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Receita começa a divulgar 'caixa-preta' de benefícios fiscais com nomes de empresas e valores

Eduardo Cucolo / FOLHA DE SP

 

SÃO PAULO

A Receita Federal divulgou três listas com o nome de empresas beneficiadas por incentivos, renúncias, benefícios ou imunidade tributária. A iniciativa atende à determinação do Ministério da Fazenda de abrir a chamada "caixa-preta" dos gastos tributários federais.

Uma delas é a relação de benefícios declarados na Escrituração Contábil Fiscal do contribuinte, que traz dados sobre mais de 15 mil grandes empresas, com valores que somam R$ 50 bilhões, referentes ao ano de 2021 para IRPJ/CSLL (tributos sobre o lucro das empresas).

Foram publicadas também as relações de empresas imunes ou isentas de IRPJ/CSLL —com cerca de 260 mil CNPJs de entidades sem fins lucrativos, religiosas e de previdência privada fechada— e de cerca de 23 mil companhias inscritas em 14 Regimes Especiais de Tributação. Nesses casos, não foram apresentados os valores das renúncias individualmente.

A lista dos maiores beneficiados ainda pode sofrer alterações, pois nem todas as empresas tiveram seus dados divulgados. A Folha selecionou as 50 companhias com maiores valores apresentados pela Receita até o momento. Na lista, estão grandes empresas como Vale, Petrobras, subsidiárias da Eletrobras e companhias que atuam na Zona Franca de Manaus e no Nordeste.

Portaria divulgada pela Receita na semana passada prevê ainda a divulgação de informações relativas a benefícios de importação (PIS/Cofins e IPI), que devem ser apresentados até o final de maio. Os dados não incluem alguns dos maiores gastos tributários federais, como o Simples e as desonerações das cesta básicas e da folha de pagamento.

Segundo a Receita, as listas serão periodicamente revisadas e reavaliadas, de modo a promover a ampliação gradual do rol de transparência, "sempre com a devida segurança jurídica".

Na relação que traz o valor individual das renúncias, foram listados 22 tipos de benefícios. A maior parte dos recursos divulgados se refere aos incentivos para projetos nas áreas das superintendências do desenvolvimento do Nordeste e da Amazônia (Sudam/Sudene) e para os fundos de investimentos das duas regiões (Finam e Finor).

Há também programas como Prouni (Universidade para Todos), Rota 2030 (automotivo) Padis (semicondutores), Empresa Cidadã (prorrogação da licença maternidade) e PAT (alimentação do trabalhador), além de deduções relacionadas aos fundos da criança e adolescente e do idoso, a programas de incentivo a cultura e desporto e com horário eleitoral.

O Prouni, que concede bolsas de estudo em universidades a alunos de baixa renda, foi criado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) em parceria com sua esposa, Ana Estela.

Vale
19,108
Eletronorte
1,215
Salobo Metais (Vale)
1,205
Petrobras
1,129
Chesf
0,846
Braskem
0,762
Recofarma do AM (Coca-Cola)
0,606
Companhia Siderúrgica do Pecém
0,437
Coelba
0,331
Novamed Produtos Farmacêuticos
0,322
Crown da Amazônia
0,321
Mineração Caraíba
0,311
Energisa Mato Grosso
0,291
Arosuco (Ambev)
0,288
Refinaria de Mataripe
0,274
Jacobina Mineração e Comércio
0,261
Termo Norte Energia
0,258
Rumo Malha Norte
0,254
Equatorial Pará Energia
0,251
TIM
0,240
Equatorial Maranhão Energia
0,229
Inpasa Agroindustrial
0,225
FS Agrisolutions Biocombustiveis
0,218
Bom Futuro Agrícola
0,209
South32 Minerals
0,185
Siderúrgica Norte Brasil
0,183
Ball do Brasil
0,177
Ferbasa (Ferro Ligas)
0,166
Mineração Paragominas
0,159
Bunge Alimentos
0,158
Aço Cearense Industrial
0,151
Argo Transmissão de Energia
0,148
Transmissora Aliança de Energia
0,144
Mineração Aurizona
0,143
Coimpa Industrial
0,142
Telefônica Brasil
0,142
Belgo Bekaert Arames
0,141
Bertuol Indústria de Fertilizantes
0,139
Alcoa World Alumina Brasil
0,137
Deten Química
0,130
Britânia Componentes Eletrônicos
0,128
Equatorial Piauí Energia
0,125
Equatorial Alagoas Energia
0,125
Indorama Ventures Polímeros
0,123
CSN Mineração
0,123
Energisa Paraíba Energia
0,123
Proquigel Química
0,122
LG Electronics do Brasil
0,118
Cia Energética do RN
0,116

