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Lula usa viagens oficiais para turbinar aliados em cidades estratégicas nas eleições

Renato MachadoJulia ChaibMarianna Holanda / FOLHA DE SP

 

O presidente Lula (PT) cumpriu a sua promessa e intensificou no primeiro semestre deste ano as viagens pelo Brasil, incluindo em seu roteiro cidades consideradas estratégicas no mapa eleitoral do PT e do próprio governo.

 

O foco está em capitais em que o partido e seus aliados consideram ter chance de vitória e cidades de médio porte que já governa. O mandatário também vem adotando a estratégia de aumentar a quantidade de entrevistas, conversando com veículos de mídia locais em cada parada.

 

Lula terá uma semana intensa de viagens, numa corrida para comparecer ao máximo de municípios antes do período de restrições da Justiça Eleitoral –candidatos só podem participar de cerimônias de entrega de obras do governo federal até o próximo sábado (6).

 

O Palácio do Planalto nega caráter eleitoral nas viagens e argumenta que as agendas ocorrem em todo o Brasil.

"Os critérios para definição dos compromissos presidenciais nacionais têm como parâmetro o cronograma de entregas e anúncios de novas medidas, além da disponibilidade de agenda do chefe do Executivo", disse, em nota.

 

O governo Lula ainda acrescenta que o primeiro ano de mandato foi dedicado à reconstrução de políticas públicas e sociais. Neste ano, prossegue, será a vez de "colher o resultado desses investimentos e acompanhar o andamento das medidas em execução".

Lula visitou 36 cidades brasileiras nos primeiros seis meses deste ano. Em ao menos 20 delas, o PT lançou candidatos ou participa de alianças com chances de vitória nas eleições municipais de outubro.

 

O presidente esteve desde quinta-feira (27) fora de Brasília. Voltou neste domingo (30) para uma leve pausa e já parte novamente, com previsão de volta apenas na próxima quarta-feira (3), para participar do lançamento do Plano Safra.

 

Nos últimos dias, passou por três cidades de Minas Gerais, foi a eventos pela quarta vez na cidade de São Paulo, pela sétima vez ao Rio de Janeiro e ainda passa por Salvador, Feira de Santana (BA), Recife e Goiânia.

 

O GTE (Grupo de Trabalho Eleitoral) do PT se reuniu na semana passada para acertar novas candidaturas e definir prioridades para as eleições.

Em Minas Gerais, o partido tem como meta manter o controle sobre duas cidades médias, Contagem e Juiz de Fora —as atuais prefeitas, Marília Campos e Margarida Salomão, lideram as pesquisas.

 

Lula visitou os dois municípios na semana que passou. Em Contagem, usou parte de sua fala para exaltar a prefeita.

 

"Querida Marília, foi um prazer muito grande vir a Contagem outra vez e te achar mais bonitona, mais charmosa e muito mais preparada para conversar com esse povo. Porque o que você fez com esse povo hoje foi uma lição de vida. E eu tenho certeza que o povo sabe a importância de a Marília ser prefeita de Contagem", disse o presidente.

 

Mesmo tratamento recebeu Margarida em Juiz de Fora, onde o próprio Lula reconheceu que decidiu visitar a cidade antes das vedações eleitorais.

"Eu vim aqui também porque, [até] no dia 5 de julho, essa mulher pode subir comigo no palanque. Mas depois do dia 5 de julho essa mulher não pode mais subir no palanque comigo. Como eu quero vir muitas vezes aqui e vou ter que fazer atos sem a presença dela, eu vim aproveitar essa viagem para ver a minha extraordinária companheira Margarida e aproveitar para inaugurar as obras", afirmou o presidente.

 

Ainda em sua passagem por Minas, Lula deu declarações a rádios exaltando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e defendendo sua candidatura a governador em 2026.

 

O PT lançou o nome do deputado federal Rogério Correia para a disputa na capital, Belo Horizonte, onde Lula também esteve, mas a situação do partido por lá é bem mais difícil.

