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Justiça triplica concessão de BPC para pessoas com deficiência em 3 anos e dificulta ajuste fiscal

Por Alvaro Gribel / O ESTADÃO DE SP

 

 

BRASÍLIA - Enquanto a equipe econômica estuda medidas para cortar gastos e tentar recuperar a confiança nas contas públicas, uma nova fonte de preocupação cresce no Ministério da Previdência: a concessão de Benefício de Prestação Continuada (BPC) pelas vias judiciais. Nos últimos três anos, decisões de tribunais triplicaram os benefícios para pessoas com deficiência, que saltaram de 48,4 mil em 2021 para 155,8 mil em 2024.

 

Com esse crescimento acelerado, a fatia que as decisões jurídicas representam no total concedido para pessoas com deficiência subiu de 21,3% para 30% (a outra forma de concessão é via perícia do INSS) de 2022 a 2024. O entendimento, segundo apurou a reportagem, é de que isso dificulta o planejamento orçamentário da pasta, já que as determinações da Justiça deixam técnicos do ministério sem controle sobre essas despesas.

 

Segundo dados do Tesouro Nacional, o BPC representou um gasto de R$ 73 bilhões de janeiro a agosto deste ano, com R$ 107 bilhões em despesas no acumulado em 12 meses. O benefício é dividido em duas categorias, ambas para pessoas de baixa renda: o BPC Idoso, para quem tem pelo menos 65 anos, e o BPC pessoas com deficiência (PcD), de qualquer idade, mas que sejam diagnosticadas como inaptas para trabalhar.

 

Segundo o especialista em contas públicas Fábio Serrano, economista do BTG Pactual, o aumento das concessões pela via jurídica ajuda a entender o crescimento acelerado do BPC para pessoas com deficiência em relação ao benefício para os idosos.

 

“O porcentual de BPC para pessoas com deficiência em relação aos benefícios totais ficou ao redor de 54% nos últimos anos, mas começou a aumentar a partir do terceiro trimestre de 2023 e se encontra em 56% atualmente. Em agosto, o número de beneficiários do BPC PcD cresceu 15,7% em relação ao mesmo mês de 2023, enquanto os benéficios para idoso cresceram 8%”, afirmou.

O BPC tem um agravante para as contas públicas porque, diferentemente das aposentadorias e pensões, não é necessário ter tempo de contribuição ao INSS para receber o benefício, uma vez que o objetivo da Constituição de 1988 foi proteger os mais vulneráveis.

 

O problema é que, nos últimos anos, três fatores fizeram disparar o orçamento dessa despesa: a indexação do salário mínimo ao PIB pelo governo Lula em 2023; uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2021 que afrouxou parâmetros de renda para dar direito ao benefício; e as decisões judiciais de tribunais federais regionais, que não seguem regras de perícias internacionais para definir o que são pessoas com deficiências graves, que as tornam inaptas para trabalhar por um período prolongado.

 

‘Indústria do BPC’

No Ministério da Previdência, há a visão de que a reforma trabalhista empurrou advogados para o chamado “direito previdenciário”. Com o endurecimento das regras no direito do trabalho e a queda no número de processos, advogados enxergaram no BPC um novo ramo, oferecendo gratuitamente o serviço a clientes para entrarem na Justiça e conseguir o benefício. A cobrança muitas vezes acontece posteriormente e não há custos em caso de perda da causa.

Este mês, o Estadão revelou que esse movimento está beneficiando até venezuelanos que entram no País pelo Estado de Roraima. A lei garante o direito ao BPC a estrangeiros que residem no País com a documentação correta; mas, na região, há um mercado de intermediários que usa falsos comprovantes para que venezuelanos usufruam dos benefícios sem que façam jus.

 

Em todo o País, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), houve uma explosão de requerimentos para o recebimento de BPC a pessoas com deficiência. Em 2020, foram 101 mil pedidos. Em 2023, o número já havia subido para 562 mil. Neste ano, foram 413 mil de janeiro a agosto.

No caso do BPC para idosos, a judicialização é menor porque é preciso comprovar apenas a idade de 65 anos e a renda per capita, que tem de se enquadrar nos parâmetros do programa assistencial.

 

Propaganda nas redes

Nas redes sociais, há inúmeros escritórios de advocacia oferecendo o serviço de entrada de requerimentos para o BPC, com posterior judicialização, em caso de negativa pelo INSS. “Autismo leve dá direito a BPC”, “Quem recebe BPC Loas pode comprar carro popular” e “Nova lei garante benefício a pessoas com deficiência leve” são alguns dos chamativos utilizados para atrair “clientes”.

 

“A explosão de requerimentos (para o BPC) se deve à busca ativa feita junta a população. Existe ampla publicidade nesse sentido nas redes sociais e na internet em geral”, afirmou o secretário do Regime Geral de Previdência Social, Adroaldo da Cunha Portal.

 

Procurada, a Ordem Dos Advogados do Brasil (OAB) afirmou que lançou uma cartilha para orientar advogados sobre publicidade ética na profissão, além de criar um Comitê Regulador do Marketing jurídico para tratar do tema.

 

Segundo técnicos da Previdência ouvidos pela reportagem, essa explosão de pedidos tem tido também o efeito colateral de sobrecarregar as perícias do INSS. Este ano, as solicitações para o recebimento do benefício tiveram um aumento mensal médio de 50%, saltando de 96 mil em 2023 para 142 mil em 2024 (de janeiro a outubro).

 

No Nordeste, a alta nos pedidos chega a 66%, com crescimento de 120% no Piauí, 88% no Maranhão, e 87% em Alagoas. No Norte, houve alta de 44%, com aumento de 76% em Rondônia, e 64% em Tocantins.

 

A Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP) diz que já vem alertando há anos para o problema, e que é preciso reforçar a perícia médica federal. “As mais diversas autoridades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário já receberam inúmeros ofícios da Associação com a previsão sobre o colapso que a concessão do BPC sem a correta avaliação técnica por parte da Perícia Médica Federal causaria aos cofres públicos, como se observa agora”, afirmou.

