Negócios eleitorais - Por Merval Pereira
A busca de uma alternativa à polarização entre o passado e o presente que não satisfazem esbarra em interesses amesquinhados que impedem uma visão mais ampla de futuro. São tantos partidos, e tão baixas as negociações comerciais, não políticas, que trabalhar em cima de um consenso ou de um programa comum torna-se tarefa impossível nesta fase da campanha eleitoral. Nem se fala nisso, na verdade.
O PL teria oferecido R$ 30 milhões para assumir o controle societário do PTB? O União Brasil, fruto de uma joint venture entre o PSL e o DEM, será dominado pelo caixa milionário de Bivar ou pelos interesses baianos do ACM Neto? O MDB vai apoiar mesmo Simone Tebet, ou está apenas marcando posição para vender no mercado futuro seu apoio? O PSDB de Doria terá condições de conseguir uma federação partidária que o apoie ou ficará isolado diante da resiliência do governa- dor paulista, cujo objetivo é a Presidência da República?
O instituto da federação partidária é dos mais importantes já concebidos na nossa geleia geral partidária. Daria consistência à união de legendas, pois teriam que atuar em conjunto nos próximos quatro anos, o que geraria uma homogeneidade de atuação que se refletiria nos votos. Além do mais, enxuga- ria, na prática, o número de partidos em ação no Congresso.
Mas até agora não se consegue chegar a um acordo, mesmo entre partidos de esquerda que geralmente são satélites do PT, mas se vendem caro nessa fase do processo. O PSB é o único que tem condições de caminhar pelas próprias pernas, com força real em Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e Espírito Santo, mas ideologicamente tem setores que se aproximam do PT.
PSOL e PCdoB precisam da federação para sobreviver às cláusulas de barreira. Rede, PV e Cidadania também, mas desses, o único que pode fazer uma federação mais ao centro é o Cidadania, que tem no PSDB seu parceiro preferencial. Todos estes casos são circunscritos à esquerda, onde provavelmente será mais fácil um acordo, devido à vantagem que o ex-presidente Lula tem nas pesquisas eleitorais.
Lula, que não se deixa morder pela mosca azul, sabe que a vitória não está garantida, embora provável. Não cai na esparrela de alguns setores da esquerda que, certos da eleição oito meses antes, já começam a desdenhar dos opositores, a apresentar planos mirabolantes de repetir os mesmos erros de sempre. Ao contrário, o ex-presidente trata de consolidar sua dianteira procurando setores não alinhados ideologicamente, como o representado pelo ex-tucano Geraldo Alckmim.
Outro objetivo de Lula é o PSD de Gilberto Kassab, que está à cata de um candidato para seu partido, porque Rodrigo Pacheco não decolou. Apareceu agora a ideia de convidar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para ir para o PSD e fazer o papel de candidato à presidência. É possível que aconteça, mas vai ter um impacto muito menor do que se tivesse vencido as prévias do PSDB. Aí sim, ele apareceria como um grande líder político dentro de um partido forte, ao derrotar o governador João Doria.
Teria outra importância a vitória dele, viabilizando uma campanha eleitoral importante. Hoje, se acontecer essa adesão, não vejo muita novidade, nem possibilidade de ele levantar apoios e empolgar eleitores a ponto de se transformar em uma alternativa a Lula e Bolsonaro.
A política tem símbolos e momentos importantes, e acho que o momento de Eduardo Leite já passou. Ele não tem carisma, nem história política que justifiquem uma mudança do quadro eleitoral. Não é uma escolha que tenha consequências no jogo político. Se não der certo, Kassab vai para o plano C, que sempre foi, na verdade, seu plano A: aderir a Lula, mas numa posição de independência, de força, e não uma adesão pura e simples. Por isso, tenta viabilizar um candidato que dê a ele cacife para nego- ciar apoio a Lula no segundo turno. Se não der certo, Kassab vai para o plano C, que na verdade sempre foi seu plano A; aderir a Lula, mas numa posição de independência de força, e não uma adesão pura e simples. Por isso, tenta viabilizar um candidato um candidato que dê a ele cacife para negociar apoio a Lula no segundo turno. Se não der certo esta manobra com Eduardo Leite, e não aparecer outro candidato, é provável que Kassab apoie Lula ainda no primeiro turno.
