Abrigo de Moro, Podemos tem alvos da PF, Lava Jato e Justiça Eleitoral
31 de outubro de 2021 | 05h00
Suspeitas de candidaturas laranjas, alvos da Polícia Federal e da Operação Lava Jato fazem parte da história da legenda que vai abrigar o ex-juiz federal e ex-ministro Sérgio Moro. O Podemos, que marcou para o dia 10 de novembro o evento de filiação do ex-magistrado e possível presidenciável, tem investido na reformulação de diretórios estaduais para arregimentar potenciais candidatos e tentar ampliar sua presença no Congresso.
Moro é parte dessa estratégia porque é considerado um bom puxador de votos. Mas, ao entrar no partido, terá de conviver com correligionários sob investigação – um deles foi filmado pegando dinheiro de um delator –, e participar de um grupo político que, no Congresso, apoiou desde Dilma Rousseff até Jair Bolsonaro.
No Rio de Janeiro, após a saída do senador Romário, que foi para o PL, o vice-presidente do partido, Eduardo Machado, convidou o bombeiro Patrique Welber para dirigir o diretório do Podemos. Conhecido por atuar nos bastidores de campanhas de diversos partidos, incluindo a coordenação da candidatura do ex-presidente da Alerj, Jorge Picciani (MDB) – condenado a 21 anos de prisão na Lava Jato –, Welber levou com ele um grupo de mais de 40 candidatos a deputado federal. O Podemos não tem representantes do Rio na Câmara.
Em setembro, Welber se tornou secretário estadual do Trabalho do Rio, iniciativa do governador Cláudio Castro (PL) para dar uma pasta ao Podemos, que faz parte de sua base na Assembleia Legislativa (Alerj). A convite do bombeiro, e agora secretário, assumiram cargos de comando no diretório do Podemos o ex-deputado federal Francisco Floriano, que é alvo da Lava Jato do Rio sob suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção na Saúde do Estado, e o empresário Clébio Lopes Pereira – investigado pelo MP estadual por integrar supostos esquemas de desvios na gestão Marcelo Crivella (PRB).
Há também investigados no comando do diretório nacional do Podemos. A presidente da legenda e deputada federal Renata Abreu é alvo de inquérito na Justiça Eleitoral sob a acusação de ter fomentado candidaturas femininas laranja em 2018. O secretário-geral do partido, Luiz Claudio Souza França, foi flagrado em vídeo pegando R$ 38 mil em espécie das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais do DF, Durval Barbosa, na Operação Caixa de Pandora – que ficou conhecida como mensalão do DEM. A ação está em fase de alegações finais.
O partido também chegou a abrigar membros do PHS – partido que foi absorvido pelo Podemos – alvos de suspeitas. Entre eles, o advogado Laércio Benko e a ex-deputada Clelia Gomes, que foi candidata a vereador pela legenda no ano passado. Eles são investigados pela PF em um esquema de rachadinhas quando ainda época em que estavam na legenda anterior. Clelia deixou o partido após a eleição, e Benko saiu neste segundo semestre para dirigir o PMB.
Fusão. Antes de entrar para o Podemos, Benko e o vice-presidente, Eduardo Machado, estavam em lados opostos na disputa pelo comando do PHS. Por força de uma decisão judicial, Machado foi afastado da direção da legenda. Rivais também chegaram a acusá-lo de irregularidades. Em 2017, a briga foi parar na Polícia, quando um tesoureiro da legenda aliado de Machado foi acusado de invadir seu diretório e levar documentos. Em 2018, o PHS foi enquadrado na cláusula de barreira, e, em um acordo entre Machado e Renata Abreu, acabou incorporado ao Podemos. Os antigos rivais no PHS entraram em armistício na atual legenda.
De um lado, a fusão fez com que a cota do fundo eleitoral do Podemos saltasse de R$ 36 milhões para R$ 77 milhões, em 2020. De outro, uma série de irregularidades nas prestações de contas do PHS referentes a 2014 custaram ao Podemos uma multa de R$ 2,8 milhões. Quando relatora do projeto de reforma eleitoral na Câmara, Renata Abreu inseriu em uma primeira versão de sua proposta um dispositivo que previa a desoneração de partidos de assumirem multas de legendas que aglutinaram, em razão de pendências com o TSE. O texto acabou alterado pela parlamentar, dias depois.