 

No livro “A reforma Inacabada - o Futuro da Previdência Social no Brasil”, os economistas Fábio Giambiagi e Fábio Tafner explicam que há “zonas cinzentas” na concessão do BPC, já que há “flexibilidade interpretativa” da legislação para definir o que seriam “impedimentos de longo prazo” de natureza física, sensorial ou intelectual.

 

Segundo o secretário Adroaldo Portal, a Justiça Federal não segue a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), adotada pelos peritos do INSS - e, por isso, acaba sendo mais flexível para a concessão do BPC do que o instituto. “A grande divergência que há entre a concessão administrativa do BPC e a judicial é que o INSS segue a lei, que determina seguir a Classificação Internacional de Funcionalidade. Assim, leva-se em conta também as barreiras sociais e econômicas que aquela deficiência impõe à pessoa”, diz o secretário. “O Judiciário, não. Faz avaliação biomédica, e, se tem a deficiência, dá o benefício. Além disso, a Justiça Federal também flexibiliza em muitos casos os critérios de renda.”

 

AGU acompanha, Previdência acha pouco

A Advocacia-Geral da União (AGU), órgão que tem a função de defender o governo em teses que têm impacto fiscal contra a União, afirmou que “tem acompanhado o aumento” da judicialização do BPC. Duas ações foram criadas para tentar diminuir os litígios, o “DesjudicializaPrev” e o “Pacifica”.

 

“A Advocacia-Geral da União tem acompanhado o aumento da judicialização do BPC/LOAS e sobre os gastos judiciais decorrentes dessas ações. Para enfrentar essa situação, a AGU tem trabalhado conjuntamente com o INSS, o Poder Judiciário e as demais pastas ministeriais para aprimorar a defesa judicial e auxiliar na correta concessão dos benefícios para que sejam beneficiados aqueles que demonstrem ter esse direito”, afirmou a pasta.

 

O DesjudicializaPrev é fruto de uma parceria com o CNJ, que prevê a redução de litígios previdenciários e assistenciais. O objetivo é buscar acordo para que haja desistência de recursos. Segundo a pasta, a previsão é de que 137 mil ações deixem de ser ajuizadas no próximo ano por causa do programa. “A AGU considera que parcerias como esta são fundamentais para reduzir a judicialização”, diz a nota.

 

Já o Pacifica (Plataforma de Autocomposição Imediata e Final de Conflitos Administrativos) é uma plataforma online, criada em julho deste ano para resolver de forma mais ágil litígios entre cidadãos e a administração pública federal. “Neste primeiro momento de implementação, o foco da plataforma são as questões previdenciárias”, diz a AGU.

 

Para o secretário Adroaldo Cunha Portal, no entanto, as medidas ainda não insuficientes para resolver o problema. Em linhas gerais, a AGU acaba por seguir as regras definidas pelo Poder Judiciário - o que, no fim, representa mais gastos. “Desjudicialização não é solução para o problema. Fazer acordo significa aderir às teses que o Judiciário tem feito prevalecer nas suas decisões”, diz Cunha Portal.

 

STF e governo Lula agravaram problema

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, podem requerer o BPC pessoas com renda per capita familiar menor do que um quarto do salário mínimo. A atuação de advogados, em muitos casos, auxilia pessoas a se enquadrar nesta regra, sugerindo até o divórcio de casais para que formalmente a renda de cada um fique mais baixa. Uma decisão do STF de 2021 também afrouxou esse cálculo, permitindo a dedução de despesas médicas para a composição da renda. Gastos com medicamentos (R$ 45), consultas e tratamentos médicos (R$ 90), fraldas (R$ 99) e alimentação especial (R$ 121) são abatidos da renda bruta familiar.

 

Fábio Giambiagi, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que a despesa com BPC como proporção do PIB era de 0,2% do PIB em 2001 e chegará a 1% no ano que vem. Na sua visão, contudo, o que mais agrava o problema, neste momento, é a indexação do salário mínimo feita pelo governo Lula, ao crescimento do PIB.

“O governo precisa se convencer de que, sem mexer na regra do salário mínimo, a despesa com BPC continuará aumentando. Ela era 0,1 % do PIB em 1997 e será 1,0 % do PIB em 2025″, diz Giambiagi. presidente Lula, porém, vem demonstrando, até o momento, resistência a essa desvinculação. Procurado, o Ministério do Desenvolvimento Social não se manifestou sobre essa questão.

 

PF mira advogados e delegado por fraudes em BPC para idosos venezuelanos

Por Rayssa Motta / O ESTADÃO DE SP

 

 

Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira, 24, a Operação Cessatio para aprofundar uma investigação sobre fraudes no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão nas cidades de Boa Vista e Pacaraima. A Justiça Federal também determinou o bloqueio de bens, ativos e dinheiro dos investigados até o limite de R$ 16 milhões.

 

O BPC é um benefício assistencial de um salário mínimo pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda.

Segundo a investigação, “agenciadores” cooptavam idosos venezuelanos e falsificavam documentos e cadastros para obter benefício irregularmente em troca de um percentual do auxílio. Sete escritórios de advocacia e um delegado da Polícia Civil aposentado são suspeitos de envolvimento no esquema.

 

Para ter direito ao BPC, não é preciso ter contribuído para o INSS. Basta comprovar residência fixa no Brasil e renda familiar abaixo de um quarto do salário mínimo e não receber outro benefício social, como aposentadorias e pensões.

 

Depois de providenciar os documentos necessários, o atendimento é presencial, em centros de assistência social. A Polícia Federal afirma que os idosos eram atendidos em Roraima, mas depois retornavam à Venezuela e continuavam recebendo o benefício ilegalmente.

 

A investigação é um desdobramento da Operação Ataktos, deflagrada em 2024, e de denúncias sobre beneficiários que não residiriam no Brasil. “Foi identificada a atuação de diversos grupos criminosos, organizados e independentes, que obtinham o benefício de forma fraudulenta”, informou a PF. É a sexta operação da PF em Roraima para combater fraudes na concessão do BPC. Os investigados poderão responder por crimes como estelionato majorado e associação criminosa.

