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Desempenho de Boulos após entrada de Lula frustra expectativas da campanha

Joelmir Tavares / FOLHA DE SP

 

O desempenho de Guilherme Boulos (PSOL) no Datafolha entre eleitores que poderiam ser conquistados pela entrada de Lula (PT) frustrou expectativas de aliados que esperavam avanço do candidato na camada mais pobre do eleitorado e deve forçar uma presença maior do presidente na campanha.

Boulos alcançou 23% de intenções de voto no quadro geral, empatado tecnicamente em primeiro com Pablo Marçal (PRTB), com 22%, e Ricardo Nunes (MDB), também com 22%. A margem de erro do levantamento, divulgado na quinta-feira (5), é de três pontos para mais ou para menos.

No segmento com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, contudo, os números ficaram desfavoráveis. Se, na pesquisa anterior, de meados de agosto, os três marcavam 18%, na mais nova houve um descolamento, com 28% para Nunes, 19% para Boulos e 17% para Marçal.

Nesse estrato (que corresponde a 32% do eleitorado), a margem de erro é de cinco pontos, o que aponta empate técnico, mas a tendência positiva para o emedebista contrariou a avaliação de dirigentes do PSOL e do PT de que eleitores tidos como mais pendentes à esquerda dariam preferência ao candidato de Lula.

Desde 16 de agosto, quando começou oficialmente o período de campanha, a vinculação do deputado federal com o presidente foi intensificada. Lula esteve na cidade para dois comícios no dia 24 e foi ainda a estrela do primeiro programa no horário eleitoral, no último dia 30.

A estratégia para assegurar a ida ao segundo turno, discutida nos bastidores e compartilhada por diferentes auxiliadores de Boulos, passa por reforçar a ligação com o PT —pela primeira vez na redemocratização sem candidato próprio na capital. A vice é do partido, a ex-prefeita Marta Suplicy.

O comando da campanha minimiza o revés e diz ver margem para crescimento. Cita, por exemplo, o dado revelado pelo Datafolha de que 42% da população na cidade se declara petista, percentual que, em tese, poderia ser convertido. Ele hoje registra 45% de intenção de voto entre os simpatizantes do PT.

Entre os entrevistados que declaram ter votado em Lula no segundo turno de 2022 contra Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal marca 43%, dividindo espaço com Nunes, que tem 19%, e Tabata Amaral (PSB), que abocanha 12%. Os esforços agora são para reiterar o alinhamento com o presidente.

A candidatura do PSOL dá como justificativa para o ritmo de adesão aquém do esperado os argumentos de que o eleitor pobre e morador da periferia só agora está se inteirando da campanha e ainda não sabe que Boulos é o nome indicado por Lula, que a vice dele é Marta e que Bolsonaro apoia Nunes.

Uma frase repetida é que o PT "é um partido de chegada", no sentido de que a afluência de votos para a sigla em outros pleitos teve um salto às vésperas da votação, com a entrada do eleitor visto como cativo. Também se diz que grupos como o de mulheres costumam deixar a decisão para a reta final.

A ofensiva para atrair o público considerado com maior potencial de votar em Boulos inclui a volta de Lula à cidade em três ocasiões para novos atos, segundo previsão da campanha. Além de comícios, é avaliada a possibilidade de fazer caminhadas e uma agenda perto do primeiro turno.

Outra arma é a propaganda de TV, a partir do diagnóstico de que ela tem maior impacto sobre os paulistanos de baixa renda. O desafio é endossar a ligação com Lula, resgatar feitos da gestão Marta e apresentar propostas tendo espaço bem inferior ao de Nunes, que possui 65% do tempo total.

O predomínio do atual prefeito na propaganda televisiva foi usado pela campanha de Boulos para justificar os números favoráveis do emedebista na pesquisa. Apesar de ter visto sua base migrar parcialmente para Marçal, Nunes teve oscilação positiva de três pontos no quadro geral e se manteve competitivo.

Nos últimos dias, Boulos incorporou ao vocabulário o termo "resiliência" para destacar sua permanência há um ano em primeiro nas pesquisas, em alguns casos com empate técnico. Tem dito também que pretende fazer uma "campanha a quente" ao longo das próximas semanas, frisando o embate com o bolsonarismo, que ele vê representado tanto por Nunes quanto por Marçal.

