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As armas de Bolsonaro para conter crise das meninas venezuelanas

Por Vera Magalhães / O GLOBO

 

 

 

Depois da segunda onda de desgaste provocada pelas falas de Jair Bolsonaro a respeito de meninas refugiadas venezuelanas no entorno de Brasília, que em pelo menos três ocasiões o presidente usou para falar em prostituição infantil e relacionar ao que poderia acontecer no Brasil em caso de vitória de Lula, a campanha do PL foi eficiente em buscar temas para mudar o assunto nas redes sociais e partir para o contra-ataque.

 

As armas encontradas não são de todo novas na campanha: a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que tem sido constantemente acionada para reverter gafes e declarações explosivas do marido, e a demonização do Tribunal Superior Eleitoral, um dos "inimigos de sempre", ao lado dos institutos de pesquisa e da imprensa. A reação foi coordenada, em muitas frentes e evocando os dois supertrunfos simultaneamente.

 

A abertura de uma investigação para apurar a existência de um possível "ecossistema de desinformação", como classificou o corregedor do TSE, ministro Benedito Gonçalves, e sua decisão de desmonetizar vídeos com acusações a Lula veiculados por canais, bem como a notificação a empresas de comunicação, a partir de representação da campanha do PT, levaram a que a acusação de que a corte promove censura a conteúdos jornalísticos, preocupação manifestada também por entidades de defesa da liberdade de imprensa, ganhasse corpo nas redes bolsonaristas.

 

O tema serviu para desviar o foco do desgaste causado pela descoberta de que Bolsonaro já havia mencionado as meninas venezuelanas em outras circunstâncias, inclusive sendo mais direto quanto às insinuações de que elas estariam se arrumando para se prostituir.

 

A primeira-dama, que já havia sido acionada para gravar um vídeo ao lado de Bolsonaro pedindo desculpas pelo episódio -- vídeo em que ele cai em contradição ao dizer que a ex-ministra Damares Alves havia investigado o caso em 2020 e constatado que não havia exploração sexual das meninas, quando ele mesmo insistiu em dizer isso, inclusive na última-sexta-feira.

 

Agora, Michelle participou de um culto-comício nesta quarta-feira em que falou em defesa da filha Laura, de 12 anos, que foi tragada pela polêmica ao ser mencionada a título de comparação com as meninas venezuelanas em tuítes nas redes sociais. Michelle se indignou e chorou no culto. Anteriormente, a primeira-dama anunciou que vai à Justiça em defesa da filha.

 

As duas linhas narrativas tiveram êxito em tirar o foco do tema que vinha desgastando Bolsonaro desde sábado. O culto em que Michelle foi a protagonista também teve o condão de neutralizar a Carta aos Evangélicos e o ato organizado pela campanha do PT com lideranças ligadas a denominações evangélicas.

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