Votação revela consolidação da direita nas eleições municipais brasileiras
Lara Mesquita / FOLHA DE SP
A disputa em São Paulo destaca um fenômeno que se repete em todo o país: o crescimento da direita e da centro-direita. É nítida a evolução do desempenho desses partidos, que, conjuntamente, elegeram mais de 3.200 prefeitos, segundo os resultados preliminares do primeiro turno, relativos a 5.555 dos 5.568 municípios do país.
A estratégia do presidente do PSD, Gilberto Kassab, de atrair para a legenda prefeitos em exercício parece ter dado resultado. O partido ultrapassou o MDB e o PP, tornando-se a legenda com o maior número de prefeitos eleitos no país.
PSD e MDB, atualmente os partidos mais adaptáveis ao governo de ocasião, registraram os melhores desempenhos nas urnas neste domingo, com 888 e 861 prefeitos eleitos no país, uma vantagem de mais de cem prefeituras conquistadas em relação ao PP (752), partido que se esperava que colhesse os frutos das emendas parlamentares ao orçamento na era Lira, figura de maior destaque da legenda atualmente.
União Brasil e PL também aparecem entre os mais bem posicionados em relação à quantidade de prefeituras conquistadas neste primeiro turno (589 e 523, respectivamente). O União Brasil, fruto da fusão entre PSL e DEM, registrou um crescimento tímido se comparado à soma das duas legendas em 2020.
O PL, de Valdemar da Costa Neto, embora seja apenas o quinto da lista e tenha sofrido uma derrota notável no Rio de Janeiro, disputará o segundo turno em 9 das 15 capitais que definirão seus novos governantes no final do mês. Se for bem-sucedido, o partido poderá se tornar a legenda que governa o maior número de grandes cidades do país.
No entanto, o grande destaque parece ser o Republicanos, partido que completa o grupo dos partidos de direita, ou do chamado centrão. A legenda mais que dobrou o número de cidades que irá administrar no próximo quadriênio, passando de 212 para 439, consolidando uma estratégia de crescimento orgânico e sustentável, já observada em 2020. Parece que o partido está se preparando para, em breve, assumir o papel de principal representante eleitoral da direita.
PSB, com 311 prefeituras, e PT (251) obtiveram os melhores desempenhos entre os partidos de esquerda, seguidos pelo PDT (151). Enquanto o Partido Socialista Brasileiro e o Partido dos Trabalhadores cresceram em comparação com 2020, os herdeiros do brizolismo encolheram, perdendo mais da metade das prefeituras conquistadas em 2020.
De maneira geral, as forças de esquerda ficaram longe de alcançar os adversários de centro-direita. O PT ficou atrás até mesmo do moribundo PSDB, que alcançou 273 prefeituras, mas não elegeu nem disputará o segundo turno em nenhuma capital em 2024. Para completar, os tucanos conseguiram a façanha de, pela primeira vez desde sua fundação, não eleger um único vereador na capital paulista.
Antes de encerrar, dois comentários sobre a disputa para a Câmara Municipal da cidade de São Paulo:
Embora o PRTB de Pablo Marçal tenha ficado muito próximo de disputar o segundo turno, o partido não elegeu um único vereador. Curiosamente, obteve aproximadamente o mesmo número de votos nominais e de legenda, o que é notável.
Os dois candidatos mais votados na cidade foram influenciadores digitais filiados a partidos de direita. Lucas Pavanato, do PL, conquistou mais de 160 mil votos, muito acima dos cerca de 36 mil que obteve quando tentou uma vaga na Assembleia Legislativa em 2022. Ana Carolina Oliveira, que ganhou notoriedade após a trágica morte de sua filha Isabella Nardoni, concorreu pelo Podemos e recebeu quase 130 mil votos.
Disputa em SP espelha multiplicação da direita e dá chance de redenção à esquerda
Bruno Boghossian / FOLHA DE SP
As eleições municipais nos grandes centros deram à direita uma demonstração de vigor num momento em que esse campo parecia ameaçado por uma fratura. A divisão ocorreu, mas havia eleitores suficientes dispostos a comprar mais de um produto do mesmo grupo.
A disputa em São Paulo, em alguma medida, foi a amostra mais vistosa de um fenômeno que marcou corridas em outras capitais e grandes municípios. Em determinadas praças, o bolsonarismo oficial foi às urnas com personagens radicais e foi desafiado por candidatos de direita com embalagens moderadas. Em outros casos, o contrário ocorreu.