O partido se diz independente no Legislativo, mas tem acompanhado o governo federal em cerca de 80% das votações. Em uma sessão recente, ficou dividido em uma pauta cara ao ex-juiz das Lava Jato. Cinco deputados votaram a favor da PEC 5, que propôs alterações no Conselho Nacional do Ministério Público, e outros cinco votaram contra. Foi um caso isolado. Em outros projetos, como a proposta de tirar o Coaf de Moro _ ainda no Ministério da Justiça –, o partido votou a favor do ministro. O Podemos também foi contra a ampliação do fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões em 2022.
O partido foi fundado como Partido Trabalhista Nacional, pelo ex-deputado Dorival de Abreu, tio de Renata, nos anos 1990, como uma espécie de sucessor do antigo PTN do ex-presidente Jânio Quadros. O slogan exibia a sigla ao lado da vassourinha, em referência ao jingle de Jânio na década de 60: “Varre, varre, vassourinha. Varre, varre a bandalheira”, dizia a música. Além de Dorival, o pai de Renata, ex-deputado José de Abreu, dirigia o partido, que, por anos, teve escritório dentro do Centro de Tradições Nordestinas, na zona norte de São Paulo, criado pelo clã.
Em 2013, o PTN acabou envolvido em uma polêmica relacionada ao mensalão, quando um hotel em nome de uma offshore no Panamá e do irmão de José de Abreu deu emprego ao ex-ministro José Dirceu, com salário de R$ 20 mil, quando o petista precisava comprovar que teria um emprego para migrar para o regime semiaberto.
No mesmo endereço da offshore estava registrado um escritório da JD Assessoria, que, anos depois, levaria Dirceu ao centro da Lava Jato. Somente em 2017, a legenda foi transformada em Podemos, sob o comando da atual presidente, e começou a arquitetar a candidatura de Alvaro Dias à Presidência, que terminou com 0,8% dos votos no primeiro turno.
Pelo Podemos, também passaram parlamentares, como o pastor Marco Feliciano, expulso por apoiar Bolsonaro em 2018, e a ex-juíza Selma Arruda, eleita por Mato Grosso em 2018 sob a alcunha de “Moro de saias” e defenestrada do Senado após ser condenada por caixa dois no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
‘Aberração’. A deputada federal Renata Abreu afirmou ao Estadão que “não há nem houve qualquer candidatura laranja no Podemos de São Paulo”. “Tenta-se com este processo considerar todas as candidaturas que não tiveram recursos financeiros partidários como laranjas, uma aberração do ponto de vista jurídico, que só tem o propósito de polemizar”, disse.
Luiz Claudio Freire de Souza França afirmou que a ação penal que responde na Operação Caixa de Pandora “está em primeira instância, com defesa nos autos”. Ele se diz confiante na Justiça e afirmou que a ação por improbidade prescreveu. A ex-deputada Clélia Gomes e o advogado Laércio Benko não foram localizados. Nos autos, suas defesas negam desvios. O Estadão não localizou Clébio Lopes Pereira e o ex-deputado Francisco Floriano. O presidente do Podemos no Rio, Patrique Welber, se negou a responder os questionamentos da reportagem. Renata Abreu disse que o “Podemos já retirou do partido pessoas com condenações e assim vai proceder, desde que respeitado o direito de defesa e o devido processo legal”.
Moro define nesta semana se será candidato, afirma partido
O ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro mantém silêncio sobre sua filiação e possível candidatura ao Palácio do Planalto. O Podemos acredita que essa definição seja sacramentada no início desta semana. A interlocutores, ele tem dito que só poderá tratar publicamente dos seus planos na política após encerrado o contrato com a consultoria Alvarez & Marsal, que tem sede em Washington, onde Moro reside atualmente.
“Moro vai definir no dia 01 de novembro. O Podemos já o convidou para disputar a Presidência”, afirmou ao Estadão a deputada federal e presidente do Podemos, Renata Abreu. A relação de Moro com a legenda foi construída a partir da amizade com o senador Alvaro Dias (PR). Entusiasta da Operação Lava Jato, o parlamentar tentou a Presidência em 2018 anunciando o então juiz como futuro convidado a ser seu ministro da Justiça, caso eleito.
