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Lula e Ciro trocam farpas no Rio em meio à ofensiva pelo ‘voto útil’

Por Jan Niklas e Lucas Mathias — Rio de Janeiro / O GLOBO

 

Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT) fizeram do Rio de Janeiro neste domingo a arena para suas campanhas a favor e contra o voto útil. Enquanto o petista, líder nas pesquisas eleitorais, criticou o adversário sem citá-lo nominalmente e buscou mais uma vez convencer o eleitor a decidir a eleição em um única etapa, para evitar um duro confronto com o presidente Jair Bolsonaro (PL) num eventual segundo turno, o pedetista voltou a criticar o PT duramente, acusando-o de corrupto e de leniente com a corrupção.

 

Pela manhã, Lula fez comício em Madureira, na quadra da escola de samba Portela, em Madureira, Zona Norte da capital fluminense, acompanhado do prefeito Eduardo Paes (PSD), integrante de sua coligação. Diante das milhares de pessoas atraídas pelo evento, que teve também transmissão em telão, para quem não conseguiu entrar, o ex-presidente reforçou a importância de o eleitor não deixar de comparecer à votação, no próximo domingo, e provocou Ciro, sem citá-lo, ao mencionar que um neto de Leonel Brizola, fundador do PDT, estava presente.

— Eu estou vendo aqui o neto do Brizola, o Leonel. Se o Brizola estivesse aqui, o Brizola estava junto conosco, aqui, pedindo "fora, Bolsonaro". Eu tenho certeza absoluta de que o Brizola estaria do nosso lado — disse.

O argumento já fora utilizado na última sexta-feira, quando Lula participou de um comício em Minas Gerais ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), seu candidato a governador no estado. Mas, daquela vez, foi Dilma quem invocou Brizola:

— Se vocês conhecem companheiros de fé, trabalhistas, do PDT — eu fui do PDT —, vocês lembrem eles, que eu tenho certeza de uma coisa: Leonel de Moura Brizola jamais iria para Paris — afirmou Dilma, em alusão a Ciro Gomes, que, nas eleições de 2018, viajou para Paris poucos dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, quando Fernando Haddad (PT) e Bolsonaro se enfrentaram. — E no dia 2 de outubro, se ele fosse vivo, estaria votando no presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

O pedetista, que reclama da ofensiva do PT pelo voto útil e enfrenta dissidências no próprio partido — na última quarta-feira, viu um grupo de correligionários assinarem um manifesto demonstrando apoio a Lula —, deu o troco na Praia de Copacabana, onde caminhou ao lado do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves, candidato do seu partido ao governo do estado. Durante os 30 minutos em que permaneceu no local, não poupou críticas ao PT, responsabilizando a sigla pela ascensão de Bolsonaro e por ter "apoiado" a ocupação do Palácio das Laranjeiras, sede do governo fluminense, pelo "crime organizado".

— No Brasil, não há cidade ou estado mais sofrido na sua contradição que o Rio de Janeiro. Diria a você que, com o apoio do PT, o crime organizado tomou conta do Palácio Laranjeiras. É uma coisa impressionante a quantidade de governadores que foram dali do Palácio para a cadeia. Não é possível que a gente não entenda que isso é uma questão de modelo. Precisamos mudar o modelo econômico. O que tenho pra oferecer pro Rio é uma consolidação definitiva da dívida do Rio com o governo federal, em troca de um programa investimento que veja completamente o programa do Rio — disse Ciro. — O que aconteceu com o Rio não aconteceria se não fosse o desastrado comportamento do governo federal brasileiro ao longo dos últimos 20 anos.

 

Em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de votos e bem longe dos primeiros colocados — tem 7% das preferências, segundo o Datafolha —, Ciro também fez uma ofensiva contra o voto útil.

— Votar contra o Bolsonaro para protestar contra a corrupção e a crise econômica do Lula, se decepcionar com isso e voltar pro Lula, é pedir pra morrer. E o brasileiro não tem essa vocação — disse o pedetista.

Depois de Copacabana, onde atraiu poucos simpatizantes enquanto discursou sobre um carro de som, Ciro fez corpo a corpo na Rocinha ao lado de Cabo Daciolo, candidato ao Senado pelo PDT.