A capital paulista deu espaço para só uma dessas opções no segundo turno, não sem deixar claro que personagens com o embrulho da direita poderiam ser a escolha de quase 60% dos eleitores.
O quadro da disputa exibiu uma consolidação da direita como preferência majoritária ou prioritária do eleitorado em importantes centros urbanos, que concentram populações expressivas e, em muitos casos, servem de motores regionais para grupos políticos.
Em cidades com DNA claramente conservador, o desenho apareceu de forma ainda mais nítida. Goiânia e Curitiba, por exemplo, terão segundos turnos formados exclusivamente por candidatos de direita. Bolsonaro estará com os mais radicais.
A experiência da divisão interna oferece à direita algumas vantagens e um punhado de dilemas. A diversificação de candidaturas deu ao grupo, por exemplo, a oportunidade de renovar algumas lideranças –como no caso de Fortaleza, onde o bolsonarista de primeira geração Capitão Wagner (União Brasil) foi substituído por André Fernandes (PL).As fraturas ficaram expostas, e o comportamento dos líderes políticos ainda vai determinar como se dará a calcificação desse esqueleto.
O susto provocado por Pablo Marçal (PRTB) e o sucesso de candidatos mais estridentes tendem a dar um incentivo adicional a Bolsonaro e outros personagens para replicar dessas técnicas. A fabricação de personagens moderados e a aliança com produtos do centrão, como Ricardo Nunes (MDB), se tornam mais arriscadas.
O contrapeso pode ser apresentado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que bancou a candidatura de Nunes e tem uma chance de acompanhá-lo até a vitória.
A multiplicação da direita reduziu ainda mais os espaços de uma esquerda que entrou na eleição desacreditada e saiu enfraquecida.As vitórias de João Campos (PSB) e de outros não petistas mostram que há caminhos alternativos. A ida de Guilherme Boulos (PSOL) ao segundo turno evitou um fracasso completo e manteve uma porta aberta, ainda que pareça estreita a esta altura, para uma redenção.
A vitória de Lula (PT) em 2022, com um impulso importante de cidades como São Paulo e Porto Alegre, acabou se tornando um ponto de contraste para o mau desempenho de candidatos de esquerda mesmo em capitais do Nordeste e para uma derrota amarga em Teresina, onde a vitória era dada como certa.
A relativa dificuldade de penetração desses partidos nas grandes cidades, especialmente nas periferias, reforça a fragilidade de suas marcas, as dificuldades de renovação e uma desconexão com um eleitorado que parece cada vez mais confortável em sair às ruas com um figurino conservador.
Fenômeno sísmico da eleição em São Paulo é a preferência dos trabalhadores pela direita
Por J.R. Guzzo / o ESTADÃO DE SP
O fato mais revelador das eleições municipais na maior cidade do Brasil parece não estar sendo percebido, e muito menos entendido, por nossos cientistas políticos. Ao contrário da geologia, que oferece sismógrafos e outros artefatos para detectar o movimento das grandes massas de matéria debaixo da superfície da Terra, os analistas só têm à sua disposição o bom senso. Se têm pouco, ou nenhum, não conseguem acompanhar a deslocação das placas subterrâneas que determina para onde está indo a política na vida real.
O fenômeno sísmico dessas eleições para a Prefeitura de São Paulo é a aparente preferência das classes trabalhadoras por nomes da direita para governar a sua cidade. São Paulo é, sem dúvida, a capital proletária do Brasil. Eleição, aqui, não é decidida por chefetes políticos que distribuem cartões do Bolsa Família, nem por manifestos de intelectuais ou por bilionários com “pegada social”. É o mundo do trabalho e da produção que vai às urnas — e esse mundo está dizendo que a direita tem dois dos três candidatos preferidos pelos 9,3 milhões de eleitores paulistanos.
Há um negacionismo exacerbado em relação a essa realidade. Não poderia ser assim dos pontos de vista sociológico, filosófico e metafísico, segundo as instruções que recebemos das classes “que pensam”. Está previsto em seus tratados que só a burguesia, os fanáticos e os débeis mentais podem votar na direita. Os trabalhadores, obrigatoriamente, têm de votar na esquerda — seu partido não se chama, justamente, Partido dos Trabalhadores? Mas a realidade está contando uma história diferente.