Batalha pela extinção da Funasa é termômetro da relação do Centrão com governo Lula

Por Malu Gaspar e Johanns Eller — Brasília e Rio / O GLOBO

 

Das várias batalhas que esperam o governo Lula no Congresso nesta semana, uma em especial deve funcionar como um termômetro da boa vontade do Centrão em relação aos planos do governo: o futuro da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), que Lula quer extinguir e o bloco quer manter.

 

O fim da Funasa é o objeto de uma das seis MPs editadas no início do governo Lula e que precisam ser chanceladas pelo congresso até o dia 1º para não perder a validade.

 

Se isso não acontecer, a fundação voltará a existir – ao menos no papel –, apesar do Planalto ainda rejeitar essa possibilidade.

 

A pressão do Centrão se intensificou nesta terça-feira (23), quando o relator da medida provisória que trata da reorganização da Esplanada dos Ministérios, Isnaldo Bulhões (MDB-AL), propôs incluir a extinção da Funasa nesse mesmo texto – seu partido controla o Ministério das Cidades, que absorveu parte das atribuições do órgão.

 

Mas a proposta enfrentou forte reação de deputados como Danilo Forte (União-CE), que presidiu a fundação no segundo mandato de Lula, e a deliberação foi adiada para os próximos dias – o que deixa o governo cada vez mais próximo do prazo limite.

 

A ofensiva para ressuscitar a Funasa tem sido capitaneada principalmente pelo PSD, que já comanda três ministérios e quer assumir seu controle.

 

Já no final do ano passado, durante as negociações para a PEC da Transição, o partido incluiu uma emenda aumentando o orçamento da fundação para 2023.

 

Depois da posse, Lula editou a MP extinguindo o órgão, mas depois houve um acordo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para deixar a MP caducar e a fundação voltar a existir.

 

Os líderes do Centrão confiam tanto nesse acordo que já até definiram quem vai presidir a Funasa depois que ela for recriada: Virgínia Velloso Borges — mãe da senadora paraibana Daniella Ribeiro, do PSD de Pacheco.

 

Ex-prefeita de Pilar (PB), Virgínia já comandou a superintendência da Funasa no estado nordestino nos governos Temer e Bolsonaro. Ela tem outro filho no Congresso, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP.

 

No Palácio do Planalto, porém, os esforços vão em outra direção: deixar que a MP da Funasa caia, mas incluir uma emenda prevendo sua extinção em outra MP que define a reorganização da Esplanada dos Ministérios sob Lula.

 

A decisão de acabar com a Funasa foi uma recomendação do grupo de trabalho de saúde do gabinete de transição, com base em relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) que apontaram irregularidades como fraudes em contratos.

 

Até ser extinta, a Funasa tinha mais de 2 mil funcionários e uma verba de R$ 2,9 bilhões prevista para 2023. Além do PSD, que mandava na Funasa até o ano passado, seu comando também já esteve nas mãos do MDB, do PP, que apoiam a recriação.

 

Depois, os funcionários de carreira foram realocados nos ministérios das Cidades e da Saúde e a sede foi cedida à Secretaria Nacional de Saneamento, subordinada à pasta das Cidades.

 

Em março, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, chegou a declarar que “não havia hipótese” de recriação da Funasa. Hoje, na definição de alguns governistas, a Funasa é pouco mais do que um "CNPJ vazio".

 

Isso, porém, não parece preocupar os parlamentares. “O desmonte não intimida nenhum senador ou deputado. Se estão desmontando, a decisão final será do Parlamento e, dependendo do nosso texto final, vão ter que remontar a Funasa talvez até mais estruturada do que estava”, disse Daniela Ribeiro em uma audiência pública no final de março.

Diante de tantas questões importantes tramitando no Congresso ao mesmo tempo, o governo vai ter que escolher quais disputas quer travar e em quais assuntos vai ceder. O empenho do Centrão em manter a Funasa pode ser um sinal de que essa batalha já começa perdida.