Discretamente, porém, Moro intensifica conversas com representantes do centro político, onde sonda nomes para uma futura equipe de campanha.
Pauta. Sua preocupação é em ampliar o leque de bandeiras para além da pauta anticorrupção. A princípio, não há indícios claros de que a provável investida eleitoral do ex-juiz possa ser acompanhada por outros protagonistas da Lava Jato.
Procuradores também já foram consultados por partidos para disputar as eleições de 2022. No entanto, afirmam que as conversas nunca avançaram. Fora da força-tarefa, Deltan Dallagnol, ex-coordenador do grupo, disse que nunca se sentou “com qualquer partido para conversar concretamente sobre o assunto”. Deltan, contudo, tem participado do debate político por meio de palestras e videoconferências.
Aposentado do MPF, o agora advogado Carlos Fernando Santos Lima afirmou que “não fecha as portas para a participação na política”, mas que, a princípio, não pretende e não fui procurado por nenhum partido. “Minha posição não é necessariamente a favor de uma candidatura de Sérgio Moro ou não. Sou a favor de uma candidatura viável, de terceira via”, disse ao Estadão.
TSE defende a democracia
30 de outubro de 2021 | 03h00
Na quinta-feira passada, em duas decisões aparentemente opostas – uma com pedido julgado improcedente e outra, procedente –, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez enfática defesa da democracia diante das novas táticas de difusão massiva de desinformação. Os dois casos revelam tanto o esforço da Corte na proteção da lisura das eleições como as insuficiências da atual legislação para lidar de forma efetiva com os novos ataques digitais.
No primeiro caso, o TSE não cassou a chapa Bolsonaro e Mourão, acusada de abuso de poder econômico e uso indevido de meios de comunicação na campanha de 2018. Segundo a Corte, ainda que contivessem elementos de ilicitude, as provas apresentadas eram insuficientes para atestar a gravidade dos fatos, o que é requisito para a cassação da chapa.
O TSE aproveitou o caso para estabelecer uma orientação para situações futuras. Segundo a nova tese fixada, as hipóteses previstas no art. 22 da Lei Complementar (LC) 64/1990, a respeito de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação social, também podem ocorrer pelo “uso de aplicações digitais de mensagens instantâneas visando promover disparos em massa contendo desinformação e inverdades em prejuízo de adversários e em benefício de candidato”.
No segundo caso, o plenário do TSE cassou o mandato e tornou inelegível o deputado estadual Fernando Francischini, por divulgar informações mentirosas contra o sistema eletrônico de votação. No dia do primeiro turno das eleições de 2018, Francischini – então deputado federal pelo Paraná – fez uma live afirmando que urnas fraudadas não estavam aceitando votos em Jair Bolsonaro.
A tal denúncia, que gerou imediata repercussão, baseava-se em vídeo flagrantemente falso, em que o eleitor tentava votar “17” e o sistema classificava como inválido. O detalhe, inteiramente visível na gravação, era que a digitação ocorria na votação de governador, e não na de presidente da República.
Segundo a Corte, Francischini incorreu nas hipóteses do art. 22 da LC 64/1990, de uso indevido dos meios de comunicação e de abuso de poder político e de autoridade. Vale lembrar que era um deputado federal divulgando informação mentirosa sobre as urnas no próprio dia da votação. “Aqui está em questão, mais que o futuro de um mandato, o próprio futuro das eleições e da democracia”, disse o ministro Edson Fachin.
Em seu voto, o ministro Luís Roberto Barroso recordou um aspecto fundamental da liberdade de expressão. “As palavras têm sentido e poder. As pessoas têm liberdade de expressão, mas elas precisam ter responsabilidade pelo que falam”, disse. Certamente, um deputado federal não pode divulgar impunemente informação mentirosa sobre as eleições, especialmente no dia da votação. Além de tumultuar o processo eleitoral, a prática mobiliza, de forma manipuladora, o eleitorado.
Na live, Francischini também relatou enganosamente a apreensão de algumas urnas, o que, segundo ele, confirmaria a participação da Justiça Eleitoral nas fraudes contra Bolsonaro. “É um precedente muito grave – disse Luís Roberto Barroso – que pode comprometer todo o processo eleitoral se acusar, de forma inverídica, a ocorrência de fraude e se acusar a Justiça Eleitoral de estar mancomunada com isso.”
