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Partidos fazem leilão por candidatos a deputado federal competitivos; ‘passe’ pode valer R$ 1 milhão

Por Vinícius Valfré e Julia Affonso / O ESTADÃO

 

BRASÍLIA - A busca dos partidos por candidatos a deputado federal passa longe da afinidade ideológica ou programática. Dirigentes das siglas nos Estados fazem leilão para atrair nomes com bom potencial e oferecem até dinheiro. O valor do “passe” pode chegar a R$ 1 milhão, fora o que será destinado à campanha. Mesmo candidatos sem chance de vencer, mas com alguma capacidade de atrair votos, estão na mira das legendas.

 

Se antes os partidos podiam se coligar e a soma de todos os votos dados ao grupo ajudava a conquistar uma vaga na Câmara, a partir desta eleição a sigla só poderá contar com seus próprios candidatos. Assim, os votos dos que não ganham a eleição são fundamentais para as “estrelas” da chapa conseguirem uma cadeira de deputado federal.

 

Durante sete meses, o Estadão conversou com dirigentes partidários, deputados, suplentes, advogados, procuradores eleitorais e cientistas políticos e colheu evidências de um mercado de compra de candidaturas. No diagnóstico de especialistas, esse vale-tudo na busca por chapas competitivas corrói a importância das siglas, dificulta coalizões e faz a representação política ser pautada por interesses privados.

Presidente do PMN em Minas Gerais, Agnaldo Oliveira admite que negociatas são comuns e envolvem dinheiro, além do Fundo Partidário: “O cara não tem expressão, tem 25 mil votos, não ganha eleição em partido nenhum. E diz ‘quero vender esses votos’. Vou para o seu partido, quanto você me dá de dinheiro?”.

Esse tipo de candidato é conhecido como “escadinha”: aquele que entra na disputa só para empurrar as estrelas do partido para cima, para alcançarem, na soma final, os votos necessários e se elegerem.

O advogado Marcus Alves, que atua na recriação da velha UDN, partido conservador pré-ditadura militar, tem experiência nesse mercado e afirma que as ofertas não se restringem a recursos do fundo eleitoral, verba legal para financiamento das campanhas. “Hoje o candidato virou uma pedra preciosa. O cara que teve uma votação boa está cobrando para entrar no partido.”

Ele conta que conversou com um candidato que teve 90 mil votos para federal em SP e negocia com três siglas. Uma ofereceu R$ 600 mil, outra R$ 800 mil. Ele quer R$ 1 milhão.

“Os candidatos que tiveram muitos votos estão se valorizando. Quem teve 80 mil votos vale ouro. Pede dinheiro para colocar no bolso, fora o fundo eleitoral. Isso é no Brasil todo”, afirmou Marcus Alves.

Na disputa de 2018 no Distrito Federal (DF), o advogado Paulo Fernando Melo obteve 31 mil votos, distante da média de 73 mil que os eleitos conquistaram. O resultado, porém, tornou o neófito um “candidato” muito cortejado para 2022. Quatro partidos disputaram seu passe: PP, PTB, PL e Republicanos. Ele admite que recebeu oferta de dinheiro, mas diz que, no seu caso, são “recursos para campanha”.

“Sempre oferecem. Não é caixa 2, não. É dentro do fundo (eleitoral), para aqueles 45 dias de campanha. Isso aí é normal oferecer. Uns oferecem menos, outros mais. O dinheiro por si só não elege, né? Já vi muitos candidatos gastarem milhões e não ganharem”, contou o pré-candidato, que decidiu fechar com o Republicanos.

Peregrinação

Dirigente do Avante no Amapá, Adail Barriga foi do Oiapoque ao Javari em busca de candidatos. Percorreu principalmente igrejas evangélicas e centros comunitários porque nesses espaços existem possíveis candidatos, com potencial de voto mensurável. Todo esforço é para conquistar apenas uma das oito cadeiras a que o Amapá tem direito na Câmara dos Deputados.

“Nossa estratégia é essa, para montar uma nominata à altura e em condições de fazer um federal e uma bancada de estaduais. Não adianta a gente colocar aquelas pessoas que serviam de laranja, para complementação de uma chapa. Não vai ser mais viável nesta eleição. Temos que colocar pessoas que tenham potencial de voto”, afirmou.