Nem só punitivismo, nem só garantismo

Por Notas & Informações / O ESTADÃO

 

O governo articula um censo para uniformizar os dados sobre a situação carcerária no Brasil. O chamado Projeto Mandela é urgente. Além da escassez de dados para se traçar perfis socioeconômicos da população carcerária, há discrepâncias até nos números absolutos. As diferenças entre as estatísticas do Ministério da Justiça e do Conselho Nacional de Justiça, por exemplo, se contam na casa das dezenas de milhares. Mas um diagnóstico preciso é só o primeiro passo.

 

Diz-se que o Brasil “prende muito e prende mal”. A segunda afirmação é consensual. Mas, até por isso, a primeira é relativa.

 

Por um lado, o Brasil prende pouco. Mais de 60% dos homicídios ficam sem esclarecimento. Há centenas de milhares de mandados de prisão não cumpridos. Além disso, contrariando o poder constituinte (que exigiu tratamento diferenciado dos presos conforme seu grau de periculosidade) e usurpando o Legislativo, o Supremo Tribunal Federal eliminou, em 2006, o regime integral fechado para condenados por crimes hediondos e assemelhados. A partir daí se acumularam os casos escandalosos de abrandamento de pena e saídas temporárias de condenados por crimes brutais.

 

Ao mesmo tempo, o Brasil prende muito. O País tem a terceira maior população carcerária do mundo, só atrás de China e EUA. Mas, se nesses países a taxa está estável ou declinante, no Brasil ela cresce aceleradamente. Entre 2000 e 2014, por exemplo, a população carcerária cresceu em média 7% ao ano, ante 1,1% do conjunto da população.

 

Certo é que o Brasil prende mal. Cerca de 40% dos presos são provisórios. Estes encarcerados e outros condenados por crimes não hediondos ou violentos são obrigados a conviver com uma minoria de presos de alta periculosidade e líderes de facções criminosas (cerca de 13%), a quem têm de prestar vassalagem. Resultado: na esmagadora maioria das vezes o sujeito entra ruim e sai pior. A taxa de reincidência chega a 70%, enquanto a média na Europa e nos EUA é 16%.

 

O trabalho das facções de transformar os presídios em usinas de criminosos é facilitado pelas condições sub-humanas do cárcere. A superlotação chegou a beirar 2 presos para 1 vaga e em muitos Estados ela ultrapassa essa proporção. Só 15% dos presos estudam e 18% trabalham.

 

Uma infraestrutura maior e mais eficiente é necessária tanto para oferecer condições dignas quanto para aumentar o isolamento dos presos, que têm fácil acesso a celulares, drogas e armas. Os recursos muitas vezes não são utilizados por falta de qualidade técnica das gestões subnacionais. A superlotação e a exposição ao crime organizado também devem ser enfrentadas se revendo o sistema de penas para criminosos de menor periculosidade, que podem responder com penas alternativas, e também se investindo no isolamento dos presos de alta periculosidade.

 

Um bom sistema carcerário deveria proteger a sociedade isolando os criminosos, dissuadir potenciais delinquentes e ressocializar os condenados. Se as disfunções do sistema não forem sanadas, ele seguirá produzindo o exato oposto dessas metas. Mas, para tanto, será preciso sanar disfunções culturais na compreensão do direito penal.

 

À direita, muitos escandalizados justamente com a criminalidade querem indiscriminadamente menos leniência, em favor de mais punição. À esquerda, muitos escandalizados justamente com as desigualdades sociais querem indiscriminadamente menos punição, em favor de medidas preventivas. Ambos estão em parte certos – mas em parte errados. Como se vê, no Brasil convivem o excesso e a falta de repressão. O problema é que, aferrados aos seus dogmas “punitivistas” e “garantistas”, ambos os lados negligenciam evidências para discriminar os excessos e faltas das políticas carcerárias, com resultados contraproducentes para ambos. Os excessos de repressão colaboram para transformar os presídios em escolas do crime que subsidiam a violência que horroriza a direita. Mas os excessos de impunidade também colaboram para facilitar as operações do crime organizado e dos criminosos comuns que ameaçam principalmente a população mais pobre que a esquerda jura defender.

Sob pressão, governo impõe travas para liberar verba herdada do orçamento secreto

Por Dimitrius Dantas e Camila Turtelli — Brasília / O GLOBO

 

Cobrado pela base a liberar recursos do extinto orçamento secreto que foram incorporados aos caixas de ministérios, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva impôs uma série de critérios para que o dinheiro seja destinado aos redutos eleitorais de parlamentares. Portarias publicadas pelas pastas nas últimas duas semanas preveem regras que incluem privilegiar o desembolso a cidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), além de projetos específicos.

