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Apostas na largada - folha de sp

Quando a onda conservadora produzida pelas urnas de 2018 refluiu, a dúvida sobre a perenidade do movimento instalou-se imediatamente.

Imaginou-se que o exercício do poder logo colocaria à prova as capacidades da legião de figuras exóticas deixadas na praia da política, Jair Bolsonaro à frente.

Quase dois anos depois, a gestão tumultuada do presidente e as agruras de governadores eleitos como símbolos da antipolítica, a exemplo do afastado Wilson Witzel (PSC-RJ), parecem ter estabelecido os limites daquele movimento.

A definição das candidaturas às eleições municipais de novembro, concluída nesta quarta-feira (16), parece refletir essa perda de brilho da onda bolsonarista.

A necessidade dos partidos de lançar nomes a prefeito para alavancar suas chapas de vereadores, por causa do fim das coligações proporcionais, levou a uma pulverização recorde de candidaturas.

Metade dos atuais mandatários nas capitais buscará a reeleição, apostando que o grande número de concorrentes favorecerá os que já gozam de alguma popularidade.

Antevendo isso, Bolsonaro tem procurado manter distância da eleição para evitar o ônus de derrotas, no máximo cedendo apoios velados a aliados como Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio.

Mas a recuperação de sua popularidade e a noção tardia de que o prefeito Bruno Covas (PSDB) partiria em boas condições em São Paulo o fizeram abrir uma exceção.

Na última hora, o presidente incentivou a entrada do deputado Celso Russomanno (Republicanos) no jogo paulistano, muito porque vê a coalizão de Covas como uma antessala do que irá enfrentar em 2022.

Uniram-se ao tucano MDB e DEM, além de outras sete siglas, inclusive algumas que apoiam Bolsonaro no Congresso. O gerente de tal consórcio é o governador João Doria (PSDB), antípoda do presidente.

Registre-se a ironia que o lançamento de Russomanno representa --um deputado do centrão como estrela solitária do bolsonarismo na largada da corrida eleitoral.

Se a política tradicional parece recuperar algum fôlego, o mesmo não se pode dizer da esquerda. Em São Paulo, o PT de Jilmar Tatto corre o risco de virar linha auxiliar do PSOL de Guilherme Boulos.

Antigos aliados, como o PSB e o PDT, que há muito deixaram de confiar no petismo lulocêntrico, se descolaram. O espectro de um novo massacre eleitoral, como o sofrido em 2016, assombra o PT.

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A nova geração do Recife - ISTOÉ

Em sã consciência ninguém é capaz de apontar um favorito para vencer as eleições do Recife. Até mesmo os torcedores mais fanáticos dos candidatos não arriscam um palpite certeiro. O prefeito Geraldo Júlio (PSB), que poderia ser um cabo eleitoral importante não deve ser o fiel da balança para ajudar o candidato que apoia: João Campos, 26 anos. Afinal, poucos o amam, embora 42% da população avaliem a sua gestão como regular.

 

Para o cientista político Antonio Lavareda, a eleição no Recife está aberta. “Podemos esperar um segundo turno com um enfrentamento da esquerda contra a direita”, diz. Ele sustenta esse prognóstico com base nos números do segundo turno da última eleição em 2018, quando Fernando Haddad (PT) teve 52,5% e Jair Bolsonaro (PSL) alcançou 47,5% dos votos na capital. Lavareda acredita que existirá a nacionalização dos debates e que o voto útil possa ser usado agora: “Com maior ou menor grau de consciência as pessoas vão preparar o segundo turno desde já”, explicou o cientista político. Mas há os que ainda acreditam na possibilidade de um segundo turno entre os primos Arraes/Campos.

 

A amostragem apresentada pela empresa Potencial Pesquisa & Informação exibe um ligeiro favoritismo da deputada Marília Arraes, com 22% das intenções de votos. Em seguida vem a Delegada Patrícia Domingos, que tem 13%. O deputado João Campos alcança 11%. O ex-ministro Mendonça Filho (DEM), tem 7%. O deputado Túlio Gadêlha (PDT) estava com 3%, mas foi retirado da disputa.

O ingrediente mais peculiar da eleição na capital pernambucana é a juventude que tomou o centro das atenções. Os três primeiros colocados na pesquisa têm menos de 40 anos. A deputada Marília Arraes tem 36 anos, enquanto a Delegada Patrícia, tem 37 anos. O mais jovem do pleito, é o deputado João Campos, que tem apenas 26 anos. Tudo aponta para uma renovação geracional, o que aconteceu nas últimas eleições. Tanto o prefeito Geraldo Júlio, quanto o governador Paulo Câmara (PSB), foram eleitos com pouco mais de 40 anos nos seus primeiros mandatos.

