TSE recebe os primeiros registros de candidatura a presidente
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou a receber hoje (1º) os registros de candidatura à Presidência da República para as eleições deste ano. Os dois primeiros registros que o tribunal recebeu foram dos candidatos Pablo Marçal (Pros) e Sofia Manzano (PCB).
As convenções partidárias estão ocorrendo desde o dia 20 de julho. É na convenção que os filiados ao partido aprovam o nome de determinado pré-candidato à corrida presidencial. Após a convenção, os partidos enviam os nomes dos candidatos a um sistema desenvolvido pela Justiça Eleitoral exclusivamente para o registro de atas de convenções partidárias e de pedidos de registro de candidaturas.
O calendário eleitoral de 2022 define o dia 15 de agosto como a data-limite para que partidos políticos, federações e coligações solicitem o registro de candidatas e candidatos aos cargos de presidente da República, governador e senador, bem como às vagas de deputados federais, estaduais e distritais.
O cidadão pode acompanhar os registros pelo sistema DivulgaCandContas, do TSE. Ele traz informações referentes detalhadas sobre candidatas e candidatos, tais como certidões criminais e declaração de bens. O sistema também permite consultar a prestação de contas com a arrecadação e gastos durante a campanha.
Perfis
Natural de Goiânia (GO), Pablo Marçal tem 35 anos, é empresário e terá como vice Fátima Pérola Neggra, de 54 anos. Ela é policial militar e escritora, nascida em Iporã (PR).
A candidata Sofia Manzano tem 51 anos, é professora universitária e natural de São Paulo (SP). Ela terá como vice Antônio Alves da Silva Junior, de 43 anos, jornalista, natural de Recife (PE).
Edição: Fábio Massalli / AGÊNCIA RASIL
Pragmatismo partidário
Numa eleição presidencial em que as preferências do eleitorado, com antecedência inédita, consolidam-se em torno de dois candidatos, as agremiações e postulantes que apostavam na perspectiva de uma terceira via estão em situação difícil.
Nada indica que em dois meses o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PSL) cederão terreno para candidaturas alternativas.
Nesse cenário, partidos como o MDB e a União Brasil, cujos candidatos ao Planalto colhem resultados pífios nas pesquisas, começam a tratar daquilo que de fato lhes interessa: garantir lugar na mesa das negociações do próximo governo com o futuro Congresso.
No MDB, a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) foi confirmada poucos dias depois de uma legião de caciques do partido ter manifestado apoio à chapa de Lula e Geraldo Alkmin (PSB).
Com 2% das intenções de voto na mais recente pesquisa Datafolha, Tebet não obteve a adesão do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) à sua chapa e não consegue conter as articulações dos correligionários.
Na mesma linha, a União Brasil movimenta-se em busca de reposicionamento. Presidente da sigla e ex-aliado de Bolsonaro, o deputado Luciano Bivar (PE) indicou neste domingo (31) que abandonará suas pretensões presidenciais para buscar novo mandato na Câmara.
A legenda não deverá se comprometer com ninguém agora, mas a saída de Bivar da disputa principal se dá após tratativas com o próprio Lula, que tenta desde já mover as peças com as quais espera contar no novo Congresso se for eleito.
Note-se ainda a ironia da situação. Na União Brasil, Bivar foi o padrinho da filiação do ex-juiz Sergio Moro, que mandou Lula para a prisão nos tempos da Operação Lava Jato e nos últimos meses viu suas ambições políticas se esfarelarem.
Antecipam-se, assim, sob o signo do pragmatismo, articulações que em outras eleições só ganhavam impulso com a definição do resultado das urnas —quadro nada auspicioso para a dita terceira via.
Ciro Gomes (PDT), o postulante mais bem situado nas pesquisas depois dos dois primeiros colocados, está estacionado no terceiro lugar, com 8% das preferências.
Se o poder de atração exercido pelos principais contendores parece irresistível para os partidos, é de se lamentar o empobrecimento do debate eleitoral que a ausência de outras candidaturas competitivas decerto acarretará.
