituição assegura autonomia administrativa e financeira ao Judiciário, mas dentro de parâmetros claros. Os tribunais elaboram sua proposta orçamentária de acordo com os limites estipulados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias. Deveriam, portanto, estar sujeitos às mesmas restrições que o resto do governo. Mas a AMB, conhecida pela defesa intransigente dos penduricalhos e outros privilégios dos juízes, enxergou mais uma brecha — e o STF decidiu isentar o Judiciário. Tem sido assim, de bilhão em bilhão, que o controle dos gastos, já tíbio, vai enfraquecendo.
 
É flagrante o contraste entre o tratamento dado aos tribunais e a outros organismos do Estado. Enquanto os recursos para investimentos públicos têm ficado abaixo do necessário há muitos anos, os do Judiciário têm crescido. O relatório do Tesouro Nacional divulgado em fevereiro mostra que o Brasil gasta o equivalente a 1,43% do PIB com seus tribunais, mais que o dobro dos países emergentes e o quádruplo das economias avançadas. Não é razoável que um Judiciário com tanto dinheiro queira afrouxar ainda mais o cinto em momento tão difícil para o país.
 

Demora de Lula para demitir Juscelino Filho expôs fragilidade do governo

Por Bernardo Mello Franco / O GLOBO

 

 

Lula ainda não havia completado um mês no Planalto quando Juscelino Filho estreou nas páginas policiais. Em janeiro de 2023, o jornal O Estado de S. Paulo informou que o ministro das Comunicações tinha usado verbas do orçamento secreto para beneficiar uma fazenda da família no interior do Maranhão. O presidente deveria ter afastado o auxiliar, mas preferiu deixar para lá. A história se repetiria por dois anos e três meses, numa incrível sucessão de escândalos com o mesmo protagonista.

 

Juscelino foi acusado de ocultar patrimônio da Justiça Eleitoral. De usar avião da FAB e embolsar diárias para assistir a um leilão de cavalos. De pendurar o gerente de seu haras na folha de pagamentos da Câmara. De falsificar dados sobre voos de helicópteros custeados pelo fundo partidário. A cada suspeita, o ministro ganhou um novo voto de confiança do chefe. Mesmo quando sua permanência já se mostrava insustentável.

 

Em junho de 2024, a Polícia Federal indiciou Juscelino por desvio de emendas parlamentares. As investigações apontaram um combo de irregularidades. Além de usar verba pública para asfaltar o caminho até sua propriedade privada, o ministro foi acusado de cobrar propina e manter “relações criminosas” com um empreiteiro responsável que se valia de empresas de fachada.

 

Instado a opinar, Lula se saiu com mais uma defesa da presunção de inocência. “O fato de o cara ter sido indiciado não significa que ele cometeu um erro”, pontificou. A frase soou como uma confissão de fragilidade. Sem uma base parlamentar sólida, o presidente se assumia refém de políticos fisiológicos, pouco confiáveis e enrolados com a polícia. Juscelino não é o único ministro a se encaixar nesse perfil.

 

As acusações se referem ao governo passado, quando o maranhense exercia o cargo de deputado. Isso não livra Lula do desgaste por ter feito vista grossa por tanto tempo. A blindagem de Juscelino só ruiu ontem à noite, depois da notícia de que ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República.

 

Os áulicos do governo dirão que o presidente agiu rápido. Entre o indiciamento pela PF e a demissão, ele levou 301 dias para se livrar do aliado encrencado.

 

O presidente Lula e Juscelino Filho, ministro das Comunicações

Água da chuva invade casas no Nova Metrópole, em Caucaia, e danifica móveis; veja antes e depois

Escrito por João Lima Neto / DIARIONORDESTE
 
Moradores do bairro Nova Metrópole, em Caucaia, tiveram casas invadidas pela água das chuvas registradas, na madrugada desta segunda-feira (7). Famílias que vivem nas avenidas do Contorno Oeste e Norte tiveram móveis e eletrodomésticos danificados
 
Orseni Pequeno mora em um bairro vizinho e foi acionado por familiares que vivem no Nova Metrópole para ajudar na limpeza das casas, na manhã de hoje, após o fim da chuva. Segundo ele, inundações são comuns na região, mas neste ano elas estão cada vez maiores. 
 

"Já houve enchentes outras vezes, mas não tão forte como dessa forma. Só nos últimos 30 dias, é a terceira vez que isso ocorre isso nessa região. Na primeira vez, algumas autoridades vieram e informaram que iam mandar máquinas limpar bueiros, mas não fizeram", explicou Orseni.   

Com base em uma foto registrada por moradores, o Diário do Nordeste fez um comparativo — usando imagem do Google Maps — da rua antes e depois das chuvas. É possível observar o canteiro central da avenida do Contorno Oeste coberto pela água.