Atrás entre evangélicos, Lula critica Bolsonaro e diz que pastores aliados do presidente ‘não acreditam em Deus’

Por Jan Niklas — Rio de Janeiro / O  GLOBO

 

Em um ato no Rio com o objetivo de ampliar seu palanque para o centro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou os pedidos contra abstenção e, em meio a críticas ao presidente Jair Bolsonaro, reclamou da postura de pastores evangélicos aliados do Palácio do Planalto, tema que já causou desgastes à campanha petista no início da campanha eleitoral.

 

Lula participou de um comício ao lado do prefeito Eduardo Paes (PSD) na quadra da escola de samba Portela, em Madureira, Zona Norte da capital fluminense.

 

— Pastor que segue ele (Bolsonaro) não pode ser pastor, não acredita em Deus, não pode falar em nome de Deus — disse, após criticar o posicionamento de Bolsonaro durante a pandemia.

 

Em agosto, Lula havia dito não ser candidato de uma “facção religiosa”, o que rendeu críticas entre evangélicos — a campanha petista, depois, iniciou uma ofensiva para recuperar terreno no segmento, em que Bolsonaro tem vantagem.

 

O petista discursou para o público que lotou o espaço enfatizando a importância de sua militância fazer na reta final da corrida eleitoral uma busca ativa por indecisos e pessoas que possam se abster de votar. Ele afirmou ainda que teme tentativas de Bolsonaro tumultuar a eleição no dia do pleito.

 

— Esse maluco que está lá é capaz de tirar empresas de ônibus de circulação pra gente não votar. A gente tem que ir votar nem que seja a pé, de qualquer jeito. Não é o Lula que quer tirar ele de lá. É o povo brasileiro que está com saudade da democracia — bradou o ex-presidente, completando: — Temos que visitar parentes que estão em dúvida. Temos que conversar com milhões de pessoas que estão indecisas.

 

Durante o discurso, Lula também provocou o candidato do PDT, Ciro Gomes, ao dizer que Leonel Brizola, se fosse vivo, estaria ao lado do PT para derrotar Bolsonaro

 

Ao lado de Lula estava sua mulher Janja, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o candidato ao Senado do partido André Ceciliano, o coordenador do programa de governo petista Aloizio Mercadante, além de políticos da base de Paes no PSD como Felipe Santa Cruz, Pedro Paulo e Daniel Soranz. Candidato ao governo do Rio de Lula, Marcelo Freixo (PSB) não participou do evento organizado por Paes.

 

No palco, Lula e Paes trocaram elogios e prometeram voltar a “parceria” de quando o petista estava no governo federal e o carioca em seus primeiros mandatos na prefeitura do Rio.

O evento arrastou milhares de pessoas para dentro da quadra da Portela. Telões com a transmissão do comício foram instalados também nas ruas de acesso da sede da escola de samba que ficaram lotadas de espectadores.

Dentro e fora da quadra o clima era de carnaval, com blocos de rua fazendo apresentações e o público fantasiado com adereços vermelhos e temáticos de Lula e PT.

Em sua fala, Lula comparou seu governo com o de Bolsonaro, destacando o crescimento econômico e o controle da inflação do seu mandato, frente a atual carestia dos custos de vida e diminuição do poder de compra das famílias.

Em acenos para o eleitorado de esquerda, ele prometeu acabar com o teto de gastos e que não terá mais invasão ou garimpo em terras indígenas.

O candidato do PT dedicou ainda seu discurso para destacar que não deve “nada pra justiça”. Classificando o processo que o prendeu como “perseguição”, ele lembrou do tempo na prisão e se comparou a figuras históricas que também foram presas.

 

— Eu na prisão pensava que não podia ficar preocupado. O (Nelson) Mandela ficou 27 anos e saiu pra governar a África do Sul. Fui preso pra provar minha inocência — disse Lula.

Saia justa de Paes com gritos por Freixo

Em sua fala Paes afirmou estar se sentindo “emocionado” diante de um “momento histórico para o Brasil”. Em referência ao fato do ato não ter a presença de Freixo e ser um aceno ao centro, ele disse não ter a “prepotência” de trazer votos para o petista

— Presidente Lula é maior do que qualquer quadro político do Rio de Janeiro. Ele materializa a esperança do nosso povo.

O prefeito criticou Bolsonaro lembrando da morte de seu pai, vitima da covid-19, que ocorreu no ano passado.