 

viatura

 

André Mendonça deve divergir no STF e exigir ordem judicial para remover conteúdo das redes

Por Eduardo Barretto / O ESTADÃO DE SP

 

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STFAndré Mendonça deve votar para manter a necessidade de ordem judicial para que uma rede social seja obrigada a remover publicações. Em dezembro passado, o ministro pediu vista do julgamento, que já tem três votos contrários. O tema volta à pauta na próxima quarta-feira, 4.

 

Segundo interlocutores da Corte, Mendonça sinalizou que vai defender as regras atuais, a liberdade de expressão dos usuários das redes e divergir dos três colegas que já votaram: Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Luiz Fux. O debate acontece em meio à ameaça do governo norte-americano de aplicar sanções ao ministro Alexandre de Moraes por decisões contra as plataformas.

 

julgamento do plenário recomeçará com o voto de Mendonça. A expectativa é que o ministro apresente um voto longo, de cerca de 130 páginas, e leia todo o documento, prática que ele não costuma adotar.

 

Na visão de Mendonça, externada a interlocutores da Corte, publicações ilegais específicas devem ser removidas por ordem judicial, em vez de perfis de usuários como um todo. O ministro é crítico do bloqueio de perfis em redes sociais. O expediente, já usado por Moraes em decisões, é classificado pelas big techs como censura prévia e contrário à liberdade de expressão.

 

O que o STF está julgando

Os ministros do STF analisam trechos do Marco Civil da Internet, aprovado em 2014. A regra atual é que as redes só podem ser responsabilizadas se descumprirem uma ordem judicial de exclusão de conteúdo.

 

Os três votos já apresentados

Em linhas gerais, Toffoli, Fux e Barroso defenderam impor mais obrigações às empresas pelos conteúdos publicados, sem a obrigatoriedade de uma decisão da Justiça em cada caso.

Barroso divergiu de Toffoli e Fux em um ponto: votou para manter a necessidade de uma ordem judicial para a remoção de mensagens com supostos crimes contra a honra, isto é, calúnia, injúria e difamação.

 

Tema dominou a semana

A discussão da responsabilização de redes sociais teve lances importantes ao longo da última semana. Na segunda-feira, 26, Mendonça devolveu o julgamento das redes para o plenário. No mesmo dia, a Advocacia-Geral da União pediu uma decisão urgente do Supremo contra violência e desinformação nas plataformas.

 

Na quarta-feira, 28, o governo dos Estados Unidos anunciou que vai restringir a concessão de visto a “autoridades estrangeiras e pessoas cúmplices na censura de americanos”, o que foi lido nos mundos jurídico e político como um recado ao ministro Alexandre de Moraes.

 

Na quinta-feira, 29, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, marcou a retomada do julgamento sobre o Marco Civil da Internet. O plenário voltará a analisar o tema na próxima quarta-feira, 4, com o voto de Mendonça, que devolveu o caso.

 

Governo Lula prepara projeto sobre redes

Em paralelo, o governo Lula tem preparado um projeto de lei sobre a regulação das redes sociais. Mais amplo do que propor o combate a fake news, tentativa anterior da gestão petista, o texto deve também sugerir ao Congresso medidas para proteger crianças e adolescentes de crimes na internet.

Justiça Eleitoral cassa vereador de SP Rubinho Nunes por repostar laudo falso de Marçal contra Boulos

Carlos Petrocilo / FOLHA DE SP

 

Justiça Eleitoral determinou nesta sexta-feira (30) a cassação do mandato do vereador de São Paulo Rubinho Nunes (União Brasil), por ter repostado em suas redes sociais laudo falso publicado por Pablo Marçal no qual associava Guilherme Boulos ao uso de cocaína, na campanha municipal de 2024.

A decisão é de primeira instância, e o vereador irá recorrer.

Em sua decisão, o juiz Antonio Maria Patiño Zorz também condenou Rubinho a oito anos de inelegibilidade.

Em sua defesa, o parlamentar disse que manteve a postagem no ar por apenas 26 minutos e que não sabia que o laudo era falso.

O vereador também se apegou ao fato de o Ministério Público Eleitoral ter se manifestado de forma contrária à inelegibilidade por oito anos.

"Respeito a decisão do magistrado, mas discordo veementemente. Iremos recorrer ao TRE com consciência de que não houve qualquer ilegalidade", afirma Rubinho.

"Em relação à repostagem do laudo, havia sido publicada pelo candidato a prefeito [Marçal], sem qualquer interferência minha. Tão logo surgiram notícias sobre a falsidade do laudo, a postagem foi imediatamente retirada", completa o vereador.

Para o juiz, o argumento de que Rubinho não sabia da veracidade do laudo não é suficiente para afastar a sua responsabilidade.

"Entendo que o compartilhamento do laudo falso divulgado em meio de comunicação social, o Instagram do próprio candidato, encerra em si mesmo conduta ilícita que ostenta a potencialidade de lesar o bem jurídico protegido, a legitimidade das eleições", escreveu Zorz.

A decisão indica que o próprio Marçal tem grande chance de ser tornado inelegível. Ele foi denunciado nesta quinta pelo Ministério Público pela divulgação do laudo falso e por suposta difamação no pleito de 2024.

Ao saber da punição ao vereador, Boulos se manifestou. "A cassação de Rubinho Nunes, bem como a denúncia contra Pablo Marçal, pela divulgação de fake news absurdas contra nossa candidatura em 2024 é uma vitória, ainda que tardia, da democracia", disse o psolista. "Que a Justiça seja feita, e ambos paguem por seus crimes."

A ação foi movida por Leonardo Grandini, candidato a vereador pelo PSOL em São Paulo e que acabou não sendo eleito.

VEREADOR RUBINHO E PABLO MARÇAL

Justiça revoga aval de gestões Lula e Castro e veda reativação de banco sob influência política

Italo Nogueira / FOLHA DE SP

 

Duas decisões da Justiça Federal neste mês anularam o aval dado pelas gestões Lula (PT) e Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, para a reativação de um banco tido como extinto há mais de 60 anos. A instituição está envolvida numa disputa de valores bilionários em precatórios e terrenos na zona oeste carioca.

Na terça-feira (27), o juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), anulou a decisão do secretário nacional de Microempresas, Maurício Juvenal, que validou atos da Junta Comercial do Rio de Janeiro para a reativação do antigo Banco de Crédito Móvel.