O julgamento dos dois casos é um recado importante para o pleito de 2022. Quem tentar fraudar a lisura das eleições, seja por qual for o meio, enfrentará as consequências da lei. Em consonância com a nova orientação fixada, é importante que a Justiça Eleitoral seja mais célere no julgamento dessas práticas. A figura da cassação existe para impedir o exercício indevido do poder. Quando é decretada apenas no final do mandato, seus efeitos ficam bastante mitigados.
Os ataques às eleições por meio das novas tecnologias recordam também a necessidade de o Congresso realizar – com cuidado, mas sem omissões – a atualização da legislação. Com leis defasadas, a atuação da Justiça Eleitoral terá sempre a nota da insuficiência. E a democracia merece proteção efetiva.
Como a junção de partidos em federações pode impactar legendas no Ceará
Dirigentes partidários cearenses apontam que, com a aprovação das federações partidárias para a eleição de 2022, ainda existem muitos obstáculos para a definição dessas uniões temporárias entre as legendas. Entre os elementos que atrapalham, está o caráter nacional da federação, que ignora as conjunturas e alianças estaduais.
Ao Diário do Nordeste, lideranças políticas ressaltaram que outro elemento a ser levado em consideração são as eleições de 2024. Como as federações têm duração mínima de quatro anos, siglas que optarem por essa união, também irão marchar juntas na disputa municipal - o que nem sempre é vantajoso para todas os partidos.
Por conta disso, apesar das conversas já terem se iniciado - principalmente, entre as Executivas nacionais -, os cearenses apontam que qualquer definição deve ficar para o início de 2022.
Ainda assim, as federações são consideradas alternativas após o fim das coligações para as eleições proporcionais. Com a cláusula de barreira ameaçando partidos que não conseguirem um bom desempenho nas disputas proporcionais de 2022, as federações são vistas como forma de fortalecer as chapas de deputado federal e estadual para o próximo ano.
"É uma válvula de escape, agora que se tirou as coligações", afirma o deputado federal e presidente estadual do Solidariedade, Genecias Noronha. Outro ponto que atrai as legendas, é que cada partido mantém a ideologia e identidade própria, apesar da união.
IMPASSE PARA UNIÃO
Uma das conversas iniciadas, em Brasília, envolve MDB, Avante e Solidariedade. Dirigentes dos três partidos conversam sobre a possibilidade de união temporária por meio da federação.
"Está bem adiantado (o processo)", afirma o ex-senador e presidente do MDB no Ceará, Eunício Oliveira. "É importante porque aumenta o tamanho do partido, você vai somar à sua legenda outros dois partidos que não são partidos que criam problemas com o MDB".
Genecias Noronha confirma as conversas, mas garante que a definição deve sair apenas "no último minuto do segundo tempo". Isto porque, tanto para o Solidariedade como para o Avante, existem algumas preocupações quanto uma federação junto ao MDB.
Noronha explica que um dos problemas em vista é a disputa municipal, inclusive para o Ceará. "O que pode dar ruim é a eleição de prefeito. O MDB é um partido maior, que tem mais candidatos e pode confrontar com o nosso", afirma.
Antes de bater o martelo, o Solidariedade tem realizado pesquisas sobre os cenários estaduais de cada partido. Diálogos com outros partidos, como o PCdoB, também estão sendo feitos, completa Noronha.
DISPUTA PRESIDENCIAL
Outra dificuldade encontrada é quanto ao apoio na disputa presidencial em 2022. Partidos têm a opção de liberar os diretórios de cada estado para apoiar o candidato mais bem posicionado naquela região, por exemplo.
O mesmo não pode ser feito em partidos que resolverem se unir em uma federação: a abrangência nacional desse mecanismo impõe posicionamento único quanto à candidatura presidencial.
Isso deve ter um peso ainda maior na negociação entre o PP, o PL e o Republicanos para união em uma federação. Isto porque o presidente Jair Bolsonaro vem afirmando a aliados que tem 99% de chances de acertar sua filiação ao PP para a disputa de 2022.