Outro fator que chama atenção são as mulheres. A eleição de uma delas seria uma novidade nunca experimentada no Recife. Marília e Patrícia lideram numa cidade que ainda não teve uma representante do gênero feminino na prefeitura. Para Lavareda, o discurso das mulheres durante a pandemia se fortaleceu. “Entre as consequências da pandemia estão uma agenda feminina e a fragilização das gerações mais velhas”. A tendência é que em todo País
mais mulheres e jovens sejam eleitos.

Dinastia Arraes

Uma curiosidade que circula nas rodas de conversas dos recifenses é o parentesco entre Marília Arraes e João Campos: eles são primos. Partidários da direita dizem que eles fazem um jogo de cena, pois seriam próximos. Os dois negam qualquer tipo de aproximação política.

Desfrutando do potencial eleitoral que o PT ainda tem em Recife, Marília Arraes terá uma provável composição com o PSOL. Sobre o destaque das mulheres e jovens, a deputada comemora: “até que enfim, a gente começou a ocupar esses espaços”. Ela aponta a questão da mobilidade urbana como um problema relevante. “Recife tem o pior trânsito do País. Precisamos romper com a lógica do carro e do empresário de ônibus”, disse. Marília afirma também que o seu maior desafio será combater a miséria, “O Recife tem mais de 1,6 milhão de habitantes. Destes, mais de 600 mil vivem abaixo da linha da pobreza”.

Conhecida por “Moro de Saias”, numa comparação ao ex-ministro Sergio Moro, surge como renovação da direita a Delegada Patrícia Domingos, que tem como principal proposta de campanha o enxugamento da máquina pública, “com a redução de secretarias e de cargos comissionados”. Ela também levanta o problema da segurança e afirma que “Recife é a capital da insegurança” e que a Guarda Municipal prioriza as infrações de trânsito e não o atendimento aos cidadãos. Na segunda-feira, 14, o deputado Daniel Coelho desistiu da sua candidatura e confirmou apoio para à Delegada Patrícia Domingos, apesar de estar bem colocado nas pesquisas, com 9%. “Esse é um momento de dar um passo atrás para dar dois passos à frente. E, assim, garantir que não exista um falso segundo turno entre os dois primos do PT e PSB”, disse o deputado.

O mais jovem

Com 460.387 votos em 2018, João Campos foi eleito o deputado federal mais votado na história de Pernambuco. Filho do ex-governador Eduardo Campos, ele convive com a política desde muito jovem e tem apoio do prefeito Geraldo Júlio, que almeja ser candidato à sucessão no Governo do Estado em 2022. O deputado destaca o combate à miséria como prioridade: “Sabemos que a atuação de uma prefeitura no combate à desigualdade social tem limitações, mas, reitero, essa é uma trincheira onde queremos dar uma importante contribuição”. Nacionalmente conhecido por ser namorado da apresentadora Fátima Bernardes, da Rede Globo, o deputado federal Túlio Gadêlha vive uma situação de conflito dentro do PDT. Ele retirou sua candidatura e declarou apoio a João Campos. Entre idas e vindas o deputado foi destituído da direção do PDT Nacional. A confusão é algo a ser resolvida por Túlio, mas o apoio do PDT passa a ser oficialmente para a candidatura de João Campos, que já tem 12 partidos na sua coligação.

O mais experiente no pleito é o ex-governador Mendonça Filho, 54 anos. Ele foge ao estilo dos candidatos com mais intenção de votos e não parece ter muito espaço para alianças. Aponta a educação, saúde e transporte público como os principais problemas do Recife. Diz que no caso da Saúde há investimentos compatíveis com o porte da cidade “mas que precisam ser melhor usados, otimizados e aplicados”, explicou o pré-candidato. Praticamente sem chances e com menos experiência aparecem os candidatos da direita, os deputados estaduais Marco Aurélio Meu Amigo com 55 anos e Alberto Feitosa, 57 anos, ambos com 1% das intenções de voto.

As expectativas por uma novela no segundo turno têm enredos diferentes, mas certamente jovens e mulheres dominam a narrativa. Confirmadas as alianças e com as tropas nas ruas o povo vai dizer em quem confia mais.

Com o fim do prazo para a definição das candidaturas a sorte está lançada.