Outros dados foram pinçados da pesquisa Datafolha por correligionários para ilustrar a solidez do candidato do PSOL. Um deles é a estagnação da rejeição (37%), considerada um feito perante o que é descrito como ofensiva dos adversários para colar nele a pecha de invasor e atacá-lo com mentiras.

Também é mencionado o fato de que 75% dos seus eleitores estão totalmente decididos em relação ao voto, convicção que aponta para um patamar consolidado. Ele é ainda o candidato com maior grau de afinidade entre seus eleitores, já que 39% deles se dizem comprometidos com o deputado.

Sobre o descompasso com o eleitorado de Lula, há ainda relatos de membros da coordenação de que pesquisas internas (os chamados trackings) têm resultados mais animadores do que os coletados pelo Datafolha, com maior identificação de Boulos como o candidato do presidente e conversão superior.

Datafolha: Engajamento de Marçal é 8 vezes a soma dos outros candidatos

Bruno XavierVictória Cócolo / FOLHA DE SP

 

Menos de duas semanas após ter as redes sociais bloqueadas pela Justiça Eleitoral, Pablo Marçal (PRTB) atinge nas plataformas digitais números muito acima dos concorrentes à Prefeitura de São Paulo. O engajamento do candidato em suas contas corresponde a oito vezes os de todos os adversários juntos.

Os dados são de um levantamento realizado pelo Datafolha e pela empresa Codecs entre os dias 26 de agosto e 1º de setembro com todos os pré-candidatos ao Executivo em São Paulo. O instituto considera menções em portais de notícias, blogs e fóruns e também posts em redes sociais.

O autodenominado ex-coach teve, no período, 32.184.366 interações online, equivalente a oito vezes a soma dos outros candidatos, de quase 4,2 milhões. Em sua melhor semana até aqui, Marçal havia registrado 24,7 milhões de interações.

Guilherme Boulos (PSOL) tem o segundo melhor resultado no levantamento, com cerca de 2,1 milhões de interações. As candidatas Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo) têm cerca de metade disso. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem 233,5 mil e o apresentador José Luiz Datena (PSDB), 84 mil.

Após a derrubada de seus perfis pela Justiça Eleitoral, Marçal abriu uma conta reserva no Instagram. O perfil cresceu rapidamente e já conta com mais de 4 milhões de seguidores, um terço dos 12 milhões que a conta bloqueada do influenciador tinha.

Na nova conta, o candidato já tem quase o dobro de seguidores de Boulos, o segundo candidato mais seguido. Tabata vem na terceira colocação, com 1,6 milhão de seguidores no Instagram. Nunes e Datena tem pouco menos de 1 milhão cada.

Os resultados online de Marçal ameaçam a estratégia de reeleição de Nunes. O último Datafolha mostrou que o autodenominado ex-coach ultrapassou numericamente o prefeito, embora estejam empatados dentro da margem de erro junto com Boulos.

Nunes aposta no horário eleitoral para voltar a crescer nas pesquisas —tem mais de 60% do tempo da propaganda em TV. São cerca de 6 minutos em cada um dos dois blocos de 10 minutos, e 27 minutos e 20 segundos em inserções veiculadas ao longo da programação das emissoras.

De acordo com sondagens internas da campanha do emedebista, as inserções funcionaram. Apesar disso, a Codecs mostra que ele não teve aumento de engajamento nas redes sociais nesse período.

Presidente da Câmara Municipal e apoiador de Nunes, Milton Leite (União Brasil-SP) afirmou acreditar no sucesso da estratégia. "O Marçal tinha visibilidades nas redes. Nós estamos investindo nas redes e abrimos o salão grande agora [a TV] que tem a maior visibilidade, e vamos bater nele [Marçal] sem dó", afirmou.

