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FH sobre Lula: 'Melhor alguém novo no jogo'

SÃO PAULO — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que “uma hora as pessoas devem passar o bastão” em referência ao também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e defendeu um nome de centro para 2022. A declaração foi dada em entrevista à Radio CBN.

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— Chega uma hora que as pessoas devem passar o bastão e me refiro ao presidente Lula. Que novidade ele vai trazer? Para o Brasil, seria melhor alguém realmente novo no jogo. Bolsonaro dificilmente vai representar algo diferente do que representou, que foi o "não ao PT". Ou rompemos essa dicotomia ou o Brasil vai atrapalhar o futuro — disse FH.

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O tucano defendeu um nome de centro que seja comprometido com a ”democracia e progresso econômico”. Manifestou apoio a João Doria (PSDB), governador paulista, mas afirmou que pode apoiar Ciro Gomes (PDT), se este for “capaz de levantar votos”:

— Tem que ter alguém que expresse um sentimento de futuro. E esse futuro está altamente prejudicado agora pela saúde pública, a concentração de renda e o desemprego.

O ex-presidente afirmou que é “melhor para o Brasil” que Bolsonaro complete o mandato, pois o país já viveu vários impeachments e isso "deixa marcas". O tucano destacou, no entanto, que o futuro depende do atual presidente. "Está nas mãos dele", avaliou. Também criticou a atual gestão:

— O presidente governa para o grupo, a família, os partidários e os amigos dele.

FH afirmou ainda que Bolsonaro tem o histórico de um homem que olha apenas para um lado, seja no Brasil ou no exterior.

— Bolsonaro vê o outro lado como inimigo, e não como adversário — afirmou. O GLOBO

Fundador do RenovaBR lança livro em que critica Lula e Ciro, justifica voto em Bolsonaro e celebra Huck

Joelmir Tavares/ folha de sp
SÃO PAULO

"Mudar a política no Brasil", utopia do RenovaBR, não é algo que se faça sem o apoio de muitos amigos nem sem deixar alguns inimigos pelo caminho, conforme o relato do empresário Eduardo Mufarej, fundador da escola de políticos, em livro que será publicado nos próximos dias.

"Jornada Improvável - A História do RenovaBR, a Escola Que Quer Mudar a Política no Brasil" (ed. Intrínseca) narra, sob o ponto de vista de Mufarej —investidor e executivo convertido em uma espécie de mecenas da renovação política—, a criação do curso para capacitar potenciais candidatos.

De 2017 para cá, quase 2.000 aspirantes a cargos eletivos, sem experiência prévia, passaram pelo treinamento. Foram eleitos 17 parlamentares no pleito de 2018 e, no de 2020, 153 vereadores e prefeitos, distribuídos entre 25 legendas, ratificando o discurso de apartidarismo da entidade.

Em sua primeira turma, o Renova elegeu deputados federais como Tabata Amaral (PDT-SP), Felipe Rigoni (PSB-ES), Joenia Wapichana (Rede-RR) e Vinicius Poit (Novo-SP). Em 2020, ajudou a levar Cris Monteiro (Novo) e Rubinho Nunes (Patriota) à Câmara Municipal de São Paulo, por exemplo.

As controvérsias, cobranças e críticas que compõem o pano de fundo da história também estão no livro, como a adaptação no formato para evitar problemas judiciais com base na proibição de doações privadas para campanhas e a permanente desconfiança sobre intenções e interesses do projeto.

Na obra, Mufarej —um dos fundadores do Novo, partido do qual se afastou ao criar o Renova— apresenta a iniciativa como fruto de sua inquietação com os rumos da política brasileira pós-2013 e o despreparo da maioria dos eleitos, com impactos na "capacidade de geração de riqueza do país".

Desfia críticas à era PT e diz que a polarização começou na corrida presidencial de 2014, vencida por Dilma Rousseff "por uma pequena diferença de votos em relação ao adversário", Aécio Neves (PSDB), "em uma eleição duríssima e muito suja".

O autor narra um encontro com o ex-presidente Lula do qual participou, meses antes daquele pleito, a convite do empresário Abilio Diniz —um dos amigos do PIB nacional que se entusiasmariam mais tarde com sua ideia de fundar um curso para preparar novos políticos.