Barriga também vai lançar um candidato ao Senado. A escolha do nome não tem relação alguma com o programa do partido. Como o principal concorrente à vaga é o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), ex-presidente do Congresso, ele buscou um evangélico para se contrapor. Alcolumbre ganhou a rejeição de parte dos religiosos ao segurar a indicação do pastor André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Qual é a jogada? Eu peguei um evangélico e joguei para o Senado. Estou jogando ele na frente para dar abertura para os meus candidatos (a deputado federal) entrarem na igreja”, explicou.

Catástrofe

O cientista político Fernando Pignaton, representante brasileiro da Associação Internacional para Pesquisa e Intervenção Social (Aifris), com sede na França, diz que a seleção de candidatos e a lógica partidária são catastróficas para o País. “A reforma política não tratou da qualidade da vida partidária. Os partidos não ganharam relevância e não têm um projeto de desenvolvimento nacional que aglutine. A falta de uma cultura partidária sangra a capacidade de o País se desenvolver, de tocar grandes projetos”, afirmou.

Ainda na avaliação de Pignaton, o cenário beneficia tão somente “caciques” partidários: “Esse vale-tudo na composição das chapas não muda a qualidade do debate e da representação política. E, sem partidos fortes, a negociação vai continuar deputado a deputado. Não facilita uma coalizão”.

Oferecer dinheiro para que um candidato entre no partido não é ilegal, desde que a fonte não seja o Fundo Partidário, o fundo eleitoral ou caixa dois. Procuradores do Ministério Público Eleitoral admitem que crimes ocorrem nessa fase das eleições. Entretanto, passam muito abaixo do radar dos investigadores, focados nas principais campanhas ao Executivo.

A corrida para deputado federal é a mais importante para as siglas. A cada quatro anos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) define quanto elas têm direito a receber de Fundo Partidário com base na quantidade de deputados federais eleitos. Somados os últimos 4 anos, o valor chegou a R$ 3,8 bilhões. O União Brasil, legenda que nasceu do casamento do DEM com o PSL, já recebeu R$ 66,8 milhões do fundo entre janeiro e maio deste ano, maior valor entre os partidos. Juntos, eles emplacaram 81 deputados na disputa de 2018.

A conta é simples. Quem eleger mais deputados federais terá uma fatia maior. Os 5% restantes são divididos igualmente por todos os partidos. Como mostrou o Estadão, o fundo bilionário financia luxos pessoais de políticos, como viagens de jatinho, e despesas gerais das siglas. Não à toa a eleição de 2018 teve um número recorde de candidatos: 8.067 para as 513 vagas.

Para lembrar

O que fazem os deputados federais?

Uma recente pesquisa mostrou que 55% dos eleitores não sabem o que faz um deputado federal. E dois em cada três afirmaram não se lembrar em quem votaram no último pleito. Mas afinal, o que faz um deputado?

São duas as principais atribuições: legislar e fiscalizar o Poder Executivo. Compete aos deputados e senadores discutir e votar o Orçamento da União, assim como fiscalizar a aplicação adequada dos recursos públicos. O deputado pode propor novas leis e sugerir a alteração ou revogação das já existentes. Também é atribuição exclusiva dos deputados instaurar processo de impeachment do presidente da República e vice.

Quantos candidatos à Câmara cada partido pode lançar?

De acordo com a Lei Eleitoral, o total de candidatos que cada partido pode registrar para a Câmara dos Deputados é de 100% das vagas a preencher mais um. Esse número também vale para a Câmara Legislativa do DF, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais.

Além disso, do total de candidatos registrados, cada partido ou federação deve reservar um mínimo de 30% e um máximo de 70% de candidaturas para cada gênero.

Que recursos financiam as campanhas dos candidatos?

A campanha de um candidato à Câmara dos Deputados pode contar com diferentes fontes de recursos. Um destaque é o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), mais conhecido como fundo eleitoral, criado em 2017 depois da proibição das doações de pessoas jurídicas. Ele é alimentado com dinheiro do Tesouro Nacional e distribuído aos partidos políticos para financiar campanhas.

Outro recurso importante é o Fundo Partidário, que é distribuído anualmente para as siglas. Em ano de eleições ele pode ser usado também durante a pré-campanha, mas em períodos normais, sua principal função, segundo a lei, é a manutenção do partido.

As campanhas ainda podem contar com doações de pessoas físicas, devidamente identificadas, com valores direcionados ao partido ou a um candidato específico. Também é válido realizar campanhas de financiamento coletivo para financiar campanhas eleitorais.

Além disso, os candidatos podem utilizar bens próprios, desde que eles já fizessem parte de seu patrimônio antes do pedido de registro de sua candidatura.

Como é feito o cálculo de repasses?