 

Pesquisa Quaest reafirma acirramento da disputa em SP e aponta Lula e Tarcísio melhores padrinhos do que Bolsonaro

Por — São Paulo / O GLOBO

 

Nova pesquisa realizada pela Quaest confirma a intrusão de Pablo Marçal (PRTB) no bloco dos líderes da corrida eleitoral em São Paulo, com o ex-coach tecnicamente empatado com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). O deputado federal aparece numericamente à frente, com 22% das intenções de voto, enquanto o atual prefeito e o empresário têm 19% cada um. A margem de erro é estimada em três pontos percentuais para mais ou menos.

 

O levantamento, contratado pela TV Globo e realizado entre domingo e terça-feira, corrobora o avanço de Marçal que vinha sendo detectado desde a semana passada — e que levou a um ajuste de rotas nas campanhas adversárias e à entrada mais incisivas de padrinhos nas agendas.

 

Na sondagem anterior, feita pela Quaest no fim de julho, o candidato do PRTB tinha 12% das menções no cenário com todos os candidatos, e 13% numa configuração sem Kim Kataguiri (União) e nomes de partidos nanicos. Já Nunes marcava 20% (ou 21%, no cenário sem Kim), enquanto Boulos registrava 19%.

 

O crescimento de Marçal se concentra na fatia do eleitorado mais à direita e captura parte dos apoiadores de Nunes e de José Luiz Datena (PSDB), que mais recuou no último mês. O apresentador tinha 19% das menções em julho e agora caiu para 12%, tecnicamente empatado com a deputada federal Tabata Amaral (PSB), que marca 8% — ante 5% da pesquisa anterior.

 

Bolsonarismo dividido

Marçal era escolhido há um mês por 27% dos eleitores que dizem ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, taxa que agora passou para 39%. Já Nunes, que é oficialmente apoiado pelo ex-mandatário, oscilou de 35% da preferência desse grupo para 33%.

 

O ex-presidente e seus filhos saíram em socorro ao candidato à reeleição na tentativa de impedir que Marçal se aproprie do eleitorado que Nunes pretende atrair, embora não tenham discurso uníssono quanto a isso (leia mais na página 5). Em sabatina da GloboNews, o prefeito disse que o eleitor saberá associá-lo a Bolsonaro conforme o ex-chefe do Executivo comece a aparecer em seu programa eleitoral.

 

Em nota, a campanha de Nunes disse “comemorar o resultado da pesquisa” porque “a partir de agora, a campanha eleitoral sai da rede social e vai para o mundo real”, destacando que o prefeito “é favorito para vencer todos no segundo turno”.

 

No “mundo real”, o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se mostra importante para o prefeito. Mais conhecido que Nunes, o atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes foi destaque em agendas do emedebista nesta semana, sendo requisitado para fotos com eleitores.

 

A Quaest mostra que 26% dos paulistanos admitem votar em um nome apoiado pelo governador mesmo sem conhecê-lo, taxa igual à alcançada por Lula (PT) e numericamente superior aos 21% que Bolsonaro atinge na cidade. Já a rejeição a uma indicação feita por Tarcísio (66% se recusam a votar num desconhecido chancelado pelo governador) é inferior à que Bolsonaro inspira nos eleitores (de 74%).

 

Ainda que apareça empatado na liderança da corrida eleitoral, Marçal recebeu os resultados da pesquisa com desdém, insinuando que o instituto estaria “mentindo para a população” e reafirmando que será eleito no primeiro turno.

 

A ascensão do ex-coach tomando parte dos votos de Nunes contribui para que Boulos apareça numericamente à frente de seus adversários nas sondagens recentes. O candidato celebrou os dados da Quaest e avaliou que há desejo por “mudança” na cidade. Apoiado por Lula, que esteve em ato de campanha em São Paulo no último sábado, Boulos foi um dos que recalibraram seu discurso para incluir críticas a Marçal e defender que o empresário e Nunes são “duas faces da mesma moeda”.

— (A pesquisa) reforça que a campanha está crescendo e as pessoas estão entendendo quem são os candidatos — disse na quarta-feira o candidato durante encontro com trabalhadores do transporte. — A nossa mensagem é de mudança na cidade, e de uma cidade que muda sem cair no vazio, como são outras candidaturas.

 

Segundo turno favorece Nunes

A leitura feita por Boulos não converge com os resultados aferidos nas simulações de segundo turno feitas pela Quaest. Os diferentes testes indicam que Nunes ganha com folga em todos os cenários que o incluem.