 

Nos bastidores, congressistas do Centrão reclamam que as travas vêm dificultando o acesso aos recursos, enquanto o governo argumenta que as regras mais rígidas servem para um melhor direcionamento das verbas públicas — contraponto ao descontrole que marcou a utilização das chamadas emendas de relator nos últimos anos.

 

A falta de critérios técnicos para a distribuição do orçamento secreto, instrumento que permitia aos parlamentares destinarem verbas da União sem transparência e isonomia, foi um dos argumentos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para acabar com a ferramenta, em dezembro do ano passado. O mecanismo era usado pelo governo para contemplar cidades escolhidas por aliados sem que eles fossem identificados. Em troca, o apoio aos interesses do Planalto no Congresso.

 

O atual governo, entretanto, continua usando as verbas do antigo orçamento secreto como instrumento de barganha política para angariar apoio no Legislativo. Os R$ 9,8 bilhões inicialmente previstos para as emendas de relator foram transferidos para os caixas de sete ministérios. Em um acordo fechado no fim do ano passado, durante as discussões da PEC da Transição, a equipe de Lula concordou em enviar esses recursos para prefeituras indicadas pelos deputados e senadores.

 

“Liberou sem liberar”

 

O pontapé inicial para que os valores sejam pagos, contudo, só foi dado no início deste mês, após os parlamentares darem sinais de insatisfação com a demora para liberar os recursos. Um dia após o governo sofrer sua principal derrota na Câmara, em 3 de maio, com a derrubada de parte de um decreto de Lula sobre saneamento, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, pediu aos ministérios que publicassem as portarias estabelecendo como iriam distribuir as verbas.

 

O Ministério das Cidades, por exemplo, definiu que pelo menos 60% dos R$ 2,4 bilhões que herdou devem ser destinados a municípios com IDH inferior ao do Brasil (0,754). Uma das críticas de especialistas em relação ao mecanismo era exatamente que, ao delegar a deputados e senadores a decisão de como e onde o dinheiro público deveria ser empregado, o governo ignorava a necessidade das populações para privilegiar interesses políticos de aliados.

 

Levantamento do GLOBO publicado no ano passado evidenciou a distorção ao revelar que metade dos R$ 20 bilhões do orçamento secreto foi destinada a apenas 7,7% das cidades do país. Entre 2020 e 2021, por exemplo, Petrolina (PE) recebeu R$ 166,4 milhões das emendas de relator, enquanto municípios mais pobres, como Solidão, no mesmo estado, não receberam um centavo.

 

Parlamentares de partidos do Centrão reclamam nos bastidores do excesso de regras e afirmam que prefeituras estão enfrentando dificuldades para cadastrar projetos e, assim, receber recursos. Um integrante do grupo afirma que, na prática, o governo “liberou sem liberar” as emendas do antigo orçamento secreto.

 

O vice-líder do governo na Câmara, Emanuel Pinheiro Neto (MDB-MT), afirma que esses critérios são importantes para garantir a boa aplicação dos recursos.

 

—É para evitar desvio de finalidade e os desmandos do orçamento secreto. Ou seja, o orçamento público, como tem de ser, vai ter regras—disse Pinheiro Neto ao GLOBO.

 

Em nota, a Secretaria de Relações Institucionais defendeu a distribuição dos recursos com base em regras preestabelecidas.

 

“Cabe destacar que o governo vê como democrático e desejável que os parlamentares apoiem as prefeituras na apresentação de propostas e o governo federal na identificação das demandas da população brasileira por todo o país”, afirmou a pasta responsável pela articulação política.

 

No caso do Ministério do Esporte, que tem direito a R$ 211 milhões para distribuir, além de pistas de skate, a portaria publicada pela pasta prevê prioridade a localidades com “vulnerabilidade social” (baixo IDH), alto índice de violência e locais próximos a escolas públicas.

 

“Live” da saúde

 

Já na Saúde, os R$ 3 bilhões que ficaram com a pasta devem ser divididos quase que igualmente entre as áreas de atenção primária e especializada. No primeiro caso, a prioridade será projetos de estruturação da infraestrutura odontológica, que inclui compra de equipamentos, cadeiras e unidades móveis, assim como computadores e transporte eletivo.

