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Em vídeos compartilhados nas redes, Lula e Ciro aparecem em clima de pré-campanha

Camila Zarur / O GLOBO

Ainda que 2022 esteja longe, nas redes sociais possíveis candidatos à eleição presidencial e seus partidos já estão em clima de pré-campanha. Nesta semana, um vídeo do ex-presidente Lula (PT) em meio eleitores foi compartilhado com um jingle que canta sobre a saudade da época que o petista estava no poder. Já o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) lançou uma série de vídeos curtos com propostas para o país.

Embora o vídeo de Lula não faça parte da campanha oficial do ex-presidente, ele foi compartilhado por membros do partido, como os deputados Helder Salomão (ES) e Alencar Santana Braga (SP).

O jingle chiclete canta que está com saudades de votar no ex-presidente e da época que "tinha carne, cerveja e churrasco”. Em outro verso, a música diz “não estou aguentando dinheiro acabando, e nós sofrendo comendo só ovo”. Nas imagens aparecem Lula discursando e entre os eleitores, além de gravações de pessoas dançando — o que dá ao clipe uma cara de peça publicitária eleitoral.

O jingle, feito pelo músico Juliano Maderada, é uma paródia da música Tapão na Raba, cantada por Rai Saia Roda. No canal do Youtube do artista, Maderada Music Show, há outras canções feitas para Lula e contra o presidente Jair Bolsonaro.

Procurado, o petista disse que não está discutindo candidatura por ora.

Ciro Gomes, por sua vez, já tem apostado na divulgação de vídeos voltados para sua possível candidatura no ano que vem. Nesta semana, lançou uma série de gravações curtas em que fala as propostas do PDT para o país. O material já faz parte da estratégia de comunicação de João Santana, que já foi marqueteiro de Lula e da ex-presidente Dilma e foi contratado pelo ex-ministro por um contrato de R$ 250 mil por mês.

Os vídeos de Ciro seguem um visual mais limpo, comparado ao que está sendo compartilhado pelos petistas. O ex-ministro aparece em um fundo neutro e faz um breve discurso de menos de um minuto. Até o momento, três vídeos do tipo foram publicados: no primeiro, Ciro se direciona aos desempregados e trabalhadores informal; no segundo, critica os governos federais passados, afirmando que eles seguem o mesmo modelo desde a gestão de Fernando Henrique; e, no terceiro, fala sobre impostos e desigualdade.

Ciro, Doria, Huck, Leite? Não: nas redes sociais, só dá Bolsonaro e Lula

Por Carolina Riveira / exame

 

Um terço dos eleitores diz não querer Bolsonaro nem Lula em 2022. Se somados, nomes como João DoriaCiro Gomes ou Luciano Huck poderiam ter intenções de votos suficientes para ir ao segundo turno. Mas, na prática, a fragmentada “terceira via” ainda faz pouco ou nenhum barulho em um dos principais termômetros da democracia moderna: as redes sociais.

 

Monitoramento da consultoria de análise de dados Bites obtido pela EXAME mostra que a liderança absoluta que Bolsonaro e Lula apresentam nas pesquisas se reflete também na internet.

Nem mesmo a primeira tentativa de união do grupo mais ao centro foi capaz de mudar o cenário. Na carta em defesa da democracia, que uniu seis presidenciáveis em 31 de março, o movimento de repercussão nas redes pode ser considerado quase irrelevante, diz André Eler, diretor adjunto da Bites e que acompanhou em todas as últimas eleições as movimentações de comportamento nas redes.

"Ainda que juntando seis candidatos, a carta foi um fracasso nas redes sociais", diz. "Não chegaram a fazer cócegas na liderança de Bolsonaro ou Lula. É muito pouco o que esses nomes oferecem de repercussão."

Na métrica batizada de “Tração”, criada pela Bites para medir a capacidade de repercussão e interações nas redes sociais, nenhum dos possíveis presidenciáveis da “terceira via” consegue ultrapassar de forma consistente o valor de 1 ou mesmo de 0,5 no índice.