Bivar avisa que será candidato a deputado, mas União Brasil descarta apoio a Lula
O presidente da União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), avisou a correligionários neste sábado (30) que tentará um novo mandato na Câmara dos Deputados e que não manterá sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
A comunicação foi feita no grupo de WhatsApp de parlamentares do partido, segundo interlocutores consultados pela Folha.
Na mesma mensagem, Bivar disse que planeja tornar pública a decisão na convenção estadual da União em Pernambuco, neste domingo (31), no Recife. Bivar nem sequer pontuou na pesquisa Datafolha da semana passada, que mostra o ex-presidente Lula (PT) 18 pontos à frente de Jair Bolsonaro (PL).
Com a desistência, integrantes da União Brasil dizem que o mais provável é que o partido lance a senadora Soraya Thronicke (MS) à corrida ao Palácio do Planalto. Eleita na onda bolsonarista de 2018, Soraya está no meio do mandato no Senado Federal —tem mais quatro anos pelaA articulação para que Bivar desistisse de concorrer ao Planalto envolveu Lula. Inicialmente, Bivar tentou levar o partido para apoiar o petista. Integrantes da cúpula da União Brasil, porém, rechaçaram essa hipótese.
Uma consulta prévia foi feita com dirigente da legenda, que descartaram o apoio ao ex-presidente.
Na prática, a troca de Bivar por Soraya nada deve mudar da disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro. Uma mudança haveria se Bivar desistisse, e a União Brasil em seguida optasse por não lançar candidato (o seu tempo de TV seria distribuído a todos os candidatos) ou apoiasse um ou outro no 1º turno.
O partido de Bivar detém a maior fatia de fundo eleitoral e o maior tempo de propaganda de rádio e televisão.
Para aliados de Lula, conseguir mais espaço na TV traria um impacto importante para a campanha petista e aumentaria as chances de uma definição ainda no primeiro turno.
A União Brasil foi formada a partir da fusão do PSL —antiga sigla de Bolsonaro— com o DEM. A ala do DEM se opõe a uma aliança com Lula e argumenta que o bloco de Bivar não tem força nacionalmente para impor um acordo com o PT.
A hipótese de a União Brasil apoiar Lula no primeiro turno, porém, já era considerada remota por integrantes da cúpula do partido. Isso porque há dirigentes da legenda, como Ronaldo Caiado, pré-candidato à reeleição em Goiás, que seriam prejudicados com o apoio ao petista.
Além disso, há ainda nomes como o de Mauro Mendes, pré-candidato ao Governo de Mato Grosso, que já declararam apoio a Jair Bolsonaro (PL).
Bivar tentou organizar o apoio da União Brasil a Lula depois que —segundo o dirigente disse a aliados— o petista sinalizou que poderia apoiá-lo na briga pela presidência da Casa em 2023, caso o petista esteja no Planalto.
A articulação relativa à União Brasil envolve ainda o palanque em São Paulo. Dirigentes da legenda dizem que, caso Rodrigo Garcia (PSDB) não dê ao partido a possibildiade de indicar o candidato a vice-governador na chapa, a legenda poderia apoiar Fernando Haddad (PT) no estado.
O presidente da União Brasil planejou a desistência desde o início da semana, mas estava em dúvida sobre a viabilidade de uma candidatura à reeleição em Pernambuco. Diante disso, Bivar partiu para conversas com aliados para viabilizar as bases eleitorais.
O parlamentar conversou com aliados no estado e também com dirigentes de partidos como PT e PSB. Bivar tem boa relação com o governador Paulo Câmara (PSB) e com o prefeito do Recife, João Campos (PSB), mesmo com a União Brasil tendo candidato pela oposição a governador, o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho.
Sem um movimento em direção ao PT e ao PSB, a reeleição de Bivar era considerada difícil, já que a avaliação interna é que o deputado federal Fernando Coelho Filho e o ex-ministro da Educação Mendonça Filho, ambos da União Brasil, teriam mais votos que o presidente da sigla.