Na obra, Mufarej conta que, "atentamente, sem raiva", escutou Lula, que ele considera ter sido, possivelmente, quem "teve a maior oportunidade de apontar o Brasil para a direção certa".

"Beneficiou-se de um período extraordinário da economia internacional e tomou medidas competentes de combate à pobreza [...]. Mesmo assim, como muitos que o antecederam, acabou fracassando por ceder às más práticas e ao personalismo", escreve sobre o petista.

Veio daí, segundo ele, a decisão de dar seu voto a Jair Bolsonaro (à época no PSL, hoje sem partido) na corrida presidencial de 2018 —no primeiro turno, foi de João Amoêdo (Novo). "Não dava para votar no PT. O partido de Lula tinha quebrado o país. [...] No segundo mandato de Dilma Rousseff vi o país na UTI."

Descrevendo-se como "um cara de centro-direita em algumas pautas e de centro-esquerda em outras", Mufarej justifica sua escolha pelo viés econômico. Diz ter optado por um caminho de responsabilidade fiscal e recuperação da confiança.

"Não o conhecia [Bolsonaro] pessoalmente nem aos filhos: meu voto de confiança, como de tantos empresários e empreendedores, foi dado a Paulo Guedes [ministro da Economia], que, na fase de composição do novo governo, chegou a sugerir que eu me juntasse aos esforços", afirma.

Seu nome foi cotado para o Ministério da Educação, área com a qual tinha proximidade, em razão do trabalho no setor privado, em companhias como a Somos Educação. Foi por causa dos negócios que Mufarej já tinha uma relação próxima com Guedes, "em quem confiava havia muitos anos".

Em entrevista à Folha em janeiro, o empresário afirmou que não se arrepende do voto em Bolsonaro porque tomou a decisão com base nas informações que tinha àquela altura.

Hoje frustrado com o presidente, ele diz no livro que fica "aliviado por não ter aderido ao governo", ocupando cargo, e que seu voto "jamais significou passar a mão na cabeça de ninguém, acontecesse o que acontecesse".

Cita entre "os inúmeros tiros no pé" de Bolsonaro "os ataques à imprensa, as brigas desnecessárias com outros países, os equívocos na política ambiental e o descuido profundo com a nossa imagem no exterior".

Outro personagem do universo político tratado no livro é o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que ocupou manchetes em meados de 2019 desancando o Renova no contexto da briga do partido com Tabata Amaral, pelo voto dela favorável à reforma da Previdência na Câmara dos Deputados.

Ciro atribuiu o sim ao projeto, mesmo depois da orientação do PDT para que a bancada o rejeitasse, à participação de Tabata na escola de capacitação e no movimento Acredito. Falou que a parlamentar, filiada ao PDT com o incentivo dele, compunha "partidos clandestinos" e fazia "dupla militância".

"Ciro acha que ungiu Tabata", escreve o autor, para quem o pedetista desconhece a trajetória de vida da deputada. "Aliás, é assim que alguns atores da política nacional se comportam. Na visão deles, ninguém chega por mérito: chega se alguém permitiu, e pelas mãos dessas pessoas que 'autorizaram'."

Mufarej usa a obra para repisar o mantra da renovação, a necessidade de atrair "gente boa" (um dos slogans da entidade é o de transformar pessoas comuns em "políticos fora do comum") e a defesa de uma reforma no sistema, com debates, por exemplo, sobre a volta do financiamento por pessoas jurídicas.

Sua mensagem é a de que, sem mudanças, a política "acabaria por afundar o país" e, portanto, cabe à sociedade civil organizada fazer propostas e agir. No caso do Renova, o apoio pode ser dado via doações em dinheiro, que em 2019 vieram de 1.478 pessoas, totalizando R$ 11,4 milhões.

Amigo do apresentador Luciano Huck, envolvido na criação do Renova desde o início e integrante do conselho consultivo da entidade, o empresário é breve ao falar do que pode ser um problema para a escola em 2022: a possibilidade de que Huck saia candidato à Presidência da República.