ISTOÉ

Roberto Jefferson derruba alianças do PTB com adversários de Bolsonaro

Pedro Venceslau e Ricardo Galhardo, O Estado de S.Paulo

18 de setembro de 2020 | 09h15

Alinhado com o presidente Jair Bolsonaro, o presidente nacional do PTBRoberto Jefferson, promoveu nessa quinta-feira, 17, uma intervenção e anulou as convenções partidárias nas cidades onde a sigla apoiaria candidatos de legendas que fazem oposição ao Palácio do Planalto. São elas Bernardo do Campo, Osasco e Presidente Prudente, em São Paulo,  Salvador (BA) e Fortaleza (CE). 

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Os movimentos vêm na sequência da intervenção na capital paulista na última quarta-feira, quando Jefferson tirou da disputa Marcos da Costa, ex-presidente da OAB-SP, que será candidato a vice do deputado Celso Russomanno (Republicanos).

 Roberto Jefferson
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

PARA ENTENDER

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A articulação nesse caso passou pelo próprio presidente da República, que telefonou para o presidente estadual do PTB, Campos Machado, pouco antes do início da convenção do partido em São Paulo. No Estado, o objetivo de Bolsonaro e Jefferson é combater o governador João Doria (PSDB), potencial adversário do presidente na eleição de 2022.

Em São Bernardo do Campo e em Osasco, o PTB havia indicado os candidatos a vice de Luiz Marinho e Emídio Souza, ambos do PT. Em Presidente Prudente, o partido comporia chapa com Laércio Alcântara, do DEM. Em Salvador, a sigla de Jefferson apoiaria  Bruno Reis, também do DEM, e, em Fortaleza, estaria com Luizianne Lins,  do PT.

 

No documento enviado aos Estados, Jefferson alega que o ato descumpre uma resolução da Comissão Executiva Nacional. 

Segundo um integrante da executiva nacional do PTB, o veto que atropelou os acordos locais proibiria a princípio apenas alianças com partidos de esquerda, mas Jefferson ampliou a restrição para legendas que sejam potenciais adversárias de Bolsonaro no Congresso e nas eleições em 2022.

Com esse gesto, Jefferson aproxima o PTB do Palácio do Planalto e deixa as portas abertas para que Bolsonaro e seu grupo entrem na legenda para disputar a reeleição.

Mais de 3 mil gestores no Ceará têm contas desaprovadas pelo TCE

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) encaminhou ontem (17) ao Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) e ao Ministério Público Eleitoral (MPE) a lista de 3.037 pessoas que tiveram contas relativas ao exercício de funções ou cargos públicos rejeitadas por irregularidade insanável ou por decisão irrecorrível, nos últimos oito anos. A relação é uma das principais fontes de casos de candidatos que se tornam "fichas sujas", ficando proibidos de disputar eleições.

"O Tribunal de Contas tem como uma das competências julgar as contas de gestores estaduais e municipais. Elas podem ser julgadas regulares, irregulares e regulares com ressalvas. Quando são julgadas irregulares por identificação de algum dano ao erário, esse nome (do gestor) é inserido na lista. Nos anos eleitorais, tem que ser encaminhada para o TRE uma lista dos julgamentos dos últimos oito anos", ressalta o secretário de Sessões do TCE, Teni Cordeiro.

Ele afirma que não são apenas casos de improbidade administrativa que fazem as contas serem julgadas irregulares. Há casos em que há um conjunto de falhas que podem desaprovar as contas, mas que não têm repercussão nas pretensões eleitorais.

"Existe uma série de atos de gestão que não estão de acordo com a norma, mas que não geram prejuízo ao erário. São práticas irregulares, mas que não têm benefícios próprios. Erros contábeis reiterados causam contas desaprovadas, em que não houve um débito, mas um registro indevido", afirma Cordeiro.

Queda

Todos os 184 municípios do Ceará têm gestores citados na relação. Ao todo, são 5.279 processos, sendo 5.225 no âmbito municipal e 54 no âmbito estadual. Entre os casos listados, estão Prestações de Contas de Gestão, Tomadas de Contas Especiais, Tomadas de Contas de Gestão, Denúncias e Provocações.

O número de integrantes no levantamento, no entanto, tem caído. Em 2018, nas últimas eleições, 3.586 gestores haviam tido contas rejeitadas em decisão definitiva, uma redução de 15% em comparação com 2020. Em à relação última eleição municipal, em 2016, quando 4.412 gestores integraram a lista, a queda foi maior ainda, 31%.

"A gente tem percebido que, com o passar do tempo, as gestões têm se aprimorado no sentido de evitar as falhas mais comuns que geravam a desaprovação de contas. Às vezes, víamos uma pessoa ser tirada da disputa (eleitoral) por falha na assessoria ou por inexperiência. A Lei da Ficha Limpa aprimorou os dispositivos porque, apesar de ter alargado o tempo de inelegibilidade, colocou elementos que são muitos decisivos", diz a advogada especialista em Direito Eleitoral e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Isabel Mota.