Enquanto isso, Bolsonaro tem caído, mas ainda figura muito à frente dos demais, acima de 5 ou 6. Já Lula voltou a fazer barulho nas redes após ficar novamente elegível no começo de março, quando chegou a 5 em tração pela métrica da Bites e empatou com Bolsonaro. Foi a primeira vez que um possível candidato rivalizou com o presidente em repercussão nas redes desde o começo do mandato.

Desde esse pico, a tração do petista passou a novo patamar, e figura frequentemente por volta de 1 ou 2, bastante atrás de Bolsonaro, mas se firmando à frente do restante dos concorrentes. (veja no gráfico abaixo, que mostra a tração de alguns dos nomes que lideram na última pesquisa.)

O comportamento das redes, embora restrito a fatias específicas da população, pode dar mostras das tendências no campo eleitoral. É o que aconteceu com Bolsonaro em 2018, quando o presidente dominou as redes muito antes de dominar as pesquisas.

Na última pesquisa de intenção de votos EXAME/IDEIA, divulgada na sexta-feira, 23, Lula e Bolsonaro têm cerca de 30% dos votos cada. Atrás deles, aparecem uma infinidade de nomes em possíveis cenários de primeiro turno. Nesse pelotão, há pequena liderança para Ciro Gomes (PDT), Luciano Huck (sem partido), João Doria (PSDB) e Sergio Moro (sem partido), todos com menos de 10% dos votos cada.

A principal dúvida para 2022 é se os eleitores se aglutinariam em torno de um único candidato de centro ou centro-direita caso alianças fossem formadas. A pouca repercussão nas conversas online mostra que, entre ter intenções de votos somados e conseguir de fato angariar essa mesma quantidade sozinho, há um abismo.

"Quando eles se juntam, não significa nas redes a soma das forças individuais de cada um. Então, na prática, não sabemos se os públicos deles realmente se somam numa eventual disputa eleitoral", diz Eler.

Nem Huck, nem vacinas

Antes de Lula voltar ao páreo, nenhum candidato havia de fato ameaçado a liderança digital de Bolsonaro.

Mesmo em momentos de críticas ao presidente, como quanto ao manejo da pandemia, os adversários de centro não conseguiram transformar as derrotas do governo em vitórias políticas concretas para si.

O maior nome no meio digital, o apresentador Luciano Huck, chega a ter mais seguidores do que Bolsonaro (52 milhões nas principais redes, ante 39 milhões do presidente) e picos de tração que rivalizam com Lula. Mas esses ápices nas redes acontecem quando Huck fala sobre sua família ou seu programa de televisão, e não sobre política, diz Eler.

O mesmo vale para o também apresentador Danilo Gentili, que passou a figurar nas análises após notícias de que está sendo sondado por nomes como João Amoêdo, presidente do Novo. Gentili, como Huck, não conseguiu até agora engajar sua audiência falando de política. Já Amoêdo, nas últimas semanas, figura abaixo de 0,4 em tração, sem conseguir se aproximar de Lula ou Bolsonaro.

 
Número de seguidores candidatos a presidencia

 (Arte/Exame)

Antes um dos nomes mais cotados para 2022, o ex-juiz Sergio Moro quase desapareceu das discussões online desde que deixou o governo há um ano. Sua tração no índice da Bites é uma das menores, menos de 0,1 ao longo de 2021, atrás de nomes como os governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB, frequentemente na casa do 0,4), ou da Bahia, Rui Costa (PT, perto de 0,3 em tração). Em análises qualitativas, as menções e interações com Moro ficaram também mais negativas, e o ex-juiz passou a ser visto como "traidor" por parte de sua antiga base.

Em situação parecida está João Doria (PSDB), que se elegeu sob o mote "Bolsodoria", mas passou a antagonizar com o presidente em meio à pandemia. O momento com maior tração de Doria foi na semana entre 16 e 22 de janeiro, em meio ao início da vacinação com a Coronavac, quando o governador de São Paulo superou valor de 1 em tração, seu recorde neste ano.

Depois disso, não só seu engajamento cai para menos de 0,5 nas últimas semanas, como o tucano não consegue angariar muitos comentários positivos. O governador de São Paulo não atrai o apoio da esquerda e é linchado pela parcela da direita que é fiel ao bolsonarismo.

