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‘E agora, Brasil?’: Tebet diz que será preciso cortar até R$ 40 bi em 2024 para cumprir arcabouço fiscal

Por Manoel Ventura, O Globo — Rio

 

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse nesta terça-feira, que será preciso cortar entre R$ 32 bilhões e R$ 40 bilhões de despesas discricionárias em 2024 por conta da forma como o arcabouço fiscal foi aprovado na Câmara. Entre essas despesas, apontou inclusive emendas parlamentares.

 

Despesas discricionárias são destinadas para investimentos e custeio da máquina pública. Segundo Tebet, esse corte é necessário para cumprir pisos de despesas obrigatórias, como saúde e educação.

 

Despesas discricionárias são destinadas para investimentos e custeio da máquina pública. Segundo Tebet, esse corte é necessário para cumprir pisos de despesas obrigatórias, como saúde e educação.

 

Tebet e o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, participaram de mais uma edição da série “E agora, Brasil?”, uma realização dos jornais O GLOBO e Valor Econômico, com patrocínio do Sistema Comércio através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações.

 

A íntegra do debate on-line, mediado por Vera Magalhães, colunista do GLOBO, e Sérgio Lamucci, editor executivo do Valor, pode ser vista no link.

 

A ministra afirmou que, na tramitação do arcabouço no Senado, restringir ainda mais o espaço para gastos em relação ao texto já aprovado na Câmara significa cortar despesas. E alertou que esse corte pode atingir emendas parlamentares, indicando um dos caminhos da negociação do governo com os senadores para evitar alterações no texto.

 

— Se restringir mais, significa ter que cortar despesas com emendas parlamentares. Para não cortar, controle de gastos. A gente vai ter que fazer escolhas, mas o Congresso vai exigir corte de gastos no ano que vem. Pode chegar a custeio da máquina, a despesas com emendas? Sim, pode chegar, mas não significa que vai chegar — disse.

 

— Se restringir mais, significa ter que cortar despesas com emendas parlamentares. Para não cortar, controle de gastos. A gente vai ter que fazer escolhas, mas o Congresso vai exigir corte de gastos no ano que vem. Pode chegar a custeio da máquina, a despesas com emendas? Sim, pode chegar, mas não significa que vai chegar — disse.

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Sarto faz 'entrega' de moradias antes da chegada de ministro e do governador: 'sou sempre pontual'

Alessandra Castro, Igor Cavalcante / DIARIONORDESTE

 

Um ato inusitado marcou o evento de entrega de moradias do módulo V do Residencial Cidade Jardim, no bairro José Walter, em Fortaleza, nesta segunda-feira (29). Prefeito da Capital, José Sarto (PDT) foi o primeiro político a chegar na cerimônia e realizou, sozinho, a "entrega" simbólica das unidades habitacionais para 880 famílias, antes da chegada do ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), e do governador Elmano de Freitas (PT).

Questionado se haveria duas cerimônias distintas, já que Elmano e o ministro também iriam comparecer à entrega das moradias, o prefeito disse que é "pontual".

Parte do Programa Minha Casa, Minha Vida, o Residencial Minha Casa Jardim é fruto de uma parceria entre o Governo Federal, Estadual e Prefeitura. Por isso, a entrega das unidades habitacionais faz parte da agenda do prefeito, do governador e do ministro das Cidades, que veio ao Ceará para a cerimônia.

Todavia, nesta segunda, Sarto iniciou o evento sem esperar a chegada dos outros mandatários. Na ocasião, ele agradeceu ao presidente Lula (PT) por retomar o programa.

"É uma política habitacional que eu quero, mais uma vez, registrar o meu agradecimento, pelo povo de Fortaleza, ao Governo Federal, ao presidente Lula, por restabelecer o Minha Casa Minha Vida. Agradecer e parabenizar a todos que hoje estão recebendo as suas chaves. E dizer que a prefeitura está trabalhando com infraestrutura, para garantir Saúde, Educação para a região", destacou o gestor.

Quando Elmano e Jader Filho chegaram, no entanto, Sarto subiu no palanque junto a eles para acompanhar os discursos de entregas. O prefeito foi o primeiro a discursar.

