Brasil 200: segue o jogo! Gabriel Kanner
Quando o Brasil 200 foi fundado, em 17 de janeiro de 2018, jamais imaginei que aquele movimento mudaria a minha vida drasticamente. À época era gerente comercial na Riachuelo e não passava pela minha cabeça fazer qualquer outra coisa senão seguir uma carreira corporativa. Lançamos o projeto num sábado, quando nosso fundador, Flávio Rocha fez uma apresentação para um público de 400 empresários brasileiros.
O nome remetia aos 200 anos da Independência do Brasil, que completaremos em 2022, e buscávamos implementar uma agenda de mudanças para chegar a esta importante data com um país melhor do que tínhamos. Queríamos construir algo totalmente novo no Brasil —um grupo que pudesse verdadeiramente representar o setor produtivo e fazer o empresariado assumir o seu protagonismo no debate político e econômico brasileiro. Uma semana depois, larguei o meu emprego na empresa e mergulhei de cabeça no Brasil 200. Eu não fazia ideia do que aconteceria ou no que se tornaria aquele incipiente movimento, mas eu sentia no ar que havia algo acontecendo no Brasil, e o meu coração me dizia para seguir este rumo.
O ano de 2018 foi muito intenso. Fizemos eventos e montamos núcleos por todo o país falando sobre liberalismo, conservadorismo e o processo de transformação que estava ocorrendo no Brasil. Durante o ano passado focamos na estruturação do Instituto Brasil 200. Montamos diretoria executiva, conselho e sede oficial em São Paulo.
Participamos ativamente da luta pela reforma da Previdência, MP da liberdade econômica e, mais recentemente, estávamos absolutamente imersos na discussão da reforma tributária, participando de debates com os principais especialistas do Brasil. Também consolidamos o braço social do instituto, que passou a atuar ativamente durante a crise atual. Sinto-me realizado com o trabalho que foi feito até aqui.
Nas últimas semanas, o fato de eu ter feito críticas ao governo Bolsonaro gerou desconforto em alguns membros. Discordâncias são naturais, e eu estou sempre aberto a dialogar. Assim estava fazendo internamente. Mas, para minha surpresa e de todos os empresários do grupo, uma pessoa sem ética teve acesso a algumas mensagens de WhatsApp e as vazou para a imprensa. Certamente para nos desgastar.
Após o ocorrido, conversei com cada um e não restou nenhum mal-entendido.
Ao mesmo tempo, como presidente, não posso permitir que o instituto seja uma organização chapa-branca governista. Obviamente, temos um grande alinhamento com o governo federal, apoiamos a eleição de Jair Bolsonaro e defendemos praticamente toda a agenda implementada desde então.
Porém, críticas construtivas são importantes. Mantemo-nos fiéis aos princípios e valores que nos nortearam desde a nossa fundação. Mantenho o máximo respeito e admiração por cada um que participou do grupo até aqui, mas o Brasil 200 deve seguir seu caminho e sua missão.
Uma nova geração de empresários está se consolidando, e seguiremos trabalhando com o mesmo afinco e dedicação dos últimos dois anos. O Brasil precisa de cada cidadão neste momento, e o Brasil 200 está mais preparado do que nunca para ajudar nessa missão. Segue o jogo!
Lava Jato: Bretas e PF de Bolsonaro expõem corrupção no governo Witzel
Centro de uma das piores crises do governo Jair Bolsonaro, a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro aplicou um duro golpe nos planos políticos do governador Wilson Witzel (PSC), arquirrival do presidente. Ao deflagrar a Operação Favorito, a PF fluminense jogou luz em um escândalo de corrupção envolvendo agentes públicos do estado iniciado na gestão do ex-governador Sérgio Cabral e mantida na atual administração. De uma só vez, a força-tarefa braço da Lava Jato revelou supostas relações escusas, com pagamento de propina em troca de contratos sem licitação. As acusações atingem em cheio as pastas de dois secretários: Edmar Santos (Saúde) e Leonardo Rodrigues (Ciência, Tecnologia e Inovação). Ao todo, cinco mandados de prisão e 42 de busca e apreensão foram assinados pelo juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, então amigo inseparável de Witzel – a ponto de frequentarem o camarote oficial do governo no carnaval, irem a jogos do Flamengo no Maracanã com suas respectivas famílias e até viajarem juntos em um avião da FAB.