 

Na atenção especializada, há a previsão de construção, reforma e ampliação de unidades, além de renovação da frota do Samu. Em outras palavras, são recursos que não serão destinados apenas à manutenção de unidades, mas que podem ser usados para a construção de novos equipamentos.

 

O anúncio do ministério de que as verbas estavam disponíveis gerou movimentação de gestores municipais e estaduais. O Fundo Nacional de Saúde precisou fazer duas transmissões ao vivo na semana passada para tirar dúvidas de como as propostas deveriam ser cadastradas.

 

 

Ministros levam rixas locais a Brasília e impõem novos obstáculos à articulação

Por Jeniffer Gularte e Sérgio Roxo — Brasília / O GLOBO

 

Além da demora nas liberações de emendas e nomeações, a construção de uma base sólida para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido prejudicada por disputas regionais. Rixas entre integrantes do primeiro escalão do Planalto e líderes do Congresso, oriundas de estados, transformaram-se em mais um obstáculo para a articulação política.

 

O caso mais complexo opõe o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Como consequência, o deputado adota uma posição dúbia em relação ao governo, ora agindo como aliado, ora como adversário. No embate mais recente, o parlamentar disse que o rival era responsável por represar o pagamento de emendas, atrapalhando a relação com o Congresso — o titular da pasta reagiu e disse que não interfere no fluxo de repasses.

 

Embora tenha feito campanha a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro e se referido a Lula como “ladrão, corrupto e chefe de quadrilha”, o parlamentar chegou a ser cotado para assumir o Ministério de Integração Nacional no fim do ano passado, por comandar a terceira maior bancada da Câmara, com 59 deputados. Mas a pressão do PT da Bahia fez com que Lula recuasse.

 

Ainda assim, Nascimento manteve sua influência: seus indicados permaneceram na presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e de duas superintendências da estatal na Bahia.

 

Na avaliação de um petista próximo ao presidente, a rixa regional prejudica o governo. Para esse aliado, o deputado é uma liderança importante na Câmara e, se tivesse sido escolhido ministro, poderia ajudar Lula a ter uma base mais sólida. O entendimento é que a conjuntura nacional deveria estar acima da disputa local.

 

Estratégia em análise

 

Aliados de Costa, no entanto, se dividem sobre a possibilidade de o ministro tentar uma aproximação com Nascimento. Uma ala já aconselhou o titular da Casa Civil a buscar uma composição, com argumento de que é melhor tê-lo por perto e que o líder do União fará tudo o que puder para desgastar a relação do ministro com o Congresso. Outro grupo, no entanto, avalia que Costa deve centrar esforços na relação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

 

A rivalidade entre os dois políticos baianos tem origem na disputa pela prefeitura de Campo Formoso (BA), cidade de 72 mil habitantes que é reduto eleitoral da família de Nascimento e do deputado Adolfo Menezes (PSD), presidente da Assembleia Legislativa da Bahia — o parlamentar é um dos aliados mais próximos de Costa no estado e já foi recebido pelo amigo no Planalto.

 

Nascimento e Menezes disputam o comando do município e têm influência no centro-norte baiano. Ambos são oriundos da mesma família na cidade, chegaram a pertencer ao mesmo grupo político, mas romperam em 2012, quando Menezes venceu a eleição (ele acabou renunciando ao cargo pressionado por um impasse judicial). Meses depois, quem assumiu foi o irmão de Elmar, Elmo Nascimento, então presidente da Câmara Municipal. Ele tornou-se aliado de ACM Neto enquanto o PSD, de Menezes, virou uma das legendas mais fiéis ao PT da Bahia, sigla que comanda o estado há 16 anos. No governo de Jair Bolsonaro, Nascimento ganhou influência e levou R$ 29,9 milhões em recursos do orçamento secreto ao município.

 

Ofensas na campanha

 

Outro embate regional que atinge o governo vem de Alagoas. Os grupos do ministro dos Transportes, Renan Filho, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), cultivam longa rivalidade. O senador Renan Calheiros (MDB), pai do ministro, é processado pelo deputado por causa de uma postagem nas redes sociais em que o chama de “ladrão”.

 

O governo depende de Lira para dar andamento aos projetos de seu interesse na Câmara. Para não se tornar alvo de aliados do presidente da Casa, Renan desistiu de integrar a CPI mista que vai investigar os ataques golpistas. O Planalto contava com o senador alagoano na comissão, por causa de sua experiência, para enfrentar os bolsonaristas.