Ela cita como exemplo para punição a necessidade de que seja comprovado que houve ato doloso contra o erário público na irregularidade cometida pelo agente. A inelegibilidade de um gestor "ficha suja" só se configura se a desaprovação das contas se der por ato de improbidade administrativa. Isso significa que mesmo os integrantes da lista podem pedir registro de candidatura. Cabe à Justiça Eleitoral decidir se o pedido será deferido ou não para o pleito.

Pente fino

Com as candidaturas apresentadas em convenções partidárias e no prazo de serem encaminhadas aos tribunais regionais eleitorais, os agentes do Ministério Público iniciam um pente fino na lista de todos os candidatos para identificar quais estão proibidos de concorrer a cargos nos Poderes Executivo e Legislativo.

"Ter o nome na lista é uma das possíveis inelegibilidades. (...) A cada cinco candidatos impugnados, quatro são por isso", destaca o coordenador do Centro de Apoio Operacional Eleitoral (Caopel) do Ministério Público do Estado do Ceará, promotor de Justiça Emmanuel Girão. "É a principal fonte de para possíveis inelegibilidades", diz. Ele reforça que ter o nome na lista não torna a pessoa imediatamente inelegível.

"O promotor analisa o motivo da desaprovação. Por exemplo: violação à Lei de Licitações, gastos com pessoal acima do limite, não prestar as contas quando era obrigatório... Uma (infração) que acontece bastante é reter contribuição previdenciária e não repassar à instituição competente. Tudo isso configura improbidade. Geralmente acham que improbidade é só desvio de recursos, isso é gravíssimo, mas existem vários outros (tipos). A lei de improbidade é bem ampla. Não cabe ao TCE se aquilo é improbidade, vai caber à Justiça Eleitoral. O TCE aprova ou desaprova as contas e explicita os motivos", acrescenta Girão.

No Ceará, desde fevereiro deste ano, o Ministério Público tem feito treinamento com os promotores para que possam identificar possíveis inelegibilidades de quem se apresentou candidato às eleições municipais. Além da lista do Tribunal de Contas, também são consultados dados como condenações criminais.

Impugnação

O prazo de pedido de impugnação é curto e resulta em um alto volume de checagem para os promotores. Segundo Emmanuel Girão, o prazo para pedir o bloqueio de uma candidatura é até 4 de outubro, observado o prazo de cinco dias, contados da publicação do edital de candidaturas requeridas pelos partidos ou coligação. Além do MPE, siglas, candidatos e coligações podem pedir impugnação à Justiça Eleitoral.

"O promotor procura o nome do candidato na lista para analisar se o caso se enquadra na inelegibilidade. Ele vai analisar se o motivo das contas desaprovadas foram irregularidades insanáveis e se configura improbidade administrativa e se não tem mais recurso possível. Então, entra com ação de impugnação", explica o coordenador do Caopel.

De acordo com o TCE, O conteúdo da relação encaminhada ao MPE e ao TRE pode sofrer alterações, em decorrência de decisões lavradas em processos administrativos ou judiciais, até o fim do prazo legal para o envio da lista em 2020, 26 de setembro.

Pedidos de registro

Partidos e coligações podem pedir registros de seus  candidatos à Justiça Eleitoral até o próximo dia 26 de setembro.

Listas

De acordo com o calendário  eleitoral, 26 de setembro é o  último dia para os tribunais e  conselhos de contas tornarem disponível à Justiça Eleitoral  relação daqueles que tiveram suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade  insanável e por decisão  irrecorrível do órgão competente.

Informações

A lista entregue pelo TCE ao TRE-CE e ao MPE está disponível no site da Corte de Contas: www.tce.ce.gov.br/jurisdicionado/contas-irregulares

Eleições serão disputa entre quem defende e quem se opõe a Bolsonaro, diz cientista político

Matheus Lara, O Estado de S.Paulo

17 de setembro de 2020 | 05h00

O cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP), prevê uma disputa municipal entre quem defende e quem se opõe ao presidente Jair Bolsonaro. Em função da pandemia do coronavírus, a tendência apontada pelo pesquisador é que temas globais, como desigualdade social e crise financeira, tenham tanto apelo quanto questões locais.

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O cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP) Foto: Iara Morselli / Estadão

Qual será o impacto dos debates nacionais na eleição 2020? 