 

Também de olho em 2026, Lula dedicou boa parte de suas viagens para visitar a região Nordeste, bastião eleitoral do PT.

A ida a Teixeira de Freitas (BA), cidade que o grupo político do governador Jerônimo Rodrigues (PT) busca reconquistar, resultou numa saia justa com o prefeito opositor local.

Lula criticou a ausência de Marcelo Belitardo (União Brasil) na inauguração de um hospital. O chefe do Executivo local depois respondeu que o evento era um "ato político" com o qual ele não concordava.

 

Outro embaraço ocorreu durante inauguração de obra na Via Dutra, em Guarulhos (SP), com o pré-candidato Alencar Santana (PT), quando o presidente cometeu um ato falho e chamou o evento de "comício do Lula".

 

Mesmo com as viagens do presidente pelo país, a prioridade máxima no governo segue sendo a eleição de Guilherme Boulos (PSOL) na cidade de São Paulo.

No sábado (29), ele dividiu palanque com o deputado do PSOL em dois eventos do governo federal na capital paulista e reforçou a estratégia eleitoral do seu aliado de se colocar como defensor dos mais pobres. Condenado por campanha eleitoral antecipada por ato no 1º de Maio, o petista evitou pedido de voto explícito.

 

Outra prioridade do petista é reeleger Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro e assim ter aliados comandando as duas maiores cidades do Brasil. Neste domingo (30), Lula participou de entrega de casas com o prefeito, a quem chamou de o "possível melhor gerente de prefeitura que este país já teve".

 

O PT trabalha com a hipótese de ter candidatos em 11 capitais, mas o GTE do partido considera que há chances reais em três: Teresina (PI), Fortaleza (CE) e Porto Alegre (RS).

 

Também aposta em crescimento em Vitória (ES) e Goiânia (GO). As três primeiras foram visitadas por Lula e tiveram os pré-candidatos nos eventos. A capital goiana entrará no roteiro na quinta-feira (4).

 

A partir do dia 6, as autoridades públicas não podem participar de inaugurações públicas nem nomear, exonerar ou contratar agentes.

 

A União fica proibida, por exemplo, de fazer transferências voluntárias aos estados e municípios. São ressalvadas apenas as transferências que cumprem obrigação formal anterior para executar obra ou serviço com cronograma fixado. O governo federal pode atender os poderes locais em caso de emergência ou calamidade pública.

 

O Executivo Federal também precisa retirar de seus sites e outros meios de comunicação oficial qualquer slogan ou símbolo que possa identificar "autoridades, governos ou administrações" que estejam em disputa.

Desempenho ruim alimenta pressão para Biden desistir

EDITORIAL DE O GLOBO

 

Do início ao fim, o desempenho de Joe Biden no debate com Donald Trump, primeiro do ciclo eleitoral que decidirá quem comandará os Estados Unidos a partir do ano que vem, foi constrangedor. Ao defender o embate contra Trump antes das convenções democrata e republicana que escolherão oficialmente os candidatos, partidários de Biden pretendiam afastar as preocupações com sua idade avançada (81 anos) e as dúvidas sobre sua capacidade cognitiva. O efeito foi o oposto. Na saída do evento em Atlanta, estavam instalados entre os democratas o pânico e a discussão sobre o que fazer para convencer Biden a desistir da candidatura.

 

Já na primeira pergunta, Biden falou com voz tíbia e rouca. Em seguida, teve um lapso de memória ao discorrer sobre o sistema de saúde. Repetidas vezes, interrompeu frases no meio para seguir outro fluxo de pensamento. Ao comentar a guerra na Ucrânia, confundiu Trump com o russo Vladimir Putin, numa de suas dezenas de frases tortuosas: “Se você der uma olhada no que Trump fez na Ucrânia, ele, esse sujeito disse à Ucrânia, disse a Trump, faça o que quiser, faça o que quiser, e foi exatamente isso que Trump fez. Putin o encorajou, faça o que quiser. E ele entrou”. Ao final de outra resposta obtusa de Biden sobre segurança na fronteira, Trump retrucou: “Realmente não sei o que ele disse no final daquela frase. E acho que ele também não sabe”.

