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‘Eu viajaria a Paris no 2º turno com mais convicção. PT nunca mais’, diz Ciro Gomes

Paulo Cappelli / O GLOBO

 

CIRO GOMES 2021

 

BRASÍLIA — O ex-ministro Ciro Gomes afirmou em entrevista ao GLOBO não ser provável uma aliança entre os demais pré-candidatos à Presidência que, junto dele, subscreveram um manifesto pela democracia no mês passado — os outros signatários eram João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo) e o apresentador Luciano Huck (sem partido). Ciro afirma que nunca mais fará aliança com o PT, define o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “tomado por ódio” e diz ter “convicção” de ter tomado a decisão certa ao ter deixado o país em 2018 durante o segundo turno da eleição entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

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Como o senhor se define hoje? Um político de esquerda, centro-esquerda, centro...

A minha vida inteira busquei posicionamento de centro-esquerda. E agora achei a minha casa, porque no PSDB tentei isso, mas a inflexão de Fernando Henrique me fez sair; no PSB busquei isso, e a inflexão do Eduardo Campos me fez sair. Já no PDT, que tem a educação como preocupação central, estou encontrando muito conforto.

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Qual a principal diferença entre a dinâmica da eleição de 2018 e a que ocorrerá em 2022?

A de 2022 será mais reflexiva do que passional. O predominante em 2018 foi o antipetismo irracional. Quem interpretou de forma mais tosca conseguiu se eleger. Agora, não. O predominante vai ser a busca por soluções práticas e concretas. Antes, era a política contra a não política. Agora, a experiência terá mais relevância. Antes havia moralismo, por conta do escândalo moral do PT; agora é mais a questão econômica, emprego.

A volta de Lula ao cenário eleitoral e a provável polarização dele com Bolsonaro prejudicam as suas pretensões à Presidência?

Não sei quem será o próximo presidente, mas estou seguro de que não vai ser Bolsonaro. Isso tem importância grande porque descomprime o eleitor. Parte do eleitorado vota no PT porque não quer Bolsonaro, ou no Bolsonaro porque não quer o PT. À medida em que Bolsonaro passe a aparecer como derrotado nas pesquisas, as pessoas vão tentar outra via. Trabalho por um cenário realista no qual Lula e eu estaremos no 2º turno, o que ofereceria ao povo debate de alto nível. E ainda admito a possibilidade de que Bolsonaro sequer esteja na disputa.

Por quê?

A história brasileira não é de normalidade. Do Dutra (ex-presidente Eurico Gaspar Dutra) para cá, só três presidentes eleitos terminaram o mandato. Qual a característica dos três? Governaram o país em expansão econômica e trabalharam até na conta do suborno para destruir o antagonismo. Bolsonaro administra a pior crise econômica, não tem imaginação e, quando não tem inimigo, cuida de criar. A economia está virando vinagre. O dólar desvaloriza no mundo inteiro, mas, no Brasil, aprecia.

No manifesto dos presidenciáveis em defesa da democracia, ficou a impressão de que há chance de uma candidatura única envolvendo o senhor, Doria, Amoêdo, Eduardo Leite, Mandetta e Luciano Huck. Por outro lado, há muitas divergências programáticas entre os seis...

O ideal seria que todo mundo que acha que o lulopetismo e o bolsonarismo não prestam ao país fizesse enorme esforço de unificação para dar ao povo uma via alternativa concreta e produtiva que diminuísse o nível de ódio e paixão. Mas, realisticamente, não é provável. O centro do colapso está na economia, emprego, dívida pública, sistema tributário. E há um conjunto de respostas diferentes nas cabeças das pessoas que você citou. Mas demos um sinal. De que somos capazes de, apesar das diferenças, achar um ponto em comum: a defesa da democracia.

Mas o senhor tem mantido conversas com esses outros presidenciáveis?

Só conversei com o Mandetta, que foi quem costurou o manifesto. Em cima da mesa, havia aquela situação do Bolsonaro, falando com tom autoritário no cercadinho, às vésperas do aniversário do golpe. Então valia a pena dar um sinal de comprometimento com a democracia. O mais realista hoje é imaginar que podemos (os signatários do manifesto) fazer uma campanha de respeito mútuo que construa convergência futura e tentarmos, já agora, algumas plataformas em comum.

Quais plataformas em comum?

