Empresário 'laranja' de 'Bebeto do Choró' ficou quase 6 meses em 'presídio especial' no Ceará
A reportagem do Diário do Nordeste apurou que Maurício Coelho chegou à Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes (UP-Imelda), em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no dia 28 de novembro de 2024, por decisão da Comissão de Avaliação de Transferência e Gestão de Vagas (CATVA), da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização do Ceará (SAP).
A UP-Imelda foi inaugurada em julho de 2016. "O perfil dos internos da unidade são gays, travestis, bissexuais, idosos, cadeirantes e aqueles que respondem à Lei Maria da Penha. Lá, eles recebem atendimento psicossocial, médico, dentre outras atividades pensadas especialmente para esses públicos", descreve o site da SAP, sobre a Unidade.
Apesar de não ter o perfil dos presos da unidade, 'MK' continuou na UP-Imelda até a madrugada da última quinta-feira (22), poucas horas após a reportagem questionar à SAP por qual motivo o empresário era custodiado no estabelecimento prisional. Ele foi transferido para a Unidade Prisional de Aquiraz (UP-Aquiraz) - antigo Centro de Detenção Provisória (CDP) - em seguida.
Em nota, a Secretaria confirmou "a passagem do interno Mauricio Gomes Coelho pela Unidade Prisional Irmã Imelda" e ressaltou que "a passagem dele pela unidade não gerou nenhum risco e nenhuma ocorrência real contra qualquer outra pessoa que cumpre pena naquele estabelecimento prisional e nem contra ele mesmo". A Pasta disse que "não detalha a data de transferência e o destino do preso, por questões de segurança".
A SAP foi questionada, mas também não especificou a motivação de Maurício Coelho ter sido levado para a UP-Imelda e permanecido lá por quase 6 meses.
"O sistema prisional do Ceará tem efetivo, equipamento, treinamento e estratégia adequada para garantir segurança as pessoas privadas de liberdade que estão sob a tutela do Estado. O gerenciamento e remanejamento das pessoas privadas de liberdade é uma prerrogativa da gestão prisional para garantir uma pena justa e segura para todos que ali cumprem pena", completou a Pasta.
A defesa de Maurício Gomes Coelho não foi localizada para comentar a transferência de presídios e os crimes atribuídos ao empresário pela Polícia. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Série de crimes atribuídos ao empresário
O empresário Maurício Gomes Coelho foi preso no dia 8 de novembro de 2024, em um condomínio de alto padrão onde morava, no bairro Benfica, em Fortaleza, por suspeita de tentativa de homicídio.
Na ocasião, foram apreendidos uma pistola 9 milímetros, 12 munições, três rádios comunicadores, dois celulares e um colete balístico, com o suspeito. E ele foi autuado em flagrante pelo crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.
Maurício é acusado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) de se aliar à facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) para tentar matar um motorista de 'Bebeto do Choró', em um posto de combustíveis, em Canindé, no dia da última eleição municipal, 6 de outubro de 2024.
Também foram denunciados pelo MPCE, no processo: Francisco Flávio Silva Ferreira, o 'Bozinho', apontado como um líder da facção GDE na região; Micael Santos Sousa, o 'Teo'; Antônio Daniel Alves Ribeiro, o 'Niel'; Francisco Gleidson dos Santos Freitas; e Tamires Almeida Ribeiro.
Não há nenhuma informação no processo que ligue o prefeito cassado 'Bebeto do Choró' ao crime de tentativa de homicídio. Uma fonte ligada ao caso que foi ouvida pela reportagem na condição de anonimato disse ainda que 'MK' não é 'laranja' de 'Bebeto', mas sim ligado a outros políticos na atuação de fraudes em licitações.
Segundo essa fonte, a atuação com 'Bebeto do Choró' é recente. No entanto, as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal trazem indícios diferentes e apontam um elo forte entre 'MK' e 'Bebeto', além de outros políticos de municípios do Interior do Estado.
Quando Maurício entrou no mundo das licitações, por meio da empresa aberta em nome dele, MK Serviços em Construção e Transporte Escolar, o ano era 2020 e ele ainda era vigilante. Em 2021, o faturamento da empresa foi modesto, mas nos anos seguintes foi crescendo exponencialmente.
No ano de 2022, o faturamento foi de cerca de R$ 7 milhões. Já em 2023 pulou para R$ 30 milhões e no ano passado chegou a R$ 80 milhões. A reportagem apurou que Mauricio Coelho faturou em 2024, somente no município de Canindé, cerca de R$ 5 milhões.
Habeas corpus deferido, mas 'MK' segue preso
A defesa de Maurício Coelho obteve alvará de soltura para o cliente, em pedido feito ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), no processo da tentativa de homicídio, no dia 8 de abril deste ano. No acórdão, a desembargadora justificou a soltura por falta de denúncia no processo. Porém, a denúncia foi apresentada pelo MPCE no dia 26 de março deste ano.
No dia 5 de dezembro último, 'MK', já preso, foi alvo do cumprimento de outro mandado de prisão preventiva, em uma operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) contra um esquema criminoso de compra de votos em dezenas de municípios cearenses. Ele foi apontado como 'laranja' do então prefeito eleito de Choró, Bebeto Queiroz - que está foragido desde então e depois teve o mandato político cassado pela Justiça Eleitoral.
Conforme as investigações policiais, Maurício era um vigilante com rendimento mensal de R$ 2,5 mil, que se tornou empresário proprietário da MK Serviços em Construção e Transporte Escolar, com capital social de R$ 8,5 milhões, que ganhou licitações em diversas prefeituras do Interior do Ceará.
Alvo de uma nova operação
O empresário Maurício Gomes Coelho, um vereador por Canindé e integrantes de uma facção criminosa foram alvos de uma nova operação do Ministério Público do Ceará e da Polícia Civil do Ceará (PCCE), no último dia 8 de maio.
A ação, denominada de “Sórdida Pecúnia”, foi deflagrada para desarticular uma organização criminosa envolvida em lavagem de dinheiro oriundos do tráfico de drogas, fraudes em licitações e desvios de recursos públicos.
A reportagem apurou que um novo mandado de prisão foi expedido contra Maurício Coelho. A Justiça determinou ainda o afastamento cautelar do vereador Francisco Geovane Gonçalves, do município de Canindé, por 180 dias. Ele é suspeito de colaborar com as ações do grupo criminoso.
A Polícia Civil destacou que "a operação é fruto de uma investigação iniciada em outubro do ano passado, no dia da eleição, quando um homem foi vítima de uma tentativa de homicídio. Seguindo nos trabalhos investigativos, todos os executores do referido crime foram identificados e, a partir das apreensões realizadas na primeira fase, foi possível identificar as lideranças do grupo criminoso, bem como identificar outros membros e outros delitos graves".
"As lideranças do referido grupo criminoso são inclusive apontadas pelas investigações em curso como sendo os responsáveis por alguns dos crimes graves ocorridos nos últimos dias no município de Canindé", completou a PCCE.
No total, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e três mandados de prisão; sequestrados 20 veículos e três imóveis dos alvos da operação; e apreendidos bens em um valor de aproximadamente R$ 5 milhões.