Moradores de Caucaia registraram ainda alagamentos em outras vias, como:

  • Rua 206, no Nova Metrópole
  • Rua Menino Jesus, Conjunto Metropolitano
  • R. Francisco Cordeiro, Conjunto Metropolitano
  • Rua Padre Cícero, Conjunto Metropolitano
  • Rua Maria da Paz Ferreira, Conjunto Metropolitano 
  • Rua Antônio José Arrais, Conjunto Metropolitano
  • Rua Francisco de Freitas, Conjunto Metropolitano

Em nota, a Prefeitura de Caucaia informou que implementou uma força-tarefa para realizar a limpeza de canais e bueiros, iniciando nas proximidades das avenidas Contorno Norte e Contorno Oeste. Os trabalhos contam com 10 garis, uma retroescavadeira e cinco caçambas, segundo a gestão municipal. 

"A operação Caucaia tem foco na requalificação de áreas críticas, no fortalecimento da limpeza pública e na eliminação de pontos recorrentes de descarte irregular de lixo", disse a Prefeitura. 

AGUA NO METROPOLE

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O múltiplo desafio do envelhecimento

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

 

O Tribunal de Justiça de São Paulo acolheu um pedido do Ministério Público e determinou que a Prefeitura da capital duplique a oferta de vagas em Instituições de Longa Permanência para Idosos (Ilpi) de grau 3 – ou seja, idosos com alto grau de dependência para cuidados diários – destinadas àqueles em situação de vulnerabilidade, providenciando 60 vagas em 180 dias. São Paulo não é um caso isolado e a oferta de acolhimento é só um elemento de um mosaico de desafios impostos pelo envelhecimento populacional.

 

Como na maioria dos países do mundo, a população brasileira está envelhecendo e em breve começará a encolher. Segundo a ONU, a população no Brasil deve crescer dos atuais cerca de 212 milhões para 219,3 milhões em 2042, quando começará a encolher até chegar a 163,4 milhões em 2100. Em 1950, o grupo de idosos representava 4% da população; hoje, são 15,8%; em 2100 serão mais de 40%.

 

Hoje, quase dois terços dos municípios não possuem nenhuma Ilpi, e em alguns Estados houve redução da oferta de vagas em 15 anos. Além da carência de vagas, há problemas no encaminhamento e no financiamento. Quem determina se um idoso preenche os requisitos para uma vaga pública é o Sistema Único de Assistência Social (Suas), mas, a exemplo do que ocorre com os parceiros privados do Sistema Único de Saúde (SUS), como as Santas Casas, as Ilpis conveniadas são subfinanciadas. Para cada idoso, o governo federal repassa via Suas ridículos R$ 72 por mês.

 

Especialistas ouvidos pelo Estadão apontam outras opções de cuidado. O ideal é privilegiar o máximo de autonomia da família. Em termos de políticas públicas, isso pode significar subsídios diretos aos familiares que decidem manter o parente em casa, como no Chile e no Uruguai. Outra opção são os centros-dia, comuns no Japão, para acolher idosos enquanto os familiares estão no trabalho. A Ilpi deveria ser a última opção, em caso de impossibilidade da família de oferecer os cuidados necessários.

 

Do ponto de vista dos gestores públicos, se há uma vantagem no envelhecimento populacional é o fato de ser previsível. As reformas são inevitáveis. O desafio é equilibrá-las num quadro de necessidades multissetoriais, que envolvem desde o sistema de saúde, o mercado de trabalho, até adaptações urbanísticas e de infraestrutura.

Os dois setores em que as reformas são mais urgentes são, por óbvio, a Previdência Social e a Saúde. Alguns países já ensaiam uma espécie de reforma da Previdência permanente, na qual a idade mínima da aposentadoria, por exemplo, acompanha automaticamente elevações na expectativa de vida. Adaptações nos sistemas de saúde passam por foco em prevenção e medicina primária para reduzir custos com doenças crônicas, ou em telemedicina e cuidados domiciliares para melhor atender os idosos e evitar hospitalizações desnecessárias.

 

Essencial é a promoção de um envelhecimento ativo no mercado de trabalho, para oferecer condições produtivas às pessoas que precisam ou querem trabalhar na terceira idade. Isso envolve desde programas de requalificação e treinamento até políticas de conscientização contra o etarismo. Com efeito, o envelhecimento populacional não traz apenas custos, mas oportunidades, como mostram os estudos sobre a chamada “economia prateada”.