 

Trump foi condenado em maio por um tribunal em Nova York por fraude contábil ao subornar uma atriz pornô na campanha de 2016. Difícil pensar em assunto mais vantajoso para Biden. Mas, quando ele falou no tema, foi hesitante. O ataque a Trump pela incitação à invasão ao Capitólio também não surtiu o efeito esperado. Biden conseguiu ir mal mesmo nos temas em que tinha vantagem, como aborto. Numa resposta confusa, mencionou imigração e segurança pública, dois pontos fracos de seu governo.

 

Ao final, estava claro que a estratégia republicana de deixar Biden expor suas próprias fragilidades dera certo. À frente nas pesquisas, Trump também se confundiu e proferiu um sem-número de mentiras e declarações desconexas. Mas, aos 78 anos, continua falando em tom firme, sobressaindo no contraste com a tibieza de Biden.

 

Biden tem o apoio de 3.894 dos 3.937 delegados da convenção democrata em 19 de agosto. Não há impedimento legal para que o partido escolha outro candidato. Mas, para isso, é preciso primeiro que Biden desista da reeleição, como fez Lyndon Johnson em 1968. Nesse cenário, os democratas teriam uma “convenção aberta”, em que o candidato seria escolhido de forma competitiva pelos delegados. Certamente haveria pressão em favor da vice-presidente Kamala Harris. Outro nome aventado é Gavin Newsom, governador da Califórnia.

 

Os democratas estão diante de um dilema: insistir na candidatura de um presidente impopular, visto como incapaz, ou convencê-lo a desistir para buscar outro candidato de última hora. A competição para ocupar o lugar de Biden traria à tona as divisões internas, e sair da convenção com o partido unido representaria um desafio. Por enquanto, todos os cenários não passam de especulação. Biden não deu nenhum sinal de que pretenda desistir. Melhor para Trump, que inegavelmente saiu vitorioso do debate. Biden, até o momento, tem sido o pior cabo eleitoral de si mesmo.

Lula diz que bolsonarismo tem quatro candidatos para 2026 e cita governadores como possíveis adversários

Por  e — Brasília / O GLOBO

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quarta-feira, que enxerga quatro governadores como possíveis candidatos à Presidência em 2026 alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro: Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Júnior (Paraná).

 

— O bolsonarismo tem a possibilidade de ter quatro candidatos: tem o Tarcísio, governador do estado mais importante; tem o Zema, governador do segundo estado mais importante; tem o Caiado, que está se oferecendo todos os dias para ser candidato; e tem o Ratinho, no Paraná. Mas, sinceramente, não sei se serão candidatos — disse Lula em entrevista ao UOL.

 

Com Jair Bolsonaro (PL) inelegível até 2030, Tarcísio (Republicanos) emerge como um dos potenciais herdeiros do espólio do ex-presidente. Em maio, a primeira pesquisa Genial/Quaest sobre a próxima eleição presidencial, revelou vantagem de Lula sobre o governador de São Paulo em 2026. Perguntados sobre uma disputa direta na qual Tarcísio seria escolhido como o candidato de Jair Bolsonaro (PL), 46% votariam no petista e 40% optariam pelo ex-ministro da Infraestrutura.

 

Questionado sobre o governador de São Paulo, o petista afirmou que os dois mantêm pouca relação e que "não irá julgá-lo". Disse, ainda, que espera que Tarcísio "não tenha preocupações" durante suas visitas a São Paulo.

 

Lula declarou, ainda, que deverá entrar em campo nas eleições municipais para emplacar aliados em cidades estratégicas, mas que não vai “participar da campanha como um todo” para "não atrapalhar a governança nacional”.