São Paulo é a cidade que mais tem trabalhadores no Brasil — e eles vêm de todo o país, o que torna São Paulo a cidade mais brasileira do Brasil. O problema, para a ciência política, é que os trabalhadores de São Paulo não querem votar no Partido dos Trabalhadores. A reação tem sido negar a realidade. Não é a esquerda que está doente. É a direita que está dividida. Tem dois dos três candidatos mais fortes, e isso mostra a sua fraqueza: deveria ter um só no bloco da frente, mas se deu mal e ficou com dois.
A qualidade média do raciocínio é daí para pior. Não se admite que o trabalhador paulistano está pensando em melhorar a sua própria vida, e não em dar apoio aos moradores de rua ou em “desarmar a polícia”. Pior: seus anseios de prosperidade são tratados como uma tara direitista, religiosa e reacionária. Pior ainda: ameaçam a “democracia”. Mas a massa eleitoral é a classe operária, e ela não está no arquipélago onde se pensa assim, esse que vai de Perdizes ao Brooklin, do Alto de Pinheiros à Vila Mariana. As placas mudaram de lugar.
Eleição indica Marçal como ameaça a Bolsonaro e revela decepção com Lula, diz especialista
Por Bianca Gomes / O ESTADÃO DE SP
A eleição em São Paulo, que termina com uma acirrada disputa entre três candidatos por duas vagas no segundo turno, reflete cenários nacionais que indicam enfraquecimento das duas principais lideranças do País: o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Enquanto o petista não funcionou como cabo eleitoral, Bolsonaro enfrenta uma clara ameaça com o fortalecimento de Pablo Marçal, que disputa palmo a palmo a eleição com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). As avaliações são do cientista político Renato Dorgan, CEO do instituto Travessia.
Em entrevista ao Estadão, ele diz que Marçal, mais do que Bolsonaro, representa uma direita internacional que ascendeu nos últimos anos, como Donald Trump e Javier Milei, diz que houve um anticlímax em relação a Lula após a eleição de 2022. Na conversa, ele analisa as mudanças trazidas pela disputa de 2024 na capital paulista.
Qual avaliação faz sobre a eleição municipal em São Paulo?
Foi uma eleição conturbada, marcada por poucas propostas e uma discussão limitada sobre os problemas complexos da cidade. O foco ficou muito mais nas ações da gestão Nunes do que nas novas propostas dos outros candidatos. Também foi uma eleição dominada pelo marketing de redes sociais. É importante notar que o Twitter, agora chamado de X, acabou no meio do processo eleitoral, e ele era o principal palco de brigas e discussões, enquanto que a construção e desconstrução de candidaturas se dava muito mais no Instagram e no Facebook. O fim do X fez com que a disputa entre os candidatos migrasse para os debates, que recuperaram sua importância e se firmaram como um espaço de confronto.
O que mudou em relação ao uso das redes sociais pelas campanhas?
A linguagem do marketing político se tornou muito rápida e superficial, com mensagens curtas que empobrecem a discussão política. Isso nos leva de volta ao ponto que discutimos: há poucas propostas. Na minha opinião, o marketing político, ao tentar se adequar a essa nova era, se torna mais pobre a cada eleição.
Vê alguma mudança para as próximas eleições?
Na disputa deste ano, os programas de televisão tiveram muito menos relevância do que no passado. Embora muitos analistas digam que Nunes se consolidou a partir de sua aparição na TV, isso já não parece ser suficiente para definir a eleição.
No início da eleição, havia uma expectativa de que teríamos um terceiro turno entre Lula e Bolsonaro. No entanto, isso não se concretizou. Por quê?
Sempre fui cético em relação à polarização nas eleições municipais, pois, nos últimos anos, as pesquisas qualitativas mostraram que Bolsonaro e Lula não são os “superstars” que muitos acreditam. A eleição de 2022 teve quatro tipos de eleitores: os apoiadores de Lula, os de Bolsonaro, os anti-Lula e os anti-Bolsonaro. Embora tenham força eleitoral, ambos enfrentam alta rejeição, e muitos eleitores saíram traumatizados de 2022. Por um lado, houve um anticlímax em relação a Lula. O discurso de que tudo iria melhorar se desfez este ano, com a queda do poder de compra, gerando uma certa decepção.