A situação é incômoda porque suscita teses como a de que a organização funcionaria como plataforma de sustentação da candidatura (o que seria desmentido pela capilaridade partidária dos inscritos). E, mesmo que o conselheiro se afaste formalmente, a bandeira de isenção ficaria sob suspeita.

Mufarej aponta no livro a preocupação de Huck em evitar sequestrar as atenções com sua participação e combate narrativas como a de que o comunicador da TV Globo seria "um dono" do projeto. Diz que torceu fortemente para que ele concorresse em 2018, por enxergar condições favoráveis à vitória.

"Não concordamos em tudo, mas nos tornamos bons amigos. Luciano é um cara muito preparado, que tem o coração no lugar certo e quer fazer as coisas do jeito certo", afirma ele, que estava com Huck no Carnaval de três anos atrás, em viagem a Angra dos Reis (RJ), quando ele recuou da candidatura.

"Não tenho dúvidas de que Luciano é a cara da renovação. Mas o Renova —nunca é demais dizer— não é um partido político [...], não tem candidato. Apoia a democracia brasileira", completa.

À Folha Mufarej diz que gostaria que o Brasil "tivesse a capacidade de produzir um novo projeto", que fuja à oposição entre Lula e Bolsonaro. "São dois projetos que não deram certo. Precisamos de um que fale menos do passado e mais de futuro. Há uma excelente oportunidade para uma terceira via."

O Renova, segundo ele, manterá a atuação voltada a candidatos novatos para o Legislativo. "Há um desequilíbrio de forças entre aqueles que detêm o poder e os que têm o desejo de participar. A mensagem mais importante é a de refutar o populismo, evitar soluções fáceis para problemas complexos."

O empresário diz que, com o livro, buscou esclarecer pontos cruciais da trajetória da iniciativa, mas sem a pretensão de colocar a escola como o único caminho. "São múltiplos caminhos, mas é importante que a sociedade se mobilize. Se esse livro servir para estimular o inconformismo, estarei feliz."

JORNADA IMPROVÁVEL - A HISTÓRIA DO RENOVABR, A ESCOLA QUE QUER MUDAR A POLÍTICA NO BRASIL

  • Preço R$ 44,90. 192 págs.
  • Autor Eduardo Mufarej
  • Editora Intrínseca

LULA, CIRO, DORIA, MORO E MAIS: PESQUISA APONTA ONDE OS POSSÍVEIS PRESIDENCIÁVEIS TÊM MAIOR CHANCE DE VOTO

Bernardo Mello / epoca

 

RIO - Enquanto o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro são citados como opção de voto por mais de 40% dos moradores da região Sul, cerca de um terço dos eleitores do Nordeste admite votar em Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) na eleição presidencial de 2022 -- embora, neste caso, o líder em preferência seja o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujas condenações na Lava Jato foram anuladas nesta segunda (8). Estes são alguns dos dados obtidos em pesquisa realizada no fim de fevereiro pelo IPEC (Inteligência, Pesquisa e Consultoria), instituto formado por antigos executivos do Ibope. A margem de erro é de dois pontos.

O levantamento mediu a aprovação atual de dez possíveis presidenciáveis em todo o país. Nele, o apresentador de TV Luciano Huck, que nunca concorreu a um cargo eletivo, aparece com maior potencial de voto do que nomes com bagagem política, como a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). Entre os nomes pesquisados, Guilherme Boulos (PSOL) foi o menos citado como opção de voto, com 10%.

Diferentemente de uma pesquisa de intenção de voto, o IPEC não pediu aos entrevistados que escolhessem um candidato de sua preferência, mas sim que respondessem caso a caso se poderiam votar ou não nos possíveis presidenciáveis. Lula foi citado como opção de voto por 50% dos eleitores: 34% disseram que “com certeza votariam” no ex-presidente, caso possa concorrer em 2022, e outros 16% afirmaram que “poderiam votar” nele. Já o percentual de rejeição a Lula, de 44%, é o menor da pesquisa -- quem mais se aproxima deste número é Mandetta, com 45%.