A novidade da vez pode ser a senadora Simone Tebet, com notável capacidade de mobilização do eleitorado feminino, que representa mais da metade do brasileiro. Se contar com o apoio do MDB, que tem capilaridade nacional, pode ter viabilidade.
Acenos de Doria à unificação da 3ª via esbarram em federações e rejeição
Na mesma semana em que o presidenciável João Doria (PSDB) acenou aos seus concorrentes na chamada terceira via em busca de uma candidatura única, partidos desse campo anunciaram conversas para federações. Os apoios que o tucano espera receber, no entanto, dependem dessas tratativas e esbarram em sua alta rejeição.
No último domingo, em uma live promovida por um grupo de empresários, Doria falou em construir uma única candidatura, citando os nomes de Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB), Alessandro Vieira (Cidadania) e Rodrigo Pacheco (PSD).
Aliados de Doria acreditam que ele seria esse candidato principal e apostam no crescimento de seu nome conforme a campanha avance. Mas, se o governador paulista não conseguir capitalizar em cima da vacinação e de outras vitrines, tucanos veem chances de o partido desistir de lançá-lo.
A possibilidade de ampliar a bancada, de contar com um tempo significativo de TV, a proximidade ideológica e a boa relação de Doria com líderes das demais siglas são pontos apontados como atrativos para uma aliança com o tucano.
"Isso só vai se materializar provavelmente entre o final de junho e o início de julho", completou Doria a respeito das alianças em coligações majoritárias.
Mas o debate sobre federações atravessou na frente, já que a data para sua formalização é 2 de abril –a não ser que o STF (Supremo Tribunal Federal) amplie o prazo em julgamento sobre o tema previsto para quarta-feira (9).
O PSDB de Doria já tornou públicas as negociações para a formação de uma federação com o Cidadania, de Vieira, e com o MDB, de Tebet. Em paralelo, o MDB também ensaia uma federação com a União Brasil, partido formado por PSL e DEM e que não tem presidenciável próprio –cujo apoio também é cobiçado pelos tucanos.
Membros dos partidos da terceira via consultados pela Folha afirmam que as conversas sobre coligações andam a passos lentos e devem se intensificar em junho, já que o momento é o de discutir federações.
O presidente do PSDB e coordenador da campanha de Doria, Bruno Araújo, afirma que não concentrar as candidaturas da terceira via significa consolidar a polarização. "A pauta agora é a das federações. As coligações serão discutidas mais para frente, nada acontecerá antes de junho".
Em ambas as modalidades, porém, Doria enfrenta obstáculos para se consolidar como a candidatura única da terceira via segundo representantes das siglas citadas por ele.
No caso das federações, que exigem das siglas envolvidas a atuação conjunta por quatro anos, inclusive nas eleições municipais de 2024, os entraves para o PSDB são os mesmos de todas as legendas, sobretudo das maiores: aplacar disputas regionais para chegar a candidatos únicos nos estados e cidades, além de traçar um programa comum.
Tucanos e emedebistas do alto clero admitem que a federação entre os partidos tem poucas chances de prosperar. O mais esperado é que se consolide o acerto entre PSDB e Cidadania, o que na prática obrigaria Vieira a retirar sua candidatura, embora isso não seja admitido de cara pelo partido.
"Defendo um processo de concentração de forças no centro democrático, mas dentro de uma construção de projeto nacional, sem imposição de nomes ou atropelos. Mais adiante é preciso um gesto daqueles que não se veem viáveis", declara Vieira.
O presidente do Cidadania, Roberto Freire, diz saudar a fala de Doria a favor de unidade. "Seria importante para o país e para a democracia. Em junho vamos analisar o quadro e isso vai ter que ser decidido", afirma.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada em dezembro, Vieira não pontuou, enquanto Doria chegou a 3%.
Para atrair os demais –Moro (9%), Tebet (1%) e Pacheco (1%)— restaria ao tucano realizar coligações, mas nesse caso sua alta rejeição se torna uma objeção, embora haja concordância entre esses partidos sobre as vantagens de uma candidatura única.
De acordo com a leitura de líderes dessas legendas, evitar a fragmentação é o caminho para tentar chegar ao segundo turno num cenário em que o ex-presidente Lula (PT) marca 47% e o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem 21%.
Por isso, o aceno de Doria foi bem-visto em todos os partidos, que ressaltam a necessidade de abertura para o diálogo –algo que o tucano vem demonstrando. Na prática, porém, membros da campanha de Doria afirmam haver conversas com MDB, Cidadania e União Brasil, enquanto Podemos e PSD estariam em polos mais distantes.