Vou propor, assim que houver maturidade... Vou conversar com o PSDB, que hoje tem problema interno que não vou interferir. A esmagadora maioria acha inconveniente a candidatura do Doria. Falo isso porque tenho relação íntima com muitos no PSDB, como o Tasso. Se o Doria insistir, vão lançar prévias com Eduardo Leite. O Eduardo Leite vencendo, o PSDB ficará mais flexível para compor. É remota a possibilidade de eu ter (como aliado) o PSDB, um partido que tem Fernando Henrique, que tem o governador de São Paulo... Conheço meu lugar, mas preciso sinalizar e vou chamar organicamente partidos como o PSDB para conversar.

Com quais partidos já conversou?

Com o DEM há conversa que já deu frutos. Com apoio do PDT, que indicou a vice, o candidato do ACM Neto, presidente do DEM, venceu a eleição no primeiro turno em Salvador. Com o PSD, fomos de apoio ao Kalil em BH e iremos apoiá-lo no ano que vem ao governo de Minas. A nossa tática, do PDT, é agrupar PSB, PV, Rede, como fizemos em muitas cidades em 2020, e expandir aliança para a centro-direita com o DEM e o PSD. Muitas dessas conversas são conduzidas pelo (presidente do PDT) Carlos Lupi, único que fala 100% por mim.

Em 2018, apenas o Avante aderiu à sua coligação. Não teme que Lula concentre o apoio da esquerda e do centro, reduzindo o seu tempo de TV e palanques regionais?

Quando Lula entra na disputa, faz tremer tudo o que está posto. Essa é a característica dele. Tenho afeto por ele, mas não admiração porque ele não tem nenhum tipo de escrúpulo ou limite. Então ele promete ao Guilherme Boulos (PSOL) que o apoiará ao governo de São Paulo, mas mantém a candidatura do Haddad. Em Pernambuco, fizeram tudo para derrotar o filho do Eduardo Campos no ano passado, mas agora Lula foi para lá e diz que sempre foi amigo de infância do PSB. Oferece o posto de vice ao PSB e, ao mesmo tempo, ao Josué Gomes.

Em setembro, o senhor e Lula se encontraram no Instituto Lula. Muita gente teve a impressão de que haveria uma reaproximação...

Foi nosso último encontro. Depois, nem por telefone. Naquela ocasião, estava um extremo azedume entre as nossas militâncias. E o Camilo Santana fez esforço enorme para unificar. Achei que devia colaborar. Mas Lula virou uma pessoa que, o que diz de manhã, já não serve de tarde. Está tomado de ódio. Tudo o que domina Lula hoje é a vontade de se vingar. Lula tem cinismo. A gente faz monitoramento de rede. Eles continuam atacando a mim e a outras pessoas na blogosfera. Lula dá a ordem, eles fazem. Se existe gabinete do ódio com Bolsonaro, com o PT é igualzinho.

Essa subida no tom da sua parte não inviabilizaria o eventual apoio do PT ao senhor caso vá para o segundo turno contra um candidato que não seja Lula?

O lulopetista fanático não me apoiará. Prefere Bolsonaro. E falo isso como alguém que foi contra o golpe de Estado contra Dilma, apesar de ela ter desastrado o país. No Senado, Renan Calheiros e Eunício Oliveira apoiaram o impeachment. Aí, eu parto para cima dessa gente. E, um ano depois, lá está Lula agarrado a eles. E ainda tem quem ache que devo alguma coisa ao PT. Nunca mais faço aliança com eles.

Elio Gaspari:O que falta a Bolsonaro é seriedade

Em 2018, muitos na esquerda o criticaram por viajar para Paris no segundo turno da eleição, em vez de declarar apoio a Haddad contra Bolsonaro. O senhor se arrepende disso?

Pelo contrário. Eu faria hoje com muito mais convicção. Em 2018, fiz com grande angústia. Aquela eleição já estava perdida. Mesmo somando meus votos com os do Haddad, não alcançaríamos Bolsonaro. Lula mentiu para o povo dizendo que era candidato quando todos sabiam que não seria. Manipulou até 22 dias antes da eleição, deixando parte da população excitada.

Em caso de segundo turno entre Bolsonaro e Lula em 2022, vai para Paris de novo?

Como brasileiros não podem viajar para a França pela pandemia, nesse caso vou para Tonga da Mironga do Kabuleté (referência à música de Vinicius de Moraes e Toquinho).

Defina Bolsonaro, Doria, Mandetta, Huck e Lula em uma palavra ou expressão para cada.

Genocida. Não conhece o Brasil. Bem intencionado. Animador de auditório. Ególatra.