Três dias antes, o juiz federal Wilney Silva, da 16ª Vara Federal do Rio de Janeiro, havia proferido decisão semelhante.

Os governos federal e fluminense haviam dado aval às atas de assembleias dos sócios da empresa BCM Ativos Imobiliários, que se apresenta como sucessora do Banco de Crédito Móvel. Os herdeiros dos antigos sócios da instituição financeira alegam que ela foi extinta em 1964.

Os dois grupos disputam a titularidade de um precatório avaliado em cerca de R$ 1 bilhão.

Em nota, os sócios do BCM Ativos afirmaram ter recebido "com estranheza as recentes decisões e já está tomando providências nas devidas esferas para revertê-las".

"A instituição reitera mais uma vez que seguiu todos os trâmites necessários para voltar a operar e tem certeza de que assim será. O BCM e seus diretores acreditam na Justiça, no direito e que a verdade irá prevalecer", afirma a nota.

As decisões de Catta Preta e Silva apontam que a Justiça do Rio de Janeiro já havia confirmado a dissolução do banco em 1964. Eles rejeitaram a alegação dos sócio do BCM Ativos de que o fato de o banco ainda responder a ações judiciais tornou a extinção inócua.

"Eventual pendência patrimonial não tem o condão de afastar a extinção de sociedade que não subsiste há cerca de 60 anos, mormente quando já reconhecido no âmbito judicial que a referida empresa não dispõe mais de qualquer ativo e que a legislação civil prevê hipóteses e prazos para pleitear direitos perante sociedade em liquidação ou já liquidada", escreveu Silva.

O Banco de Crédito Móvel era o dono da área que abrange parte da Barra da Tijuca, Recreio e Vargem Grande em 1964, quando foi registrada sua dissolução. A região é hoje foco da expansão imobiliária com forte disputa de terras, em alguns casos envolvendo milícias.

A disputa teve início após um grupo de advogados conseguir reativar os registros do banco na Jucerja (Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro), contrariando parecer da Procuradoria do Estado, sob o nome BCM Ativos Imobiliários.

A escolhida para atuar como diretora jurídica da empresa, Mariana Felippe, é atualmente responsável pela regularização fundiária no Instituto de Terras do governo estadual. Ela é casada com o deputado estadual Jorge Felippe Neto (Avante), aliado de Castro. Uma das atas de assembleia do BCM fala de "grande quantidade de negociações e tratativas políticas" envolvendo a empresa.

Eles reivindicam a propriedade dos antigos terrenos do banco e os valores decorrentes da desapropriação de duas áreas na década de 1960. Esses precatórios estão atualmente em nome dos herdeiros de Holophernes Castro e Pasquale Mauro, antigos sócios da instituição que adquiriram parte dos terrenos da região.

Os familiares de Pasquale Mauro recorreram ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração contra a decisão da Jucerja de validar (arquivar, na linguagem técnica) as atas das assembleias e, na prática, reativar o banco. O órgão é vinculado ao Ministério do Empreendedorismo e da Microempresa, comandado por Márcio França (PSB).

Em fevereiro, a diretora do órgão, Flávia Gonçalves, decidiu cancelar o registro das atas do BCM. Argumentou que a dissolução da instituição ocorrera em 1964 e foi confirmada em decisão judicial de 2018, quando houve a primeira tentativa de reativação do banco na Jucerja.

Em abril, Juvenal reviu a decisão da diretora e determinou a validação das atas.

Além das decisões judiciais, a Junta Comercial de Brasília, para onde o banco foi transferido após ter as atas validadas na Jucerja, também decidiu bloquear o cadastro do BCM em seus arquivos.

 

BAIRRO RECREIO DO RJ

Dino indica investida contra emendas impositivas e abre novo foco de embate com Congresso

Ranier BragonRaphael Di Cunto / folha de sp

 

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino sinalizou que o tribunal vai discutir a limitação do principal instrumento político de deputados e senadores: as emendas parlamentares de pagamento obrigatório. A movimentação pode abrir um novo foco de embate com o Congresso.

Dino convocou uma audiência pública para tratar da execução das chamadas emendas impositivas ao Orçamento. O despacho que marca a reunião foi recheado de indicações contrárias ao mecanismo.

As emendas parlamentares somam R$ 50 bilhões ao ano, sendo 77% de caráter impositivo, ou seja, de execução obrigatória pelo governo. O controle do Congresso sobre o Orçamento federal foi construído ao longo dos últimos dez anos e é a principal razão do atual empoderamento de deputados e senadores.

 

Dino é autor de decisões que abriram um atrito direto com o Congresso na questão da transparência das emendas. Agora, indica que dará um passo a mais.

De acordo com pessoas próximas ao ministro, a intenção é impedir o engessamento da verba de investimentos do governo.

 

O movimento foi recebido por parlamentares com preocupação. Por ora, no entanto, não há um acerto sobre uma reação coordenada ao tribunal.

Os congressistas se queixam de que o ministro busca legislar, uma vez que a obrigatoriedade da despesa com emendas foi estabelecida com a aprovação de emendas constitucionais.

Além disso, a movimentação retomaria uma crise que, da parte do Congresso, estava encerrada com o acordo assinado em fevereiro para dar mais transparência às emendas de comissão ao Orçamento –usadas por deputados e senadores para distribuir bilhões em recursos públicos sem identificação.

Deputados e senadores ouvidos pela Folha disseram que a primeira iniciativa será sondar o STF sobre o clima no tribunal para avançar nesse assunto. Na terça-feira (20), deputados questionaram o ministro Gilmar Mendes num jantar, mas ele respondeu que não sabia da convocação da audiência pública e que conversaria com o colega para entender o alcance da decisão.

A percepção no Congresso é que o tema é ainda mais explosivo do que a ação do STF que suspendeu temporariamente o pagamento das emendas de comissão, que não têm caráter impositivo. O caso anterior afetava um grupo menor de parlamentares, principalmente os presidentes e líderes partidários, que ficavam com os maiores montantes.

Já as emendas impositivas individuais e de bancadas estaduais são recebidas por todos os congressistas de forma igualitária, da oposição ou da base.