Ciro contra-ataca no Ceará e candidato do PDT terá apoio de Tasso
Depois em enfrentar baixas no Ceará, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) contra-atacou em seu berço eleitoral e garantiu os apoios do PSB e do PSDB para a candidatura do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT) ao governo do estado.
O movimento acontece uma semana depois da ofensiva do candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em direção ao senador cearense Tasso Jereissati (PSDB), que era cotado para ser candidato a vice-presidente na chapa liderada por Simone Tebet (MDB).
O contato com Tasso aconteceu no mesmo dia em que o petista referendou a candidatura do deputado estadual Elmano de Freitas (PT) ao Governo do Ceará, selando o rompimento de uma aliança de 16 anos entre PT e PDT no estado.
Em palanques separados, Roberto Cláudio (PDT) e Elmano de Freitas (PT) vão enfrentar o deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), favorito na disputa pelo governo cearense que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Também concorrem ao governo cearense Adelita Monteiro (PSOL), Serley Leal (UP), Zé Batista (PSTU) e Chico Malta (PCB).
Tasso anunciou o apoio do PSDB a Roberto Cláudio na manhã desta segunda-feira (1º). Em uma postagem em uma rede social, disse que decidiu se unir ao ex-prefeito de Fortaleza por sua competência, experiência administrativa e compromisso com ideais como a redução das desigualdades.
"Nesse grave momento da política brasileira, em que o extremismo põe em risco a própria estabilidade democrática, é preciso ponderação e equilíbrio para assegurarmos as conquistas obtidas e avançar ainda mais. Nesse sentido, Roberto Cláudio é o nome que reúne tais qualidades para governar o nosso estado."
Roberto Cláudio agradeceu o apoio de do tucano: "O senador Tasso é umas das mais importantes e respeitadas lideranças políticas de nosso País e aqui, em nosso estado, iniciou um ciclo de profundas transformações que foram capazes de mudar a cultura política do Ceará."
A eleição deste ano vai marcar a aposentadoria política de Tasso, que não vai concorrer a um novo mandato ao Senado e, por isso, não deve concorrer com o ex-governador Camilo Santana (PT), com quem também tem relação cordial.
A adesão do PSDB a Roberto Cláudio traz junto o Cidadania, partido federado aos tucanos. Também formalizaram apoio ao pedetista o PSD e o PSB —este último está nacionalmente alinhado a Lula e também era cortejado pelos petistas.
As novas alianças reequilibram o jogo político no Ceará após as baixas sofridas pelo PDT após o rompimento com o PT.
A principal delas é a governadora Izolda Cela, que se desfiliou do PDT após ter sido preterida na disputa interna do partido para concorrer à reeleição. Ela ainda não se posicionou publicamente sobre a eleição, mas tirou fotos com Camilo Santana e Elmano de Freitas após o rompimento.
Prefeitos de ao menos seis cidades cearenses filiados ao PDT anunciaram apoio a Elmano, mas o partido ainda mantém uma base robusta de prefeituras, incluindo a capital Fortaleza e Sobral, berço político dos Ferreira Gomes.
Agora, o principal desafio de Roberto Cláudio será trazer para o dia a dia de sua campanha o senador Cid Gomes (PDT), irmão de Ciro, que é conhecido por sua capacidade de articulação política.
Com boa relação com petistas e pedetistas, Cid submergiu após o acirramento do imbróglio que resultou no rompimento dos dois partidos.
Na convenção que confirmou a nome de Elmano de Freitas como candidato ao governo e sua candidatura ao Senado neste sábado (30), o ex-governador Camilo Santana fez referência a Cid, a quem chamou de amigo.
"Ninguém vai me separar dele, jamais. Ninguém me separa da minha amizade e gratidão a esse cearense que tanto fez pelo Ceará", afirmou.
O ato em Fortaleza teve participação de Lula, que também destacou a lealdade de Cid e evitou fazer críticas a Ciro Gomes.
"A gente tem que ser leal a quem foi leal com a gente, tem que ser companheiro de quem foi companheiro da gente. A gente não precisa falar mal de quem fala mal de nós. A gente tem que falar bem porque é muito mais proveitoso."