Além disso, os três partidos também estão em lados opostos no Ceará. Enquanto PP e PL fazem parte da base aliada ao governador Camilo Santana, o Republicanos integra a oposição e deve apoiar a pré-candidatura do deputado federal Capitão Wagner (Pros) ao Palácio da Abolição.
Presidente do Republicanos no Ceará, o vereador Ronaldo Martins considera baixas as chances do partidos se unir em uma federação para 2022. Embora admita que a legenda tem sido procurada para diálogos sobre assunto, ele não confirma por quais partidos.
"O partido está se estruturando para sair com chapas puras em todos os estados", afirma o parlamentar. Qualquer definição sobre uma união temporária deve ficar para o próximo ano, mas ele afirma que para o Ceará, o melhor cenário é não formar federação.
"Aqui para a gente, o melhor é chapa pura. Porque, o que pode ser bom para o Sul, não é bom pra cá. Um partido que é bom no Ceará (para fazer federação), não é bom em outro estado. É ruim a federação sendo de cima para baixo, porque cada estado tem uma realidade".Ronaldo MartinsPresidente do Republicanos no Ceará
A reportagem também procurou o presidente do PP no Ceará, o deputado federal AJ Albuquerque, e o presidente do PL, Acilon Gonçalves, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.
SOBREVIVÊNCIA DOS PARTIDOS
Outras siglas de centro e esquerda também iniciaram as conversas sobre a formação de federações em 2022. Presidente do Cidadania em Fortaleza, Michel Lins afirma que a conversa com o PV está bastante avançada, mas não descarta união com outros partidos.
"Com o rumo mais encaminhado está a construção com o PV, mas estão havendo outras definições. Têm conversas com a Rede e com outros partidos, mas ainda está muito no começo, muito superficiais".Michel LinsPresidente do Cidadania Fortaleza
Segundo ele, não existe nenhuma preocupação quanto a uma união temporária, mas a definição deve sair apenas no começo do próximo ano.
O presidente do PV no Ceará, Marcelo Carvalho, afirma que ainda há resistências à formação da federação dentro do partido. "Não estamos muito simpáticos, existem muitas dúvidas. Mas a nossa perspectiva é tomar uma decisão em que seja assegurada a sobrevivência do partido", ressalta.
Um dos pontos que deve ser levado em consideração, completa, é o apoio ao ex-presidente Lula (PT) na disputa presidencial - que tem sido defendido por ala do PV a nível nacional.
Apesar dos diálogos entre Cidadania, Rede e PV - para a formação de uma federação - já terem sido citados pelos dirigentes nacionais do Cidadania e do PV, o porta-voz nacional da Rede, Wesley Diógenes explica que ainda não ocorreram conversas oficiais.
"Ainda vai ser discutido internamente, talvez no começo do próximo ano. A tendência do partido é que não faça federação", afirma. Segundo ele, a meta da legenda tem sido "tentar sobreviver só" à cláusula de barreira na eleição do ano que vem. Ele cita como principal obstáculo os cenários estaduais.
"Do ponto de vista da teoria, as federações foram um avanço, porque possibilita partidos mais identitários manterem a autonomia e apresentarem projeto conjunto no país. Mas, do ponto de vista da vida prática, temos as realidades de cada estado. E a correlação de forças nos estados é diferentes".Wesley DiógenesPorta-voz do Rede Sustentabilidade
DIÁLOGOS NA ESQUERDA
Um dos maiores apoiadores da proposta que instituiu as federações partidárias, o PCdoB também iniciou conversas com partidos sobre essa união temporária. O presidente da legenda no Ceará, Luis Carlos Paes, diz que não há dúvidas de que a sigla irá integrar uma federação.
"Não é apenas para beneficiar pequenos partidos que correm risco com a cláusula de barreira - o que também é verdade. A federação é mais ampla que isso", ressalta. "Não vai ser um partido sozinho que vai poder construir um novo projeto de desenvolvimento, é uma tarefa para diversos partidos políticos".
Segundo ele, o PCdoB iniciou os diálogos com todas as siglas com semelhanças no projeto político - como PSB, Rede, PDT, PV, dentre outras. A definição, contudo, deve ficar para janeiro ou fevereiro do próximo ano, completa. COM DIARIONORDESTE
No Ceará, governistas e opositores travam batalha nos bastidores pelo União Brasil
Escrito por Inácio Aguiar, O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
A pouco menos de um ano da Eleição 2022, membros dos dois principais grupos políticos com atuação no Ceará, que devem disputar o governo do Estado, travam uma batalha nos bastidores para conseguir o controle do diretório estadual do União Brasil – gigante partido que surge da fusão entre DEM e PSL.