 

Antes de se tornarem rivais, Lira e os Calheiros foram próximos. Na eleição de 2010, Renan e Benedito de Lira, pai do presidente da Câmara, apesar de estarem em chapas diferentes, fizeram uma aliança informal e conseguiram ser eleitos senadores.

 

A rixa nasceu na eleição seguinte, quando Renan Filho e Benedito de Lira se enfrentaram pelo governo e trocaram ataques duros — o atual ministro venceu. Em 2018, Benedito disputou o Senado com Renan Calheiros e perdeu.

 

Nas eleições do ano passado, com Lira no comando da Câmara dos Deputados, os dois clãs se enfrentaram de forma indireta, mas com trocas pesadas de acusações. Paulo Dantas (MDB), candidato dos Calheiros, venceu o governo contra Rodrigo Cunha (União Brasil), nome de Lira.

 

Outro embate local ocorre no Maranhão, em que o senador Weverton Rocha (PDT-MA) rompeu com o ministro da Justiça, Flávio Dino. Os grupos disputaram cargos federais no estado, e Weverton foi contemplado com o mais cobiçado deles, a superintendência regional da Codevasf.

 

Já no Ceará, a disputa é entre o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), e o deputado Eunício Oliveira (MDB), aliado histórico de Lula. Eunício tem criticado a articulação governista.

Ministra da Saúde anuncia R$ 330 milhões para atendimentos e redução das filas cirúrgicas no CE

 

Gabriela Custódio e Lucas Falconery / DIARIONORDESTE
 
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou, em visita a Fortaleza, o investimento de R$ 333,5 milhões destinados aos mutirões de cirurgias eletivas e oncológicas, além do fortalecimento da assistência no Hospital do Vale do Jaguaribe e das 22 policlínicas no Estado, nesta quinta-feira (18). As demandas do Estado, conforme Nísia, estavam represadas há 4 anos.
 
Nísia visitou com o governador Elmano de Freitas e a secretária da Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, o Hospital Regional do Vale do Jaguaribe (HRVJ) e a Policlínica Judite Chaves Saraiva, em Limoeiro do Norte. Na capital cearense, a ministra assinou 3 portarias para a rede de saúde no Estado.
 
Os recursos serão usados para ampliar a assistência em 4 policlínicas e 9 hospitais em Fortaleza, para cirurgias relacionadas ao câncer também na Capital e oferta de mais serviços na rede de policlínicas e no Hospital do Vale de Jaguaribe – unidade que deve evitar com que pacientes do interior sejam transferidos para a Capital.
 

PORTARIAS ASSINADAS

  • 1ª: R$ 52,9 milhões a ser incorporado ao limite financeiro da média e alta complexidade do Ceará e de Fortaleza (como cirurgias);
  • 2ª: R$ 154 milhões de recursos para o Hospital do Vale Jaguaribe e 22 policlínicas regionais de saúde;
  • 3ª: R$ 126,6 milhões para assistência de oncologia (cirurgias, quimioterapias, entre outros procedimentos.
  • "Nós teremos um hospital de emergência, porta aberta de traumatologia, para o povo da região. Isso é importante também para Fortaleza", destaca o governador.
  • As portarias, de acordo com a ministra, são resultado do diálogo e trabalho técnico feito com os estados e a secretaria de atenção especializada do Ministério da Saúde.
  • As portarias, de acordo com a ministra, são resultado do diálogo e trabalho técnico feito com os estados e a secretaria de atenção especializada do Ministério da Saúde.
  • Durante a visita, Nísia analisou a rede de saúde do Ceará como modelo para outros estados. Goiás, por exemplo, construiu policlínicas baseadas na experiência cearense, conforme a ministra contou sobre o diálogo com o governador goiano, Ronaldo Caiado.
  • "O caráter precursor do Ceará na regionalização (da saúde), nas policlínicas. O modelo criado aqui é referência nacional, não só do Nordeste", destaca Nísia.

    REDE DE SAÚDE CEARENSE

    Em entrevista ao Diário do Nordeste, em janeiro deste ano, Tânia Mara Coelho contou que o Hospital do Vale do Jaguaribe deve ter prioridade no processo de interiorização da alta complexidade. 

    “O primeiro serviço que queremos abrir dentro do HRVJ é o de oncologia. Vamos contemplar um grande vazio assistencial. Além disso, o serviço de traumato-ortopedia: aquela região tem uma grande necessidade de atendimento a traumas”, apontou à época.