 

O Brasil precisa fazer um diagnóstico de riscos, necessidades e potencialidades. Um estudo comparado de 2020 da Economist Intelligence Unit com os países do G-20, por exemplo, sugere áreas mais e menos vulneráveis na oferta de um ambiente sustentável para a longevidade. No quesito “oportunidades econômicas”, por exemplo, o Brasil ficou em 5.º lugar, com 73,9 de 100 pontos, acima da média global de 62,4 pontos. Já nos quesitos “saúde adaptativa e sistemas de proteção social” e “estruturas e instituições sociais inclusivas”, o País ficou abaixo da média mundial. No geral, o Brasil ficou em 11.º lugar, com 59,6 pontos, ligeiramente acima da média mundial, de 59,4. Não é ruim. Mas está longe de ser bom.

 

O fato é que situações dramáticas, como a carência de instituições de acolhimento, mostram que o desafio do envelhecimento precisa entrar rápida e sistematicamente na pauta das políticas públicas.

Recontagem política

Por Merval Pereira / O GLOBO

 

Levar milhões de pessoas às ruas ficou difícil depois que a moderna tecnologia possibilitou contar com exatidão as grandes manifestações. Os bolsonaristas dizem que 1 milhão estiveram presentes na manifestação da Avenida Paulista a favor da anistia, mas os números verdadeiros sugerem que havia entre 45 mil e 60 mil manifestantes. Pela visão dos vídeos do pico de presença, era gente que não acabava mais. Os números podem enganar, mas não é possível nem ao mais fanático petista negar que Bolsonaro é o único líder político hoje capaz de colocar tanta gente na rua, com a convocação pelas redes sociais.

 

O aparente fracasso da manifestação anterior, em Copacabana, não significou que o bolsonarismo houvesse refluído, mas algum erro de convocação aconteceu. Mesmo assim, houve mais gente no Rio que na manifestação contra a anistia promovida pelo líder do PSOL Guilherme Boulos em São Paulo. Desde que os sindicatos perderam o subsídio obrigatório recebido dos associados, perderam igualmente a capacidade de mobilizá-los, que dava à CUT e ao PT a aparência de controlar as manifestações populares.

 

Quando não se podia contar com precisão pessoas presentes nas ruas, falar em Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar era uma maneira de realçar a grandiosidade da manifestação, especialmente naquele momento em que recrudescia a opressão. Hoje, não dá mais para negar se uma manifestação flopou. A demonstração de força da Paulista, no entanto, não quer dizer que a pressão popular tenha força para obrigar os parlamentares a aprovar a anistia aos presos da tentativa de golpe do 8 de Janeiro.

 

Não parece haver disposição para comprar mais uma briga com o Supremo Tribunal Federal (STF), sobretudo uma briga perdida, pois é óbvio que, aprovada a anistia no Congresso, o Supremo decidirá que ela é inconstitucional. É uma briga indesejada, a não ser para os fanáticos bolsonaristas, que jogam na anistia a possibilidade de Bolsonaro ser liberado para disputar a eleição presidencial de 2026. No entanto anistia restrita aos punidos pela tentativa de golpe não anularia a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de torná-lo inelegível, tomada devido a abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação na campanha presidencial de 2022.

 

Sua punição não tem nada a ver com a tentativa de golpe. Por isso, o projeto de anistia não se refere à data de 8 de janeiro de 2023, mas fala num prazo mais amplo, que pegaria a condenação eleitoral de Bolsonaro. O ex-presidente enfrenta um paradoxo difícil de superar. Não podendo se candidatar, ele se torna um excelente cabo eleitoral, mas não para quem ostenta seu próprio nome. As pesquisas mostram que somente ele pode enfrentar Lula em igualdade de condições.

Qualquer um que tenha seu sobrenome, a mulher Michelle ou os filhos Eduardo e Flávio, não tem chance eleitoral e, colocado como vice na chapa de alguém, enfraquece o candidato a presidente. Especialmente porque ficará pairando no ar a suspeita de que o candidato a presidente está ali apenas para guardar o lugar para um Bolsonaro assumir a Presidência e governar sob orientação dele.

 

Resta testar a possibilidade de Bolsonaro apoiar um dos governadores de direita que estiveram na manifestação da Paulista. Enquanto sua sombra permanecer encobrindo os candidatos de direita, um grupo dividido não chegará a lugar nenhum. Ao contrário, aumenta a chance de o presidente Lula se reeleger, apesar das dificuldades que enfrenta. Chegamos a um ponto em que só Lula e Bolsonaro mobilizam os eleitores. Sem os dois no páreo, abre-se uma imensa gama de alternativas ao eleitor brasileiro.

 

Manifestantes na Avenida Paulista a favor da anistia dos condenados peloManifestantes na Avenida Paulista a favor da anistia dos condenados pelo — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

 

Manifestantes na Avenida Paulista a favor da anistia dos condenados pelo — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

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