Como caminhará o PDT no Rio e em São Paulo na disputa ao governo do estado?

Em São Paulo, a situação está indefinida. No Rio, podemos lançar o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) ou apoiar o deputado Marcelo Freixo (PSOL).

 

O candidato do STF - J.R.Guzzo, O Estado de S.Paulo

Supremo Tribunal Federal, após anos e anos de trabalho conduzido ora em público, ora em segredo e sempre em circunstâncias tão obscuras que é melhor nem mexer com essa parte da história, acaba de conseguir o que queria desde que a casa de Lula caiu e ele acabou condenado por corrupção e lavagem de dinheiro: concluiu oficialmente, com todos os seus agravos, embargos e demais papelada, a maior obra da falsificação jamais registrada na história da Justiça brasileira. 

Através dessa fraude, executada em câmera lenta e com repetidos acessos de grosseria na malversação da lei, os 11 ministros do STF transformaram em candidato à Presidência da República um réu condenado em terceira e última instância, com provas, testemunhas e confissões voluntárias, por nove juízes diferentes – e há pouco saído de quase 600 dias no xadrez. 

O STF vive de suicídio em suicídio, tornando incompreensível para o público, a cada sentença, a ideia de que lei e moral devem andar juntas – não há nenhuma surpresa, portanto, em mais esse comportamento aberrante, quando se leva em conta que as suas decisões, cada vez mais, conduzem à negação permanente da justiça neste país. O que importa, agora, é que o STF ocupa abertamente o governo do Brasil – e está dizendo a todo mundo que tem, sim, um candidato próprio à Presidência da República em outubro de 2022. 

Esqueçam o PT, a manada de anões que sobrevivem às custas do fundo partidário, a pasta disforme de governadores e aventureiros que querem, como sempre, montar num cavalo que os carregue para dentro da máquina estatal, sempre tão lucrativa para eles. Esses estão sempre ali, sentados na porta do chefe, na esperança de receberem uma ordem para obedecer. 

Lula, agora e em 2022, não é o candidato deles. É o candidato do Supremo. Lula não é bobo, claro – não vai querer que o tratem assim, porque não é diretor da OAB, não é bispo e não é intelectual orgânico que vai em mesa redonda de televisão debater ciência política com comunicadores sociais. Ele sabe muitíssimo bem o que é o STF, sabe perfeitamente o que povo brasileiro pensa do STF e vai dar graças a Deus se puder ir do começo ao fim da campanha eleitoral inteira sem falar as letras “S”, “T” e “F”.

Lula vai querer o STF – tão elogiado no Brasil civilizado, equilibrado, democrático, de “centro esquerda”, “liberal”, etc. etc. etc. – a 1.000 quilômetros de distância do seu palanque. Aqui não, pelo amor de Deus. Já imaginaram se Lula tivesse de atravessar o Viaduto do Chá, de ponta a ponta, com Gilmar Mendes a seu lado, sorrindo para a galera? Se for assim, ele nem sai candidato. Mas isso não vai acontecer, porque não há a menor necessidade que aconteça.

Quem salvou Lula? Foi o STF, sim, mas o ex-presidente não precisa ficar agradecendo o tempo todo e atraindo ódio para cima de si mesmo; ele nunca foi bom, por sinal, no quesito “solidariedade”. Lula e o STF são um amor a ser vivido a distância. Ele pode não querer muito o STF, mas é ele quem o STF quer; vão arranjar rapidinho um esquema mutuamente proveitoso de convívio, e têm tudo para iniciar uma “longa amizade”, como no filme Casablanca

A má notícia aí é para os outros, que ficaram sonhando pelo pacto STF-Lula, na crença de que isso ia provocar um terremoto no governo, e quando acordaram viram que estavam na chuva – e põe chuva nisso. A anulação das quatro ações penais contra Lula, desgraçadamente para todos eles, teve também o efeito imediato de anular cada uma das suas candidaturas. 

Imaginava-se uma resposta culta, moderna e desinfetada para Jair Bolsonaro: com a decisão do Supremo viraram subitamente um grande zero. É onde estamos.

*É JORNALISTA

Entre Lula e Bolsonaro, a escolha é fácil

Se não houver surpresas, deveremos ter no próximo pleito presidencial um embate entre Luiz Inácio Lula da Silva, que acaba de ser liberado pelo STF para concorrer, e o presidente Jair Bolsonaro.