Partidos com mais representantes no Congresso recebem valores maiores dos fundos públicos para financiamento de campanhas. No caso do Fundo Partidário, apenas 5% são distribuídos igualmente para cada partido, enquanto 95% são divididos na proporção dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados.

As regras do fundo eleitoral são um pouco mais específicas: 2% são divididos igualmente entre todos os partidos registrados; 35% vão para os partidos que tenham pelo menos um representante na Câmara dos Deputados; 48% são distribuídos na proporção das bancadas dos partidos na Câmara; 15% são separados na proporção das bancadas no Senado.

O tamanho da bancada também garante mais tempo de propaganda na televisão e no rádio. O cálculo considera o número de parlamentares eleitos em 2018, além de alterações feitas até o dia 20 de julho.

O que mudou na regra sobre coligações?

A regra que proibiu as coligações partidárias nas eleições proporcionais já vale desde o pleito para vereador em 2020. Nas eleições de 2022, candidatos a deputados estaduais e federais também não poderão contar com essa forma de aliança partidária. As coligações continuam valendo para as campanhas majoritárias.

Para este ano, a lei criou outro tipo de aliança possível para as eleições proporcionais: as federações. Elas são uniões de abrangência nacional entre dois ou mais partidos. Um grupo de legendas constituído dessa forma passa a funcionar, pela lei, como um partido único com fidelidade partidária por um mínimo de quatro anos.

A lei indica, também, que os partidos federados são somados para alcançar a cláusula de desempenho. No entanto, pelas regras menos flexíveis do que as das extintas coligações, as federações não se tornaram tão comuns entre os partidos, o que reforça a importância desse leilão de candidatos.

Isso porque sem as coligações eles têm mais dificuldade de alcançar o grau mínimo de votação necessário para conquistar representação parlamentar.

Bolsonaro afirma em Vitória que pode manter valor do Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023

Por Fernanda Trisotto e Bruno Abbud — Brasília / O GLOBO

 

O presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado, ao chegar em Vitória, no Espírito Santo, que pretende manter o valor do Auxílio Brasil de R$ 600 no ano que vem, caso seja eleito nas eleições de outubro. Essa é a mesma posição do ex-presidente Lula, seu principal adversário, e de outros candidatos.

Neste sábado, Bolsonaro discursou num espaço anexo ao aeroporto. Em tom de campanha, manteve críticas ao isolamento social e exaltou feitos da sua gestão, sobretudo em relação à redução de impostos e ao combate da pobreza. O presidente disse que a narrativa de que o governo não cuida dos pobres é falsa e destacou os auxílios criados em seu governo: o Emergencial e o Brasil.

 — Botamos um ponto final no Bolsa Familia, que pagava em média R$ 190, e hoje paga R$ 600. Fizemos isso dentro da responsabilidade fiscal. Entre outras coisas, não roubando. Então temos como manter esse alor para o ano que vem também.

O Auxílio Brasil foi criado para substituir o Bolsa Família e paga R$ 400. A ampliação do benefício para R$ 600 foi viabilizada pela promulgação da PEC Eleitoral, que instituiu um estado de emergência para driblar as regras fiscais e eleitorais e permitir o aumento do benefício e criação de outras benesses, como auxílio a taxistas e caminhoneiros. Essa ampliação, no entanto, tem prazo de validade: até 31 de dezembro.

A emenda autorizou o governo Bolsonaro a gastar R$ 41,2 bilhões neste ano em benefícios, como o auxílio a caminhoneiros e taxistas. Até o fim do ano, a ampliação do Auxílio Brasil custará R$ 26 bilhões. Hoje, o Auxílio Brasil custa R$ 90 bilhões. Esse valor subiria para R$ 150 bilhões por ano para manter pagamentos de R$ 600.

Integrante da equipe econômica de Jair Bolsonaro já admitiram que o Auxílio Brasil com piso de R$ 600, aprovado como temporário pelo Congresso, deve permanecer no próximo ano.

Na votação da PEC Eleitoral na Câmara dos Deputados, contudo, a base governista votou contra a emenda que previa o valor definitivo de R$ 600 para o benefício. Durante a votação, a oposição apresentou destaques, sugestões de emenda ao texto, que poderiam tornar permanente o valor de R$ 600 para o Auxílio Brasil, ao retirar as menções de data e orçamento máximo para o benefício. A medida foi derrotada, porque a base governista se opôs à mudança.