Mesmo com a repercussão gerada pela Coronavac, Doria tem, no geral, tração e número de seguidores similares aos de Ciro Gomes (PDT). "Fica claro o quanto ele naufraga nas redes a partir do momento em que começa a se contrapor ao Bolsonaro”, diz Eler, da Bites. “Apesar de vitórias políticas como a vacina, a análise qualitativa da imagem do Doria nas redes ainda é muito negativa.”

Outros nomes com quase nenhuma repercussão digital são Luiz Henrique MandettaEduardo Leite e Marina Silva, que frequentemente chegam a ter menos de 0,1 ou 0,2 ponto em tração no índice da Bites.

A "ameaça Lula" ficou menor?

Enquanto o centro patina, as movimentações nas últimas semanas mostram como o ex-presidente Lula consolidou sua posição na internet e se descolou do pelotão de centro. E, desta vez, com sinais de que a rejeição a seu nome pode ser menor.

No passado, a polarização com o PT sempre funcionou bem para Bolsonaro nas redes. Em 2018, quando Lula ou o então candidato do PT, Fernando Haddad, começavam a crescer, Bolsonaro subia em tração diante da possibilidade de volta dos petistas ao poder, segundo as análises da Bites na ocasião.

Neste mês, esse movimento não ocorreu. A capacidade de Lula de movimentar as redes dobrou desde a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que o tornou novamente elegível. A alta foi de mais de 90% de interações por post (mesmo com os perfis do ex-presidente tendo também feito mais posts desde então). No total, o número de interações subiu mais de 200%, segundo o monitoramento da Bites.

No mesmo período, de cerca de 45 dias, Bolsonaro caiu por volta de 25% em interações por post.

O presidente Jair Bolsonaro não conseguiu capitalizar sobre a rejeição a Lula como fez na última eleição.

"Por muito tempo, Lula perdeu relevância e ficou aquém da capacidade de mover as redes que o Bolsonaro tem. Isso ainda se verifica na prática, a gente vê que Bolsonaro ainda é o protagonista. Mas especificamente na semana da decisão do Fachin, Lula conseguiu empatar, e agora voltou ao radar”, diz Eler.

Na semana entre 6 e 12 de março, a mesma da decisão de Fachin, Lula teve ainda outros picos de atenção, como em 10 de março, quando discursou em São Bernardo do Campo (SP). Voltou a ser amplamente comentado nas redes dias depois, no dia 13, quando tomou a primeira dose da Coronavac e gravou vídeo incentivando a vacinação e o isolamento.

O "empate" digital entre Lula e Bolsonaro na semana em que o ex-presidente voltou ao jogo eleitoral não aconteceu só pela alta do petista, mas também pela queda de Bolsonaro, uma vez que a tração do presidente está menor do que no começo do mandato. "Quando Lula deixou a prisão [em 2019], por exemplo, teve um patamar até mais alto do que desta vez. Mas, naquela época, Bolsonaro tinha uma capacidade de repercussão muito maior, então era muito mais difícil alcançá-lo”, diz o diretor da Bites.

Bolsonaro, por exemplo, vem perdendo seguidores no Instagram de forma mais consistente desde meados de abril, algo que só havia acontecido momentaneamente durante a saída de Sergio Moro do governo – naquela ocasião, seu número de seguidores foi recuperado já no dia seguinte.

Popularidade em baixa

Os movimentos das redes sociais vão em linha com as pesquisas de opinião acerca do trabalho do presidente. Dados da última sondagem EXAME/IDEIA nesta semana mostram que o governo de Bolsonaro chegou a seu recorde de desaprovação, em 54%. O presidente também aparece pela primeira vez empatado ou perdendo na margem de erro para Lula no primeiro e no segundo turnos em 2022.

O petista foi o que mais cresceu nas pesquisas, indo de 18% no primeiro turno em meados de março a 30% nesta semana. Bolsonaro se mantém estável, caindo ligeiramente de 33% para 30% das intenções de voto no período.

“Em relação à mudança de posição entre Lula e Bolsonaro, podemos fazer uma relação com a fatura que chega para o governo, que atravessa o pior momento”, diz o pesquisador Maurício Moura, fundador do IDEIA, em relatório sobre os resultados da sondagem (veja na íntegra). Moura cita questões como a lentidão da vacinação, a situação econômica e a segunda leva do auxílio emergencial ainda não distribuída como fatores que impactam na avaliação de Bolsonaro.