Todos que acompanham a política cearense devem estar atentos às definições da nova legenda no Ceará, pois será parte significativa das definições com vistas ao próximo pleito.
No mês passado, o comando nacional dos dois partidos anunciou a fusão das duas siglas, formando o maior partido em atuação na Câmara dos Deputados, inicialmente, com 82 deputados federais. Para se ter uma ideia do tamanho do novo conglomerado, a segunda bancada passa a ser a do PT, com 52, atualmente.
Na onda do bolsonarismo em 2018, o PSL acabou fazendo a segunda maior bancada na Câmara, com 52 parlamentares eleitos. Atrás apenas do PT, com 54 membros eleitos então.
Mas porque estamos falando sobre as bancadas eleitas à Câmara Federal? É fácil de entender. Este é o critério de distribuição de fundo eleitoral e também do tempo de propaganda no rádio e na TV, ativos estratégicos para as próximas eleições, o que aumentam ainda mais o peso do União Brasil no cenário nacional e nas disputas pelos governos estaduais.
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS
Nacionalmente, PSL e DEM mantém uma linha de atuação semelhante, do ponto de vista ideológico. São partidos do campo político de direita. Entretanto, a realidade das legendas nos estados é heterodoxa. Caso do Ceará.
Por aqui, o DEM, comandado pelo ex-deputado Chiquinho Feitosa, é aliado do grupo governista comandado pelo PDT. Já o PSL, faz frontal oposição aos governistas, estando controlado por adversários de Camilo Santana e Cid Gomes, como deputado federal Capitão Wagner.
Está aí o ponto central da disputa. A nova legenda será comandada por Chiquinho Feitosa ou por Wagner? Os dois atuam, nos bastidores, com as armas que têm para manter o comando do Partido. E com ajuda dos respectivos aliados.
Naturalmente, as tratativas de Wagner ocorrem mais pelo lado do PSL, com Luciano Bivar. Antes da fusão, havia um compromisso de Wagner – hoje no Pros – migrar para a legenda.
Feitosa, por sua vez, se movimenta com mais desenvoltura do lado do Democratas, junto ao presidente nacional ACM Neto.
Esta coluna apurou que o deputado Capitão Wagner já formalizou o pedido para ficar com o diretório local da legenda e apresentou o projeto que envolve uma candidatura competitiva ao governo do Estado no próximo ano e também a filiação de deputados federais com mandado à nova legenda, União Brasil.
Chiquinho Feitosa, por sua vez, está em negociações e diz ter um tipo de acerto sobre o assunto. O mais novo trunfo dele é a posse no mandato de senador, em substituição a Tasso Jereissati (PSDB), que se licencia por quatro meses. Assim, Chiquinho ganha envergadura para a disputa interna na nova legenda.
ESTRATÉGIA GOVERNISTA
Esta coluna ouviu de interlocutores de Feitosa que há previsão de um próximo encontro no dia 4 de novembro, quinta-feira, data em que ele já estará no cargo de senador. Essa reunião poderá ser decisiva.
Lideranças do grupo governista já trabalham para montar a estratégia de migração de parlamentares federais com mandato para a nova legenda.
Pelas contas dos aliados cearenses do grupo governista, o partido, sozinho, deverá ter 1 minuto e 40 segundos de tempo, no bolo de 10 minutos.
A propaganda e o fundo eleitoral gordo são motivos da disputa acirrada entre os grupos.
CENÁRIO DA OPOSIÇÃO
Se para os governistas trazer o União Brasil pode ser estratégico, mais ainda será para a oposição. Garantir o gigante do partidarismo brasileiro poderá dar uma nova condição a Capitão Wagner e seus aliados, o que pode ser vital para as pretensões de candidatura ao governo do Estado.
Assim como ocorreu na Eleição 2020 para a Prefeitura de Fortaleza, também haverá dificuldade para o Capitão atrair mais partidos de peso para sua empreitada. Até porque o grupo governista local tem feito novas investidas para atrair lideranças e partidos para a base que já tem um bolo com mais de 10 legendas.