A Operação Favorito teve como alvo o empresário Mário Peixoto, personagem conhecido no Palácio Guanabara há mais de uma década. Peixoto é próximo de outro secretário de Witzel: Lucas Tristão (Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais). Preso, Peixoto manteve os tentáculos de sua organização criminosa fornecendo mão-de-obra terceirizada no governo Witzel, conforme revelaram as investigações com farta documentação e interceptações telefônicas, entre outras provas. O Ministério Público Federal (MPF), em conjunto com a PF, calcula que o grupo usurpou cerca de 700 milhões de reais do já combalido cofre do governo estadual desde de os tempos de Cabral. O governador Wilson Witzel está incluído num inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que apura fraude na compra de respiradores para pacientes com coronavírus.
Os negócios de Mário Peixoto, segundo a denúncia do MPF, ainda estão entranhados em acordos obscuros na Secretaria de Saúde, de Edmar Santos, e na Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) e na Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância (Cecierj), ambas subordinadas à pasta de Leonardo Rodrigues. A força-tarefa também encontrou irregularidades no Departamento de Trânsito (Detran-RJ), que tem influência de Lucas Tristão e de deputados estaduais. Alvo de uma devassa da Lava-Jato em 2018, o órgão faz parte da estrutura do vice-governador Cláudio Castro (PSC). Fontes afirmaram a VEJA que as exonerações de Santos, Rodrigues e Tristão não estão descartadas. Os três não foram incluídos na denúncia.
Apesar da ofensiva da Operação Favorito contra a quadrilha de Mário Peixoto ter ido às ruas na última sexta-feira, a PF e o MPF já haviam pedido a prisão dos envolvidos no caso e a expedição dos mandados de busca e apreensão em fevereiro deste ano, sendo autorizados por Marcelo Bretas. Com as ordens judiciais nas mãos, os policiais federais cumpririam as diligências em 10 de março. A operação, porém, foi abortada por causa da pandemia da Covid-19, mas as investigações continuaram. Para surpresa dos procuradores, o empresário mantinha o mesmo esquema corrupto voltado aos hospitais de campanha destinados a pacientes contaminados pelo novo vírus. As unidades estão com as obras atrasadas.
Com a amizade de Wilson Witzel abalada, Marcelo Bretas se aproximou de Jair Bolsonaro, desafeto do governador desde quando o ex-juiz assumiu publicamente que gostaria de disputar a Presidência da República, em 2022. Em 15 de fevereiro, Bretas subiu no palanque do presidente em eventos no Rio. Três meses depois, o Tribunal Regional Federal, da 2ª Região (TRF-2), aprovou a continuidade de um processo disciplinar contra Bretas aberto para verificar se o magistrado violou normas do cargo que ocupa ao comparecer em atos públicos de caráter político-partidário ao lado de Bolsonaro e do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), pré-candidato à reeleição. O pedido de apuração foi apresentado no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ex-aliado do presidente, Witzel se elegeu na “onda Bolsonaro”, em 2018.
Em uma das escutas telefônicas interceptadas pela Operação Favorito, em 9 de abril, Luiz Roberto Martins, um dos integrantes da organização criminosa de Mário Peixoto, conversa com um interlocutor. No diálogo, Luiz parece desconfiar do que estaria por vir. Em um dos trechos, ele diz: “O Bretas não consegue pegar o WW (Wilson Witzel), mas está querendo pegar um dos dois, ou o amigo, o MP (Mário Peixoto), ou o pastor”, disse. “Vai prender muita gente”, completou. Não identificado na denúncia do MPF, o pastor, segundo VEJA apurou, é Everaldo Pereira, da Assembleia de Deus e dono do PSC, partido de Witzel. Everaldo também tem força junto a Witzel.