CENÁRIOS DIFERENTES

Em 2014, quando a primeira etapa do Residencial Cidade Jardim foi entregue, o cenário era bem diferente. O então prefeito Roberto Cláudio (PDT) dividiu palanque com o então governador Cid Gomes (PDT) para oficialização do ato simbólico de entrega da chaves às famílias contempladas. Na ocasião, 513 apartamentos foram entregue.

À época, todavia, Cid e Roberto integravam o mesmo grupo político. Atualmente, o cenário é diferente para Sarto e Elmano. Ex-aliados, ambos compõem grupos políticos diferentes depois do racha de parte do PDT com o PT no Ceará, nas eleições de 2022.

SARTO ENTREGA CASAS

Elmano antecipa para junho pagamento da primeira parcela do 13º salário dos servidores estaduais

O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), anunciou em suas redes sociais, nesta segunda-feira (29), que o pagamento da primeira parcela do 13º salário dos servidores estaduais será antecipado para o próximo dia 12 de junho.

Serão destinados em torno de R$ 500 milhões para o pagamento dessa parcela, segundo o secretário da Fazenda, Fabrízio Gomes Santos. "Serão R$ 1,8 bilhão injetados na economia [cearense] no mês de junho, sendo R$ 1,3 bilhão na folha normal e mais ou menos R$ 500 milhões do 13º", detalhou.

'GESTÃO FISCAL EQUILIBRADA'

"Isso demonstra a capacidade financeira do Estado, com a gestão fiscal equilibrada, que permite, ao longo dos anos, que seja feita essa antecipação [do pagamento do 13º salário", concluiu o secretário.

Elmano ressalta que o adiantamento tem impacto direto no orçamento familiar. "[O 13º] É muito importante para o comércio, para os serviços, mas, especialmente, para as famílias dos servidores", comentou o governador. DIARIONORDESTE

Subsídio da Petrobras a combustível fóssil vai na direção contrária do que o país precisa

Por Míriam Leitão / O GLOBO

 

É difícil saber o impacto que a reoneração total dos impostos federais e do ICMS sobre combustíveis terá sobre o preço final. Isso porque os preços internacionais e o dólar podem cair, o que significaria que a Petrobras poderia reduzir o valor sem que isso signifique um movimento artificial.

 

O fato é que a Petrobras introduziu ainda mais incerteza no jogo, porque saiu da política de paridade internacional para essa nova política, que ninguém entendeu muito bem.

 

Um dos itens levados em conta será o custo alternativo do cliente. Se conseguir um preço mais baixo de um possível competidor da Petrobras, então a empresa tem mais chance de reduzir o preço.

 

E entra agora um outro fator. A reoneração parcial da gasolina já aconteceu, mas passará a ser de 100% a partir de primeiro de junho. Além disso, volta a ser cobrado o ICMS, que sofreu um período de limitação na época do governo Bolsonaro e que retirou dinheiro dos cofres estaduais. Houve uma negociação para a nova forma de cobrança, e em alguns estados isso vai significar aumento de imposto.

 

Portanto, há muito na mesa. Os impostos vão aumentar, e ao mesmo tempo haverá pressão para que não haja aumento ao consumidor em um contexto de uma nova política de preços. Corre-se o risco de, depois de um tempo, os preços se tornarem artificiais.

 

O país já viveu isso, principalmente no governo Dilma, quando se entrou na trilha de "vamos fazer o preço daqui para a frente". O argumento era que não queriam repassar a volatilidade internacional ao consumidor. Foram fazendo um preço cada vez mais artificial, o que levou a um grande prejuízo da Petrobras.

 

Sem falar no fato de que, quando a Petrobras cobra menos do que deveria cobrar, isso é um subsídio que a sociedade inteira está dando pra quem tem carro, para quem usa combustível fóssil, que emite gases de efeito estufa.

 

É irracional, já que é ruim para a empresa, que manda menos dinheiro para o governo em dividendos quando tem menos lucro, e para a sociedade inteira, que paga pela emissão de gases de efeito estufa. O preço subsidiado de combustíveis vai contra o desenvolvimento que o país precisa.