 

— Um partido é como time de futebol, tem época que você está na qualidade de um Real Madrid, tem época que você está na qualidade do Corinthians. Então, a depender do momento, você lança mais candidato ou menos candidato. Eu acho que a gente vai ter candidato nas cidades em que a gente tem perspectiva de disputar. algumas, com aliados importantes.

 

 

Governo teme bolsonarismo energizado com fortalecimento de campanha de Trump após debate

Ricardo Della ColettaRenato Machado / FOLHA DE SP

 

O fortalecimento da candidatura de Donald Trump após o debate presidencial americano, na quinta-feira (27), aumentou a preocupação no Palácio do Planalto com as consequências para o presidente Lula (PT) de uma possível volta do republicano à Casa Branca.

A principal avaliação entre auxiliares do petista é que o eventual retorno de Trump significaria um empoderamento da extrema direita no Brasil e do bolsonarismo, com risco de impacto até mesmo sobre o STF (Supremo Tribunal Federal).

Na noite de quinta, Joe Biden e Trump se enfrentaram no primeiro debate das eleições presidenciais dos Estados Unidos, nos estúdios da emissora CNN, em Atlanta.

 

Em um embate tenso, Trump encurralou Biden de maneira enérgica em temas-chave para o eleitorado americano, como imigração, guerras nas quais os EUA se envolveram nos últimos anos, a gestão da pandemia da Covid-19 e o aborto. O desempenho ruim do democrata aumentou a pressão para que ele desista de concorrer.

Embora destaquem que ainda faltam meses para a eleição e que o próprio Trump tem desafios políticos e até judiciais em sua campanha, membros do governo opinam que Biden demonstrou fragilidade no debate.

O debate aconteceu no mesmo dia em que Lula criticou Trump, lembrou o ataque ao Capitólio e disse que pessoas assim não são boa para a politica. Ele também disse que Biden é a "certeza de que os Estados Unidos vão continuar respeitando a democracia" e que, por isso, torce pelo democrata.

"O Biden é a certeza de que os EUA vão continuar respeitando a democracia. O Trump já deu aquela demonstração quando ele invadiu o Capitólio. Fez lá o que se tentou fazer aqui no Brasil no 8 de janeiro. Como democrata, estou torcendo para que o Biden saia vitorioso. Tenho uma relação sólida com ele e pretendo manter", afirmou Lula, em entrevista à rádio Itatiaia.

Assessores no Palácio do Planalto minimizaram o impacto das declarações de Lula em apoio a Biden. Eles disseram que a fala se justifica pelo caráter de risco à democracia que Trump representa.

Disseram ainda que a relação com os EUA no caso de vitória trumpista não seria mais problemática do que é hoje, independentemente das declarações, por causa da proximidade de Trump com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o bolsonarismo.

Por outro lado, manifestaram preocupação de que o fortalecimento de Trump crie uma nova onda em favor da extrema direita nos EUA e em todo o mundo. No Brasil, significaria combustível novo para o bolsonarismo, movimento que, na visão do Planalto, se enfraqueceu com as investigações sobre o 8 de janeiro de 2023 e a inelegibilidade de Bolsonaro decidida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Assessores de Lula ouvidos pela Folha traçaram dois cenários para um hipotético relacionamento entre Lula e Trump a partir do ano que vem. No otimista, temas econômicos ganhariam precedência sobre a disputa ideológica e o governo petista conseguiria margem para conduzir a agenda bilateral com pragmatismo.

Mas há razões para uma previsão mais pessimista: os vínculos políticos do trumpismo com Bolsonaro e seus aliados.

Políticos americanos partidários de Trump denunciaram recentemente o que consideram perseguição e censura do STF contra bolsonaristas.

Além disso, o bilionário Elon Musk, apoiador de Trump e dono da rede social X (ex-Twitter), fez ataques nas redes sociais ao ministro do STF Alexandre de Moraes e o acusou de ter atuado para beneficiar Lula.