Com ordem do secretário
Preso por suspeita de comandar irregularidades em contratações de serviços sem licitação para o combate ao coronavírus, o ex-subsecretário-executivo estadual de Saúde do Rio Gabriell Neves responsabilizou seu ex-chefe, o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, por ter feito todos os acordos emergenciais da pasta. As declarações foram reveladas com exclusividade em entrevista de Neves a VEJA. “As compras eram determinadas pelo secretário Edmar Santos ou com anuência dele. Outras pessoas também poderiam, eventualmente, demandar uma necessidade. Mas tudo era feito em consonância com o secretário. Ele avalizava o que era solicitado pelos quadros técnicos”, explicou. A prisão de Gabriell Neves faz parte da Operação Mercadores do Caos, do Ministério Público estadual e da Polícia Civil.
Gabriell Neves centralizava todas as compras realizadas pela secretaria estadual de Saúde. Ele começou no cargo no início de fevereiro deste ano por indicação de Edmar Santos. Os dois se conheceram em 2016. Naquele ano, Neves era secretário estadual de Ciência e Tecnologia do governo Luiz Fernando Pezão, preso na Operação Lava Jato. À época, Santos ocupava a direção-geral do Hospital Universitário Pedro Ernesto.
Caixa para eleição
Na denúncia da força-tarefa do MPF, os procuradores citam o depoimento do ex-presidente da Faetec Carlos Fernando Riqueza Marinho. Segundo Marinho, havia pressão no órgão para assinar contratos emergenciais com as empresas de Mário Peixoto. À PF, ele disse ter ouvido que o dinheiro desviado seria para abastecer uma possível candidatura do secretário Leonardo Rodrigues à Prefeitura de Mesquita, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. A pasta de Rodrigues fechou 36 milhões de reais em contratos com a Atrio Rio Service, de Peixoto.
Leonardo Rodrigues é segundo suplente do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos). Os dois se afastaram depois que o pai, Jair Bolsonaro, rompeu com Wilson Witzel. Pressionado pela família presidencial a deixar o cargo após a briga, Rodrigues, empresário do ramo aeronáutico, preferiu continuar como aliado do governador do Rio.
O empresário e o advogado
Mário Peixoto é ligado ao secretário Lucas Tristão. Nos bastidores, os dois atuam juntos em indicações em vários órgãos do governo Witzel. O episódio mais emblemático ocorreu na fracassada tentativa de emplacar Bernardo Sarreta para comandar a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (Agenersa). Sem experiência no ramo, o amigo foi rejeitado por uma comissão da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para assumir o cargo. Foi a primeira vez, em 15 anos, que isso ocorreu. A Agenersa regula, por exemplo, os serviços de energia, gás e saneamento no Rio, um filão político e financeiro.
Tristão advogou para o empresário Mário Peixoto na Atrio Rio Service Tecnologia e Serviços. Segundo revelou VEJA, a família de Peixoto tem participação na Atrio como sócia da MG Gestão e Consultoria de Ativos. Capixaba, o secretário também prestou serviços advocatícios para a campanha eleitoral de Wilson Witzel quando tornou-se um dos principais coordenadores. Os dois se conheceram no curso de Direito da Universidade de Vila Velha. WItzel, que trabalhou como juiz federal no Espírito Santo, foi professor de Tristão.
No início do ano, Lucas Tristão foi pivô da maior crise do governo com a Alerj. Os deputados o acusaram de ser o responsável pela produção de dossiês contra os próprios parlamentares num jogo de interesses. Um grupo chegou a protocolar um pedido de impeachment contra Witzel por causa das suspeitas. Em meio ao tiroteio, o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), declarou que Tristão teria dito, para quem quisesse ouvir, que possui documentos contra os 70 políticos da Casa. O secretário sempre negou.