Governo Lula transforma vinda de Maduro para cúpula em visita especial

Renato Machado / FOLHAE SP

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está oferecendo ao ditador venezuelano, Nicolás Maduro, uma recepção feita a poucos chefes de Estado que vieram ao Brasil desde a sua posse, em 1º de janeiro.

Nesta segunda-feira (29), o petista realizará três agendas com o líder venezuelano, além de oferecer um almoço para Maduro e sua mulher, Cilia Flores de Maduro, no Palácio do Itamaraty.

Visitas de chefes de Estado em geral são anunciadas com antecedência, mas os eventos com o ditador só foram divulgados na manhã do dia em que serão realizados. O governo brasileiro avisou na sexta (26), por exemplo, a visita do presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, que ocorrerá na quarta (31) e na quinta (2).

Maduro não pisava em solo brasileiro desde a posse do segundo mandato de Dilma Rousseff, em 2015.

O ditador venezuelano chegou ao Palácio do Planalto por volta de 10h30 e foi recebido por Lula na extremidade da rampa presidencial. Os dois posaram para fotos juntos, antes de começarem a série de agendas na capital federal. Serão assinados dois atos durante o encontro: um memorando de entendimento de matéria agroalimentar e um mecanismo de supervisão da cooperação bilateral entre os países. Há a previsão que ambos os mandatários façam uma declaração conjunta.

Maduro registrou em suas redes sociais a chegada a Brasília, na noite de domingo (28). No entanto, o Palácio do Planalto ainda não havia confirmado o encontro entre os dois líderes, e a agenda do presidente Lula, cuja divulgação sempre é feita no dia anterior, só foi publicada na manhã desta segunda-feira.

O petista faz uma reunião privada com o ditador no Palácio do Planalto. Depois, haverá um encontro ampliado com o venezuelano, o que indica que assessores, e possivelmente ministros, também participarão. Na sequência, ocorrerá uma cerimônia para assinatura de atos e, às 13h30, um almoço para Maduro e sua mulher no Palácio do Itamaraty, sede da chancelaria brasileira.

Segundo o governo, a reunião entre os dois líderes servirá para repassar o processo de normalização da relação entre os países, retomada após a posse de Lula, com a reabertura de embaixadas e consulados. O novo embaixador venezuelano, Manuel Vicente Vadell Aquino, já apresentou as credenciais em Brasília.

"Será ocasião, também, para que os presidentes conversem a respeito dos processos de diálogo interno na Venezuela, com vistas à realização das eleições de 2024", disse o Planalto em comunicado.

O governo também afirmou que serão discutidos outros temas para melhorar o diálogo entre Brasil e Venezuela, incluindo a recente missão a Caracas organizada pela Agência Brasileira de Cooperação, que contou com representantes de mais de 20 órgãos brasileiros. Também deve estar no foco das conversas temas fronteiriços, com destaque para a população que vive nessas regiões, como os ianomâmis.

"O comércio bilateral alcançou cerca de US$ 1,7 bilhão [R$ 8,49 bilhões] em 2022, com exportações brasileiras de US$ 1,3 bilhão [R$ 6,49 bilhões] e importações de quase US$ 400 milhões [R$ 1,9 bilhão]. O intercâmbio entre os países chegou a alcançar US$ 6 bilhões [R$ 29,9 bilhões] em 2013, o que demonstra o potencial da relação e enseja o aprofundamento do diálogo para a retomada das parcerias econômicas, da complementaridade de cadeias produtivas e da remoção de obstáculos ao comércio", conclui a nota.

O propósito inicial da vinda de Maduro ao Brasil é a participação no encontro com 11 líderes da América do Sul, que Lula realizará nesta terça (30) em Brasília —o presidente busca uma forma de integração que seja permanente e que conte com as 12 nações da região. Com exceção de Dina Boluarte, do Peru, que enfrenta impedimentos constitucionais, todos os outros 11 líderes confirmaram presença na capital.

Até então, assessores do Planalto indicavam que Lula teria uma conversa com Maduro na reunião. No entanto, em nenhum momento trataram a vinda do ditador ao Brasil como uma visita de chefe de Estado.