No caso de Bolsonaro, sua ausência no pós-eleição e os desgastes causados pelas irregularidades que surgiram no primeiro semestre de 2023 provocaram frustração, especialmente entre os mais radicais. A expectativa de que eles seriam cabos eleitorais decisivos não se concretizou. A influência de Lula e Bolsonaro é determinante em eleições que chegam empatadas. No entanto, na maioria das cidades médias e pequenas do Brasil, a discussão central gira em torno do desempenho da prefeitura: se ela está indo bem ou mal.
Qual tema resume a eleição em São Paulo?
No início, parecia que o foco seria a segurança. Mas surgiu um novo elemento: Pablo Marçal. Ele foi o tema da eleição.
O que explica o fenômeno Marçal e qual sua diferença para o Bolsonaro?
Bolsonaro nada mais é do que a reedição da direita brasileira até os anos 1980. É o que sobrou da ARENA. Ele representa o conservadorismo clássico brasileiro. Não é nada de novo; é apenas uma figura desenterrada do passado. Já o Marçal está realmente conectado com o fenômeno da direita internacional. O Bolsonaro foi uma solução analógica da direita. O Marçal, não. Marçal é o Movimento 5 Estrelas, é Javier Milei, Donald Trump. Trump é um verdadeiro outsider, um milionário do entretenimento, não alguém da política tradicional, como Bolsonaro. Com Marçal, agora, sim, o que está acontecendo lá fora chegou ao Brasil.
Você vê diferenças nos públicos de Bolsonaro e Marçal?
Nas pesquisas qualitativas, percebo que a população LGBT e as pessoas negras não nutrem tanta raiva de Marçal quanto de Bolsonaro. Marçal flutua na pobreza, atrai jovens de classe D que o enxergam como alguém que veio de baixo, superou dificuldades e venceu. O Marçal encarna o sonho brasileiro como o Trump é o sonho americano.
Podemos considerar o Marçal um representante genuíno da direita?
Ele representa a direita internacional. E essa direita não é militarizada. Marçal não menciona a ideia de golpe militar, embora essa noção esteja presente ao seu redor. Ele é um anarcocapitalista, alguém que reconhece os problemas do capitalismo, mas defende o “se adapte a ele e combata os sujos”. É muito mais parecido com Jânio Quadros; é um vendedor de sonhos e ilusões.
Marçal é uma ameaça ao Bolsonaro?
É uma ameaça total ao Bolsonaro. Jovens como Nikolas Ferreira, André Fernandes (candidato à prefeitura de Fortaleza) e Abílio Brunini (candidato a prefeito em Cuiabá) não seguem o estilo de Bolsonaro, mas sim o anarcocapitalismo, como Marçal. Nikolas, por exemplo, se assemelha mais a Marçal do que a Bolsonaro, o que facilita a aglutinação dessa nova geração em torno dele.
O que esperar para o segundo turno?
O Marçal enfrenta o problema da rejeição, tornando o segundo turno uma grande dificuldade para ele. Se for contra o Nunes, é uma eleição praticamente perdida para o Marçal. Com Boulos, a discussão de 2022 será reaberta e não sabemos o que pode acontecer. Acredito que tanto Bolsonaro quanto Lula estão em queda, o que transforma essa eleição em um cenário aberto, onde qualquer um dos dois pode sair vitorioso. Um segundo turno Boulos e Marçal será uma nova eleição.
Como você avalia o desempenho de Boulos nesta eleição? E por que ele não conseguiu conquistar a hegemonia na periferia mesmo com apoio do Lula?
Boulos construiu sua estratégia em torno do enfrentamento com Nunes, mas não contava com a entrada de Marçal. Antes de Marçal surgir, Boulos pretendia se posicionar como o candidato capaz de resolver os problemas da cidade. Mas a chegada de Marçal empurrou Boulos para a bolha da esquerda, deixando a campanha dele sem um rumo claro. Sobre a adesão na periferia, a Marta Suplicy tem a sua forçfs regiões. Se a eleição fosse em 2023, Boulos poderia teria um resultado melhor, porque o custo de vida havia caído naquele momento. Mas como o Brasil caiu economicamente, e as pessoas, na ponta, não estão sentindo uma melhora nas suas vidas, o Lula não funcionou tão bem como cabo eleitoral.
Nunes, com a máquina na mão e a maior coligação, não deveria chegar melhor na eleição?