— Tomo muito cuidado para culpar qualquer governante sobre uma situação. Mas será que se não fosse o atraso da compra da vacina, me pai não estaria aqui do meu lado? No hospital minha mãe viu o presidente do país fazendo troça de alguém entubado. Estou aqui pela minha mãe e pela memória do meu pai também — contou o prefeito.

Durante o discurso de Paes, no entanto, parte do público começou a gritar “ Uh é o Freixo”. O prefeito, que apoia o candidato do PDT para o governo do Rio, Rodrigo Neves, contornou a saia justa gritando “Uh é Lula” e minimizando a divisão entre a esquerda no estado.

— Pode votar em quem quiser, desde que vote no Lula a gente apoia — disse o prefeito.

Apoio para além da esquerda

O ato com Paes faz parte da estratégia do PT de tentar conter um eventual crescimento de Jair Bolsonaro (PL) em seu berço político. A campanha do petista está dando importância estratégica para o Rio e a região sudeste na reta final da campanha.

 

A campanha de Lula avalia que o momento é de se mostrar próximo de lideranças fora do espectro político da esquerda. Em busca de uma possível vitória no primeiro turno, Lula vem se mostrando como candidato que conseguiu formar uma frente ampla na busca por derrotar Bolsonaro.

Lula fará ainda neste domingo um ato com seu candidato ao governo do Rio, Marcelo Freixo (PSB). O evento será um encontro com artistas e influenciadores como Fábio Porchat, Felipe Neto, Rafael Zulu, Bruno Gagliasso e Alice Wegmann.

 

 

Tiro no pé - FOLHA DE SP

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se aproxima de uma possível terceira vitória para a Presidência em seis tentativas desde 1989. Esse velho conhecido da política brasileira, paradoxalmente, é fonte de grande incerteza quando se trata de antecipar os caminhos de governo que pretende trilhar caso as urnas confirmem seu favoritismo.

Com 50% das intenções de votos válidos na mais recente pesquisa do Datafolha, o petista aumentou as suas chances de eleger-se no escrutínio do próximo domingo (2), dispensando o segundo turno.

Essa perspectiva torna ainda mais criticável a esquiva do ex-presidente de deixar claro quem dará as cartas na política econômica num novo governo --decisão que na tradição brasileira permite prever para que rumo esse setor crucial da administração irá caminhar.

A economia, além de vertebral em qualquer governo, desponta como tema urgente do próximo mandatário. Evitar a recaída na inflação, assegurar que haja recursos para os mais pobres no Auxílio Brasil e manter as condições para um crescimento sustentado do emprego e da renda é do interesse imediato de toda a sociedade.

Mas a esse respeito a campanha de Lula, errática, solicita um cheque em branco do eleitorado.

De um lado, o ex-presidente acena ao programa responsável que caracterizou seu primeiro governo. Compôs chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) e nesta semana recebeu apoio de Henrique Meirelles (União Brasil), chefe do Banco Central nos dois primeiros mandatos petistas e ministro da Fazenda de Michel Temer (MDB).

Do outro, o candidato petista arremete contra o teto de gastos públicos sem apresentar substituto, alardeia aumentos de despesas fora da capacidade orçamentária, flerta com quem despreza a autonomia do BC e com o retorno das políticas intervencionistas dos ideólogos do PT, as mesmas que produziram um desastre econômico.

Restam óbvios os ganhos para Lula de comprometer-se com a orientação adotada na sua primeira passagem pelo Planalto. A caminhada para o centro alargaria a base de votos para além dos petistas, tornando mais provável a vitória eventualmente em primeiro turno, e melhoraria desde logo as perspectivas de governabilidade. Não fazê-lo é um tiro no pé.

Mesmo na hipótese de Lula dobrar a aposta intervencionista, é melhor deixar isso claro para evitar o estelionato eleitoral após a posse.

O país deveria saber, e antes da votação, para onde rumaria a quinta gestão petista, se para o programa estatista que ainda encanta boa parte dos economistas do partido ou se para a abordagem pragmática que combina liberalismo econômico e responsabilidade social.