"Agora, vai tocar no calcanhar de Aquiles de muitos que apenas assistem a nossa resistência ao ministro Dino, que renunciou ao único cargo que lhe dava o direito de legislar legalmente", afirma o líder do PSDB no Senado, Plínio Valério (AM).

Até 2015, cada deputado e senador tinha sob seu controle cerca R$ 16 milhões em emendas, e o governo tinha o poder de não pagar nenhum centavo, se quisesse.

Desde então, amparado nas fragilidades políticas do Executivo no segundo mandato de Dilma Rousseff e nos de Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2022), o Congresso aprovou de forma gradativa a obrigatoriedade da execução das emendas, assim como o expressivo aumento em seus valores.

Em 2025, cada deputado indicou R$ 37,3 milhões em emendas individuais, e cada senador, R$ 68,5 milhões. No caso das bancadas, cada estado recebe R$ 528,9 milhões.

Dino decidiu marcar para 27 de junho a audiência pública sobre a obrigação de pagamento das emendas. O debate, segundo o ministro, tem como objetivo obter elementos técnicos para julgar a constitucionalidade das emendas impositivas.

A intenção do ministro, de acordo com auxiliares, é levar o tema ao plenário do STF, de forma a conseguir o respaldo de toda a corte para limitar as emendas. No despacho, ele não descartou tomar decisões liminares, "se isso se revelar imprescindível e urgente, à luz da execução orçamentária de 2025 e da elaboração do Orçamento de 2026".

Um dos pontos que o ministro pretende questionar, conforme relatou a interlocutores, é a capacidade dos congressistas de decidir a destinação específica do dinheiro. A ideia é que os parlamentares possam alocar as verbas em grandes áreas, como programas de saúde, educação ou segurança, mas sem obrigar o pagamento para ações ou locais específicos.

Um senador, na visão relatada pelo ministro, poderia tornar obrigatória a execução de verbas para construção de creches, mas não escolher qual delas seria construída. Hoje, no entendimento dele, um congressista atua como ordenador de despesas, mas sem assumir as responsabilidades inerentes por isso (como responder pelo mau uso da verba).

No despacho, Dino não antecipa juízo sobre o tema, mas reproduz opiniões e estudos predominantemente críticos aos impactos sobre a separação dos Poderes, a eficiência da gestão pública, a responsabilidade fiscal e o sistema presidencialista.

Dino convocou a audiência no âmbito de ação movida pelo PSOL. O partido argumenta que a obrigatoriedade de pagamento das verbas alocadas por parlamentares significa uma "desastrosa desarmonia" entre os Poderes.

"Fica claro que o modelo de apropriação orçamentária pelo Parlamento afetou a independência e a harmonia entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo. Desarranjou os contornos da separação dos Poderes no Brasil, uma vez que diminuiu significativamente a possibilidade de o Executivo pensar e executar projetos e investimentos públicos para o Brasil", afirmou a sigla.

Foram convidados a participar da audiência governadores, o TCU (Tribunal de Contas da União), quatro ministérios (Planejamento, Secretaria de Relações Institucionais, Advocacia-Geral da União e Controladoria-Geral da União), a Frente Nacional de Prefeitos, Senado, Câmara e a Confederação Nacional de Municípios.

O episódio pode criar mais um capítulo na crise entre os dois Poderes, que entraram em conflito também em relação ao projeto de anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de Janeiro e à decisão de travar a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Empresário 'laranja' de 'Bebeto do Choró' ficou quase 6 meses em 'presídio especial' no Ceará

Escrito por Redação / DIARIONORDESTE
 
O empresário Maurício Gomes Coelho, conhecido como 'MK', de 35 anos, apontado como 'laranja' do prefeito cassado Carlos Alberto Queiroz, o 'Bebeto do Choró' (que continua foragido), passou quase 6 meses preso em uma espécie de "presídio especial" no Ceará, voltado para públicos vulneráveis. Ele também responde a crimes como tentativa de homicídio, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
 

A reportagem do Diário do Nordeste apurou que Maurício Coelho chegou à Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes (UP-Imelda), em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no dia 28 de novembro de 2024, por decisão da Comissão de Avaliação de Transferência e Gestão de Vagas (CATVA), da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização do Ceará (SAP). 

A UP-Imelda foi inaugurada em julho de 2016. "O perfil dos internos da unidade são gays, travestis, bissexuais, idosos, cadeirantes e aqueles que respondem à Lei Maria da Penha. Lá, eles recebem atendimento psicossocial, médico, dentre outras atividades pensadas especialmente para esses públicos", descreve o site da SAP, sobre a Unidade.

Apesar de não ter o perfil dos presos da unidade, 'MK' continuou na UP-Imelda até a madrugada da última quinta-feira (22), poucas horas após a reportagem questionar à SAP por qual motivo o empresário era custodiado no estabelecimento prisional. Ele foi transferido para a Unidade Prisional de Aquiraz (UP-Aquiraz) - antigo Centro de Detenção Provisória (CDP) - em seguida.

Em nota, a Secretaria confirmou "a passagem do interno Mauricio Gomes Coelho pela Unidade Prisional Irmã Imelda" e ressaltou que "a passagem dele pela unidade não gerou nenhum risco e nenhuma ocorrência real contra qualquer outra pessoa que cumpre pena naquele estabelecimento prisional e nem contra ele mesmo". A Pasta disse que "não detalha a data de transferência e o destino do preso, por questões de segurança".

A SAP foi questionada, mas também não especificou a motivação de Maurício Coelho ter sido levado para a UP-Imelda e permanecido lá por quase 6 meses.

"O sistema prisional do Ceará tem efetivo, equipamento, treinamento e estratégia adequada para garantir segurança as pessoas privadas de liberdade que estão sob a tutela do Estado. O gerenciamento e remanejamento das pessoas privadas de liberdade é uma prerrogativa da gestão prisional para garantir uma pena justa e segura para todos que ali cumprem pena", completou a Pasta.

defesa de Maurício Gomes Coelho não foi localizada para comentar a transferência de presídios e os crimes atribuídos ao empresário pela Polícia. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

Série de crimes atribuídos ao empresário

O empresário Maurício Gomes Coelho foi preso no dia 8 de novembro de 2024, em um condomínio de alto padrão onde morava, no bairro Benfica, em Fortaleza, por suspeita de tentativa de homicídio. 