Ministro "abortista"

Bolsonaro foi ao Espírito Santo às vésperas da convenção do PL que oficializará sua candidatura à Presidência para participar de uma motociata durante a Marcha para Jesus que ocorre na cidade. Em discurso a evangélicos, prometeu, caso reeleito, não indicar um ministro "abortista" para as duas vagas que serão abertas no Supremo Tribunal Federal em 2023.

A avaliação do presidente é de que a questão do aborto precisa ser decidida pelo parlamento, mas ponderou que uma decisão da Suprema Corte colombiana flexibilizou as restrições para o procedimento. Sobre o comportamento de ministros do STF, especulou que metade seria favorável ao aborto, mas que não há “clima” para tratar do assunto.

— Quem porventura chegar a presidência ano que vem colocará em 2023 mais dois ministros no Supremo Tribunal Federal. Se for eu, pode ter certeza: nenhum abortista, da minha parte, será colocado dentro do Supremo Tribunal Federal. Isso está muito claro para mim.

O presidente também declarou a evangélicos que se depender de "sua caneta", não haverá legalização de uso de drogas, como a maconha, no país. Durante a motociata, ele ultrapassou um semáforo vermelho sem capacete.

Mais tarde, durante um discurso feito do alto de um carro de som, Bolsonaro disse que reza para que "o povo brasileiro não experimente as dores do comunismo". O presidente também afirmou, sem mencionar Lula, que "o outro lado" quer o aborto, a ideologia de gênero e a liberação das drogas.

– Todos os dias, quando me levanto, eu repito os gestos e os pensamentos, dobro meus joelhos, elevo meu pensamento ao Senhor e peço que esse povo brasileiro não experimente as dores do comunismo.

Ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente buscou criticar Lula, que encabeça as pesquisas eleitorais na disputa pela Presidência.

– Peço, mais do que sabedoria, peço força para resistir e coragem para decidir. Nós aos poucos vamos sabendo o que se prepara para o nosso Brasil. Por falta de conhecimento, diz a palavra, o povo pereceu. Vocês já têm conhecimento o suficiente para saber que é uma luta do bem contra o mal. Vocês sabem, o outro lado, o que o mal quer. Quer banalizar o aborto. Quer aprovar a ideologia de gênero. Quer liberar as drogas em nosso país.

 

No discurso desta tarde, ele também afirmou que faria "muito mais" do que dar a vida pela pátria.

– Digo a vocês, mais uma passagem da nossa bíblia, onde se diz: 'Nada temeis, nem mesmo a morte, a não ser a morte eterna'. Juramos dar a vida pela nossa pátria, e faremos muito mais do que isso pela nossa liberdade.

Bolsonaro aposta no gasto social para tentar encurtar distância de Lula

BOLSONARO NA ISTOÉ 2022

 

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro oficializa neste domingo sua nova candidatura à Presidência apostando em seu amplo pacote de gasto social para tentar mitigar os efeitos da inflação nos mais pobres e conseguir reduzir sua desvantagem nas pesquisas em relação a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro entra na disputa para tentar permanecer no Planalto em uma inédita situação desfavorável desde a adoção do instituto da reeleição no Brasil, há 25 anos, sob a desconfiança de adversários políticos e atores da sociedade civil de que se movimenta para provocar tumulto em caso de derrota –na esteira dos seus insistentes questionamentos infundados do sistema eleitoral– ou, no limite, instigar uma ruptura institucional para a qual tentaria arrastar as Forças Armadas e as de segurança.

Quase quatro anos após vencer como deputado azarão sem apoios partidários nem tempo de TV, o presidente agora vai às urnas de mãos dadas com o PL, sigla do chamado Centrão –grupo partidário que era alvo de suas críticas na campanha passada e agora lhe dá sustentação no Congresso.

O ex-capitão do Exército vai ser ungido como candidato na convenção dos liberais no domingo, no Rio de Janeiro, onde deverá aproveitar as mais de 10 mil pessoas esperadas no estádio do Maracananzinho para testar o uso de duas âncoras da sua candidatura, liberdade e fé.

Ainda sem definição se as palavras serão o slogan de campanha, de acordo com as fontes, a ideia será também mostrar aos eleitores que o Brasil sob Bolsonaro permite liberdade econômica, religiosa, de portar uma arma e de defender sua família e a propriedade privada.

Como tem feito em inúmeros eventos e lives, um dos eixos do discurso de Bolsonaro será exaltar as medidas que conseguiram driblar a legislação eleitoral para ampliar e criar programas sociais, além das ações para forçar queda no preço dos combustíveis. O pacote quer amenizar os efeitos de uma inflação que tem girado nos piores níveis desde 2003 em uma população que empobreceu desde 2018 e que ainda enfrenta os efeitos da pandemia minimizada pelo presidente.