O petista também elogiou Izolda Cela e disse que a governadora "sofreu um impeachment sem ser impeachment" ao ser preterida pelo PDT: "Ela só queria dar sequência e acho que não tem ninguém com a competência educadora da companheira Izolda. Minha solidariedade à companheira Izolda."
Sem conseguir atrair PSB e PSDB, Elmano de Freitas trouxe para o seu palanque o Solidariedade, partido que está no palanque nacional de Lula, mas havia anunciado apoio a Capitão Wagner no estado. O arco de alianças do petista que ainda inclui MDB, PP, PV e PC do B.
A aproximação dentre PDT e PSDB, por sua vez, não ficou restrita ao Ceará. Neste fim de semana, o PDT anunciou apoio à candidatura do ex-deputado Marcus Pestana (PSDB) ao governo de Minas Gerais.
Diante de escalada golpista, esquerda parece viver no passado
Até aqui os números não mentem: Lula será o novo presidente do Brasil. Bolsonaro sabe disso e decidiu lutar, não para superar o adversário em número de votos, como se espera de quem "joga dentro das quatro linhas da Constituição", mas invalidando o resultado do pleito.
Mesmo com retórica confusa, a movimentação pelo golpe é clara: "Você sabe o que está em jogo, você sabe como você deve se preparar. Não para um novo Capitólio, ninguém quer invadir nada. Mas para nós sabermos o que temos que fazer antes das eleições", disse o presidente em live a seus seguidores, em 7 de julho.
Setores do Exército entenderam a mensagem e investem pesado contra o TSE para corroborar a "tese" de fraude nas eleições. Após sugestões de mudanças sem base técnica, solicitaram arquivos referentes às disputas de 2014 e 2018, em mais um ataque à corte.
A escalada da violência também joga a favor do golpe, seja em mais uma chacina em favela do Rio justificada cinicamente como efeito de medidas do STF durante a pandemia, seja o assassinato de um militante petista por um bolsonarista enfurecido pela retórica do ódio propagada diuturnamente.
A esse estado de coisas, a resposta da esquerda tem episódio curioso: a declaração de apoio a Lula pela popstar Anitta movimentou as redes e fez a cúpula petista comemorar, como se vivesse no passado. Foi-se o tempo em que a contagem dos votos era respeitada. A esquerda parece disputar as eleições de 2002, e não de 2022.
O descompasso tem explicação histórica. A esquerda chegou ao poder no Brasil quando o socialismo real era peça de museu. Aderiu, então, ao que a filósofa norte-americana Nancy Fraser chamou de "neoliberalismo progressista".
Esquematicamente: de um lado, tudo para o mercado; de outro, reparações históricas. Com a pujança chinesa alavancando a economia brasileira, o lulismo pareceu e foi, para muitos, página feliz do país.
Dilma Rousseff esticou a corda do lado progressista: Comissão da Verdade, PEC das Domésticas, juros mais baixos nos bancos públicos.
Com pouca força política para comprar brigas desse porte, ao que se somaram o fato de ser mulher em país obscenamente machista e a crise mundial batendo à porta brasileira, Dilma encontrou oposição feroz e parecia fadada ao mandato único.
No entanto, reelegeu-se. O que poderia significar mais 12 anos de PT no poder, já que a popularidade de Lula o fazia imbatível para voltar ao Planalto. Veio o golpe, Temer, Lula foi retirado do jogo por meio de processo fajuto e, finalmente, o inesperado: a extrema direita no poder.
Em meio à crise econômica, sanitária, social e política sem precedentes, a esquerda se vê emparedada com o neoliberalismo progressista no colo e as bandeiras histórias enroladas.
Por isso, aposta todas as fichas na força carismática de Lula para convencer do milagre do atraso do relógio, sem qualquer articulação concreta para enfrentar o golpe que vem sendo construído às claras dia após dia.
Ou as forças democráticas se unem e reagem à altura imediatamente, ou só nos resta a espera. E a contagem dos corpos (na Amazônia, em Foz do Iguaçu, no Alemão etc).