À época da realização da pesquisa, Lula estava inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, por ter sido condenado em segunda instância pela Lava-Jato. Nesta segunda-feira, porém, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin anulou as condenações, o que torna o ex-presidente elegível novamente. Antes disso, Lula já havia apontado Haddad, ex-ministro da Educação e candidato à Presidência na última eleição, como presidenciável novamente em 2022. Haddad tem 27% de potencial de voto, pouco mais da metade do índice dos que admitem votar em Lula. Ciro, que também participou da gestão do ex-presidente, mas tem criticado o petista recentemente, está no mesmo patamar de Haddad, com 25%.

Rejeição em alta

Luciano Huck, citado como opção de voto por 28% dos eleitores, é lembrado especialmente pelos eleitores mais pobres, com renda mensal de até dois salários mínimos, e também entre os mais jovens, grupo no qual 35% admitem a possibilidade de votar no apresentador -- que ainda não decidiu se entrará de vez na política. Desconhecido para apenas 13% dos entrevistados, segundo a pesquisa, Huck enfrenta suas maiores resistências entre homens (64%), entre os que fizeram ensino superior e também naqueles com maiores rendas. Na faixa mais rica, por exemplo, 70% dizem não votar em Huck.

A distribuição da rejeição é similar à encontrada por Doria, rechaçado por quase dois em cada três eleitores dos grupos com maior escolaridade, mais ricos ou do sexo masculino. No caso do governador de São Paulo, contudo, as rejeições altas aparecem justamente nos segmentos em que ele teria, em tese, maior chance de voto de acordo com a pesquisa. No Sudeste, por exemplo, apesar de 17% afirmarem que poderiam votar no tucano, 63% dizem que não votariam de jeito nenhum.

De modo geral, 15% dos eleitores brasileiros admitem optar por Doria na próxima eleição presidencial, enquanto 25% dizem ainda não conhecê-lo “o suficiente para opinar”. Mandetta, que aparece com o mesmo potencial de voto de Doria, é considerado desconhecido por 40% dos eleitores.

Doria, Huck e Bolsonaro estão em patamares semelhantes de rejeição: beiram os 60%, considerando a margem de erro. Nenhum deles, no entanto, lidera o ranking de presidenciável mais rechaçado atualmente. O posto cabe a Marina Silva, que é descartada como opção de voto por 59% dos entrevistados, número que pode chegar a 61% com a margem de erro. Votar em Marina é tido como possibilidade para 21% dos entrevistados.

Preferência evangélica

Segundo a pesquisa, 38% dos eleitores admitem a chance de votar pela reeleição de Bolsonaro. Em relação a Moro, o índice é de 31%. Rompidos em abril de 2020, quando o então ministro da Justiça deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal, Moro e Bolsonaro têm perfis distintos de apoio, apesar do desempenho semelhante no Sul do país. O ex-juiz da Lava-Jato, que condenou Lula, é lembrado como opção de voto principalmente por eleitores mais ricos e mais escolarizados, onde supera os 36% de preferência. São esses os segmentos, por sinal, que mais rejeitam o petista, num patamar superior a 50%.

Bolsonaro, por sua vez, é o mais lembrado pelos evangélicos: 53% consideram votar no atual presidente. Embora 42% digam não votar no presidente de jeito nenhum, trata-se ainda assim da menor rejeição apresentada pelo segmento.

Com rejeição acima de 60% entre os mais escolarizados, os mais jovens (até 24 anos de idade) e as mulheres, Bolsonaro tem seu pior desempenho entre os nordestinos: 66% dizem não votar “de jeito nenhum” no atual presidente. É nesta região que Lula aparece com mais força, seguido de longe por concorrentes associados ao mesmo campo ideológico. Entre os eleitores do Nordeste, 71% dizem ao menos que poderiam votar em Lula. Com Haddad e Ciro, o número cai para 35% e 34%, respectivamente. Bolsonaro, apesar da alta rejeição, é citado como opção de voto por 31% dos nordestinos.

O IPEC entrevistou presencialmente 2.002 pessoas em 143 municípios, entre os dias 19 e 23 de fevereiro. O nível de confiança apontado pela pesquisa é de 95%.