Enquanto analistas ponderam que pode não haver tempo suficiente para que esse “pacote de bondades” surta efeito nas urnas, há otimismo na campanha bolsonarista. A avaliação é que se o presidente seguir esse script de boas notícias pode começar encurtar, já em agosto, uma distância que pesquisas dão de até 19 pontos para o líder.

No início da semana, no entanto, a sinalização do Planalto não foi de obediência a esse roteiro. Bolsonaro promoveu um inédito encontro com embaixadores para mais uma vez atacar as urnas eletrônicas com informações falsas, mesmo tendo sido alertado para conter essa retórica por aliados como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), o presidente do seu partido, PL, Valdemar Costa Neto e integrantes da equipe de pré-campanha à reeleição, segundo três fontes ouvidas pela Reuters.

A avaliação geral dos aliados que são políticos tradicionais é que esse discurso não ajuda a conquistar votos no momento de oficalização da campanha. Uma das fontes do QG de campanha, entretanto, admite em tom de resignação que é impossível domá-lo.

“Bolsonaro sempre fez uma política muito pessoal, de carreira solo, óbvio que não vai mudar a sua essência”, reconhece o presidente em exercício do PP, deputado Cláudio Cajado (BA), importante legenda do Centrão. “Só a campanha vai mostrar se ele será menos ou mais radical.”

Enquanto ainda repercute negativamente o encontro do presidente com os embaixadores, aliados e integrantes da campanha bolsonarista ouvidos pela Reuters rejeitam categoricamente que haverá qualquer iniciativa do presidente para interferir ou desconhecer o processo eleitoral. Dois deles dizem reservadamente que sua insistência em desacreditar as urnas eletrônicas com afirmações falsas faz parte da estratégia de manter a militância mais aguerrida unida.

A campanha do presidente reflete essa dualidade de públicos –eleitor geral e base ultrafiel– que o discurso do presidente visa atingir. A alinhada à estratégia de campanha política convencional, com estrutura profissional e área de marketing, terá o primogênito e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como um dos responsáveis. Segundo duas fontes, o presidente vai manter a comunicação nas redes sociais nos moldes de 2018, cujas linhas serão dadas pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

A primeira linha terá como foco buscar trazer novos eleitores e a segunda manter o engajamento dos bolsonaristas unidos e ativos, segundo uma das fontes. “São comunicações complementares”, definiu.

O candidato a vice de Bolsonaro, o general da reserva e ex-ministro Walter Braga Netto (PL), é o responsável por coordenar o programa de governo à reeleição, que eles preferem chamar de diretrizes, conforme duas das fontes. Ainda não está definido quando o documento será divulgado.

Na busca de marcar diferença em relação a Lula, e numa repetição da polarização de 2018, a campanha deve explorar o medo do retorno de uma eventual gestão do PT, agora chamado de “luta do bem contra o mal”, e fazer comparações com a situação de países vizinhos de governos de esquerda como a Venezuela e a Argentina. Também querem desgastar o petista mostrando que os casos de corrupção nas gestões deles –que passaram por escândalos como mensalão e petrolão– eram muito maiores e amplos do que ocorreu no atual governo, como foi o caso envolvendo o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. COM ISTOÉ

 

A nova pesquisa presidencial do Datafolha

Por Lauro Jardim / O GLOBO/ 22

 

Uma nova pesquisa presidencial do Datafolha será divulgada na quarta-feira que vem. Mas desta vez o interesse central da pesquisa será o de revelar em quem votará o jovem brasileiro. O Datafolha está desde ontem entrevistando presencialmente mil pessoas de 15 a 29 anos em 12 capitais brasileiras. A margem de erro é de três pontos percentuais para cima ou para baixo.

Constarão do questionário as clássicas perguntas para medir em quem o entrevistado pretende votar para presidente: primeiro, o jovem responderá de forma espontânea o nome do candidato. Depois, a partir de uma cartela com o nome dos postulantes à Presidência, apontará o seu preferido. Também se aferirá a rejeição de cada um deles, assim como o voto no segundo turno — com a opção apenas entre Lula e Jair Bolsonaro.