Esses episódios levaram assessores de Lula a temer que Trump e seus aliados, caso cheguem ao poder, adotem uma postura de hostilizar abertamente o governo brasileiro e o Supremo. Como principal economia do mundo, não faltariam instrumentos para isso.

Segundo um auxiliar de Lula, uma Casa Branca trumpista não seria o único foco de tensão para Lula no continente. Javier Milei, o ultraliberal presidente da Argentina, poderia se sentir mais empoderado para adotar uma estratégia mais ideológica na relação com o Brasil.

As dificuldades de Biden no debate da CNN têm sido exploradas por bolsonaristas nas redes. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente e articulador internacional do bolsonarismo, publicou em rede social vídeo do debate para dizer que Biden travou. Republicou ainda mensagem que ironiza a idade do democrata.

De acordo com pessoas que acompanham o tema no governo brasileiro, no momento é preciso aguardar para entender quais serão os próximos passos dos democratas nos EUA. O governo vai analisar primeiro se Joe Biden permanecerá candidato ou se cederá à pressão para ser substituído por alguém mais jovem.

Um assessor do Lula citou um tuíte desta sexta-feira (28) do ex-presidente Barack Obama, no qual ele afirmou que "noites ruins de debate acontecem" e defendeu Joe Biden na disputa contra Trump. "Essa eleição é ainda uma escolha entre alguém que lutou por pessoas comuns a sua vida inteira e alguém que se importa apenas consigo mesmo", escreveu.

O atual presidente americano, de 81 anos, chegou ao debate tendo sua capacidade de governar questionada por causa da sua idade avançada. Na avaliação de analistas, e de conselheiros de Lula que seguiram o debate, ele piorou essa percepção. Trump tem 78 anos.

 

Uso de inteligência artificial cresce em campanhas pelo mundo e acende sinal de alerta no TSE para eleições municipais

Por  e — Brasília / O GLOBO

 

Em um ano marcado por eleições que mobilizam grandes contingentes de eleitores, em países como Índia, México e Brasil, o uso de inteligência artificial (IA) na política tem se alastrado pelo mundo. Da criação de candidatos fictícios a falsas declarações de apoio, o uso da tecnologia coleciona exemplos de tentativas de manipular a opinião do eleitor, em amostras do tipo de ação com que os brasileiros que vão às urnas em outubro poderão se deparar. Profissionais que atuam em campanhas e dirigentes partidários, por outro lado, afirmam ser possível fazer bom uso das ferramentas nas disputas municipais.

Resolução aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em fevereiro define regras para a utilização da IA nas campanhas eleitorais, como identificar o uso da tecnologia em materiais de divulgação e a proibição dos chamados “deepfakes” — técnica que permite trocar o rosto de pessoas em vídeos, por exemplo.

 

Deepfake foi a tecnologia utilizada na África do Sul em vídeos que indicavam um falso apoio do ex-presidente norte-americano Donald Trump a candidatos no país. A imagem de Trump, ele próprio candidato nos Estados Unidos, também foi manipulada no Paquistão para dizer que ele tiraria da prisão o ex-primeiro-ministro Imran Khan.

 

O risco dessas manipulações aumenta à medida que se aproxima a eleição — e diminui, portanto, o tempo para desmentir o conteúdo. Em Bangladesh, um vídeo criado com a técnica de deepfake foi usado para simular que dois candidatos haviam desistido na disputa no dia de os eleitores irem às urnas. Situação semelhante ocorreu em Taiwan, mas para falsificar o apoio de um empresário.

 

Na Índia, candidatos usaram vozes e imagens de pessoas mortas, incluindo uma cantora popular. O mesmo ocorreu na Indonésia, com vídeos do ex-presidente Suharto, morto em 2008.

 

Todos esses episódios poderiam ser enquadrados nas regras do TSE, com a possibilidade de cassação da candidatura ou até do mandato dos responsáveis pela divulgação.