Aliados de Doria admitem que o cenário mais provável é o de fragmentação, com ao menos Doria e Moro concorrendo na terceira via. Dado que o ex-juiz está à frente nas pesquisas, tucanos não veem como atraí-lo e muito menos o Podemos está disposto a abrir mão em prol do governador.
Só haveria um caminho, segundo o entorno de Doria, se Moro desistisse da corrida ao Planalto para se candidatar ao Congresso, garantindo ao menos algum cargo diante da vitória incerta no plano nacional. Então, o Podemos poderia migrar para a campanha tucana.
O clima entre Doria e Moro segue cordial. Na quarta (2), o ex-juiz evitou criticar o governador durante um evento em São Paulo.
O senador Álvaro Dias (Podemos-PR) afirma que o aceno de Doria contribui para a convergência. "Mas isso tem que respeitar quem tem viabilidade maior. Não há uma pesquisa que não coloque Moro como o mais viável", pontua.
Ainda na visão de estrategistas de Doria, o PSD está mais próximo de um acerto com Lula do que com a terceira via. O presidente da sigla, Gilberto Kassab, afirma que seu partido não deve fazer federações ou coligações e que terá candidatura própria.
"Nosso candidato é o Pacheco", afirma. O partido fará em março uma avaliação sobre a viabilidade de Pacheco e já buscou um plano B, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que perdeu as prévias tucanas para Doria.
Caso Doria suba nas pesquisas, a campanha tucana acha possível consolidar os apoios de União Brasil e MDB –sobretudo desse último, mesmo se a federação não vingar.
Doria é próximo do presidente do MDB, Baleia Rossi, e Tebet é vista como a vice ideal para o governador paulista, que já indicou buscar uma mulher para sua chapa.
No MDB, o discurso oficial é o de manutenção da candidatura de Tebet, enquanto membros do partido veem a aliança com Doria problemática diante da baixa intenção de votos do tucano. A aposta é a de que a senadora pode crescer, enquanto o governador não.
Baleia afirma esperar que Tebet seja a candidata que consiga agregar os demais. "Estamos trabalhando no fortalecimento da Simone, estamos buscando parcerias, nossa vaga de vice está em aberto", diz.
Membros da União Brasil afirmam que os dirigentes da legenda não cogitam apoiar Doria devido a sua estagnação, e oscilam entre compor com Moro ou manter a neutralidade. Outra opção é a união com Tebet, na possibilidade remota de a federação prosperar.
Já o candidato de Doria ao Governo de São Paulo, seu vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), tem sido mais bem-sucedido em atrair alianças –incluindo União Brasil e MDB, que separaram o apoio a Garcia de uma coligação com Doria.
A base tucana no estado inclui ainda o Cidadania e até prefeitos e parlamentares do Podemos, partido que lançará Arthur do Val para o Palácio dos Bandeirantes. Mesmo partidos do centrão de Bolsonaro são aliados de Garcia em São Paulo.
Aliados de Doria afirmam que isso se deve à diferença de conjuntura nacional e estadual e não à capacidade do titular e do vice. Alguns tucanos admitem, porém, que Garcia não é rejeitado, enquanto Doria caminha para o isolamento, com pesquisas indicando perspectivas ruins.
Federações: sem ser cloroquina partidária
06 de fevereiro de 2022 | 03h00
As eleições de 2022 têm muitas particularidades, uma delas é o complexo cenário político em que vivemos. Exigirá muito do eleitor – especialmente que compareça à urna e vote consciente. Mas, em termos de legislação, por conta da reforma eleitoral de 2021 instituída pelo Congresso – é preciso lembrar dela num país jogado na catarse da pandemia –, será a primeira vez que os eleitores vão contar com a possibilidade de candidaturas apoiadas por federações partidárias. Isso será muito importante na sua escolha.
Primeiro é preciso entender que essa nova modalidade de associação entre partidos, as federações, não pode ser tratada como espécie de cloroquina partidária – para fazer um paralelo com a propaganda de um remédio supostamente milagroso, mesmo contra todas as evidências.
No mundo partidário também não se deve vender ou comprar ilusões.