O líder venezuelano não visitava o Brasil havia oito anos. Em 2019, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) editou uma portaria proibindo a entrada de autoridades de alto escalão do país, proibição que foi revogada no final do ano passado. O então líder brasileiro reconheceu à época Juan Guaidó, então líder da oposição venezuelana, como chefe de Estado legítimo da Venezuela.

Em março deste ano, o ex-chanceler Celso Amorim, hoje assessor especial da Presidência, viajou a Caracas, onde se reuniu com Maduro e também com membros da oposição ao regime. As eleições, programadas na Venezuela para 2024, e a dívida de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) que o país acumula com o Brasil foram abordadas por Amorim, que também sinalizou a intenção do Brasil de assumir maior protagonismo nas negociações com a oposição, hoje transcorrendo a passos lentos no México.

Em abril, Lula assinou um decreto oficializando o retorno do Brasil à Unasul (União das Nações Sul-Americanas), órgão que o país deixou no governo Bolsonaro. A retomada foi criticada pelo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, que já coleciona fricções com o Mercosul devido às travas que Brasil e Argentina têm colocado à ambição de seu país de assinar um tratado de livre comércio com a China.

A Unasul foi criada em 2008 e chegou a ter como membros 12 países. Com o tempo, a aliança se desgastou. Criticada por ter forte alinhamento à esquerda, com Lula, o venezuelano Hugo Chávez (1954-2013), o argentino Néstor Kirchner (1950-2010) e o equatoriano Rafael Corrêa como principais líderes, começou a cair em descrédito após a esquerda perder eleições e ser substituída pela direita.

A Colômbia saiu em 2018; no ano seguinte, foi a vez de Argentina, Brasil, Chile e Paraguai.

LULA E MADURO NO BRASIL

Esquerda pressiona Lula, se divide e causa desgaste para o Planalto

Por Jeniffer Gularte — Brasília / O GLOBO

 

Pressionado por partidos de centro, dos quais depende para formar uma base sólida no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem encontrado dificuldades para manter a ala mais à esquerda de seus aliados coesa com a frente ampla que montou para governar. Tanto na votação da nova regra fiscal quanto no acordo fechado para aprovar a reestruturação dos ministérios, foram parlamentares de partidos como PT, PSOL e Rede, e não a oposição, os que mais resistiram. Além disso, pautas ligadas a essas siglas, como a questão ambiental e a defesa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), viraram uma espécie de calcanhar de aquiles do governo.

 

Frente aos primeiros resultados de votações no Congresso, petistas próximos a Lula avaliam que o governo terá de optar por encampar temas que gerem mais consenso entre parlamentares, como os ligados a educação, saúde e distribuição de renda. Segundo esses auxiliares, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), responsável pela articulação política do governo, já entendeu que temas da agenda da esquerda sofrerão resistência no Congresso.

 

— Quanto mais se aproximar do centro, mais chance de aprovação. Agenda de esquerda tem tido pouca adesão — resume o líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB).

 

Quanto à pauta ambiental, que Lula tenta usar como vitrine no cenário internacional, aliados afirmam que terá de ser tratada de forma mais ampla, com foco, por exemplo, na preservação da Amazônia e no combustível verde.

 

Mas é na área econômica que o governo enfrenta fogo amigo de maior calibre. A próxima batalha será a reforma tributária, tema que já opõe petistas e a equipe econômica. O deputado Rui Falcão (PT-SP), que preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), é um dos que acreditam que o fatiamento da reforma pode fazer com que a segunda etapa sequer saia do papel. Pela proposta da Fazenda, primeiro será encaminhada a simplificação e unificação dos tributos, para mais tarde se tratar de renda, patrimônio e riqueza.

 

Como revelou O GLOBO, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, enfrenta desgaste com a bancada do partido na Câmara por defender posições mais à esquerda e que por vezes colidem com a pauta econômica de Lula. Além das críticas ao novo arcabouço fiscal, ela se disse contra a volta da cobrança de impostos sobre combustíveis.