Lula também apresentou crescimento expressivo em sua base digital neste ano, ganhando mais de 1 milhão de seguidores até sexta-feira, alta de 13%. Bolsonaro cresceu 2%, com pouco mais de 640.000 novos seguidores. No entanto, o presidente tem menor margem para aumentar sua rede, que é quase quatro vezes maior que a de Lula.

Entre os potenciais presidenciáveis, o único com queda foi João Amoêdo, que perdeu quase 100.000 seguidores desde janeiro (baixa de 2%). O que mais ganhou seguidores percentualmente foi Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, mas sua base ainda é pequena, com menos de 1 milhão de seguidores.

É possível, é claro, vencer eleições sem movimentar as redes sociais. Um dos maiores exemplos recentes aconteceu em São Paulo, quando o prefeito do PSDB, Bruno Covas, foi reeleito contra Guilherme Boulos. O candidato do PSOL tinha mais seguidores e mais engajamento, mas Covas venceu com facilidade no segundo turno.

Ainda assim, os números deixam claro que há pouco espaço até agora para construir uma candidatura de centro capaz de ir ao segundo turno. A “terceira via” não tem conseguido capitalizar as derrotas de Bolsonaro ou a rejeição a Lula. Precisará de muitos likes e retweets até chegar lá.

Em conversas com Bolsonaro, Partido da Mulher Brasileira muda de nome para 'Brasil 35'

Guilherme Caetano o globo

 

brasil 35

 

SÃO PAULO — Enquanto mantém conversas com Jair Bolsonaro visando a ser a próxima legenda do presidente, o Partido da Mulher Brasileira (PMB) alterou seu nome para Brasil 35 na manhã deste sábado. A mudança foi feita durante convenção nacional do partido, no Rio de Janeiro.

LEIA:Bivar resiste a retorno de Bolsonaro ao PSL: 'Não acredito que o presidente saia de sua linha'

A logomarca do partido, antes de cores azul e branca, passou por uma atualização. A marca ganhou as cores verde e amarelo, bastante usadas por Bolsonaro, e o slogan "Coragem para fazer". O estatuto do PMB também foi alterado.

O motivo da mudança, segundo a presidente nacional, Sued Haidar, não teve influência da busca de Jair Bolsonaro por um novo partido. Ela diz que o diretório nacional vem pensando numa atualização desde 2017, dois anos depois da obtenção do registro definitivo. O número 35 se refere, de acordo com ela, à numeração da legenda.

Haidar, no entanto, confirmou contato com Jair e Flávio Bolsonaro, mas negou ter fechado acordo para filiação do grupo político do presidente.

— Houve, sim, uma conversa com o presidente. E tem que existir diálogo. A gente continua conversando com todos os partidos. Vamos caminhando aí. O partido não tem que entrar numa bola dividida que não é nossa. Foi uma conversa muito tranquila, de discussão da questão das pautas necessárias, que foram várias, por exemplo, a questão da saúde, educação. E da possibilidade de o presidente vir (para o PMB) foi feita da forma que ele deve ter procurado conversas com outros partidos. Não foi só com a nossa equipe — afirmou Haidar.

Após romper com o PSL em novembro de 2019, Jair Bolsonaro se engajou na criação de seu próprio partido, o Aliança pelo Brasil. Mas a demora na coleta das 492 mil assinaturas necessárias para a obtenção do registro definitivo junto à Justiça Eleitoral fez o presidente procurar alternativas. Bolsonaro tinha dado ao Aliança o prazo de 30 de abril, a partir do qual passaria a buscar um plano B.

Em entrevista ao GLOBO na última quinta-feira, Flávio Bolsonaro afirmou que ele e seu pai têm conversado com alguns partidos, como PMB, Patriota e DC. Segundo Flávio, "independentemente de o presidente não se filiar ao PP nem ao PSL, selamos na terça-feira um compromisso de que tanto PP quanto PSL estarão na coligação do Bolsonaro em 2022".