Não é o meu cenário de sonhos. E não digo isso porque considere Lula um perigoso radical. Ele já esteve no poder e fez um governo bem "neoliberal", marcado por generosos superávits primários. Também soube respeitar o sistema democrático, embora tenha tido condições políticas de torcê-lo para beneficiar-se. Ele poderia, por exemplo, ter conseguido que o Congresso aprovasse uma PEC retirando os limites à reeleição. Não o fez, e isso é digno de crédito.

Duas coisas me incomodam na candidatura Lula. A primeira é que o PT, em tese o partido moderno de centro-esquerda do Brasil, já deveria ter superado a fase das lideranças personalistas que mandam e desmandam na legenda.

A segunda é a questão da ética. Lula não foi julgado por um juiz equidistante das partes, e isso justifica a anulação de suas condenações. Mas, pelo menos para meu tribunal ético interno, ele precisaria explicar melhor as histórias do apartamento no Guarujá e do sítio em Atibaia, além do fato de manter relações promíscuas com empreiteiros confessadamente corruptos. Pela régua moral do jovem PT, isso bastaria para a sua expulsão do partido.

O caso de Bolsonaro é mais cristalino. Ele é radical (de extrema direita) e não tem nenhum apreço pela democracia. Tem feito um governo desastroso em todos os aspectos, a começar da gestão da pandemia. Se nossas instituições fossem só um pouquinho melhores, ele já teria sofrido impeachment e estaria respondendo por crimes comuns. Mas, como estamos no Brasil do centrão e do eleitor complacente, ele deve chegar ao fim do mandato, talvez até como candidato competitivo à reeleição.

Não sei quanto a você, leitor, mas, entre o "corrupto" e o "assassino", a escolha não me parece difícil.

Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Para o País sair do pesadelo, é preciso oposição mais forte; leia análise

Fernando Luiz Abrucio*, O Estado de S.Paulo

17 de abril de 2021 | 23h13

Quem assistiu ao debate organizado pela Brazil Conference com cinco potenciais candidatos à Presidência da República –  Ciro Gomes, João Doria, Fernando Haddad, Luciano Huck e Eduardo Leite – teve contato com diagnósticos precisos e bem elaborados sobre a realidade brasileira. A despeito das diferenças políticas, e numa discussão que evitou a polarização tóxica, prioridades comuns foram destacadas: melhorar a educação, combater a desigualdade, criar um modelo de desenvolvimento sustentável, modernizar a gestão pública, fortalecer a saúde pública, em suma, sintonizar o País com os desafios do século 21.

Brazil Conference
Ciro Gomes, Eduardo Leite, Fernando Haddad, João Doria e Luciano Huck, durante painel da Brazil Conference mediado por Eliane Cantanhêde e Hussein Kalout Foto: Reprodução

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O problema é que o Brasil está sendo governado por uma postura oposta. Vigora o negacionismo científico frente à pandemia, o descaso educacional, o desastre ambiental, a postura presidencial autoritária e a incompetência governamental. As luzes do debate de ontem se contrapõem ao pesadelo vivido pelo País hoje.

Mas 2022 pode repetir 2018, não se pode esquecer disso. Duas coisas podem evitar isso. Primeiro, todos devem estar contra Bolsonaro e aumentar sua pressão contra o presidente. O sofrimento diário dos brasileiros na pandemia precisa de uma oposição mais forte do que a atual. E a grande lição deste sábado: é preciso ter mais debates públicos, não só pela internet, mas também pela imprensa escrita e televisiva. Isso não pode ocorrer somente no período eleitoral de dois meses. Em boa medida, a falta de discussão política da última eleição favoreceu a escolha que gerou o pesadelo. Melhores ideias precisam vencer o populismo autoritário. 

Espesso nevoeiro - Pedro S. Malan, O Estado de S.Paulo

A tarefa de construir uma coalizão em torno da ideia de um “centro ampliado” tornou-se ainda mais complexa. Trata-se agora de se diferenciar, aos olhos do eleitorado, em duas frentes: a de Bolsonaro e a de Lula, ou de quem vier a ser seu candidato. Em ambas haverá que formar uma visão minimamente clara sobre onde estamos, e como chegamos até aqui, como base indispensável para projetar uma visão do futuro – que é o que importa.

Quanto a Bolsonaro, suas perspectivas dependem da avaliação de seu governo, que por sua vez depende do avanço da covid-19 e da evolução da economia, inexoravelmente imbricados, pelo menos nos próximos 12 meses. Em instigante artigo recente, O paradoxo do bolsonarismo e a tragédia brasileira (Folha 28/03), João Cesar de Castro Rocha identifica um paradoxo: “O êxito do bolsonarismo na guerra cultural implicaria o fracasso do governo Bolsonaro na administração da coisa pública”.

