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Oposição pode ter carimbado o passaporte de Bolsonaro para o segundo turno

Josias de Souza

Colunista do UOL

01/07/2022 09h26

Brasília nunca esteve tão surrealista. Surgiu no Congresso uma nova frente política: a oposição bolsonarista. Com o luxuoso apoio de todos os seus rivais, inclusive os petistas, Bolsonaro pode ter carimbado no Senado o passaporte para o segundo turno da eleição presidencial. O presidente obteve dos senadores autorização para torrar mais de R$ 40 bilhões do Tesouro Nacional na compra da simpatia do eleitorado pobre. A torrefação de verbas públicas a três meses da eleição será referendada pela Câmara na semana que vem.

Nunca foi tão fácil reescrever a Constituição. Aprovou-se numa única noite, em dois turnos de votação, a emenda constitucional que rasga as leis eleitoral e de responsabilidade fiscal para permitir que Bolsonaro eleve o Auxílio Brasil, dobre o vale-gás e ajude a encher o tanque de caminhoneiros e taxistas. Para justificar um novo destelhamento do teto de gastos, criou-se um hipotético "estado de emergência" provocado pela guerra na Ucrânia e seu impacto no preço dos combustíveis e na inflação.

Putin bombardeou a Ucrânia há cinco meses. A inflação roda na casa de dois dígitos há nove meses. Bolsonaro reclama dos preços dos combustíveis há três anos. No momento, são duas as emergências reais: 1) A miséria e a fome provocadas pela inépcia de um governo incapaz de adotar providências adequadas nos momentos oportunos; 2) O desespero do comitê da reeleição para reverter as pesquisas que apontam a perspectiva de vitória de Lula no primeiro turno.

Ao violar a legislação eleitoral e fiscal, os parlamentares como que autorizam Bolsonaro a jogar dinheiro público pela janela. No auge da pandemia, a popularidade do presidente voou nas asas do auxílio emergencial. O comitê da reeleição conta com a repetição do fenômeno. Como ainda não inventaram uma maneira de revogar a lei da gravidade, a encrenca fiscal cairá na cabeça do próximo presidente e dos pobres que Bolsonaro e seus cúmplices fingem socorrer.

Perto da superpedalada fiscal de Bolsonaro, a pedalada que levou Dilma Rousseff ao impeachment parece um velocípede. Os benefícios valerão apenas até dezembro. A partir de janeiro, os efeitos do estelionato virão junto com a ruína de um governo com menos recursos, uma sociedade com mais necessidades e um Congresso ainda mais chantagista.

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