— O presidente tem que ver o que é melhor para ele. A legenda não tem fundo partidário, não tem tempo de TV. Até agora não houve essa conversa de aperto de mão, não — declarou Haidar.

Se Bolsonaro se filiar ao Brasil 35, não terá sido a primeira vez em que um partido passou por um "rebranding" para acolhê-lo. Em 2017, o então Partido Ecológico Nacional (PEN) foi rebatizado de Patriota, nome que se mantém até hoje, para que Bolsonaro pudesse concorrer à presidência. No entanto, o candidato migrou para o PSL, pelo qual saiu vencedor do pleito.

Rumo ao nada - J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

A imprensa brasileira desenvolveu ao longo das décadas, como a teoria da evolução garante que acontece com as espécies ao longo dos séculos, uma habilidade única. Mantém com vida artificial dentro do noticiário político, respirando por aparelhos, eventos de importância prodigiosa que têm uma característica muito simples entre si: não existem. É o que se poderia chamar de “não fato” – ou, mais precisamente, lendas que vão sendo repetidas de redação em redação, hoje em dia em tempo real, e que não têm nenhuma relação com qualquer tipo de coisa que possa ser certificada como realidade. É como o ar do pastel: está lá dentro, mas não serve para nada.

Você sabe o que é. Há uns 40 anos, ou por aí, aparece regularmente nas manchetes de jornal e no horário nobre da TV a seguinte frase: “MDB pensa em deixar o governo”. Precisa dizer mais alguma coisa? Um “não fato” como esse é provavelmente o melhor que se pode obter no gênero, mas há concorrentes. “Deputados estudam formação de frente comum”, por exemplo. Um clássico, sempre, são as CPIs. “CPI disso ou daquilo pretende investigar isso ou aquilo.” Há também a “apuração rigorosa”, o “novo estudo” e a “mobilização da oposição” – ou da “tropa de choque”. Nunca se apura nada, nem o estudo resulta em alguma coisa de útil, nem alguém se mobiliza para outra finalidade que não seja a de se aproveitar do erário ou fugir do Código Penal.

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João Doria; Luciano Huck; Eduardo Leite; Ciro Gomes; Fernando Haddad.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO ; GABRIELA BILÓ/ESTADÃO ; Itamar Aguiar / Palácio Piratini ; WERTHER SANTANA/ESTADÃO ; REUTERS/Paulo Whitaker

Mas e daí? Essas miragens sempre enchem páginas que correriam o risco de ficar em branco, ou minutos que poderiam passar em silêncio; pode ser inútil para o público, mas é útil para preencher espaço e tempo. Para sorte de comunicadores e veículos, a disposição do leitor em ser informado sobre fatos que não estão acontecendo é normalmente muito generosa; ele lê, esquece o que leu e acaba lendo outra vez. Passa um tempinho, e lá vem de novo: “MDB pensa em deixar o governo”. Nunca deixou, e não vai deixar nunca, mas a notícia volta. É a vida.

O duplo zero do momento são as matérias dando conta do que diz, do que faz e até mesmo do que pensa meia dúzia de cidadãos, ou mais, descritos pela mídia como “candidatáveis” à Presidência da República nas eleições de 2022. Não se para de falar deles, a propósito de tudo. Assinam manifestosFazem reuniões entre si. Solidarizam-se uns com os outros. Dão entrevistas. Lançam bulas de excomunhão contra o governo, o tempo todo. Falam para o Brasil. Falam para o mundo. Tudo bem, mas o que, no fim das contas, poderia ser um “candidatável”? Uma coisa é certa: os que desfilam por aí não são candidatáveis a candidatura nenhuma, não na vida real. Supõe-se que, para ser mesmo um “candidatável”, segundo o entendimento comum que se tem dessa palavra, o sujeito precisa ser capaz de se transformar num candidato de verdade – ou seja, em alguém que tem alguma chance de ser eleito, um dia, para algo de importância. Ou é isso, ou não é nada. Os “candidatáveis” de hoje não são nada.

Nenhum dos nomes que frequentam o noticiário de todos os dias tem a mais remota chance de chegar à Presidência da República – podem, com sorte, arrumar alguma coisa em seus Estados (deputado, por exemplo, não é difícil), mas ficam por aí. Se não são candidatos sérios a presidente, porque jamais serão eleitos, também não são “candidatáveis”. 