Abaixo, a íntegra da nota oficial do governador Wilson Witzel:
“Por determinação do governador Wilson Witzel, a Controladoria-Geral do Estado (CGE) e a Procuradoria Geral do Estado (PGE) encaminharam nesta quinta-feira (14/05) ofício solicitando à Justiça Federal informações sobre empresas e pessoas envolvidas na operação de hoje para auditar e analisar todas as suspeições levantadas pelo Ministério Público Federal.
Todos os contratos celebrados pelo Governo do Estado com as empresas envolvidas serão auditados pela CGE, para verificar as possíveis ilegalidades e danos aos cofres públicos. Também serão feitos cruzamentos de contratos sociais das empresas para identificação de conluios entre as mesmas e seus sócios. Enquanto durar a auditoria da CGE, todos os pagamentos aos fornecedores fiscalizados serão suspensos e, caso sejam encontradas irregularidades, os contratos serão cancelados.
‘Determinei à CGE e à PGE que façam uma auditoria minuciosa de todos os contratos que existem no governo com essas empresas. Se forem encontradas irregularidades, os contratos serão cancelados. Caso haja participação de funcionários e servidores do governo, os mesmos serão exonerados’, afirma o governador Wilson Witzel.
O governador também reitera o seu respeito às instituições: ‘Apoio as investigações que estão sendo realizadas pelos órgãos de controle e que estão identificando irregularidades. É inadmissível que pessoas queiram cometer ilícitos, principalmente neste momento de pandemia e de luta pela vida de milhares de pessoas'”, diz Witzel. VEJA
Estudantes de pelo menos 10 estados deixaram de receber alimentação escolar
Desde o fim de março, estudantes de pelo menos dez estados e seis capitais deixaram de receber alimentação escolar prevista por lei após suspensão das aulas por conta das medidas de isolamento para conter a epidemia da Covid-19.
O Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública dos estados de Rio e São Paulo entraram com ações na Justiça para apurar irregularidades e cobrar uma distribuição mais eficiente das merendas.
— Há crianças passando fome. Recebemos denúncias desde kits mal elaborados até valores irrisórios para alimentação— diz Marcelo Colonato, presidente do Fórum Nacional de Conselhos de Alimentação Escolar, órgão presente em todos os estados e municípios, voltado para o controle da qualidade e distribuição da merenda escolar.
Leia:Alimentação pobre prejudica o desenvolvimento das crianças
Nas redes de ensino público, a verba para a merenda vem de recursos de governos estaduais e municipais com complemento federal do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). No dia 7 de abril, por conta da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro sancionou mudança na legislação que permitiu o uso da verba do PNAE para a compra e distribuição dos alimentos diretamente para os alunos que passaram a estudar em casa.
Vulnerabilidade
Como os recursos do PNAE devem atingir todos os estudantes, muitos estados e municípios têm buscado outras fontes de recurso e acabam beneficiando apenas parte dos alunos.
Mas gestores reclamam da falta de articulação do Ministério da Educação (MEC) para resolver o problema emergencial da falta de comida no prato dos alunos das redes públicas.
— O MEC está omisso. Não conseguimos conversar com o ministro, tudo é via ofício, muitas vezes sem resposta, inclusive quando pedimos mais verbas, mudanças de métodos. Jamais nos consultaram sobre a entrega da alimentação escolar, a responsabilidade ficou exclusivamente com os estados — diz o professor Felipe Camarão, secretário estadual do Maranhão.
Procurado, o MEC informou que o tema deveria ser tratado com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão subordinado ao ministério.
Das 34 redes que responderam ao GLOBO, 16 oferecem alimentação apenas a alunos por elas classificadas como em situação de vulnerabilidade, como os cadastrados no Bolsa Família.