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Plano Safra vira novo embate entre bancada do agronegócio e governo Lula

Por Vera Rosa / O ESTADÃO

 

BRASÍLIA – Depois da disputa que resultou no esvaziamento das atribuições dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Originários, há um novo embate entre o governo e a bancada ruralista no Congresso. Trata-se do Plano Safra, que deve ser anunciado até junho. Integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) têm reclamado da falta de informações sobre o volume de recursos para a nova edição do plano, diante das altas taxas de juros, e mostram preocupação com o prazo exíguo para os repasses.

 

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), se reuniu nesta quarta-feira, 24, com o titular da Fazenda, Fernando Haddad, e disse ter levado à equipe econômica uma proposta para aumentar a verba destinada ao Plano Safra.

 

“Quando olhamos para 2022 e 2023, o que compete ao ministério da Agricultura ficou em torno de R$ 3,8 bilhões. O nosso pleito é pela equivalência do que foi 2014, pelo menos”, afirmou Fávaro, numa referência a uma espécie de subsídio dado aos produtores rurais. Naquele ano da gestão de Dilma Rousseff, as equalizações de juros, em valores nominais, ficaram em R$ 11,6 bilhões.

 

Fávaro disse, ainda, que o governo busca mecanismos para permitir que o mercado financie a agropecuária, sem a participação do Tesouro Nacional. Além disso, destacou que a liberação de uma linha de crédito rural em dólar, feita pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é uma “política inédita”.

 

Planejamento

Representantes do agro indicam, porém, preocupação com os recursos necessários para cobrir os juros e a liberação da verba a tempo de fazer o planejamento da safra. Ex-ministra da Agricultura, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) vai conversar com Fávaro sobre o assunto na próxima segunda-feira, 29.

“Os valores do Plano Safra, pela nossa entidade, têm uma necessidade de R$ 25 bilhões para equalização de juros e R$ 400 milhões para operações”, disse o presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP-PR). “Nós temos de buscar espaço fiscal para esses recursos e um entendimento básico com os ministérios.””

Estadão apurou que existe uma disputa, nos bastidores, entre a Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Agrário, comandado por Paulo Teixeira (PT), pela divisão dos valores entre pequenos, médios e grandes produtores rurais. Em funcionamento na Câmara, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) também virou outro problema para o governo porque tem servido de palco para o confronto entre a bancada ruralista e o PT.

Lula libera R$ 1 bi no dia do arcabouço; deputados admitem votar por verbas: ‘Pelo Brasil, né?’

Por Daniel Weterman / O ESTADÃO

 

BRASÍLIA – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva liberou R$ 1 bilhão em emendas parlamentares no dia da votação do arcabouço fiscal. Foi a maior liberação de recursos feita em um único dia do ano. Nas horas que antecederam a votação, o Estadão flagrou deputados reclamando da articulação política do Planalto e pedindo emendas e cargos no cafezinho da Câmara. “Pelo Brasil, né?”, afirmou o deputado Igor Timo (Podemos-MG), vice-líder do governo, dando uma gargalhada.

 

A liberação atendeu deputados e senadores e foi feita às custas do Ministério da Saúde, responsável por 99% das liberações (empenhos, no jargão técnico) feitas na terça-feira, 23. Agora, o dinheiro (R$ 1,052 bilhão) está pronto para cair no caixa das prefeituras indicadas pelos congressistas. Os partidos mais beneficiados foram PT, MDB, PSD e União Brasil, que compõem a base do governo e ainda possuem integrantes insatisfeitos com o tratamento dado pelo Planalto ao Legislativo.

 

As emendas individuais são impositivas, ou seja, o governo é obrigado a pagar conforme a indicação dos deputados e senadores. O Executivo tem, no entanto, controle sobre o momento da liberação. Além desses recursos carimbados, o governo Lula começou a liberar no mesmo dia recursos herdados do orçamento secreto, esquema revelado pelo Estadão e extinto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que agora estão no guarda-chuva dos ministérios, mas ainda atendem a pedidos dos parlamentares.

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Lula se sentiu traído por Marina em decisão do Ibama, dizem interlocutores do governo

Ana Carolina Amaral / FOLHA DE SP

 

SÃO PAULO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se sentiu traído com a publicação da decisão do Ibama que negou o licenciamento ambiental para a perfuração de poço de petróleo pela Petrobras na foz do Amazonas.