Em primeiro lugar, Nunes não foi eleito diretamente; quem ganhou foi Covas. Isso fez com que Nunes precisasse se tornar conhecido. Depois, teve que convencer os eleitores de que estava realizando um bom trabalho. Além disso, há um problema de imagem: o carisma de Nunes não se alinha com o que as pessoas buscam atualmente. Seu carisma é mais voltado para o perfil de articulador, típico da política de 20 anos atrás, muito semelhante ao Kassab. Ele tem um problema de imagem. Dificilmente ele vai conseguir emocionar as pessoas. Ele é o candidato do pragmatismo, uma opção para o eleitor que busca segurança.
Taxa do lixo, CPI do Narcotráfico e saúde dominam último debate antes da eleição em Fortaleza
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Candidatos a prefeito de Fortaleza tiveram, nesta quinta-feira (3), último embate antes dos eleitores irem às urnas no próximo domingo (6). Temas como segurança e saúde deram o tom do debate da TV Verdes Mares — que encerra a campanha eleitoral na capital cearense. O confronto de ideias foi apresentado pelo jornalista Leal Mota Filho.
Seis candidaturas estiveram presentes no debate eleitoral: André Fernandes (PL), Capitão Wagner (União), Evandro Leitão (PT), George Lima (SD), José Sarto (PDT) e Técio Nunes (Psol).
As escolhas se basearam nos candidatos que possuem pelo menos cinco representantes do partido no Congresso Nacional, em conformidade com o artigo 46 da lei 9.504/97, e os que atingiram, ao menos, 10 pontos porcentuais (sem contar a margem de erro) na mais recente pesquisa eleitoral Quaest, contratada pela TV Verdes Mares.
O embate entre os candidatos foi dividido em quatro blocos. Na dinâmica, eles tiveram embates diretos com os adversários na dinâmica de perguntas e respostas — com os blocos intercalando temas sorteados e temas de livre escolha de cada candidato.
PRIMEIRO BLOCO
Evandro Leitão iniciou a primeira rodada de perguntas e escolheu questionar José Sarto. O petista perguntou como foi o uso dos recursos arrecadados com a taxa do lixo da Prefeitura de Fortaleza.
Em resposta, Sarto relembrou que "70% da população não paga a taxa do lixo" e que a criação do tributo foi uma imposição por lei federal. Ele também criticou a proposta do adversário de acabar com a taxa. "Quando fala que vai cortar a taxa do lixo, ou corta de programas da saúde e da educação ou vai aumentar ISS ou IPTU", disse.
Na sequência, José Sarto escolheu André Fernandes para ser questionado. Ao indagar sobre propostas para mulheres, o pedetista citou processo judicial contra André Fernandes por supostas ameaças contra uma jornalista, falas do candidato do PL sobre feminicídio e o voto contrário de Fernandes no projeto que equiparava salários de homens e mulheres.
Em resposta, Fernandes admitiu que errou, mas que a ação judicial foi resolvida. "Respondendo sobre a jornalista, todo mundo comete erros. Cometi um erro, sem ameaça. Sobre a ofensa, pedi desculpa, fui desculpado", disse. "Você que não respeitou as mulheres quando fechou o Gonzaguinha da Messejana".
André Fernandes escolheu George Lima para a pergunta de tema livre. O candidato do PL fez críticas ao atual prefeito José Sarto e questionou: "O que você acha de um candidato que não tem o apoio da própria cachorrinha?", disse em referência à cadela Marrion.
Na resposta, George Lima também criticou Sarto. "Em Fortaleza, só falta uma coisa: prefeito. Nós não temos prefeito", ressaltou. Ele disse que votou em Sarto em 2020 e se arrependeu: "o Sarto não estava com vontade de ser prefeito. Infelizmente, nós perdemos quatro anos".
Lima perguntou a Capitão Wagner sobre a capacidade do adversário de implementar medidas na segurança pública. "Você acha que o seu exemplo de confrontar a lei e realizar motim, é você que vai trazer a paz (para Fortaleza)?", indagou.
Wagner rebateu e disse que "a candidatura do PT usa outra candidatura para nos atacar". Ele criticou Evandro Leitão por não ter assinado requerimento, em 2018, para instalação da CPI do Narcotráfico na Assembleia Legislativa do Ceará. "Eu já era ameaçado pelas facções e defendi a CPI, porque para ser prefeito de Fortaleza precisa ter pulso firme, precisa ter coragem", completou.