Em São Paulo, quase 3,5 milhões dos 4,5 milhões de estudantes da rede estadual e municipal da capital estão sem acesso à merenda. Atualmente, um milhão de crianças e adolescentes de famílias cadastradas no Cad-único ou no Bolsa Família recebem o auxílio mensal por meio de um cartão de alimentação ou aplicativo de celular. A ajuda varia de R$ 55 a R$ 105.
— Mas muitos que não precisavam de Bolsa Família perderam renda por causa da pandemia e agora ainda lidam com uma despesa extra, que é garantir a alimentação do filho em casa — diz a coordenadora do Núcleo Especializado da Infância e Juventude da Defensoria de SP, Ana Schwan.
A legislação não permite que recursos da União sejam repassados aos alunos por meio de cartão alimentação ou aplicativos. Somente é liberada a compra de gêneros alimentícios. Por conta disso, em São Paulo, estado e a capital vêm bancando o auxílio com dinheiro próprio. O governo estadual alega que o repasse via aplicativo é o “único sem contato humano” e, portanto, o mais seguro. Já o secretário de educação da capital paulista, Bruno Caetano, afirma que gostaria de oferecer o benefício a todos os 1,05 milhão de estudantes da cidade, mas que só foi possível pagar a 353 mil por limitações orçamentárias.
60% sem merenda no Rio
No Rio, a prefeitura informou que já entregou 185 mil cartões de alimentação para alunos cujas famílias estão no Bolsa Família ou no Cartão Família Carioca. Outros 15 mil serão entregues em maio, juntamente com 50 mil kits para estudantes que se cadastraram fazendo a solicitação. Somados, os 250 mil beneficiados corresponderão a apenas 40% da rede. Ou seja, 391 mil crianças não receberão ajuda em nenhuma modalidade.
Já o governo fluminense enviou por aplicativo R$ 100 para cada aluno inscrito no Bolsa Família. Além disso, destinou o dinheiro do PNAE para que as escolas montem kits para os estudantes fora do cadastro. Nem todos receberão as cestas, mas a secretaria não revelou os critérios de distribuição. <SW>
O FNDE, responsável pelo PNAE, informou que conta com auditorias internas, MPF e Tribunal de Contas da União para fiscalização. O órgão afirmou que repassou, em 2020, R$ 1,4 bilhão ao PNAE e gastará, no total, R$ 4 bilhões até o fim do ano. O montante, porém, representa uma parcela de cerca de 30% dos custos com a merenda nos estados e municípios do país. O valor é mais significativo em municípios com menos recursos, mais dependentes da contrapartida federal.
Enquanto alimentos não chegam às casas dos estudantes mais pobres, o desperdício é constatado em cidades como Blumenau (SC). Na Escola de Educação Básica Pedro II, da rede municipal, 99 sacos de leite em pó de 400g foram para o lixo porque venceram em 10 de abril. Outros itens, como macarrão, também acabaram desperdiçados. A rede suspendeu aulas presenciais em março, e a comida estocada no colégio só foi entregue por ordem da secretaria em abril.
— Foi um problema de logística devido à pandemia. Não houve tempo para fazer as entregas — justificou o diretor da escola, Adilson Bortolini.
A Secretaria de Educação de Blumenau não se pronunciou.
É proibido pensar - J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo
Faz sentido o cidadão brasileiro ser proibido de trabalhar e, ao mesmo tempo, continuar obrigado a pagar impostos, até o último centavo e nem um minuto depois do prazo? É claro que não faz. Mas no Brasil de hoje é cada vez mais perigoso ter a lógica do seu lado – não tente ter razão, porque você será punido. Experimente, a propósito, pedir ao prefeito Bruno Covas que não cobre a parcela de junho do IPTU, porque há dois meses não entra um tostão no seu bolso. Só a ele? Não: a Covas ou a qualquer outro dos 5 mil prefeitos que há por aí. Vão chamar o guarda municipal, dizer “fique em casa” e lhe socar uma multa no lombo.