Cobra preço alto o esforço cotidiano do presidente e de seu núcleo duro para manter suas redes digitais permanentemente mobilizadas, em constante estado de excitação, em torno de fatos alternativos e realidades paralelas. Preço particularmente alto em razão da postura do presidente diante da tragédia da pandemia. Ele deriva da percepção, cada vez mais clara, da inépcia em implementar políticas públicas consistentes nas áreas não só de saúde, como de educação, cultura, meio ambiente e relações internacionais, para citar as deficiências mais patentes de um governo disfuncional. Bolsonaro pode chegar a um segundo turno, mas, talvez, ser derrotado então. Tudo vai depender dos próximos 18 meses, ou menos que isso.

Lula, ao que tudo indica, deve disputar a eleição presidencial em 2022. Seria a nona vez, diretamente ou por interpostas pessoas. Das cinco primeiras, perdeu três (1989, 1994 e 1998), duas das quais no primeiro turno; e ganhou duas (2002 e 2006), em ambas tendo de enfrentar um segundo turno. Na sexta (2010) escolheu aquela a quem chamou de “melhor gerente” que o Brasil teria conhecido – gerente que o próprio Lula bem conhecia, já que era chefe de sua Casa Civil havia cinco anos. Na sétima (2014), a contragosto talvez, manteve-se ao lado de Dilma. Na oitava, com Haddad. Foram atropelados, ambos – e o próprio Brasil –, não por um candidato de “centro” (eram vários), mas pelo fenômeno Bolsonaro.

Chega agora sua nona chance. Muitos o consideram imbatível. É estranho que, a 18 meses das eleições, tantos julguem que o jogo já está decidido: será Lula contra Bolsonaro. Cuidado com o que desejas, diz o velho ditado. Há jogo pela frente.

Indicação importante disso foi a carta de 22 de março assinada por seis pré-candidatos ou potenciais candidatos. Enquanto os mais céticos não viram na carta maiores consequências, muitos lhe atribuem importância mais do que simbólica: sinal de que os seis conversaram e de que estão abertos a conversar ao longo dos próximos meses. Porque a alternativa é a dispersão e fragmentação, e o consequente risco de termos em 2022 uma polarização como em 2018. Cabe àqueles que julguem que essa não seria a melhor solução para o Brasil – e não queiram limitar-se a especular sobre isso em suas bolhas – envolver-se da forma que lhes pareça mais apropriada. E assim, talvez, ajudar na construção de coalizão eleitoralmente competitiva. Não é fácil. Mas é preciso acreditar que não é impossível.

Exemplos não faltam. Na semana passada, nada menos que dez ex-ministros da Justiça assinaram carta aberta Contra as Armas e pela Democracia. Posicionaram-se contra a política de armamento da população como potencial instrumento de ação política e sugeriram ação junto ao Congresso e ao Judiciário.

Também na semana passada, o fundador e presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirmou em entrevista que “quem errou na pandemia terá dificuldades nas eleições”. Que dizer de erros na Educação, que desde o início deste governo teve 4 ministros (se incluída a escolha de Decotelli), 4 ou 5 secretários-gerais, 5 secretários de educação básica, 4 chefes do Inep, 3 secretários de educação superior? Com tanta gente competente na área de educação, o Brasil tem, na cúpula desse ministério tão relevante, há mais de 2 anos e 3 meses, um deserto de ideias. E pensar que se trata de área tão determinante para definir o que seremos ou não seremos no futuro.

Na educação, assim como em outras áreas-chave, nosso truncado desenvolvimento econômico e social é função de investimentos que não fizemos no passado e, não menos importante, de investimentos mal feitos – que fizemos e tanto nos custaram, custam e ainda custarão. Na área de infraestrutura física, infraestrutura humana (educação, saúde) como no combate gradual, mas consistente, à desigualdade de oportunidades, que está na raiz da permanência de miséria e pobreza no País.

Como está também na percepção, justificada, de iniquidade e de injustiça que existe em nossa sociedade, agravada em muito pelas graves consequências da pandemia sobre a economia, o emprego, a renda e a saúde pública. Consequências que estarão conosco no que resta deste trágico 2021 e, certamente, ainda em 2022.

 

ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC E-MAIL: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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