 

Numa eventual disputa entre o emedebista e Boulos, o atual prefeito venceria com 46% das intenções de voto, contra 33% do deputado. O candidato à reeleição puxaria para si 59% dos votos de Marçal, 44% dos eleitores de Datena, e 48% dos apoiadores de Tabata. Boulos, por sua vez, herdaria o apoio de 9%, 27% e 38% desses grupos, respectivamente.

 

Já se o confronto ficar entre Boulos e Marçal, os dois empatam com 38% das intenções de voto cada um. Nesse cenário, o ex-coach herdaria 48% dos eleitores de Nunes no primeiro turno, enquanto Boulos atrairia 20% desse contingente.

 

Na simulação entre Nunes e Marçal, o emedebista ganharia com 47% das intenções de voto, ante 26% do ex-coach. O candidato à reeleição bateria também Datena, com placar de 45% a 31%.

 

Candidato que mais recuou em um mês, Datena teve também como notícia negativa o avanço da rejeição ao seu nome: passou de 48% para 56% o percentual dos que afirmam que “conhecem e não votariam” no tucano, que até aqui não conseguiu dar tração à sua campanha.

 

— Vou me esforçar mais. Os números do segundo turno mostram que São Paulo quer um prefeito independente. Sou o único que derrota o PT e impede os bolsonaristas de vencer — disse Datena ao fim da tarde.

 

O tucano é o candidato com maior rejeição na cidade, seguido por Boulos (cuja rejeição passou de 40% para 45% desde julho), Nunes (de 36% para 39%), e Marçal (de 30% para 35%).

 

Já a taxa dos que dizem não votar em Tabata variou de 27% para 31%. A campanha da deputada, a que mais rapidamente fez um ajuste de rota para subir o tom dos ataques contra Marçal, atribuiu sua variação positiva nas intenções de voto a essa mudança na estratégia de comunicação.

 

(colaboraram Hyndara de Freitas, Samuel Lima, Matheus de Souza e Guilherme Queiroz)

A menos de um mês da eleição, esquerda terá que superar desafios para driblar alta rejeição a candidatos nas capitais

Por  / O GLOBO

 

A pouco mais de um mês para oprimeiro turno das eleições municipais, partidos de esquerda precisarão romper barreiras impostas pela alta rejeição se quiserem vencer as disputas. Levantamento do GLOBO feito a partir de dados da Quaest sobre as corridas em 24 capitais aponta que dos 25 postulantes que têm mais de 40% de índice reprovação, dez são filiados ao PSOL, PT, PDT, PSTU ou PCO.

 

Os que se identificam como de direita são sete, e os demais, oito, estão ao centro do espectro político. A reportagem considerou os candidatos com mais de 40% de rejeição para o cálculo porque especialistas avaliam que é uma faixa percentual com maior dificuldade de reversão.

 

Com 15% das intenções de voto na disputa pela reeleição, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), é citado por 69% dos eleitores como uma opção inviável. Recentemente, sua administração viveu uma “crise do lixo”, quando problemas na prestação do serviço resultaram em pilhas de resíduos nas ruas da cidade. Edmilson acumulou uma dívida superior a R$ 15 milhões com as concessionárias responsáveis pela coleta de lixo, o que gerou precariedade no atendimento.

 

Além de Edmilson Rodrigues, outros nomes do campo da esquerda se destacam no nível de desaprovação. Em Porto Alegre, a deputada federal Maria do Rosário (PT) está empatada tecnicamente com o prefeito em intenções de voto, mas tem 48% de rejeição. Ao GLOBO, seu coordenador de campanha, Cícero Balestro, atribuiu o índice à divulgação de notícias falsas.

 

— Tem uma rejeição que é a rejeição ao PT, de uma parcela conservadora; o resto são as fake news. Nós vamos trabalhar quem é Maria do Rosário de verdade e estamos muito confiantes que, mostrando seus atributos, vai reduzir (a rejeição) — afirmou.

 

Outro caso é do ex-deputado federal Marcelo Ramos (PT), que concorre à prefeitura de Manaus. Na capital amazonense, também 48% dos eleitores dizem que não votariam no petista em outubro.