 

Prioridade do TSE

O tribunal afirma que servidores do órgão acompanham a utilização da tecnologia ao redor do mundo, com participação em eventos e workshops internacionais. Em nota, o TSE informou ainda que este monitoramento é uma prioridade da Corte.

 

“O uso da inteligência artificial no processo eleitoral está entre as prioridades do TSE, que acompanha sim o tema e o modo como essa tecnologia é empregada ao redor do mundo”, diz a nota.

 

Mas nem sempre a IA é usada para enganar o eleitor. Na Bielorrúsia, um candidato foi criado a partir do ChatGPT, ferramenta criada pela empresa OpenIA, em uma forma da oposição de denunciar o que foi considerada uma eleição fraudulenta. “Ele é mais real do que qualquer candidato que o regime tem para oferecer. E a melhor parte? Ele não pode ser preso”, ironizou a líder opositora Sviatlana Tsikhanouskaya.

 

No México, a candidata Xóchitl Gálvez relatou ter utilizado uma ferramenta de IA para treinar para um debate. Os dados sobre o uso da IA em eleições estão sendo reunidos em um projeto do site Rest of World.

 

Enquanto isso, no Brasil, marqueteiros envolvidos em campanhas admitem utilizar a tecnologia, mas predominantemente em funções nos bastidores das campanhas. O estrategista Felipe Soutello, especialista em marketing político e responsável por diversas campanhas, ressalta que as ferramentas de IA vão auxiliar no trabalho do dia a dia, agilizando alguns processos.

 

— A base de uma campanha é a estruturação do discurso dos candidatos. Então, se você armazena o conjunto das falas e discursos e estrutura isso dentro de uma pasta de IA, ela vai te ajudar a ter coerência, pegar as recorrências, refinar e deixar esse discurso mais palatável para diferentes públicos. Essas ferramentas são colaboradores que somam na mesa de trabalho — afirmou Soutello, que atuou na campanha vitoriosa de Bruno Covas à Prefeitura de São Paulo, em 2020, e na da atual ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), à Presidência da República, em 2022.

 

O marqueteiro Paulo Vasconcellos, que assumiu a campanha do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), e atua na pré-candidatura do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) à Prefeitura do Rio, também é a favor da utilização da tecnologia, mas “com parcimônia”.

 

— O eleitor busca verdade no candidato. Se o eleitor perceber que há falsidade em uma conversa, a candidatura perde energia — avalia.

 

O marqueteiro Renato Pereira, que deve atuar em campanhas de algumas capitais, ressalta que o uso “do bem” das ferramentas de inteligência artificial é efetivo, auxiliando no processamento de informações. Ele avalia que em algumas áreas não há vantegens, como na criação. No caso de elaborar um slogan, os resultados são ruins.

 

— A IA interpreta pesquisas, elabora cenários políticos para o candidato.

 

Uso nocivo

No início do mês, a ministra Cármen Lúcia assumiu a presidência do TSE com um discurso contra “algoritmo do ódio”. Um dos principais desafios será o de lidar com a popularização da IA.

 

Reservadamente, estrategistas apontam a possibilidade de diretórios de grandes partidos utilizarem a tecnologia com o objetivo de abranger cada vez mais a segmentação. Ou seja, a tecnologia deve orientar a produção de propagandas que visem atingir eleitores que moram em um bairro determinado, ganham um certo salário, seguem certa religião.

 

O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), diz que a IA é uma “realidade irreversível”, mas que a regulamentação é importante. Ele defende mudanças na legislação para reforçar a vedação aos deepfakes. Já o chefe do PL, Valdemar Costa Neto, afirma que as peças de comunicação serão de responsabilidade dos diretórios municipais, sem centralização.

 

À frente do PSDB, Marconi Perillo afirmou que o partido promoveu um seminário com pré-candidatos para evitar a desinformação. O dirigente confirma que a sigla irá usar ferramentas com IA, principalmente na análise de dados para auxiliar candidatos.

 
 

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