  • "O caráter precursor do Ceará na regionalização (da saúde), nas policlínicas. O modelo criado aqui é referência nacional, não só do Nordeste", destaca Nísia.

    REDE DE SAÚDE CEARENSE

    Em entrevista ao Diário do Nordeste, em janeiro deste ano, Tânia Mara Coelho contou que o Hospital do Vale do Jaguaribe deve ter prioridade no processo de interiorização da alta complexidade. 

    “O primeiro serviço que queremos abrir dentro do HRVJ é o de oncologia. Vamos contemplar um grande vazio assistencial. Além disso, o serviço de traumato-ortopedia: aquela região tem uma grande necessidade de atendimento a traumas”, apontou à época.

     

CONGRESSO x LULA : NUNCA ANTES UM PRESIDENTE ENFRENTOU TANTAS CPIS EM TÃO POUCO TEMPO DE M,ANDATO

Por Vera Rosa / O ESTADÃO DE SP

 

Nunca antes na história deste País um presidente enfrentou tantas Comissões Parlamentares de Inquérito com apenas quatro meses e meio de mandato. Mas Luiz Inácio Lula da Silva, autor da conhecida frase, não conseguiu segurar a oposição. Com uma base aliada que mais parece uma geleia, precisando de “agrado” a cada votação, Lula deu o comando para a articulação política do Planalto atrair os insatisfeitos e “resolver” a questão das CPIs, mas pode ter sido muito tarde.

 

Até agora, três delas já saíram do papel: uma para investigar quem financia o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), outra para escarafunchar resultados fraudados de apostas esportivas e mais uma para esmiuçar a crise nas Lojas Americanas.

 

A expectativa é que, na próxima semana, também seja aberta a tão falada CPI mista dos atos golpistas de 8 de janeiro, composta por deputados e senadores. Mas tanto o governo como a oposição parecem fazer corpo mole para que essa CPI avance no jogo.

 

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro ficaram na defensiva após o arsenal de denúncias que o atingiu – da fraude no cartão de vacinas ao escândalo das jóias. Na outra ponta, o Planalto quer todo foco na votação do arcabouço fiscal, que teve o regime de urgência aprovado na noite desta quarta-feira, 17. Mesmo assim, os dois lados dizem estar prontos para a guerra.

 

“Essa CPMI vai colocar uma pá de cal na teoria terraplanista de que a vítima é responsável pelos atos terroristas”, afirmou o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “Em nenhum momento nós recuamos da CPMI. Quem permitiu o vandalismo, de forma premeditada ou por incompetência, precisa ser punido”, insistiu o senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional na gestão Bolsonaro.

 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também leu, há duas semanas, um requerimento para criar a CPI das ONGs, com o objetivo de investigar a liberação de recursos públicos para organizações não-governamentais.

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Governo Lula avança pouco ante Bolsonaro na participação civil no Meio Ambiente

Por João Paulo Saconi / O GLOBO

 

Marina Silva presidiu na quarta a retomada dos trabalhos do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e a posse de novos conselheiros — o governo Lula ampliou de 36 para 114 as cadeiras do colegiado, na comparação com Jair Bolsonaro. Beleza. Só que a composição do órgão está sob questionamento de entidades ambientalistas.

 

O motivo? O pouco avanço na ampliação da sociedade civil, almejada por essas organizações.

 

Sob Bolsonaro, o governo detinha 47% dos conselheiros do Conama e destinava cerca de 17,3% a representantes da sociedade civil . Do restante, 30,3% eram destinados às administrações estaduais e municipais e 8,6% a entidades empresariais.

 

Agora, a parcela do Executivo é de 42,1%, mas os movimentos sociais seguem com participação de apenas 19,3%. Estados e municípios têm 31% e empresas ficaram com 7%. A proporção mais favorável ao governo contraria o que foi discutido na transição e recai novamente numa “assimetria democrática”, conforme a ministra Rosa Weber, do STF, já havia alertado numa liminar proferida em 2021.

 

Para alterar a estrutura, sete entidades apresentaram ao Conama, na reunião de quarta, um requerimento para a reestruturação. Pedem que a reanálise garanta que “os direitos humanos e ambientais vigentes em nosso país sejam respeitados e as instituições se tornem imunes às ondas de autoritarismo”.