Num país pluripartidário, como o nosso, com partidos em excesso e com pouca identidade programática, as federações vieram com o objetivo de permitir às legendas uma atuação unificada nacional, como um teste para eventual fusão ou incorporação, em especial pela obrigatoriedade de permanecerem num mesmo bloco por pelo menos quatro anos. As federações, em uma democracia jovem como a nossa, podem diminuir o risco de elegermos candidatos de ideologia oposta a quem votamos, como ocorria muitas vezes nas coligações em eleições proporcionais, que uniam partidos ideologicamente diferentes.
Surgem também como uma solução para o alto volume de candidaturas de 2020, que resultou numa campanha extremamente pulverizada, beneficiando quem já tem mandato e reduzindo a renovação expressada em 2018.
Porém, para que as federações, criadas com nobres objetivos, não corram o risco de servir apenas para a manutenção de cartórios partidários, inibindo o surgimento de novas lideranças, é preciso que sua formação envolva integralmente cada partido. Os Estados têm seu cenário político, sua realidade própria e a aliança com determinados partidos pode fazer ruir esse trabalho. A decisão de federar terá também consequências nas eleições de 2022, 2024 e 2026. Diálogo e escuta são essenciais para que as federações sejam criadas, provocando o fortalecimento mútuo dos partidos envolvidos, e não meras incorporações.
Aqui lanço outro ponto de reflexão. As federações não podem ser reduzidas a “botes salva-vidas” para partidos pequenos, que temem não bater cláusula de barreira ou que já possuem baixa representação na Câmara dos Deputados e, por consequência, recebem uma fatia menor dos recursos públicos. Ao federar, o partido que não teria condições de fazer uma campanha cara – nos moldes tradicionais – passa a ter indiretamente um volumoso orçamento para trabalhar.
Não podemos tirar os fundos eleitoral e partidário da equação das federações partidárias. E não estamos falando de ninharia. Só o Orçamento público para que os partidos gastem em campanha, o chamado Fundo Eleitoral, é uma fortuna – recurso de difícil fiscalização, como também são as prestações de contas dos partidos e candidatos. Governo federal e Congresso passaram os últimos meses debatendo qual seria o montante desse pacote bilionário que fechou na casa dos R$ 5 bilhões. Sempre me posicionei contra este aumento. No País que voltou ao mapa da fome e em que o governo alega falta de recursos para atender os mais pobres, é um absurdo não discutir como baratear campanhas e reduzir custos. Ao contrário, os partidos se estruturam cada vez mais e funcionam como grandes empresas de captação de talentos, apresentando gráficos de retorno de investimento a partir dos votos conquistados para ajudar a bater a tal cláusula de barreira.
Para quem já quer pular no bote salva-vidas da federação para garantir seu recurso para fazer campanha ou facilitar a construção de chapas, um alerta: se o processo não for participativo e envolver todos os diretórios, a divisão do recurso, mesmo que em maior montante, não vai considerar as necessidades locais, equidade ou diversidade. O recurso seguirá nas mãos dos caciques, privilegiando quem já tem mandato e dificultando a renovação política nos Parlamentos estaduais e federal.
As negociações, como já perceberam os eleitores, estão em pleno vapor. É preciso ampliar as discussões na sociedade e nos partidos e envolver todos os diretórios para que as decisões não sejam tomadas com pouca informação e debate restrito.
As eleições de 2018 e 2020 mais do que comprovaram que precisamos de uma reforma eleitoral, mas vai demorar ainda para conseguirmos reduzir os vícios de um processo político que elege oportunistas e teima em manter o sistema de capitanias hereditárias em vigor.
Se na construção das federações não vier junto um processo de fortalecimento institucional e com a consolidação conjunta de um projeto de País, mesmo que mínimos, então nada terá mudado. E estaremos, mais uma vez, apenas discutindo a divisão de recursos partidários e de campanha para manter uma velha estrutura de poder.
SENADOR (CIDADANIA-SE)
O mal que Lula faz à oposição
06 de fevereiro de 2022 | 03h00
Segundo o conto lulopetista, Luiz Inácio Lula da Silva seria o grande líder da esquerda brasileira, aquele que, nas últimas décadas, mais teria contribuído para o fortalecimento da chamada causa progressista no País. De acordo com a anedota, o ex-sindicalista encontrou resistência nos setores conservadores da sociedade, mas sua trajetória política seria a realização plena do sonho da esquerda: o operário que chega ao poder e transforma os caminhos da população. Nesse enredo, Lula seria o grande adversário da direita e o grande amigo da esquerda.