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Bolsonaro criticou PT por supostas ameaças ao Judiciário em 2018

Painel / Editado por Fábio Zanini / FOLHA DE SP

 

Apesar da ofensiva que levou adiante contra o Judiciário durante boa parte da sua gestão, o presidente Jair Bolsonaro (PL) exibiu em seu programa de televisão em 2018 críticas ao PT por supostas ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Em duas das peças veiculadas no horário eleitoral daquele ano, a campanha do então postulante ao Planalto exibe trechos recortados de falas de aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra a suprema corte.

O narrador inicia o trecho declarando que o Judiciário foi "duramente ameaçado por líderes petistas". Na sequência, exibe uma fala cortada do ex-deputado Wadih Damous (PT-RJ). "Tem que fechar o Supremo Tribunal Federal", diz.

"No primeiro dia, tirar todos os poderes do Supremo, ser só a Corte Constitucional", emenda o ex-ministro José Dirceu, já em outro contexto.

Por fim, o ex-governador Roberto Requião sustenta que se o Supremo não mandar soltar o Lula, ele "não existe mais".

Bolsonaro foi eleito aquele ano e ao longo de sua gestão protagonizou uma série de embates com o Judiciário. No 7 de setembro de 2021, por exemplo, ameaçou não cumprir mais decisões judiciais e apoiadores seus, como o cantor Sérgio Reis, viraram alvos de inquérito porque trocaram mensagens sobre organizar um levante popular caso o Senado não pautasse o impeachment de ministros.

Nesta sexta-feira (23), após ter passado alguns dias mais moderado aconselhado por seus estrategistas de campanha, Bolsonaro voltou a elevar o tom e falou em colocar um "ponto final" no que chamou de abusos de outro Poder, em uma referência velada ao Judiciário.

"O Brasil é um país livre. Vocês sabem que vocês estão tendo cada dia mais a sua liberdade ameaçada por outro poder, que não é o Poder Executivo. E nós sabemos que devemos botar um ponto final nesse abuso que existe por parte de outro Poder", declarou.

Ele repetiu também uma frase que costuma dizer, que, se reeleito, "todos, sem exceção, jogarão dentro das quatro linhas da Constituição".

Lula diz que ainda será ressarcido pelos processos da Lava-Jato

Por Rayanderson Guerra / O ESTADÃO SP

 

RIO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o “Estado terá que ressarci-lo” pelos processos em que foi investigado e acusado de corrupção durante a operação Lava-Jato. A fala aconteceu em comício na quadra da escola de samba Portela, no Rio de Janeiro, neste domingo, 25. O petista disse que foi absolvido nas ações que respondia e que provou a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol.

 

“William Bonner, no dia que eu fui na Globo, ele teve a grandeza de dizer: ‘presidente, o senhor não deve mais nada à Justiça desse país’. E quem deve são eles a mim. Em algum momento o Estado vai ter que devolver e me pagar”, falou Lula aos apoiadores.

 

O petista ainda comparou-se ao ex-presidente Getúlio Vargas. “Eu fui vítima da maior sacanagem histórica com um ser humano. Também fizeram com o Getúlio, porque levaram ele a se matar, mas eu resolvi que não vale a pena morrer pelas mentiras dos nossos adversários. A gente pode morrer em defesa da nossa soberania e em defesa do nosso povo”, afirmou.

 

Lula voltou a dizer que foi absolvido em 26 processos em que era investigado e sua campanha vem ressaltando que a Justiça declarou sua inocência. “Hoje eu sou o único culpado do mundo e o crime que cometi pra ser culpado é que virei inocente. Eu sou culpado de ser inocente. O Moro fala que não fui absolvido, outro dia eu vi o Ciro falando que “o Lula não foi absolvido”, olha, eu fui absolvido em 26 processos, fui absolvido duas vezes na ONU e fui absolvido pela Suprema Corte. Agora, quem quer acreditar que não fui absolvido são as pessoas que acreditaram nas mentiras de Moro e Dallagnol, divulgadas pelos meios de comunicação intensamente.”

 

Ele obteve, de fato, 26 vitórias na Justiça. Contudo, é incorreto afirmar que tenha sido absolvido completamente de todos os processos ligados à Operação Lava Jato. Nos casos do sítio de Atibaia e do triplex no Guarujá, por exemplo, o petista chegou a ser condenado em primeira e segunda instância, mas os processos foram anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e enviados para a Justiça Federal de Brasília, a partir do entendimento de que a 13ª Vara Federal de Curitiba não teria a competência de julgá-los. Ambos já prescreveram.

 

 

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