Pesquisa Quaest reafirma acirramento da disputa em SP e aponta Lula e Tarcísio melhores padrinhos do que Bolsonaro
Por Nicolas Iory— São Paulo / O GLOBO
Nova pesquisa realizada pela Quaest confirma a intrusão de Pablo Marçal (PRTB) no bloco dos líderes da corrida eleitoral em São Paulo, com o ex-coach tecnicamente empatado com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). O deputado federal aparece numericamente à frente, com 22% das intenções de voto, enquanto o atual prefeito e o empresário têm 19% cada um. A margem de erro é estimada em três pontos percentuais para mais ou menos.
O levantamento, contratado pela TV Globo e realizado entre domingo e terça-feira, corrobora o avanço de Marçal que vinha sendo detectado desde a semana passada — e que levou a um ajuste de rotas nas campanhas adversárias e à entrada mais incisivas de padrinhos nas agendas.
Na sondagem anterior, feita pela Quaest no fim de julho, o candidato do PRTB tinha 12% das menções no cenário com todos os candidatos, e 13% numa configuração sem Kim Kataguiri (União) e nomes de partidos nanicos. Já Nunes marcava 20% (ou 21%, no cenário sem Kim), enquanto Boulos registrava 19%.
O crescimento de Marçal se concentra na fatia do eleitorado mais à direita e captura parte dos apoiadores de Nunes e de José Luiz Datena (PSDB), que mais recuou no último mês. O apresentador tinha 19% das menções em julho e agora caiu para 12%, tecnicamente empatado com a deputada federal Tabata Amaral (PSB), que marca 8% — ante 5% da pesquisa anterior.
Bolsonarismo dividido
Marçal era escolhido há um mês por 27% dos eleitores que dizem ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, taxa que agora passou para 39%. Já Nunes, que é oficialmente apoiado pelo ex-mandatário, oscilou de 35% da preferência desse grupo para 33%.
O ex-presidente e seus filhos saíram em socorro ao candidato à reeleição na tentativa de impedir que Marçal se aproprie do eleitorado que Nunes pretende atrair, embora não tenham discurso uníssono quanto a isso (leia mais na página 5). Em sabatina da GloboNews, o prefeito disse que o eleitor saberá associá-lo a Bolsonaro conforme o ex-chefe do Executivo comece a aparecer em seu programa eleitoral.
Em nota, a campanha de Nunes disse “comemorar o resultado da pesquisa” porque “a partir de agora, a campanha eleitoral sai da rede social e vai para o mundo real”, destacando que o prefeito “é favorito para vencer todos no segundo turno”.
No “mundo real”, o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se mostra importante para o prefeito. Mais conhecido que Nunes, o atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes foi destaque em agendas do emedebista nesta semana, sendo requisitado para fotos com eleitores.
A Quaest mostra que 26% dos paulistanos admitem votar em um nome apoiado pelo governador mesmo sem conhecê-lo, taxa igual à alcançada por Lula (PT) e numericamente superior aos 21% que Bolsonaro atinge na cidade. Já a rejeição a uma indicação feita por Tarcísio (66% se recusam a votar num desconhecido chancelado pelo governador) é inferior à que Bolsonaro inspira nos eleitores (de 74%).
Ainda que apareça empatado na liderança da corrida eleitoral, Marçal recebeu os resultados da pesquisa com desdém, insinuando que o instituto estaria “mentindo para a população” e reafirmando que será eleito no primeiro turno.
A ascensão do ex-coach tomando parte dos votos de Nunes contribui para que Boulos apareça numericamente à frente de seus adversários nas sondagens recentes. O candidato celebrou os dados da Quaest e avaliou que há desejo por “mudança” na cidade. Apoiado por Lula, que esteve em ato de campanha em São Paulo no último sábado, Boulos foi um dos que recalibraram seu discurso para incluir críticas a Marçal e defender que o empresário e Nunes são “duas faces da mesma moeda”.
— (A pesquisa) reforça que a campanha está crescendo e as pessoas estão entendendo quem são os candidatos — disse na quarta-feira o candidato durante encontro com trabalhadores do transporte. — A nossa mensagem é de mudança na cidade, e de uma cidade que muda sem cair no vazio, como são outras candidaturas.
Segundo turno favorece Nunes
A leitura feita por Boulos não converge com os resultados aferidos nas simulações de segundo turno feitas pela Quaest. Os diferentes testes indicam que Nunes ganha com folga em todos os cenários que o incluem.
Numa eventual disputa entre o emedebista e Boulos, o atual prefeito venceria com 46% das intenções de voto, contra 33% do deputado. O candidato à reeleição puxaria para si 59% dos votos de Marçal, 44% dos eleitores de Datena, e 48% dos apoiadores de Tabata. Boulos, por sua vez, herdaria o apoio de 9%, 27% e 38% desses grupos, respectivamente.
Já se o confronto ficar entre Boulos e Marçal, os dois empatam com 38% das intenções de voto cada um. Nesse cenário, o ex-coach herdaria 48% dos eleitores de Nunes no primeiro turno, enquanto Boulos atrairia 20% desse contingente.
Na simulação entre Nunes e Marçal, o emedebista ganharia com 47% das intenções de voto, ante 26% do ex-coach. O candidato à reeleição bateria também Datena, com placar de 45% a 31%.
Candidato que mais recuou em um mês, Datena teve também como notícia negativa o avanço da rejeição ao seu nome: passou de 48% para 56% o percentual dos que afirmam que “conhecem e não votariam” no tucano, que até aqui não conseguiu dar tração à sua campanha.
— Vou me esforçar mais. Os números do segundo turno mostram que São Paulo quer um prefeito independente. Sou o único que derrota o PT e impede os bolsonaristas de vencer — disse Datena ao fim da tarde.
O tucano é o candidato com maior rejeição na cidade, seguido por Boulos (cuja rejeição passou de 40% para 45% desde julho), Nunes (de 36% para 39%), e Marçal (de 30% para 35%).
Já a taxa dos que dizem não votar em Tabata variou de 27% para 31%. A campanha da deputada, a que mais rapidamente fez um ajuste de rota para subir o tom dos ataques contra Marçal, atribuiu sua variação positiva nas intenções de voto a essa mudança na estratégia de comunicação.
(colaboraram Hyndara de Freitas, Samuel Lima, Matheus de Souza e Guilherme Queiroz)