É fato que Lula, especialmente depois de forjar a desumana e antissocial divisão do País do “nós contra eles” e subverter a moralidade pública, encontrou e encontra forte oposição em parte considerável da população. Seria equivocado, no entanto, imaginar Luiz Inácio Lula da Silva como o grande benfeitor da causa da esquerda, tal como narra o conto lulopetista. A atuação do líder petista faz muito mal também à própria esquerda, submetendo-a a interesses particulares e impedindo sua livre organização e modernização.
Caso paradigmático é a contribuição de Lula para a permanência de Jair Bolsonaro no poder. Quando parcela significativa da população – especialmente, o eleitorado mais à esquerda –, indignada com a atuação do governo federal na pandemia, passou a pedir o impeachment de Bolsonaro, o PT fez mero jogo de cena. A omissão de Lula foi, no mínimo, incompatível com sua pretensa função de “grande liderança da esquerda”. Como se diz, o ex-sindicalista ficou na moita. Não fez nenhum movimento que pudesse acarretar eventual inelegibilidade de Bolsonaro. Afinal, sem o ex-capitão na corrida eleitoral, Lula teria muito mais dificuldade em sua campanha para voltar ao Palácio do Planalto.
Dessa forma, quando muitos se perguntam como foi possível que a nefasta atuação de Jair Bolsonaro na pandemia não tenha levado ao impeachment do presidente, é preciso advertir a ajuda especial de Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-capitão. O PT contribuiu para o Congresso permanecer alheio ao tema.
Vale lembrar também que Lula – que agora procura expandir os contornos de sua candidatura, fazendo tratativas com políticos mais à direita – proibiu expressamente Fernando Haddad de fazer movimento similar em 2018, até mesmo no segundo turno. Na prisão em Curitiba, Lula não trabalhou pela vitória da esquerda, mas exclusivamente por sua causa pessoal.
Tudo isso, que talvez escandalize pessoas mais jovens, não é nenhuma novidade. A história do PT sempre foi a tentativa de submeter o campo da esquerda à sonhada hegemonia de Luiz Inácio Lula da Silva. Essa pretensão provocou muitos atritos e rupturas. É fato notório que muita gente, ligada às origens da legenda, se frustrou profundamente com as práticas e rumos adotados pelo PT.
Mas o mal que Lula faz à esquerda transcende os limites de seu partido. Tal pretensão de hegemonia abastardou o debate e a articulação de propostas políticas sérias mais à esquerda. Muitas vezes, a discussão de ideias e projetos no chamado campo progressista – tão necessária para uma democracia plural e madura – ficou inviabilizada pela atuação de Lula e de sua legenda, que, incapazes do diálogo, não tinham maiores pudores em impor seus interesses.
A campanha de desinformação do PT em 2014 contra a então candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, é apenas um exemplo, entre muitos, de como Lula trata quem é de esquerda, mas não lhe presta vassalagem. Diante disso, compreende-se o fenômeno que se vê neste início de ano: a resistência de políticos com um pouco mais de experiência, que já sentiram na pele o modus operandi lulopetista, a apoiar a pré-candidatura de Lula.
A rigor, não é a direita que sofre com Lula. Quem mais padece e se vê tolhido pelo lulopetismo é o próprio campo da esquerda democrática e responsável, que, entre outros danos sofridos, se torna invisível para grande parte da população, ofuscado por um político parado no tempo que só se ocupa de si mesmo.
Propaganda na pré-campanha: saiba quais são os cinco erros mais comuns dos pré-candidatos
Assim como existem regras bem estabelecidas sobre como deve ser a conduta dos candidatos nas eleições brasileiras, especialmente no que diz respeito à propaganda eleitoral, há, também, um regulamento a ser seguido no período de pré-campanha.
Por desconhecimento das normas, às vezes, pré-candidatos acabam ou cometendo erros que podem levar a penalidades severas, dependendo do nível da infração, ou deixando de aproveitar oportunidades que poderiam ajudar a alavancar a campanha mais à frente.