 

São signatários os institutos Guaicuy e Alana, as associações Alternativa Terrazul e de Defesa Etnoambiental, entre outros. A previsão é que um grupo assessor seja criado dentro do Conama para tratar do tema.

 

Às vésperas de instalação de CPI, governo contraria MST e mantém primo de Lira na chefia do Incra em Alagoas

Por Sérgio Roxo — Brasília / o globo

 

Em meio a uma tentativa do governo de apaziguar os ânimos com a Câmara diante da perspectiva de instalação da CPI do MST, o Ministério do Desenvolvimento Agrário decidiu manter Wilson César de Lira Santos, primo do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), na superintendência alagoana do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

 

O tema foi discutido na segunda-feira em uma reunião do titular da pasta, Paulo Teixeira, com Lira na residência oficial da Presidência da Câmara. O MST vinha pressionando o governo pela troca do comando do Incra de Alagoas. Em abril, o movimento chegou a ocupar a sede regional do órgão com esse pleito.

 

César de Lira, como é conhecido, foi nomeado superintendente regional do Incra em março de 2017, ainda no governo Michel Temer, e se manteve no cargo durante toda a gestão de Jair Bolsonaro. Em abril do ano passado, ele ciceroneou o presidente da Câmara durante uma entrega de títulos de propriedade em assentamentos de Alagoas. Conduzido pelo primo, Lira se tornou “patrocinador” de um time de futebol amador em um assentamento de Maragogi, município alagoano cujo prefeito, Sérgio Lira, é tio de César.

 

Também na segunda-feira, o presidente da Câmara anunciou que a CPI do MST será instalada na quarta-feira. O deputado Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro, é o favorito para assumir a relatoria. A escolha de Salles preocupa os petistas da Câmara.

 

De acordo com um integrante do governo, César de Lira seguirá no posto por enquanto. Há possibilidade de troca no futuro, a depender de um acordo com a bancada alagoana na Câmara.

Tarcísio discute reforma administrativa para reduzir cargos e acabar com programas e estruturas do estado

Por Bianca Gomes — São Paulo / O GLOBO

 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que já discute com a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) uma reforma administrativa que pretende reduzir significativamente o número de cargos na máquina pública, acabar com programas de governo e também estruturas do estado.

 

— Não dá para um estado ter 120 cargos diferentes. Vamos equalizar isso. Vai cair de 120 para 18. Temos estruturas no estado de São Paulo que não precisam mais existir, e elas vão ser eliminadas. Nós temos programas que já não são mais efetivos, e eles vão sair de cena — declarou Tarcísio a empresários reunidos num evento promovido pelo grupo Esfera Brasil, em São Paulo.

 

De acordo com ele, a reforma administrativa vai ajudar a financiar a proposta de aumento salarial a profissionais da segurança pública — projeto controverso que já foi enviado à Alesp. O enxugamento da máquina virá também da venda de ativos e da desmobilização de patrimônio imobiliário.

 

— Para que o estado de São Paulo precisa ter 56 imóveis no centro de São Paulo? Para que precisa ser dono de 35 mil hectares de terra no estado? Esse patrimônio nós vamos nos desfazer — declarou ele.

 

No evento, que contou com a presença do presidente da Alesp, deputado André do Prado (PL), Tarcísio buscou minimizar rusgas com o Legislativo e pregar um cenário de harmonia entre os poderes.

 

O governador, no entanto, tem enfrentado dificuldades na Casa. Na semana passada, ele precisou da ajuda dos petistas, que são oposição, para aprovar o reajuste do salário mínimo, que passou para R$ 1.550. Agora, ele tem se dedicado a desatar nós na própria base para conseguir os votos necessários para aprovar o aumento salarial das forças de segurança, que deve ir a plenário ainda nesta semana.

 

O PL foi criticado por privilegiar os policiais militares em detrimento dos civis, excluir os agentes penais e esconder uma mudança na alíquota de contribuição dos aposentados. Houve recuou nesta última.

 

— Tem um conceito por trás disso. É fácil criticar — disse o governador, fazendo referência às insatisfações com o PL. — O que eu estou precisando hoje é de gente na rua motivada. Não posso perder efetivo. Daí os percentuais diferenciados nas posições de entrada. E algumas posições de passagem estão tendo menos (reajuste) para que a pessoa tenha o objetivo de chegar um posto acima acima. É uma lógica de retenção de profissionais em cima dos percentuais (de reajuste).

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