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Há nestes tempos de covid-19 uma quantidade cada vez maior de coisas que não fazem o menor nexo – mas são consideradas perfeitamente normais pelos que mandam nas 27 repúblicas mais ou menos independentes em que o País foi dividido após a decisão do STF de abolir a federação brasileira em nome da saúde pública. A epidemia parece ter tornado ilegal a tarefa de pensar. O resultado é não apenas a destruição do sistema de produção, do trabalho e da vida social, mas da liberdade. Quem não concorda com o pensamento único está errado em princípio. Quando as coisas ficam assim, é inevitável a vitória do disparate.
Sinceramente: você acha possível confiar, de verdade, em figuras como João Doria ou Wilson Witzel? A mesma pergunta poderia ser feita em relação à maioria dos demais governadores, ou aos prefeitos, deputados e senadores. Não é preciso fazer nenhuma pesquisa de Ibope para saber a resposta. Mas o fato é que foi entregue aos políticos o poder de decidir o que é essencial ou não para você. Esqueça o que está escrito na Constituição; são eles que resolvem no momento quais são os seus direitos e quais são suas obrigações. É 100% irracional.
Acaba de ser aprovada na Câmara dos Deputados, com mais de 250 votos, uma lei vinda do Senado que dá ao síndico do prédio o poder de proibir que os moradores façam festas ou recebam amigos em seus apartamentos – ou deixem os convidados usar o estacionamento de visitas. Nem na Alemanha de Hitler ou na Rússia de Stalin há registro de algo parecido. Leitos são retirados de hospitais públicos e transferidos para “hospitais de campanha” – onde passam a ser explorados por ONGs privadas, que recebem dinheiro do erário para fazer isso. Não se pede comprovação para qualquer coisa que é dita por um militante do “distanciamento social” – o governador Doria, por exemplo, disse que salvou “25 mil vidas” com as medidas que tomou. Fica por isso mesmo.
Passou a valer no Brasil a ideia de que a atividade econômica mata pessoas. O cidadão é proibido de circular de carro, ir à academia de ginástica ou cortar o cabelo no barbeiro, mas permite-se que ônibus e metrôs circulem superlotados. O prefeito Covas ameaça repetidamente os paulistanos com as proibições maciças de um lockdown (tem preguiça, até, de pensar em português) sem fornecer a mais remota demonstração científica de que isso sirva para alguma coisa útil. Ao contrário: em Nova York, a cidade mais atingida pela epidemia em todo o mundo, mais de 80% das vítimas da covid-19 estavam em casa, cumprindo quarentena, quando foram infectadas. Os políticos que passaram a dar ordens na sua vida são os mesmos que se recusam a suspender os salários do funcionalismo público. Não só isso: acabam de dar aumento à polícia do DF, onde um soldado ganha a partir de agora R$ 6,5 mil por mês.
Num país onde o presidente já teve três ministros da Saúde em dois meses e exibe a cada dia sua incapacidade de governar em meio a dificuldades, não poderia haver combinação pior.
Negócio da China / ISTOÉ
O caso do governo do Pará, que desembolsou R$ 500 milhões na compra de 400 respiradores, dos quais 152 chegaram com defeito, mostra bem o nível de risco de se fazer negócios com equipamentos médicos que ajudam a salvar vidas neste momento. A Polícia Federal está investigando a aquisição para verificar possíveis irregularidades.
Estão sendo investigadas também compras feitas por outros onze estados para enfrentar a crise pandêmica. Além de respiradores, outros itens como testes rápidos IGG e IGM, testes do tipo RT-PCR, roupas de proteção e máscaras estão entre os produtos que mais aparecem em contratos suspeitos. No mês passado, uma carga roubada de 15 mil testes estava sendo distribuída em São Paulo por uma quadrilha de chineses. Além disso, na outra ponta, por causa do estado de calamidade pública, desde fevereiro as licitações foram dispensadas e trâmites burocráticos, encurtados, o que impõe um controle redobrado das contas públicas. Surge uma enxurrada de fornecedores que não cumprem requisitos técnicos e comerciais e nem têm qualquer experiência com vendas de insumos hospitalares.