J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

25 de abril de 2021 | 03h00

A imprensa brasileira desenvolveu ao longo das décadas, como a teoria da evolução garante que acontece com as espécies ao longo dos séculos, uma habilidade única. Mantém com vida artificial dentro do noticiário político, respirando por aparelhos, eventos de importância prodigiosa que têm uma característica muito simples entre si: não existem. É o que se poderia chamar de “não fato” – ou, mais precisamente, lendas que vão sendo repetidas de redação em redação, hoje em dia em tempo real, e que não têm nenhuma relação com qualquer tipo de coisa que possa ser certificada como realidade. É como o ar do pastel: está lá dentro, mas não serve para nada.

Você sabe o que é. Há uns 40 anos, ou por aí, aparece regularmente nas manchetes de jornal e no horário nobre da TV a seguinte frase: “MDB pensa em deixar o governo”. Precisa dizer mais alguma coisa? Um “não fato” como esse é provavelmente o melhor que se pode obter no gênero, mas há concorrentes. “Deputados estudam formação de frente comum”, por exemplo. Um clássico, sempre, são as CPIs. “CPI disso ou daquilo pretende investigar isso ou aquilo.” Há também a “apuração rigorosa”, o “novo estudo” e a “mobilização da oposição” – ou da “tropa de choque”. Nunca se apura nada, nem o estudo resulta em alguma coisa de útil, nem alguém se mobiliza para outra finalidade que não seja a de se aproveitar do erário ou fugir do Código Penal.

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João Doria; Luciano Huck; Eduardo Leite; Ciro Gomes; Fernando Haddad.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO ; GABRIELA BILÓ/ESTADÃO ; Itamar Aguiar / Palácio Piratini ; WERTHER SANTANA/ESTADÃO ; REUTERS/Paulo Whitaker

Mas e daí? Essas miragens sempre enchem páginas que correriam o risco de ficar em branco, ou minutos que poderiam passar em silêncio; pode ser inútil para o público, mas é útil para preencher espaço e tempo. Para sorte de comunicadores e veículos, a disposição do leitor em ser informado sobre fatos que não estão acontecendo é normalmente muito generosa; ele lê, esquece o que leu e acaba lendo outra vez. Passa um tempinho, e lá vem de novo: “MDB pensa em deixar o governo”. Nunca deixou, e não vai deixar nunca, mas a notícia volta. É a vida.

O duplo zero do momento são as matérias dando conta do que diz, do que faz e até mesmo do que pensa meia dúzia de cidadãos, ou mais, descritos pela mídia como “candidatáveis” à Presidência da República nas eleições de 2022. Não se para de falar deles, a propósito de tudo. Assinam manifestosFazem reuniões entre si. Solidarizam-se uns com os outros. Dão entrevistas. Lançam bulas de excomunhão contra o governo, o tempo todo. Falam para o Brasil. Falam para o mundo. Tudo bem, mas o que, no fim das contas, poderia ser um “candidatável”? Uma coisa é certa: os que desfilam por aí não são candidatáveis a candidatura nenhuma, não na vida real. Supõe-se que, para ser mesmo um “candidatável”, segundo o entendimento comum que se tem dessa palavra, o sujeito precisa ser capaz de se transformar num candidato de verdade – ou seja, em alguém que tem alguma chance de ser eleito, um dia, para algo de importância. Ou é isso, ou não é nada. Os “candidatáveis” de hoje não são nada.

Nenhum dos nomes que frequentam o noticiário de todos os dias tem a mais remota chance de chegar à Presidência da República – podem, com sorte, arrumar alguma coisa em seus Estados (deputado, por exemplo, não é difícil), mas ficam por aí. Se não são candidatos sérios a presidente, porque jamais serão eleitos, também não são “candidatáveis”. 


O Brasil tem dois candidatos a presidente, Jair Bolsonaro e Lula. O resto é o resto.

*

Irã, condenado oficialmente pela ONU por causa do tratamento abominável que dá às mulheres, ganhou um lugar no conselho que defende “a mulher”, nessa mesma ONU. Espera-se, agora, o manifesto de apoio das feministas brasileiras.