Na ocasião, foram apreendidos uma pistola 9 milímetros, 12 munições, três rádios comunicadores, dois celulares e um colete balístico, com o suspeito. E ele foi autuado em flagrante pelo crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.

Maurício é acusado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) de se aliar à facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) para tentar matar um motorista de 'Bebeto do Choró', em um posto de combustíveis, em Canindé, no dia da última eleição municipal, 6 de outubro de 2024.

Também foram denunciados pelo MPCE, no processo: Francisco Flávio Silva Ferreira, o 'Bozinho', apontado como um líder da facção GDE na região; Micael Santos Sousa, o 'Teo'; Antônio Daniel Alves Ribeiro, o 'Niel'; Francisco Gleidson dos Santos Freitas; e Tamires Almeida Ribeiro.

Não há nenhuma informação no processo que ligue o prefeito cassado 'Bebeto do Choró' ao crime de tentativa de homicídio. Uma fonte ligada ao caso que foi ouvida pela reportagem na condição de anonimato disse ainda que 'MK' não é 'laranja' de 'Bebeto', mas sim ligado a outros políticos na atuação de fraudes em licitações.

Segundo essa fonte, a atuação com 'Bebeto do Choró' é recente. No entanto, as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal trazem indícios diferentes e apontam um elo forte entre 'MK' e 'Bebeto', além de outros políticos de municípios do Interior do Estado. 

Quando Maurício entrou no mundo das licitações, por meio da empresa aberta em nome dele, MK Serviços em Construção e Transporte Escolar, o ano era 2020 e ele ainda era vigilante. Em 2021, o faturamento da empresa foi modesto, mas nos anos seguintes foi crescendo exponencialmente.

No ano de 2022, o faturamento foi de cerca de R$ 7 milhões. Já em 2023 pulou para R$ 30 milhões e no ano passado chegou a R$ 80 milhões. A reportagem apurou que Mauricio Coelho faturou em 2024, somente no município de Canindé, cerca de R$ 5 milhões. 

Habeas corpus deferido, mas 'MK' segue preso 

A defesa de Maurício Coelho obteve alvará de soltura para o cliente, em pedido feito ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), no processo da tentativa de homicídio, no dia 8 de abril deste ano. No acórdão, a desembargadora justificou a soltura por falta de denúncia no processo. Porém, a denúncia foi apresentada pelo MPCE no dia 26 de março deste ano.

No dia 5 de dezembro último, 'MK', já preso, foi alvo do cumprimento de outro mandado de prisão preventiva, em uma operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) contra um esquema criminoso de compra de votos em dezenas de municípios cearenses. Ele foi apontado como 'laranja' do então prefeito eleito de Choró, Bebeto Queiroz - que está foragido desde então e depois teve o mandato político cassado pela Justiça Eleitoral.

Conforme as investigações policiais, Maurício era um vigilante com rendimento mensal de R$ 2,5 mil, que se tornou empresário proprietário da MK Serviços em Construção e Transporte Escolar, com capital social de R$ 8,5 milhões, que ganhou licitações em diversas prefeituras do Interior do Ceará.

Alvo de uma nova operação

O empresário Maurício Gomes Coelho, um vereador por Canindé e integrantes de uma facção criminosa foram alvos de uma nova operação do Ministério Público do Ceará e da Polícia Civil do Ceará (PCCE), no último dia 8 de maio.

A ação, denominada de “Sórdida Pecúnia”, foi deflagrada para desarticular uma organização criminosa envolvida em lavagem de dinheiro oriundos do tráfico de drogas, fraudes em licitações e desvios de recursos públicos.

A reportagem apurou que um novo mandado de prisão foi expedido contra Maurício Coelho. A Justiça determinou ainda o afastamento cautelar do vereador Francisco Geovane Gonçalves, do município de Canindé, por 180 dias. Ele é suspeito de colaborar com as ações do grupo criminoso. 

A Polícia Civil destacou que "a operação é fruto de uma investigação iniciada em outubro do ano passado, no dia da eleição, quando um homem foi vítima de uma tentativa de homicídio. Seguindo nos trabalhos investigativos, todos os executores do referido crime foram identificados e, a partir das apreensões realizadas na primeira fase, foi possível identificar as lideranças do grupo criminoso, bem como identificar outros membros e outros delitos graves".

"As lideranças do referido grupo criminoso são inclusive apontadas pelas investigações em curso como sendo os responsáveis por alguns dos crimes graves ocorridos nos últimos dias no município de Canindé", completou a PCCE.

No total, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e três mandados de prisão; sequestrados 20 veículos e três imóveis dos alvos da operação; e apreendidos bens em um valor de aproximadamente R$ 5 milhões.

Foto mostra dois policiais federais realizando buscas em um apartamento no Ceará, durante uma operação policial

 

Moraes ameaça prender Aldo Rebelo em depoimento no STF: ‘Não admito censura’

Por Levy Teles / O ESTADÃO DE SP

 

 

BRASÍLIA – O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ameaçou prender o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo depois de um bate-boca entre os dois. Rebelo tinha dito que a frase do ex-comandante Almir Garnier – sobre “deixar à disposição” do ex-presidente Jair Bolsonaro as tropas em caso de uma tentativa de golpe – “não pode ser tomada literalmente”.

 

“É preciso levar em conta que, na língua portuguesa, usamos a força da expressão. A força da expressão nunca pode ser tomada literalmente. Quando alguém diz estou frito não quer dizer que está numa frigideira”, afirmou. O ex-ministro, então, foi repreendido por Moraes.

 

“O senhor estava na reunião quando o almirante Garnier falou essa expressão?”, perguntou o ministro. Rebelo respondeu negativamente. “Então, o senhor não tem condição de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos”, repreendeu Moraes.

 

“A minha apreciação da língua portuguesa é minha e não admito censura”, retrucou Rebelo. Moraes então ameaçou prender o ex-ministro. “Se o senhor não se comportar, o senhor vai ser preso por desacato”, respondeu o magistrado.