 

PSDB, DEM e MDB se reaproximam por protagonismo nas eleições de 2022

Pedro Venceslau e Bruno Ribeiro, O Estado de S.Paulo

03 de abril de 2021 | 05h00

Dois meses após a vitória de Arthur Lira (PP-AL) na disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, dirigentes do DEMPSDB MDB intensificaram as conversas sobre as eleições de 2022 e subiram o tom no discurso de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. A relação entre os três partidos ficou abalada após a eleição para a presidência da Casa, quando Lira recebeu 302 votos e venceu Baleia Rossi (MDB-SP) no primeiro turno com apoio de deputados do DEM, que liberou a bancada, e do PSDB. 

No momento em que Bolsonaro abre espaço para o Centrão, em busca apoio para tentar se reeleger, as três legendas pregam unidade no ano que vem em torno de um nome competitivo que possa quebrar a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Palácio do Planalto. O assunto foi tratado em um almoço na semana passada em Brasília que reuniu o presidente do PSDB, Bruno Araújo, do DEM, ACM Neto, e os líderes das duas bancadas, Rodrigo Castro (PSDB-MG) e Efraim Filho (DEM-PB). 

ACM Neto
O presidente do DEM, ACM Neto; saída de Rodrigo Maia e Rodrigo Garcia do partido são temas sensíveis na sigla Foto: Werther Santana/Estadão (18/9/2018)
 

Lideranças do DEM e do PSDB estiveram no centro da articulação do manifesto em defesa da democracia que reuniu seis presidenciáveis nesta semana. O movimento consolidou a percepção de que esse consórcio partidário deve estar afinado com as outras forças do chamado “polo democrático”. Esse é o nome do grupo de WhatsApp que reúne os seis signatários do manifesto, além do ex-juiz Sérgio Moro. 

“A união entre DEM, MDB e PSDB fortalece o campo democrático para as eleições de 2022 e une partidos cujas lideranças têm pensamentos muito próximos e relações profundas”, disse o governador João Doria ao Estadão

Por ora, ainda não há consenso em relação aos nomes que estão colocados à mesa: os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), do PSDB, o apresentador Luciano Huck, e os ex-ministros Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Brasileiro quer líder que priorize o País e não as eleições

Matheus Lara, O Estado de S.Paulo

28 de março de 2021 | 14h00

“Só um ano de atraso”, foi uma das frases irônicas que invadiram as redes sociais após o anúncio, na quinta-feira passada, da criação de um comitê para discutir e pôr em prática ações integradas de combate à covid-19 no Brasil. Após reunião com os presidentes da Câmara, do Senado, do Supremo Tribunal Federal (STF), alguns governadores e ministros, o presidente Jair Bolsonaro prometeu um trabalho conjunto e disse acreditar que o melhor caminho para tirar o País da crise é “sem qualquer conflito, sem que haja politização”.

A postura e o discurso do presidente, porém, destoam da forma como o Brasil assistiu à condução da pandemia nos 13 meses anteriores. Em meio a uma crise sanitária sem precedentes e um número cada vez maior de mortos, o período foi marcado por conflitos do presidente – que se opôs a medidas de isolamento e criticou vacinas – com governadores e prefeitos.

Uma consequência desta “pane” federativa pode ser vista num levantamento da Ipsos e do Global Institute for Women’s Leadership publicado neste mês: após um ano conturbado de pandemia, uma parcela majoritária dos entrevistados no Brasil disse querer que seus líderes coloquem os problemas do País como prioridade à frente de suas próprias ambições políticas.

É o que pensa a advogada Valéria Martins, de 35 anos, do Rio de Janeiro, que acompanhou de perto o drama de amigos que perderam familiares para a doença ou que estão desempregados na crise. “Essas brigas políticas só pioram a nossa situação, tanto na questão da saúde, como financeira. Estão pensando nas eleições e não em ajudar o povo”. A mineira Amanda de Paula, que trabalha com administração de empresas, tem o mesmo ponto de vista: “Eu esperava que atitudes tivessem sido tomadas bem antes do caos todo”.

O estudo da Ipsos pediu a mais de 20 mil entrevistados de 28 países que apontassem cinco características prioritárias que esperam de um líder para reverter a crise do coronavírus. Entre os brasileiros, a principal urgência, citada por 42% dos participantes, foi o desejo de que políticos priorizem os interesses do País ao invés de suas próprias carreiras. Esta e outras características como “ser honesto”, “tomar decisões certas na hora certa” e “agir rápido para proteger as pessoas” tiveram, entre os brasileiros, suporte mais alto do que a média dos países pesquisados.