Lula esperava que a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) o informasse previamente sobre a decisão, para que ele costurasse uma saída política junto ao MME (Ministério de Minas e Energia).

A informação foi confirmada por interlocutores do Ministério do Meio Ambiente, do PT (Partido dos Trabalhadores) e da presidência da Petrobras.

Marina, no entanto, insistiu que a decisão do Ibama seria técnica e não estaria sujeita a ingerência política.

A decisão foi publicada em 17 de maio, quando Lula estava no Japão para o encontro do G7.

Os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) precisaram aguardar o retorno do presidente ao país para tentar reverter a situação, o que aumentou o custo político da mediação com o Meio Ambiente, inspirando a fritura de Marina Silva.

Segundo fontes do governo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, deve mediar um acordo entre o MME, o MMA (Ministério do Meio Ambiente) e o Ibama, que deve ser assinado por Lula.

Petrobras pretende apresentar ainda nesta semana um recurso ao Ibama, mas o presidente da empresa, Jean Paul Prates, deve manter uma postura neutra na briga política.

Há pouco espaço de negociação para o MMA em um possível acordo, que já conta com o alinhamento entre o MME e a Casa Civil, na avaliação de interlocutores da pasta ambiental.

Os três ministros e o presidente do Ibama já se reuniram na última terça-feira (23), quando o MMA reforçou a posição de que a decisão do Ibama era técnica e precisava ser obedecida —o que significa, na prática, que o MME deve providenciar a AAAS (Avaliação Ambiental de Área Sedimentar) como condição para avançar no licenciamento.

No dia seguinte à reunião, a comissão mista do Congresso aprovou a MP 1.154, com um esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente.

A proposta, que segue para o plenário da Câmara, transfere a outros ministérios competências típicas do MMA, como o administração do CAR (Cadastro Ambiental Rural), da ANA (Agência Nacional de Águas) e dos sistemas de gestão de resíduos sólidos e saneamento básico.

A sequência dos eventos foi lida por interlocutores da pasta ambiental como um jogo combinado para desgastar o nome de Marina, visto por aliados políticos do presidente como obstáculo aos projetos do governo.

FOZ DO AMAZONAS

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

Plano de Lula de incentivar carro popular prejudica os mais pobres

Roberto Andrés / FOLHA DE SP

 

[RESUMO] Pacote que governo federal deve anunciar para incentivar produção de carros populares é mais um capítulo da longa lista de privilégios de que aindústria automobilística desfruta no Brasil, com impactos negativos para toda a sociedade. Explosão do setor nos governos Lula e Dilma, às custas de volumosas quantias de recursos públicos destinadas às montadoras, não gerou empregos qualificados, aumentou poluição e acidentes e deteriorou ainda mais a qualidade de vida nas cidades, prejudicando sobretudo os mais pobres.

 

O governo federal pretende anunciar um pacote de estímulos à indústria automobilística. Busca-se reduzir os preços dos veículos, que subiram bastante nos últimos anos. Por razões diversas, as fábricas brasileiras deixaram de produzir carros populares, focando-se em modelos mais caros. O governo agora quer usar dinheiro público para reverter essa decisão.

 

A medida, que deve ser anunciada na quinta-feira (25/5), vai na contramão do esforço do Ministério da Fazenda de rever desonerações e aumentar a arrecadação. Não é bom sinal: como dizer para o empresário que perderá um desconto tributário que outro setor ganhará um desconto no mesmo momento?

 

Difícil encontrar um segmento que tenha sido tão beneficiado no Brasil quanto o das montadoras. A implantação da indústria automotiva no país, durante o governo JK, deu-se por um arranjo em que uma série de incentivos era compensada por investimentos e garantia de nacionalização dos veículos —95% das peças deveriam ser fabricadas no país.

 

Durante a ditadura, o índice de nacionalização foi sendo flexibilizado. Com a abertura comercial dos anos 1990, ele despencou. O imposto para importação de peças foi praticamente a zero, e as montadoras passaram a se abastecer de fornecedores internacionais.