Na sequência, Wagner perguntou as propostas de Técio Nunes para Educação. Nunes afirmou que irá garantir o piso salarial dos professores e fará uma atualização do plano de cargos e carreiras da categoria. "Nós vamos ter uma relação respeitosa e até diria de admiração com o sindicato que representa essa categoria", destacou.
Em réplica, Capitão Wagner elencou propostas para os professores temporários, como atendimento no Instituto de Previdência do Município (IPM), um contrato de quatro anos e a garantia do pagamento do piso salarial.
Encerrando o primeiro bloco, Técio Nunes perguntou a Evandro Leitão sobre saúde pública. O candidato petista elencou propostas para a área, como a ampliação do número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e a contratação de médicos psiquiatras. "Nós vamos reabrir todas as emergências que foram fechadas e vamos entregar o Hospital da Mulher para a mulher", completou.
O candidato do Psol afirmou que a primeira medida que adotará, caso seja eleito, será "acabar com os esquemas das OSS (Organização Social de Saúde)". "Para além disso, nós precisamos zerar as filas, onde tem pessoas que são humilhadas, sem dignidade. Que passam seis, sete meses, às vezes um ano para conseguir uma consulta", disse.
SEGUNDO BLOCO
O segundo bloco foi com temas definidos por sorteio. Sobre meio ambiente, André Fernandes escolheu questionar Evandro Leitão. O candidato do PL perguntou sobre as propostas do petista para aumentar o saneamento básico na Capital.
Em resposta, Evandro ressaltou que a Cidade ainda tem 33% da população sem acesso ao saneamento básico e disse que, se eleito, terá a parceria com o Estado e a União para garantir a cobertura completa. “Até o fim do meu governo, iremos universalizar o saneamento básico de Fortaleza, não tem mais como, no ano em que estamos, ter pessoas sem acesso ao saneamento básico. Teremos essas parcerias e, até o fim do meu governo, toda a população terá acesso ao saneamento básico”, disse. Ele ainda prometeu plantar 100 mil árvores nos bairros da Capital.
Na sequência, o tema sorteado foi saneamento básico e Evandro retomou o assunto, mas agora questionando José Sarto. O petista novamente perguntou ao pedetista sobre a destinação dos recursos obtidos com a taxa do lixo.
Sarto disse que os recursos estão sendo usados na limpeza da cidade e na coleta urbana e criticou seu adversário. “Ele está falando que vai plantar 100 mil árvores, nós já plantamos 261 mil árvores. Ele precisa entender mais e estudar mais. A taxa do lixo, eu já disse, (para revogá-la) ou corta investimentos da saúde e da educação ou aumenta o ISS e o IPTU”, disse.
O terceiro tema sorteado foi infraestrutura. Sobre o assunto, José Sarto questionou Capitão Wagner sobre suas propostas, ressaltando os investimentos feitos até agora pela Prefeitura, com a implementação do “piso tijolinho” em centenas de vias da Cidade.
Wagner respondeu destacando que os investimentos em infraestrutura precisam ter a garantia de “início, meio e fim”. “O sistema que, infelizmente, está posto faz com que a Prefeitura passe o pavimento e a Cagece quebre em uma suposta obra de saneamento no outro dia. Não tem levado a nada essa briga da Prefeitura com o Governo do Estado. E eu concordo que além do asfalto precisamos ter outros tipos de pavimento para garantir que a água seja absorvida pelo solo, para evitar alagamentos”, completou.
O quarto tema sorteado foi Guarda Municipal de Fortaleza (GMF). Capitão Wagner questionou o candidato Técio Nunes sobre as propostas de outros candidatos.
O candidato do Psol prometeu a implementação de um plano de cargos e carreiras para os agentes, caso seja eleito. “É o básico, é o mínimo. E quero chamar a atenção para ninguém cair nessas falsas promessas que tentam vender facilidades, mas brincam com a sua vida. Tem candidato propondo caveirão, propondo que você faça policiamento ostensivo enquanto ele fica no gabinete sem correr risco nenhum”, disse.
Em seguida, foi a vez de Técio Nunes questionar o candidato George Lima sobre cultura. O candidato do Psol perguntou ao adversário do Solidariedade sobre as propostas para o setor.
George ressaltou que a cultura é um “forte braço da economia”. “Vou criar um centro de empreendedorismo e a cultura vai fazer parte disso. Vamos ter o aniversário de 300 anos da Cidade e, até lá, vou cadastrar todos os jovens para ter uma oportunidade na nossa cidade. Vou cadastrar os jovens e receber no centro de empreendedorismo, dar um encaminhamento para a cultura, o turismo, o esporte e o emprego, vou botar o jovem para trabalhar, ajudar o jovem”, concluiu.