 

Valéria Martins, advogada
Valéria Martins, advogada, moradora do Rio: 'Estão pensando nas eleições e não em ajudar o povo' Foto: Wilton Junior/Estadão

“Essas questões são mais percebidas como mais importantes por aqui”, disse Marcos Calliari, presidente da Ipsos no Brasil. “A capacidade de enfrentar a pandemia e suas desastrosas consequências, em um país que foi particularmente atingido, requer, no olhar da população brasileira, capacidade de entender os problemas da população e protegê-la, comunicar-se bem e pensar no País.”

Apesar de agora abrandar o tom negacionista e falar que o governo nunca se opôs à vacinação, durante meses Bolsonaro duvidou da eficácia das vacinas, chegando a barrar uma decisão do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de comprar a Coronavac e chamou o imunizante de “a vacina chinesa de João Doria”. Filiado ao PSDB, o governador de São Paulo é um potencial adversário de Bolsonaro na disputa presidencial do ano que vem. “É normal que haja dissenso em alguns pontos do combate à pandemia como houve com o auxílio emergencial acerca do valor e até do auxílio em si, mas a disputa política não pode se tornar algo nocivo ao País e à população. Foi o que vimos com a vacinação”, disse o advogado Augusto Costa, de 25 anos, morador de Sertãozinho, no interior de São Paulo.

Medidas de isolamento social durante a pandemia também estão entre as principais discordâncias de Bolsonaro com gestores estaduais e municipais. Na semana passada, o presidente chegou a ingressar com uma ação no STF para tentar reverter restrições na Bahia, Rio Grande do Sul e Distrito Federal; o pedido foi negado. Recentemente, governadores e prefeitos de grandes capitais se desentenderam publicamente na adoção de medidas de restrição. Casos como o do prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), e do governador do Estado, Cláudio Castro (PSC), de Doria e do prefeito paulistano, Bruno Covas (PSDB). 

O Supremo assegurou a Estados e municípios a autonomia para tomar medidas contra a propagação da doença, mas não exime a União de realizar ações e de buscar acordos com gestores locais.

“Colocar o País à frente da política é um apelo por responsabilidade coletiva, tomar medidas no tempo certo, sem conflito e sem procrastinação é olhar para as necessidades do povo”, diz o cientista político e escritor Sérgio Abranches. “Hoje vivemos uma ameaça existencial e, em muitos lugares, como o Brasil, governos em completo divórcio com o país, com o povo. Várias lideranças, aqui e em quase todos os países democráticos, já entenderam esse anseio coletivo.”

Para o analista de risco político Creomar de Souza, da consultoria Dharma, a combinação de crises na pandemia – sanitária, política, econômica e social – indica uma tendência de debate político mais focado nas necessidades urgentes do País para o pleito do ano que vem. “As duas grandes tendências de debate são saúde pública e desemprego. O debate eleitoral tende a girar nesses dois temas por causa da pandemia, a dificuldade do governo em atender os doentes e a disponibilização de vacinas.”

O cenário de polarização dialoga com outro dado da pesquisa Ipsos: apenas 4% dos entrevistados brasileiros citaram como prioritária a necessidade de que líderes saibam dialogar e atuar conjuntamente com quem pensa diferente. Nenhum outro país do estudo aparece com uma porcentagem tão baixa neste quesito. “Uma parte do eleitorado brasileiro passou firmemente a acreditar nos últimos anos que dialogar com o diferente é uma corrupção de valores. Isso é ruim para a sociedade”, diz Creomar. 

Para Calliari, da Ipsos, o dado indica que a percepção de prioridade deveria desconsiderar as diferenças ideológicas: “Parece haver a percepção de que trabalhar apesar das diferenças políticas não é importante por si só. Há sinais de que a população vê a polarização política, mas importante é trabalhar para atacar o que o País enfrenta, com honestidade, empatia, transparência e competência, independentemente de qual seu espectro ideológico.”

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