 

O processo levou à derrocada da indústria nacional de autopeças. A abertura comercial, contudo, não foi para todos: a taxa de importação de veículos ficou em 70%, beneficiando montadoras multinacionais instaladas no país.

 

A escolha por privilegiar as montadoras em detrimento das autopeças dificilmente se sustenta. Para se ter uma ideia, em 1990 os dois setores tiveram um faturamento similar no Brasil, cerca de US$ 13 bilhões de dólares cada um, mas as montadoras empregaram cerca de 117 mil pessoas, enquanto as autopeças criaram mais de 285 mil vagas.

 

Já o setor de revendas empregou quase 380 mil, e as oficinas de reparos, mais de 1,2 milhão de pessoas no mesmo ano. Ou seja, embora utilizem de sua força simbólica e concentração de capital para conquistar benefícios, as montadoras geram poucos empregos. Em 1990, respondiam por cerca de 6% deles.

 

Apesar disso, as montadoras seguiram privilegiadas. Ganharam vultosas desonerações por programas federais —como o Novo Regime Automotivo, de FHC— e pelas "guerras fiscais".

 

Multinacionais que já haviam decidido operar no país anunciavam a possibilidade de se instalar em dois ou três Estados, para barganhar vantagens. Além da redução, ou mesmo isenção, do ICMS, os governos estaduais começaram a oferecer terrenos públicos, obras de infraestrutura, crédito subsidiado, descontos em contas de água e luz.

 

Em muitos casos, as fábricas foram capazes de sobrepor benefícios e prolongá-los no tempo. Esse financiamento público da atividade privada já estava nas alturas quando começou o primeiro governo Lula, que apostou no crescimento do setor com mais desonerações. Vieram então a política de IPI zero e o boom na produção.

 

O licenciamento de novos veículos saltou de 1,5 milhão de unidades anuais em 2003 para 3,4 milhões em 2012. Esse foi um período de grande lucro para as montadoras, que em 2008 enviaram o maior volume de recursos a suas matrizes na série histórica: US$ 5,6 bilhões. Entre 2005 e 2013, essas remessas superaram em quase US$ 20 bilhões os investimentos realizados no país.

 

Como aponta o pesquisador Jonas Tomazi Bicev, a margem de lucro praticada no Brasil era, em geral, três vezes maior que a de outros países. Durante a crise iniciada em 2008, a lucratividade das filiais brasileiras compensou as perdas das matrizes do Norte Global.

 

A explosão das vendas e da lucratividade foi em parte sustentada pelos incentivos estatais. Somente as desonerações de IPI alcançaram R$ 10,5 bilhões entre 2009 e 2013.

 

Um levantamento calculou em R$ 69 bilhões os incentivos fiscais concedidos pela União às montadoras entre 2000 e 2021. Isso sem contar os benefícios estaduais e outras formas de estímulo, como as isenções fiscais para a gasolina e o álcool.

 

O boom não se refletiu em aumento relevante de empregos. Embora a produção nacional de veículos tenha crescido em quase quatro vezes entre 1990 e 2013, o emprego no setor de montadoras ficou relativamente estável no período.

 

A indústria de autopeças, ainda que tenha se recuperado de sua forte perda de empregos na década de 1990, não chegou a gerar aumento de ocupação significativo.

Tudo isso acabou por produzir um teto baixo para o modelo de ascensão dos governos petistas. A carência de empregos de maior produtividade jogou milhares de jovens com formação superior em trabalhos precarizados e mal remunerados no setor de serviços.

Como as montadoras são pouco intensivas em mão de obra, seu crescimento em quase nada contribuiu para a geração de empregos qualificados —assim como a mineração e o agronegócio, pilares da economia no período.

Os recursos públicos abocanhados pelas montadoras, se investidos em serviços de saúde, educação e mobilidade urbana, poderiam ter provido melhorias de vida para toda a população. Mas subsidiaram o boom automobilístico, que, além de não produzir aumento de empregos de alta produtividade e remuneração, gerou uma aguda deterioração da qualidade de vida nas cidades, prejudicando sobretudo os mais pobres.

O CUSTO SOCIAL DO AUTOMÓVEL

O conceito de externalidade, em economia, diz respeito ao impacto, positivo ou negativo, sobre terceiros não diretamente envolvidos em uma atividade.