“Estamos enfrentando um mercado selvagem, com concorrentes sem experiência, governança e compliance”, afirma a farmacêutica Emanuela Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos, empresa que acaba de fornecer 150 mil testes rápidos importados da China para o governo do Distrito Federal, que encomendou um total de 560 mil testes. “Há grande demanda por esses insumos e abriu-se um grande espaço para oportunistas e aventureiros entrarem no negócio”. Entre os problemas mais críticos estão a cobrança de preços acima da média, demora na entrega e produtos com defeito, imprecisos ou ineficazes. Atualmente, no mercado internacional, cada teste rápido custa em torno de US$ 10,00. No Brasil eles começam a ser comercializados no varejo por preços que oscilam de R$ 100,00 a R$ 200,00 e se aguarda um crescimento exponencial nas vendas nos próximos meses. Para se ter uma ideia da corrida no mercado por esses insumos, havia, na quarta-feira 13, 328 pedidos de registros de testes de coronavírus na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dos quais foram 75 deferidos, 42, indeferidos e os demais (211) ainda estão sendo analisados. Os testes IGG e IGM são feitos no sangue e detectam a existência do coronavírus e a presença de anticorpos. Já os RT-PCR examinam a secreção respiratória e detectam o vírus ativo.
Covid-19: Como o país estaria com Lula presidente? O PT tentou descobrir
Desde que o primeiro caso de coronavírus foi registrado no Brasil, o país teve duas demissões no Ministério da Saúde, viu os números de contaminados e mortos expandir em projeção geométrica e sem nenhuma política efetiva de controle da doença, perdeu médicos e enfermeiros por causa da situação precária nos hospitais e alimenta uma ameaça real de um colapso social e econômico. A situação torna-se ainda mais caótica diante da condução do presidente Jair Bolsonaro, que insiste em minimizar a Covid-19 e em forçar a reabertura do comércio e o fim do isolamento mesmo antes da doença atingir o pico.
Em meio à confusão, o ex-presidente Lula voltou à cena para criticar Bolsonaro e passou a defender a abertura de um processo de impeachment contra ele. “Nós não temos um presidente. O Bolsonaro faz tão mal para o Brasil quanto o coronavírus”, afirmou recentemente, em busca de projeção durante a crise.
O Partido dos Trabalhadores encomendou uma pesquisa para avaliar um cenário político diferente do atual: se Lula fosse o presidente do Brasil, teríamos melhores condições de enfrentar os problemas causados pelo coronavírus? O resultado, porém, foi devastador para o petista.
Mesmo em meio a uma crise generalizada, o que poderia guindar qualquer solução alternativa, Lula não capitalizou muita esperança. De acordo a pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi, apenas 36% dos entrevistados disseram que o país passaria por dias melhores se estivesse sob a condução do ex-presidente.
Outros 29% avaliaram que o Brasil estaria ainda pior no enfrentamento ao coronavírus se fosse administrado por Lula, e 24% afirmaram que a situação seria a mesma. O restante não sabe ou não respondeu.
A mesma pesquisa, conforme mostrou VEJA em sua última edição, também avaliou a popularidade do ex-presidente Lula. Os dados revelam que o petista era mais popular e influente enquanto estava preso em Curitiba. Condenado a 26 anos por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula enfrenta uma crescente rejeição desde que deixou a cadeia. O levantamento revelou que, entre dezembro e abril, a avaliação negativa sobre os seus dois mandatos aumentou em dez pontos, passando de 14% para 24%. Já a avaliação positiva caiu de 58% para 53% nesse mesmo período.
“O Lula tinha mais holofote e importância quando estava preso”, admitiu um petista à reportagem. VEJA