*É JORNALISTA

Presidente do PSDB coloca senador Tasso Jereissati como possível candidato do centro em 2022

Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo O GLOBO

 

SÃO PAULO - Enquanto uma eventual candidatura do governador de São Paulo, João Doria, à Presidência da República não agrada algumas alas do PSDB e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é visto como inexperiente, parlamentares do partido passaram, na última semana, a citar o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) como um nome capaz de unir as forças políticas de centro em 2022.

Em entrevista ao GLOBO, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, convidou Tasso a se colocar como candidato e fez uma série de elogios ao senador, que descreveu como “um nome que transcende o PSDB”. O senador tucano, segundo aliados, poderia atrair até Ciro Gomes (PDT), que foi seu sucessor no governo do Ceará em 1990 quando ainda estava no PSDB, e com quem voltou a conversar.

O PSDB tem prévias marcadas para outubro. No domingo, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), defendeu o nome de Eduardo Leite.

Os tucanos tentam construir uma aliança de centro para se contrapor ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Lula. No sábado, Doria, Leite, Ciro, o apresentador Luciano Huck e Fernando Haddad (PT) se uniram em críticas a Bolsonaro no evento virtual Brazil Conference, promovido pelas universidades americanas Harvard e MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

No fim do mês passado, tivemos o manifesto de seis presidenciáveis. É viável a união desse grupo?

Ela é viável, é fundamental. (O manifesto) é o primeiro gesto público de que há diálogo real entre os principais protagonistas. Não vamos reduzir para duas alternativas no campo do centro num jogo de dado. Vamos fazer com diálogo.

Quantos nomes cabem no campo do centro em meio à polarização entre Lula e Bolsonaro?

O sonho que beira a ingenuidade seria um único nome. Algo a partir de três nomes começa a atrapalhar muito essa construção.

A visão econômica do Ciro Gomes pode atrapalhar a união com os demais signatários do manifesto?

É fundamental a participação do Ciro Gomes. Aliás, (a visão econômica) não pode ser tão distinta porque a introdução de Ciro Gomes na sucessão ao governo do Ceará (em 1991), quando era tucano, se deu pela liderança do então governador Tasso Jereissati.

Como poderia ser definido um critério para a escolha do candidato a encabeçar essa união?

É justamente essa construção e os fatores que vão levar a essa definição que serão discutidos. Temos fatos novos todos os dias. Dentro do PSDB, depois da própria provocação do Eduardo Jorge, começa um movimento muito forte de incentivo ao nome do senador Tasso Jereissati (o ex-presidenciável do PV fez uma publicação sugerindo a candidatura de Tasso). Recentemente se intensificaram movimentos no sentido de convencê-lo a aceitar colocar o seu nome. Claro que é um nome que enriquece muito o processo político nacional e transcende de forma definitiva o PSDB.

O senhor já conversou com Tasso sobre isso?

Tem que ser respeitado o tempo de cada um. Fica aqui um convite público, para que ele aceite esse chamamento.

O governador João Doria não decola nas pesquisas e não consegue capitalizar o fato de ter trazido a CoronaVac ao país. A que atribui isso?

O governador Doria tem muito mais ativos do que passivos. O que ele não teve e outros pré-candidatos têm é a possibilidade de ter tido uma exposição de uma eleição nacional. A real definição do eleitor brasileiro se dá na metade do processo eleitoral. Até lá, e neste momento em especial, a população está tentando sobreviver.

Como o senhor vê a ascensão do governador Eduardo Leite no PSDB e as projeções de que ele teria hoje mais simpatia interna do que Doria?

É um dos nomes mais relevantes dessa nova geração. É a juventude e a expectativa de crescimento na sua liderança política que ele leva como um ativo às prévias do partido.

Qual vai ser o papel do PSDB na CPI da Pandemia?

Foi indicado pelo PSDB um dos homens públicos mais respeitados e mais experientes da República, o senador Tasso Jereissati. Será uma apuração com responsabilidade. Mais do que buscar culpados, precisamos apontar caminhos para essa grave crise de saúde e econômica que nós temos.

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