A referência bibliográfica mais completa sobre o tema, um estudo de Todd Litman, do Victoria Transport Institute, indica 17 externalidades negativas para o transporte, a maior parte gerada por carros e motocicletas. O compilado aponta que os custos sociais dos veículos individuais podem estar bem acima dos benefícios financeiros do setor.

Os poucos estudos feitos no Brasil chegam a conclusões parecidas. Analisando apenas poluição do ar, de ruído e acidentes, um relatório elaborado pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) estima em R$ 154 bilhões os custos sociais oriundos do transporte motorizado em 2016, 90% gerados por automóveis e motocicletas. No entanto, estes veículos responderam por apenas 29% das viagens feitas no país naquele ano, enquanto o transporte coletivo foi responsável por 28% delas.

Para se ter uma ideia, os impostos arrecadados junto às montadoras somaram R$ 19,2 bilhões em 2013 —ano de maior venda de automóveis da história do país. Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), toda a cadeia da indústria automobilística teria gerado R$ 56,6 bilhões em tributos naquele ano —cerca de um terço de apenas três custos sociais do transporte.

Quando é aplicada a média aferida pelo compilado de Litman, vê-se que os três custos para os quais há estimativas no Brasil correspondem a cerca de 30% de custos externos gerados por automóveis e motocicletas.

Se os outros 14 custos não inseridos na estimativa nacional fossem computados, considerando a média internacional, as externalidades do transporte motorizado no país seriam de cerca de R$ 500 bilhões por ano.

Se a conta do carro não fecha no balanço dos impactos sociais, ela tampouco é sustentável na perspectiva dos gastos privados, especialmente na periferia do capitalismo.

Os custos de manutenção e financiamento de veículos podem facilmente chegar ao piso da renda familiar da classe C no Brasil. Não por acaso, a compra do carro foi identificada, em pesquisa de 2012, como "principal razão do alto endividamento da classe C". Para as dezenas de milhões de brasileiros que seguiram nas classes D e E, seria impossível arcar com esses valores.

Aqui há um paradoxo evidente. Os preços dos veículos teriam que ser muito mais baixos para que pudessem ser universalizados em países da periferia do capitalismo. No entanto, esses mesmos preços teriam que ser muito mais altos para "internalizar" ao menos parte dos impactos sociais gerados por essa indústria.

Por fim, outro ponto a ser ressaltado explicita a contradição da ênfase automobilística por parte de governos de esquerda. Os mais impactados pelas externalidades dos veículos particulares são os mais vulneráveis.

As mortes no trânsito no Brasil, que ceifam dezenas de milhares de vidas por ano, estão concentradas entre pedestres e motociclistas —ambos com participação majoritária na base da pirâmide. Quem mais respira o ar poluído são os que passam mais tempo no trânsito, se deslocam de ônibus ou a pé —mais uma vez, os mais pobres.

A massificação de automóveis congestiona as ruas das cidades e induz o espraiamento, prejudicando o transporte coletivo. Enquanto o país viveu o boom de carros de 2008 a 2013, o tempo de viagem nos ônibus urbanos foi às alturas.

Em muitas cidades, o tempo médio de deslocamento dobrou. O aumento dos itinerários e da lentidão pressiona o custo dos ônibus, fazendo crescer o preço das tarifas —que subiram muito acima da inflação no período. Na raiz das revoltas de 2013, esteve também o boom automobilístico.

Mais uma vez, os maiores prejudicados foram os mais pobres, milhões de pessoas sem carro que dependem dos ônibus. Mulheres negras de baixa renda formam o principal grupo de usuárias cativas do transporte público no Brasil.

A experiência anterior mostra que incentivar montadoras não é bom negócio. Consome dinheiro público, gera poucos empregos qualificados, degrada a condição de vida nas cidades e contribui para a crise climática.

A indústria de transporte do século 21 é a de ônibus, trens, bondes e bicicletas. Se o governo for gastar dinheiro público e capital político desonerando setores, que sejam aqueles que beneficiam de fato os mais pobres e criam perspectivas de vida sustentáveis no planeta.

 

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