 

Empatado tecnicamente na liderança da disputa de São Paulo, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) aparece com taxa de 45% no indicador, segundo levantamento da Quaest. Na capital paulista, o candidato aliado do presidente Lula enfrenta dois nomes do campo da direita, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que disputam o espólio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na cidade. Ambos têm rejeição um pouco menor, de 39% e 35%, respectivamente.

 

Procurada para comentar o resultado na pesquisa, a campanha do psolista atribuiu o dado a polarização presente no país. “Cabe a nós trabalharmos para apresentar propostas e soluções para os problemas concretos da cidade de São Paulo”, diz pronunciamento.

 

Pauta para minorias

Na avaliação do cientista social Fernando Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a rejeição à esquerda tem fundamento em bandeiras como a defesa da comunidade LGBTQIA+ e a descriminalização das drogas.

 

— Em regra, partidos de esquerda adotam as minorias, despertando a ira dos conservadores que preferem seguir a direita ou a extrema direita. Reverter a rejeição, neste contexto polarizado, não é fácil, pois é preciso reverter uma imagem negativa pautada em princípios e valores colados ao candidato — avalia Bentes.

 

Entre políticos de partidos nanicos, chama a atenção os casos de Cyro Garcia (PSTU), no Rio, rejeitado por 43% dos eleitores, e Lourdes Melo (PCO), que não é uma opção para 53% dos entrevistados pela Quaest em Teresina. O nome do PSTU já disputou outras nove eleições para diferentes cargos. Já Lourdes Melo viralizou no pleito de 2022, quando concorreu ao governo do Piauí ao participar de um debate. Na ocasião, a candidata se irritou com o mediador do debate, que pedia que ela seguisse as regras. “Você quer me calar?”, respondeu Lourdes Melo ao jornalista

 

Apesar de a esquerda dominar o ranking, o candidato mais rejeitado do país pertence ao campo da direita: o prefeito de Teresina e candidato à reeleição, Doutor Pessoa (PRD). Com 5% do eleitorado ao seu lado para um novo mandato, ele é rejeitado por 79% dos eleitores. Sua gestão na cidade foi marcada por uma forte crise na saúde, que perpassou a falta de médicos e a ausência de repasses a funcionários terceirizados.

 

No primeiro debate das eleições de 2024, feito pela Band no mês passado, Pessoa causou controvérsia e virou alvo de denúncia formal após dar uma cabeçada em Francinaldo Leão (PSOL), seu adversário na disputa.

 

Na capital piauiense, quem lidera a corrida pela prefeitura é um médico, o ex-secretário municipal Silvio Mendes (União Brasil), que atinge 46% das intenções de voto. Ele tem o apoio do ex-prefeito Firmino Filho (PSDB).

 

Com uma rejeição menos acentuada, de 41%, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Avante) também vive um cenário de dificuldade para a reeleição, com 4% das intenções de voto. Pastor licenciado da Assembleia de Deus, Cruz foi convidado a se retirar do Republicanos ainda no início deste ano, por crises em seu mandato, a exemplo da paralisação das maternidades. Sua campanha, contudo, afirma que a rejeição será atenuada a partir da apresentação dos “avanços administrativos” de seu mandato. Seus articuladores dizem ainda que o índice mais elevado é natural ao detentor do cargo e ponderou que 77% dos eleitores estão indecisos na espontânea, quando a lista de candidatos não é apresentada.

 

Os sem mandato

Além dos prefeitos, outros candidatos sem mandato no Executivo apresentam índices de rejeição superiores ao patamar de 50%. Em São Paulo, o apresentador de TV licenciado José Luiz Datena (PSDB) não é opção de voto para 56% dos eleitores.

 

Em Belém, o deputado bolsonarista Delegado Éder Mauro (PL), rival de Edmilson Rodrigues na disputa pela prefeitura, alcança o índice de 51%, assim como o ex-senador e ex-petista Roberto Requião (Mobiliza), que concorre em Curitiba. Ao GLOBO, o candidato a prefeito da capital do Paraná justificou o indicador negativo pelo fato de ocupar cargos públicos desde 1983, e por tersido o candidato do partido de Lula na eleição passada.