Creches foi o último tema sorteado. George Lima perguntou a André Fernandes sobre as propostas do candidato do PL para reduzir o déficit de vagas.
Na resposta, André destacou que há 15 mil pessoas à espera de vagas em creches atualmente em Fortaleza. “Ao invés de só criar novas estruturas e gastar milhões, vamos pegar esses recursos e dar um vale-creche para que as mãezinhas possam matricular seus filhos em uma creche particular conveniada”, defendeu.
No fim do bloco, Capitão Wagner recebeu um direito de resposta após, na réplica do embate entre André Fernandes e George Lima, o candidato do Solidariedade se referir a Wagner como líder de motim. “Queria lamentar pela população de Fortaleza que nos assiste porque o candidato que acabou de ser elogiado ataca o outro candidato e nos ataca, e não ataca o PT (...) Em 2011, eu liderava uma categoria que sofria abusos do Governo, eu defendi minha categoria porque foi assim que aprendi a fazer política, defendendo os menos favorecidos. Me orgulho muito da minha história enquanto policial militar e fico feliz por ter valorizado esses profissionais. Não renego meu passado. Infelizmente, o George só veio nos atacar”, concluiu.
TERCEIRO BLOCO
No embate que abriu a terceira rodada de perguntas, Sarto questionou o candidato Evandro Leitão sobre a CPI do Narcotráfico. O candidato do PDT relatou que, à época, Evandro alegou que tinha medo das organizações criminosas e não deu prosseguimento à investigação. “Quem é contra facção, vota no Leitão?”, indagou.
O petista disse que não iria cair na provocação de Sarto e rebateu dizendo que apoiou a CPI, mas ela não teria seguido por ter viés de “oportunismo político”. Então, o candidato aproveitou o tempo para falar sobre segurança pública. “Eu vou criar o pelotão da Guarda Municipal, em todas as regionais de Fortaleza, para patrulhar as praças públicas, as paradas de ônibus, as escolas, os postos de saúde”, prometeu.
Evandro então perguntou para André Fernandes sobre infraestrutura habitacional. O petista alegou que Sarto não cumpriu o que prometeu na área e a Capital vive um alto déficit habitacional.
André rebateu dizendo que Evandro tem sua parcela de culpa por ter sido filiado ao PDT e ter apoiado a eleição do Sarto, além de dizer que o candidato ainda faz parte do “mesmo grupo político”. “Nós representamos a mudança. Nós temos ideias de verdade para Fortaleza”, afirmou.
Na sequência, André questionou George Lima sobre segurança pública. Na réplica, ele disse que quer uma Guarda Municipal “valorizada, com dignidade e respeito para perseguir bandidos”.
George Lima defendeu o uso de especialistas e pessoas técnicas para a área. “Segurança e política não cabem. Tem que trazer uma pessoa de fora da política, se reunir com todas as polícias do Estado, junto com a Guarda Municipal. Fortaleza precisa de ajuda do governo federal e do governo estadual”, ressaltou.
No tempo para a pergunta, George Lima alegou que estava sendo acusado de ser um “candidato satélite” por Capitão Wagner. “Você tem o direito de se defender, mas vou continuar falando a verdade”, complementou.
Na resposta, Wagner afirmou que George estava com um papel de atacá-lo no debate. Então, ele utilizou o tempo para defender que não é um candidato “em cima do muro” e defendeu ser uma mudança segura. “É uma mudança que vai garantir para a cidade de Fortaleza quatro anos com muito mais tranquilidade, com investimentos em saúde”, salientou.
Na sequência, Capitão perguntou para Técio Nunes sobre políticas públicas para a população de mais de 60 anos, defendendo a ideia de criar o Hospital do Idoso para as “pessoas que nunca foram lembradas pela velha política”.
O candidato do Psol defendeu que é preciso tratar com dignidade as pessoas de mais idade, citando histórias de pessoas idosas que sofreram com a falta de serviços. “Nós precisamos de uma Prefeitura que olhe para esse setor com políticas públicas assertivas. Precisamos apostar na saúde para esse setor, apostar numa inclusão social”, frisou.
