A menos de um mês da eleição, esquerda terá que superar desafios para driblar alta rejeição a candidatos nas capitais
Por Luísa Marzullo / O GLOBO
A pouco mais de um mês para oprimeiro turno das eleições municipais, partidos de esquerda precisarão romper barreiras impostas pela alta rejeição se quiserem vencer as disputas. Levantamento do GLOBO feito a partir de dados da Quaest sobre as corridas em 24 capitais aponta que dos 25 postulantes que têm mais de 40% de índice reprovação, dez são filiados ao PSOL, PT, PDT, PSTU ou PCO.
Os que se identificam como de direita são sete, e os demais, oito, estão ao centro do espectro político. A reportagem considerou os candidatos com mais de 40% de rejeição para o cálculo porque especialistas avaliam que é uma faixa percentual com maior dificuldade de reversão.
Com 15% das intenções de voto na disputa pela reeleição, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), é citado por 69% dos eleitores como uma opção inviável. Recentemente, sua administração viveu uma “crise do lixo”, quando problemas na prestação do serviço resultaram em pilhas de resíduos nas ruas da cidade. Edmilson acumulou uma dívida superior a R$ 15 milhões com as concessionárias responsáveis pela coleta de lixo, o que gerou precariedade no atendimento.
Além de Edmilson Rodrigues, outros nomes do campo da esquerda se destacam no nível de desaprovação. Em Porto Alegre, a deputada federal Maria do Rosário (PT) está empatada tecnicamente com o prefeito em intenções de voto, mas tem 48% de rejeição. Ao GLOBO, seu coordenador de campanha, Cícero Balestro, atribuiu o índice à divulgação de notícias falsas.
— Tem uma rejeição que é a rejeição ao PT, de uma parcela conservadora; o resto são as fake news. Nós vamos trabalhar quem é Maria do Rosário de verdade e estamos muito confiantes que, mostrando seus atributos, vai reduzir (a rejeição) — afirmou.
Outro caso é do ex-deputado federal Marcelo Ramos (PT), que concorre à prefeitura de Manaus. Na capital amazonense, também 48% dos eleitores dizem que não votariam no petista em outubro.
Empatado tecnicamente na liderança da disputa de São Paulo, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) aparece com taxa de 45% no indicador, segundo levantamento da Quaest. Na capital paulista, o candidato aliado do presidente Lula enfrenta dois nomes do campo da direita, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que disputam o espólio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na cidade. Ambos têm rejeição um pouco menor, de 39% e 35%, respectivamente.
Procurada para comentar o resultado na pesquisa, a campanha do psolista atribuiu o dado a polarização presente no país. “Cabe a nós trabalharmos para apresentar propostas e soluções para os problemas concretos da cidade de São Paulo”, diz pronunciamento.
Pauta para minorias
Na avaliação do cientista social Fernando Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a rejeição à esquerda tem fundamento em bandeiras como a defesa da comunidade LGBTQIA+ e a descriminalização das drogas.
— Em regra, partidos de esquerda adotam as minorias, despertando a ira dos conservadores que preferem seguir a direita ou a extrema direita. Reverter a rejeição, neste contexto polarizado, não é fácil, pois é preciso reverter uma imagem negativa pautada em princípios e valores colados ao candidato — avalia Bentes.
Entre políticos de partidos nanicos, chama a atenção os casos de Cyro Garcia (PSTU), no Rio, rejeitado por 43% dos eleitores, e Lourdes Melo (PCO), que não é uma opção para 53% dos entrevistados pela Quaest em Teresina. O nome do PSTU já disputou outras nove eleições para diferentes cargos. Já Lourdes Melo viralizou no pleito de 2022, quando concorreu ao governo do Piauí ao participar de um debate. Na ocasião, a candidata se irritou com o mediador do debate, que pedia que ela seguisse as regras. “Você quer me calar?”, respondeu Lourdes Melo ao jornalista
Apesar de a esquerda dominar o ranking, o candidato mais rejeitado do país pertence ao campo da direita: o prefeito de Teresina e candidato à reeleição, Doutor Pessoa (PRD). Com 5% do eleitorado ao seu lado para um novo mandato, ele é rejeitado por 79% dos eleitores. Sua gestão na cidade foi marcada por uma forte crise na saúde, que perpassou a falta de médicos e a ausência de repasses a funcionários terceirizados.
No primeiro debate das eleições de 2024, feito pela Band no mês passado, Pessoa causou controvérsia e virou alvo de denúncia formal após dar uma cabeçada em Francinaldo Leão (PSOL), seu adversário na disputa.
Na capital piauiense, quem lidera a corrida pela prefeitura é um médico, o ex-secretário municipal Silvio Mendes (União Brasil), que atinge 46% das intenções de voto. Ele tem o apoio do ex-prefeito Firmino Filho (PSDB).
Com uma rejeição menos acentuada, de 41%, o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Avante) também vive um cenário de dificuldade para a reeleição, com 4% das intenções de voto. Pastor licenciado da Assembleia de Deus, Cruz foi convidado a se retirar do Republicanos ainda no início deste ano, por crises em seu mandato, a exemplo da paralisação das maternidades. Sua campanha, contudo, afirma que a rejeição será atenuada a partir da apresentação dos “avanços administrativos” de seu mandato. Seus articuladores dizem ainda que o índice mais elevado é natural ao detentor do cargo e ponderou que 77% dos eleitores estão indecisos na espontânea, quando a lista de candidatos não é apresentada.
Os sem mandato
Além dos prefeitos, outros candidatos sem mandato no Executivo apresentam índices de rejeição superiores ao patamar de 50%. Em São Paulo, o apresentador de TV licenciado José Luiz Datena (PSDB) não é opção de voto para 56% dos eleitores.
Em Belém, o deputado bolsonarista Delegado Éder Mauro (PL), rival de Edmilson Rodrigues na disputa pela prefeitura, alcança o índice de 51%, assim como o ex-senador e ex-petista Roberto Requião (Mobiliza), que concorre em Curitiba. Ao GLOBO, o candidato a prefeito da capital do Paraná justificou o indicador negativo pelo fato de ocupar cargos públicos desde 1983, e por tersido o candidato do partido de Lula na eleição passada.
— Eu fui prefeito, fui governador e fui senador. Interesses contrariados fizeram uma campanha sistemática contra mim porque eu não apareço nas rádios e na televisão — argumentou Requião.
Para a equipe do candidato, a saída do ex-petista do partido fará com que os curitibanos consigam “enxergar a independência de Requião, bem como seu compromisso e coerência com a boa política, com a coisa pública e com o povo de Curitiba”.