 

A discussão ocorreu durante audiência que faz parte da ação penal sobre golpe de Estado, no STF, nesta sexta-feira, 23. Rebelo é testemunha do réu Garnier.  

Houve ainda mais entreveros durante essa audiência. A defesa de Garnier, feita pelo advogado Demóstenes Torres, perguntou se a Marinha teria condições para dar golpe de Estado. Moraes, então, repreendeu a defesa.

 

“Aldo Rebelo é um historiador, é uma pessoa inteligente. Ele sabe que em 64 não foi ouvida toda a cadeia de comando para se dar o golpe militar. Não podemos fazer conjecturas fora da realidade. Não pode perguntar algo que ele não tem conhecimento técnico. Ele é um civil, que foi ministro da Defesa, mas é um civil”, afirmou Moraes.

 

Gonet perguntou se Rebelo acreditava que sem adesão do Exército, a Marinha teria condições de promover condições de ruptura de normalidade institucional. A defesa de Garnier reclamou do que seria uma pergunta opinativa. Pensando ter o microfone silenciado, o áudio de Gonet escapou. “Fiz uma cagada”, afirmou o procurador.

 

Rebelo afirmou que Garnier não poderia mobilizar tropas da Marinha sozinho. Também disse que, sem a capilaridade do Exército, essa Força não seria capaz de consolidar um golpe de Estado no Brasil.

 

 

Pagamento de bolsas a atletas pela Prefeitura de Aquiraz é suspenso por suspeita de irregularidades

Escrito por Bergson Araujo Costa / DIARIONORDESTE
 

A 1ª Vara Cível de Aquiraz determinou, nesta terça-feira (20), a suspensão dos pagamentos de uma bolsa de incentivo a 25 atletas na categoria de alto rendimento pela Prefeitura de Aquiraz após supostas irregularidades na seleção dos beneficiários.

Além da suspensão, uma servidora comissionada do município foi afastada cautelarmente.  As decisões foram proferidas por meio de pedido do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE).

prazo para suspensão do pagamento e afastamento dura 90 dias, até a conclusão das investigações pelo MP do Ceará, cabendo multa diária de R$ 1.000 em caso de descumprimento.  

Segundo o Ministério, a investigação, conduzida pela 1ª Promotoria de Justiça de Aquiraz, começou após a instauração de um procedimento para apurar supostas irregularidades na concessão da bolsa de incentivo a atletas.

A iniciativa concede benefícios pagos em até 12 meses, com valores variando entre as categorias, por meio de uma seleção em edital. Para a categoria “Alto Rendimento”, o valor é de R$ 1.1000 mensais. Essa foi a única modalidade com o pagamento suspenso,salienta o MPCE.

IRREGULARIDADES APONTADAS

Para o Ministério Público, há suspeita de favorecimento indevido, conflito de interesses em seleção de beneficiários e violação à moralidade administrativa.

Uma das irregularidades constatadas pela investigação resultou no afastamento da servidora que atuava como coordenadora do Esporte Alto Rendimento na Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer de Aquiraz.

A Promotoria alega que ela foi uma das selecionadas para receber o benefício na categoria de “atleta de alto rendimento”, tendo, portanto, coordenado o próprio programa ao qual se candidatou e se beneficiou financeiramente.

“O MP aponta, ainda, outras circunstâncias que indicam possível manipulação do resultado, beneficiando pessoas próximas aos gestores públicos, como falta de clareza no julgamento dos atletas, ausência de transparência no resultado preliminar da seleção e parcimônia com candidatos que não cumpriram prazos para comprovar requisitos”, informou o MPCE. 

Além disso, o resultado final publicado no último dia 22 de abril incluía pessoas não residentes em Aquiraz, sem vínculo com o município, afirmou a Promotoria.

“Inclusive, um desses atletas foi inicialmente contemplado e posteriormente retirado da lista, evidenciando possível irregularidade no processo seletivo, já que a Secretaria corrigiu o resultado anteriormente publicado, excluindo-o”, salientou ainda a entidade.

NOTA DA PREFEITURA

Em nota ao Diário do Nordeste, a Prefeitura de Aquiraz informou, na noite desta terça-feira (20), que ainda não foi notificada oficialmente.

“A Procuradoria do município informa que ainda não foi oficialmente notificada pelo Ministério Público. Assim que houver a devida ciência dos fatos, prestará os esclarecimentos necessários ao Poder Judiciário e ao próprio Ministério Público”, expressa nota do Executivo municipal.

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 Ministério Público do Ceará

STF rejeita pela 1ª vez denúncia e livra 2 de trama golpista, mas torna mais 10 réus

Ana PompeuCézar Feitoza / FOLHA DE SP

 

A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) recusou nesta terça-feira (20), pela primeira vez, a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra dois acusados de participação na trama golpista de 2022, mas decidiu por unanimidade tornar réus mais dez acusados.

Com isso, o colegiado aumenta para 31 a lista dos que serão julgados sob a acusação de tentar impedir a posse de Lula (PT) —entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Nesta terça, a corte analisou denunciados por pressão a militares e outros agentes públicos a aderirem ao plano golpista. Na avaliação dos ministros, porém, não há indícios suficientes contra o coronel da reserva Cleverson Magalhães e o general Nilton Diniz Rodrigues, mas apenas referências aos nomes de ambos na peça acusatória.

O núcleo julgado nesta terça foi composto majoritariamente por militares que, segundo a PGR, incentivaram o golpe de Estado a despeito da posição do Alto Comando do Exército.

O grupo tornado réu é formado por Bernardo Romão Correa Neto (coronel da reserva), Estevam Theophilo (general da reserva), Fabrício Moreira de Bastos (coronel), Hélio Ferreira Lima (tenente-coronel), Márcio Nunes de Resende Júnior (coronel da reserva), Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel), Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel), Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel), Sérgio Ricardo Cavaliere (tenente-coronel da reserva) e Wladimir Matos Soares (policial federal).

Eles são acusados de praticar cinco crimes: tentativa de abolição do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado.

Dos 12 denunciados no núcleo militar, sete seriam por supostamente dar respaldo a uma carta de oficiais do Exército. A maior parte deles, segundo a PGR, apoiou as estratégias de pressão sobre os chefes das Forças Armadas em uma reunião informal em 28 de novembro de 2022. Outra parte é acusada de planejar o assassinato do ministro Alexandre de Moraes.