No final do bloco, Técio perguntou para Sarto sobre as propostas para o meio ambiente. Ele alegou que a gestão do prefeito foi responsável por desmatar o equivalente a mais de 1.600 campos de futebol em Fortaleza.
Sarto começou rebatendo as críticas de Evandro sobre a atual gestão em relação à Guarda Municipal, defendendo que a última etapa do concurso está em execução, o que vai fazer o efetivo chegar ao total de 1.000 agentes. Sobre a pauta ambiental, o candidato à reeleição defendeu os projetos de parques urbanos e das areninhas encabeçadas pela Prefeitura. “Nós temos políticas de sustentabilidade que são reconhecidas internacionalmente”, defendeu.
QUARTO BLOCO
No último bloco do debate, os temas das perguntas entre os candidatos foram sorteados. O primeiro assunto foi saúde pública. Capitão Wagner afirmou que Evandro Leitão copiou propostas dele para a Saúde e questionou: "Por que não teve coragem de me copiar quando defendi a CPI do Narcotráfico?"
Evandro Leitão disse que o adversário estava "desesperado" e "atacando". "Não vou cair na sua provocação", disse o petista. Leitão citou iniciativas que pretende implementar na área, como a criação do Espaço Girassol, voltado a pessoas autistas, e parceria com clínicas populares.
O segundo tema sorteado foi emprego e renda. Sobre o assunto, o candidato Evandro Leitão perguntou para Técio Nunes sobre as propostas dele para o setor.
Técio reforçou que é preciso aproveitar as potencialidades da Capital, reforçando que a cultura pode ser um desses caminhos. “Não podemos nos contentar em ser o maior PIB do Nordeste e ser uma das cidades mais desiguais (...) E queremos criar food parks municipais, vamos aproveitar as potencialidades de cada região, pegar pessoas que fazem bolo, salgados, que querem cozinhar em várias categorias e profissionalizar, fazer investimentos”, disse.
Limpeza Urbana foi o terceiro tema a ser sorteado e Técio Nunes aproveitou para criticar a taxa do lixo e disse que o tributo "tem valores abusivos". Ele indagou a posição de George Lima sobre o tema.
Em resposta, Lima disse ser uma "vergonha quando se arrecada tanto e ainda tem 900 pontos de lixo". Ele voltou ainda a criticar o prefeito José Sarto, candidato à reeleição. "Desculpe os líderes do PDT, escolheram um candidato fraquíssimo", disse.
O quarto tema sorteado foi conservação de vias públicas. O candidato George Lima escolheu André Fernandes para comentar uma frase que, segundo o postulante do Solidariedade, foi dita a ele por uma criança. “Ele disse que queria que as ruas da cidade fossem mais bonitas”, contou George.
André Fernandes relembrou uma promessa feita pelo atual prefeito da Capital, José Sarto. “Em maio de 2022, o prefeito de Fortaleza prometeu que em 100 dias iria tapar todos os buracos. Já se passaram mais de dois anos e não se concretizou, o povo não entende por que a cidade está toda esburacada, e, quando passa o pavimento, não dura um mês, parece um pavimento ‘Sonrisal”, criticou.
André Fernandes escolheu José Sarto para perguntar sobre o quinto tema sorteado, segurança pública. O candidato do PL questionou o adversário sobre a assinatura que teria retirado no requerimento para abertura da CPI do Narcotráfico na Alece. "Qual foi seu papel na CPI?", indagou.
Sem falar sobre a CPI diretamente, Sarto reforçou que tem trabalhado "dobrado" na área de segurança pública. "Pela total falta de competência do governo do PT", disse. Ele voltou a criticar o posicionamento de Evandro quanto à CPI. "Ele confessa ter medo de levar tiro, tem medo de facção. A população tem razão de ter medo, mas o representante do povo não tem direito de ter medo", destacou.
O sexto e último tema sorteado foi mobilidade urbana. Sarto questionou Capitão Wagner sobre suas propostas para o setor. Na pergunta, o pedetista aproveitou para reforçar que, em sua gestão, implantou o passe livre estudantil.
O candidato do União Brasil disse que, desde 2016, defende o passe livre estudantil. “Iremos estender também o passe livre para os finais de semana, não só para estudante, mas também para famílias de baixa renda (...) É importante a gente dar assistência a essas pessoas que estão desalentadas, que precisam ir para entrevistas de empregos, então iremos, gradativamente, ampliar o passe livre estudantil”, concluiu.