Eleições municipais tem muito a ver com o poder local pela proximidade com as pessoas comuns, pelo acesso. Porém, essa eleição é excepcional por ocorrer no contexto da pandemia, que afetou o País de maneira severa, tanto pelo número de mortes, mas também pelo desemprego, perda de renda, mudanças culturais. A pandemia chamou a atenção do cidadão para esses temas e a importância do Estado. Essa percepção desloca o eleitor do contexto local para o nacional. A eleição 2020 vai combinar dimensões locais e nacionais. No radar do eleitor, estão temas como mobilidade urbana e saúde, mas também desigualdades sociais e raciais.

Há também uma forte influência da polarização política.

Sim, é a outra face nacional que estará em debate. Isso já fica claro em São Paulo com os movimentos do presidente Jair Bolsonaro para apoiar Celso Russomanno, por exemplo, e do outro lado o posicionamento de Bruno Covas como centro-moderado, se opondo à candidatura ligada ao presidente. Muito provavelmente os dois devem protagonizar a eleição. A aliança de Russomanno com o PTB (anunciada nesta quarta-feira) confirma esta hipótese de oposição entre candidatos apoiadores e contra Bolsonaro. 

Que espaços ocuparão as demais candidaturas de apelo à direita, mas contra Bolsonaro, como Joice Hasselmann, do partido que elegeu o presidente?

Essa eleição vai desempenhar um papel de reorganizar o sistema partidário, que se desorganizou em 2018. O ‘PT vs PSDB’ desapareceu e os partidos que eram fortes com esses dois, como MDB e DEM, também viram suas bancadas diminuírem. O fim das coligações proporcionais e a cláusula de barreira fazem candidatos próprios aparecerem, e aí aparecem essas candidaturas. Parte dos bolsonaristas que viu as críticas da Joice a Bolsonaro ainda vai vê-la como candidata do PSL, partido que elegeu o presidente. Não sei se ela vai conseguir fazer a distinção. Na medida em que isso não está inteiramente claro para todos, dado que o presidente não conseguiu criar o novo partido (Aliança Pelo Brasil), essa confusão de sinais para o eleitor não deve ajudar candidaturas como essa.

Covas tem resgatado bandeiras tradicionais da social-democracia tucana. Como vê esse movimento? 

O PSDB foi um dos partidos que foram vítima da crise de desorganização do sistema partidário em 2018. O ex-governador Geraldo Alckmin teve porcentual baixo de votos, indicando um distanciamento do eleitor tradicional do PSDB do partido. A partir daí, o partido sinalizou que faria uma espécie de renovação e mudança com direção à direita, com o governador João Doria, mas ele não conseguiu plena hegemonia no partido. Ao mesmo tempo, há no interior do partido tentativa de retomar teses tradicionais da social-democracia. Vejo uma sinalização diferente entre que o faz Doria e Covas.

O PT se mantém isolado na disputa pela Prefeitura e vê o crescimento da adesão à chapa do PSOL enquanto PSB se alia com o PDT. O que indica a divisão da esquerda em São Paulo? 

Indica uma crise política muito séria. Mostra que a esquerda tem uma dificuldade de se unificar mesmo em situações que são uma ameaça à própria esquerda. Mesmo no contexto que pediria aliança, há uma divisão maior. O PT demonstra dificuldade em buscar uma ‘frente ampla’ e se mantém isolado, insiste desde 2018 numa política voltada para salvaguardar a posição de seu líder máximo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PT está mais voltado para isso do que para competir a eleição. De qualquer forma, vejo essas alternativas à esquerda com menos expressão do que a polarização Russomanno x Covas.

PARA ENTENDER

Calendário Estadão

As datas, definições partidárias, candidaturas e a cobertura especial do jornal das campanhas pelo País e nos Estados Unidos

O que exatamente a eleição municipal pode nos adiantar sobre 2022? 

Aquilo que a pandemia nos trouxe com mais clareza. O tema do desemprego, das desigualdades sociais, raciais. Os eleitores vão carregar essa realidade. Não dá para o candidato falar só das questões locais. Ele vai ter que fazer referência à crise econômica e social que o País está vivendo. Quem conseguir criar uma imagem mais próxima do eleitor, estará traçando uma perspectiva de resposta para 2022. 

Qual será o impacto da necessidade de uma campanha mais online neste ano por causa da pandemia?

A influência das redes na política e nas eleições veio para ficar e vai ter um papel importante. Como desta vez teremos poucas atividades presenciais, é possível que o horário eleitoral ganhe nova importância. Vai ser um meio de comunicação pelo qual as pessoas vão falar. É provável que, com muitas pessoas tendo que ficar em casa, haja uma reabilitação da TV o horário eleitoral. As redes continuam com força, mas acho possível um retorno ao que parecia ser uma página virada.

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