A pesquisa que começou a ser feita ontem e até o fim do dia de hoje está nas ruas  tentará ainda medir o o grau de aprovação dos jovens brasileiros em relação ao governo Bolsonaro, a confiança deles em relação ao futuro do Brasil e se eles desejam dizer adeus ao Brasil e morar em outro país. Pedirá também uma autodefinição ideológica: será perguntado se entrevistado se considera de direita ou de esquerda.

A segunda metade da pesquisa abarcará dados ligados ao comportamento: o interesse por esportes, meio ambiente, política, economia; que estilo de música prefere; e suas opiniões sobre religião, família, casamento de pessoas do mesmo sexo, cotas nas universidades, descriminalização de drogas e aborto.

A julgar pelo último Datafolha, divulgado em 23 de junho, Lula navega em águas tranquilas nesta faixa da população. Naquela pesquisa, o petista aparecia com 54% das intenções de voto entre aqueles brasileiros de 16 a 24 anos (um recorte semelhante ao da pesquisa que está sendo feita hoje). Bolsonaro tinha 24%. Uma diferença de 30 pontos percentuais, muito acima dos 19% que a pesquisa registrava quando se levava em conta a população como um todo.

Ainda nesta pesquisa de junho do Datafolha, 60% entre os entrevistados de 16 a 24 anos diziam rejeitar Bolsonaro. Já aqueles que afirmavam que não votariam nunca em Lula somavam 26%. Mas como eleição não se ganha de véspera há também o dado que mostrava que 40% desses jovens admitia mudar o voto.

 

Dilma chama Temer de ‘golpista’ após ser citada como ‘honesta’ pelo ex-presidente

Por Davi Medeiros / O ESTADÃO

DILMA E TEMER

Após ser descrita como “honestíssima” pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) voltou a chamar o ex-vice de seus dois mandatos no Planalto de “golpista” e afirmou que não pretende mais “debater com este senhor”. Em carta publicada em seu site, a petista disse ainda que Temer, que a sucedeu após ela sofrer impeachment, articulou “uma das maiores traições políticas dos tempos recentes”.

Dilma argumentou que sua dificuldade de “articulação com o Congresso”, motivo ao qual Temer atribui seu impedimento, não é crime passível de afastamento do cargo, e afirmou que sua distância do Legislativo se devia à sua “integral rejeição” ao deputado federal Eduardo Cunha, então presidente da Câmara. Embora tenha se defendido quanto à opinião de Temer sobre o que a derrubou na prática, o fundamento jurídico para o impeachment da petista foi o cometimento de crimes de responsabilidade, por sua condução do País no âmbito fiscal.

Tal ‘dificuldade’ era uma integral rejeição às práticas do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, criador do Centrão, que queria implantar com o meu beneplácito o ‘orçamento secreto’, realizado, hoje, sob os auspícios de um dos seus mais próximos auxiliares na Câmara Federal”, escreveu.

Dilma também disse que Temer não teria razão para se opor ao modo de governar do PT, já que sabia qual era o programa político da chapa para a qual foi indicado como vice. As reformas aprovadas durante a gestão do emedebista, segundo a ex-presidente, configuram “traição” ao voto popular.

“As provas materiais da traição política estão expressas na PEC do Teto de Gastos, na chamada reforma trabalhista e na aprovação do PPI (Preço de Paridade de Importação) para as quais não tinha mandato. Nenhum desses projetos estavam em nossos compromissos eleitorais, pelo contrário, eram com eles contraditórios. Trata-se, assim, de traição ao voto popular que o elegeu por duas vezes.”

Ao falar sobre Dilma nesta quinta-feira, 21, em entrevista ao UOL, Temer ponderou que o motivo jurídico de seu impeachment foi “extremamente técnico” e não teve relação com casos de corrupção, e que ela caiu por não ter boa articulação com o Congresso. Ele criticou a prática de pedaladas fiscais apontada por órgãos de controle durante o governo da petista.

“Às vezes falam de corrupção, mas é mentira. Ela (ex-presidente Dilma) é honesta. O que eu sei e pude acompanhar, embora estivesse à margem do governo e embora fosse vice-presidente, não há nada que possa apodá-la de corrupta. Para mim, honestíssima. Houve problemas políticos. Ela teve dificuldade no relacionamento com o Congresso Nacional, teve dificuldade no relacionamento com a sociedade e teve as chamadas ‘pedaladas’, uma coisa extremamente técnica, decretada pelo Tribunal de Contas da União. Esse conjunto de fatores é que levou multidões às ruas”, disse.

Em nota enviada via assessoria a respeito das críticas endereçadas a ele por Dilma, Temer afirmou que “é tão desarrazoada a manifestação que não merece resposta”.

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