Primeiro a votar, Moraes rebateu os argumentos das defesas que afastavam os acusados da denúncia. De acordo com ele, há prova documental de que a finalidade da reunião em que se pretendia só chamar kids pretos era debater como seria possível pressionar os superiores hierárquicos

"Se fosse para tomar cerveja com os amigos não haveria necessidade de excluir mensagens e ainda alertar que muitas coisas vazam", disse, em referência a mensagens apagadas e depois recuperadas pelos investigadores.

De forma inédita, no entanto, o relator considerou frágil a denúncia apresentada pela PGR em relação a dois dos militares.

"Não se verifica aqui nos autos indícios mínimos da ocorrência do ilícito criminal em relação a ambos. Há descrição, mas ela não está razoavelmente baseada em indícios das práticas das elementares dos diversos tipos penais seja por Cleverson Ney Magalhães ou Nilton Diniz Rodrigues", afirmou.

Nilton era coronel no fim de 2022. Com formação nas Forças Especiais, onde atuam os chamados "kids pretos", estava à época na assessoria direta de Freire Gomes. Era bem relacionado entre militares e civis que integravam as escolas de formação do Exército. Ele é citado na denúncia como alguém que poderia influenciar o então comandante a aderir ao golpe.

Dias antes de ser indiciado, ele era o comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, em São Gabriel da Cachoeira (AM). Como a Folha mostrou, o indiciamento do general foi considerado uma surpresa para integrantes da cúpula do Exército.

Cleverson era militar assistente do chefe do Comando de Operações Terrestres, Estevam Theophilo. A denúncia diz que o militar seria uma figura que poderia influenciar Theophilo que, por sua vez, chegaria a Freire Gomes. Ele é citado como um dos participantes da reunião que discutiria estratégias para a trama.

"A ideia era que, como assessor direto, ajudasse a influenciar Theophilo para influenciar Freire Gomes. Mas não comprava também a sua participação. E a defesa bem aponta que a denúncia se ampara somente nesses na menção do nome dos acusados", disse Moraes.

Flávio Dino acompanhou o ministro na íntegra. "Acompanho não a inexistência de indícios, apenas considero que não há standard mínimo. O que há é muito frágil. Essas alusões não vêm acompanhadas de fatos, mensagens, de provas", disse.

Antes, os ministros aceitaram, no entanto, a denúncia contra os outros dez integrantes do núcleo. Nos votos, eles rebateram as defesas que afirmaram que a reunião do fim de 2022 para acertar estratégias e tratar da uma carta de oficiais que pressionava o Comando do Exército a aderir à tentativa de golpe de Estado teria sido, na verdade, uma confraternização.

As defesas dos acusados de compor o núcleo militar afirmaram à Primeira Turma que seus clientes não tiveram relação com a carta de oficiais.

Em depoimento a Moraes, Cid disse que a reunião era uma "conversa de bar". "Ninguém apresentou documento, ninguém sentou para organizar [a pressão contra os comandantes militares]", disse o militar ao Supremo.

Os advogados se valeram da delação para defender a falta de indício de autoria e materialidade para o recebimento da denúncia.

Cleber Lopes, advogado de Nilton Diniz, afirmou, na sustentação, que esperava que a acusação dissesse quais foram as ações táticas do militar na organização criminosa. "É fundamental que a delação não pode ser utilizada em tiras, em pedaços. E a delação tem sido utilizada por este colegiado e esta confirmada neste particular", disse.

Ainda que tenham rejeitado a denúncia contra Nilton, os ministros desconsideraram o argumento de que teria sido um encontro entre amigos.

"Quando se diz que era um encontro, não uma reunião, isso é rótulo", afirmou a ministra Cármen Lúcia.

"Evidentemente vamos ter de verificar e checar se expressões como 'conversa de bar' não é uma expressão mal empregada pelo colaborado, porque uma reunião que busca providências como matar autoridade e golpe de Estado não pode ser conversa de bar. Assim como 8 de janeiro não foi domingo do parque, essa reunião também não foi uma conversa de bar", disse Zanin.

Em outro momento, as defesas alegaram que não seria possível, diante dos eixos da hierarquia e da disciplina da rotina militar, que oficiais de patente mais baixa pretendessem influenciar superiores.

"Se assim fosse, não existiria o crime de motim do Código Militar e a história não mostraria quantas e quantas vezes os de menor patente se insurgiram. E devemos nos lembrar que não foi o comandante do Exército que liderou o golpe de 1964, foi um comandante do Sul", afirmou Moraes.

Na fase de recebimento da denúncia, a Primeira Turma do Supremo analisa somente se a acusação da PGR traz indícios mínimos de autoria e de materialidade para decidir se há elementos suficientes para a abertura de uma ação penal.

Na próxima etapa, passa-se à instrução do processo, com depoimentos de testemunhas e dos réus. Caberá à PGR apresentar as provas para confirmar a veracidade das suspeitas.

Com o processo penal aberto contra os acusados, as defesas passam a ter o direito de receber todas as provas colhidas pela Polícia Federal durante a investigação. Os advogados ainda podem solicitar a inclusão de novas provas, realizar perícias sobre documentos apreendidos e elencar testemunhas para serem ouvidas.

Anteriormente, a Primeira Turma havia feito três rodadas de análise de denúncias, todas aceitas por unanimidade.

primeira leva de denunciados, que, segundo a PGR, integrariam o núcleo central da tentativa de ruptura institucional, foi analisada em 26 de março. Os que tornaram-se réus no núcleo 2 foram caracterizados como parte do "gerenciamento de ações" em torno do golpe, com denúncia aceita em 22 de abril. Houve ainda o núcleo acusado de fake disseminação de fake news, tornado réu em 6 de maio.

O último núcleo é composto somente pelo ex-apresentador da Jovem Pan Paulo Figueiredo. O processo contra ele está travado no Supremo sem que o acusado tenha sido intimado pessoalmente nos Estados Unidos, onde Paulo mora há dez anos.

ADVOGADO NO STF

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