Via de regra, as propagandas eleitorais antecipadas são punidas pela Justiça Eleitoral tão somente como multa, que pode variar de R$ 5 mil a R$ 25 mil reais, a depender da gravidade e da reiteração da conduta. Mas, em casos mais abusivos, em que a pré-campanha se desenvolve por meios ilícitos, a Justiça pode, no futuro, cassar a candidatura ou mesmo o diploma caso esse pré-candidato venha a ser eleito".ANDRÉ XEREZAdvogado e doutor em direito pela Universidade de São Paulo (USP)
O Diário do Nordeste ouviu especialistas nas áreas de marketing político digital e direito eleitoral para saber o que pode e o que não pode ser feito pelos pré-candidatos antes do período em que são permitidas, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as propagandas em rádio, televisão e internet, além da distribuição de material gráfico, das caminhadas e dos comícios.
5 ERROS COMUNS NA PRÉ-CAMPANHA ELEITORAL
CANDIDATO X PRÉ-CANDIDATO
Um político só pode se intitular “candidato” durante a campanha, ou seja, só depois que sua candidatura for devidamente registrada. Pelo calendário eleitoral, o último dia para o requerimento de registro de candidaturas é 15 de agosto.
PEDIDO DE VOTO
Pré-candidatos não podem, de maneira alguma, pedir votos expressamente. “Só é permitido começar a angariar diretamente a vontade do eleitor a partir dos registros de candidaturas”, explica o advogado e doutor em direito pela Universidade de São Paulo (USP), André Xerez.
Segundo o profissional, esse é um dos erros mais recorrentes cometidos na pré-campanha, seja nas falas diretas dos pré-candidatos ou em mensagens veiculadas em suas redes sociais. “Embora seja permitida a mobilização de militância e do eleitorado visando um futuro apoio, não é permitido aos pré-candidatos veicular nada que contenha pedido explícito de voto, nem que as mensagens se deem por meios proibidos como outdoor ou brindes”, completa.
Ana Clara Dias, jornalista especialista em marketing político digital, acrescenta que também é proibido ao pré-candidato indicar seu número de campanha no usuário das redes sociais.
“O pré-candidato não pode usar nenhum tipo de número antes dos 45 dias de campanha, em nenhum lugar. Já vi muitos usarem números no nome de perfil no Instagram. Por exemplo: @joaosilva15. Por mais que às vezes seja apenas o número do partido, melhor não arriscar”.
PRESENÇA NA MÍDIA
Segundo Xerez, a legislação eleitoral permite a participação de pré-candidatos em encontros, entrevistas e programas de rádio, televisão e internet.
Nesses espaços, é permitido não só divulgar a pré-candidatura como, também, expor posicionamentos pessoais sobre questões políticas, debates legislativos, alianças partidárias e até mesmo sobre os próprios atos de vida pública.
Porém, é comum, de acordo com Dias, que os pré-candidatos não aproveitem essa liberdade para construir, em tempo hábil, suas campanhas.
“O erro mais comum é achar que não pode se expor, trabalhar ativamente, falar sobre seus projetos políticos. Muitos deixam para fazer isso só na campanha, mas campanha é momento de decisão do voto. O momento de sensibilizar eleitores e se mostrar atuante precisa ser antes da campanha. Até porque 45 dias é pouquíssimo tempo para se apresentar, mostrar seu trabalho, convencer o eleitor e ainda pedir votos”, compreende a jornalista.
IMPULSIONAMENTO DE CONTEÚDO
A resolução do TSE que trata das eleições de 2022 permite o impulsionamento de conteúdo na internet já na pré-campanha, desde que não haja disparo em massa desse material por meio de aplicativos de mensagem instantânea como WhatsApp e Telegram, que não haja pedido explícito de votos e que o limite de gastos com propaganda seja respeitado.
Além disso, Dias lembra que os conteúdos patrocinados de pré-campanha devem usar o rótulo “Pago Por”, disponibilizado pela Meta — empresa que engloba redes sociais como Facebook e Instagram — para anúncios relacionados a temas sociais, eleições ou política. Já na campanha eleitoral, complementa a especialista, “os conteúdos patrocinados devem ter o rótulo de ‘Propagando Eleitoral’ com o CNPJ do candidato”.
Conforme o TSE, somente empresas cadastradas na Justiça Eleitoral podem impulsionar propaganda eleitoral, isso porque é necessário identificar quem contratou os serviços.
IDENTIDADE VISUAL
Outros detalhes que podem prejudicar o pré-candidato dizem respeito à identidade visual. Para Dias, é necessário que elementos visuais dos materiais de pré-campanha, como assinatura, logo e padrão de cores, sejam diferentes dos adotados para a campanha. COM DIARIONORDESTE