 

— Eu fui prefeito, fui governador e fui senador. Interesses contrariados fizeram uma campanha sistemática contra mim porque eu não apareço nas rádios e na televisão — argumentou Requião.

 

Para a equipe do candidato, a saída do ex-petista do partido fará com que os curitibanos consigam “enxergar a independência de Requião, bem como seu compromisso e coerência com a boa política, com a coisa pública e com o povo de Curitiba”.

 

O voto inválido

Merval Pereira / O GLOBO

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, voltou atrás na inclinação de anular seu voto no caso de segundo turno na capital paulista entre o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, e o coach Pablo Marçal, do PRTB. Ele anunciara a tendência numa entrevista, e Carlos, filho de Bolsonaro, indignou-se. Foi às redes sociais para afirmar que “não há voto nulo contra a esquerda”.

 

Tarcísio logo retratou-se, dizendo que, embora apoie o atual prefeito, Ricardo Nunes, e tenha dúvidas sobre propostas de Marçal, votará nele no caso de a disputa ser contra Boulos. Sobretudo, a reação de Carlos e o recuo de Tarcísio sugerem que os bolsonaristas de maneira geral estão liberados para votar em Marçal ainda no primeiro turno, o que deverá enfraquecer o apoio a Nunes.

 

Por que o voto nulo não se transforma em instrumento efetivo de protesto do eleitor? Porque a Constituição Federal de 1988 e a Lei das Eleições consideram como votos válidos somente os nominais e de legenda, determinando a exclusão de brancos e nulos para os cargos de prefeito, governador, presidente e vice-presidente. Isso significa que tanto os votos em branco quanto os nulos não são considerados no cálculo final das urnas. São inválidos e descartados na contagem eleitoral.

 

Por esse critério, votar em branco ou anular o voto ajuda quem estiver na frente na corrida eleitoral, pois reduz a quantidade de votos válidos necessários para alcançar a vitória. Com mais razão ainda no caso atual de São Paulo, onde três candidatos estão praticamente empatados. Ou no do Rio de Janeiro, onde o atual prefeito aparece como favorito para vencer no primeiro turno.

 

Quanto mais votos inválidos, de menos votos ele necessitará para confirmar as previsões das pesquisas eleitorais.

 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), numa jurisprudência do século passado, considera que votos nulos não existem, “é como se nunca tivessem sido dados”. Já escrevi que essa interpretação mais parece uma alienação dos especialistas em lei eleitoral que uma decisão com base técnica. Ignorar o recado que as urnas enviaram a nossos políticos, considerando que os votos nulos nunca existiram, é um reflexo na legislação oficial da leniência com que tratamos nossas mazelas político-partidárias.

 

Os votos em branco eram considerados válidos até a Constituição de 1988, quando também entraram na lista dos não votos, que não influem no resultado das eleições. O historiador José Murilo de Carvalho, falecido recentemente, definia assim a questão:

 

— É um desrespeito à democracia desqualificar o voto nulo.

A partir das urnas eletrônicas, o voto em branco, embora não válido, tem uma tecla só dele. O nulo exige que o eleitor digite um número que não está registrado e o confirme.

É preciso, pois, ter uma informação que não está dada na urna eleitoral para confirmar um voto nulo. Quando se digita um número inexistente, a urna informa que a escolha está errada. Mesmo assim, e com um barulho diferente que revela seu voto, você tem de confirmar o erro para anulá-lo, demonstrando toda a sua intenção. A decisão dos constituintes de excluir nulos e brancos dos votos válidos vai de encontro ao desejo do eleitor, já que, como temos a obrigatoriedade de comparecer às urnas, quem escolhe essa maneira de votar revela sua insatisfação com a situação política, ou pelo menos com os candidatos apresentados.

 

A abstenção pode ter inúmeras razões além do descontentamento do eleitor, mas a decisão de anular o voto, ou de votar em branco, é inequivocamente um protesto. Não validar os votos nulos e em branco é retirar do eleitor o direito de expressar seu pensamento na urna. Especialmente o que anula o voto, pois não há tecla específica para o ato.

 

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