Nos próximos dias, as disputas terão novos capítulos.
O diabo não desiste - O ESTADO DE SP
24 de outubro de 2021 | 03h00
Desde que o PT precipitou a maior crise econômica, política e moral da Nova República, a população esperou em vão por um mísero mea culpa. Após o impeachment de Dilma Rousseff, a única bandeira a unificar seus correligionários foi a denúncia ao “golpe”, logo substituída pelo slogan “Lula Livre”. O PT se opôs a reformas modernizantes como a da Previdência, opõe-se a outras, como a administrativa, e não oferece alternativas construtivas aos desmandos que acusa. Em campanha eleitoral, o partido se mostra incapaz de propor uma agenda positiva para o futuro, muito menos de reconhecer os erros do passado. Ao contrário, afirma que vai repeti-los, por exemplo, implodindo o teto de gastos que estancou a hemorragia fiscal deflagrada no governo Dilma Rousseff.
Ainda pior, o PT não só pretende repetir seus erros de gestão, como julga ter poder de apagar os crimes dos quais foi cúmplice. Em entrevista coletiva, a sua presidente, Gleisi Hoffmann, afirmou que nunca houve “corrupção sistêmica”, superfaturamento ou desvio de dinheiro na Petrobras.
Boa parte desses delitos foi confessada pelos próprios delinquentes, que devolveram bilhões desviados à Petrobras. Com base em uma auditoria da PriceWaterhouseCoopers, a própria Petrobras admitiu no balanço de 2014 que US$ 2,5 bilhões foram pagos a mais a “um conjunto de empresas que, entre 2004 e abril de 2012, se organizaram em cartel para obter contratos com a Petrobras, impondo gastos adicionais nestes contratos e utilizando estes valores adicionais para financiar pagamentos indevidos a partidos políticos, políticos eleitos ou outros agentes políticos, empregados de empreiteiras e fornecedores, ex-empregados da Petrobras e outros envolvidos no esquema de pagamentos indevidos”.
Segundo Gleisi Hoffmann, a PriceWaterhouse foi obrigada pela Lava Jato a atestar as perdas. Não há evidências disso. Por outro lado, é notório que à época o PT pressionou a diretoria da Petrobras comandada por Maria das Graças Foster, executiva de confiança de Dilma Rousseff, a não publicar os dados auditados, levando a um impasse e finalmente à renúncia de Foster e outros diretores. Depois, a Petrobras participou dos processos judiciais como assistente de acusação do Ministério Público, recuperando mais de R$ 6 bilhões superfaturados pelos cartéis.
O Tribunal de Contas da União (TCU), atuando independentemente da Lava Jato, expôs uma série de ilicitudes nos contratos da Petrobras. Na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por exemplo, o TCU identificou que o orçamento inicial de US$ 13,4 bilhões foi majorado para US$ 26,3 bilhões. Ao mesmo tempo que o custo final foi dobrado, a refinaria produz apenas metade dos 230 mil barris de petróleo inicialmente previstos. O TCU estimou que as perdas da Petrobras apenas em Abreu e Lima acumularam US$ 19 bilhões.
Similarmente, o TCU verificou que a torre Pirituba, em Salvador, inicialmente orçada em R$ 320 milhões, foi construída pela OAS e a Odebrecht por R$ 1,3 bilhão, e que a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – jamais concluída – gerou perdas de US$ 12,5 bilhões.
É conhecida a candura com que a ex-presidente Dilma Rousseff expôs os métodos petistas: “Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”. Ironicamente, o PT, ciente de que ninguém fez mais do que Dilma para arruinar o suposto legado de Lula, a incluiu no rol dos erros a serem esquecidos. O ex-poste de Lula é hoje uma ausência garantida nos discursos e comícios do demiurgo de Garanhuns.
Lula, por sinal, afetou melindres em suas redes sociais: “Eu sou de um tempo onde a disputa era apenas eleitoral. Você não estava numa guerra. Seu adversário não era um inimigo”. Que o diga a ex-petista Marina Silva, sordidamente vilanizada pelos marqueteiros do PT nas campanhas de 2014, ou todos os brasileiros vilipendiados como “fascistas” simplesmente por recusarem o culto a Lula da Silva.
O despudor com que o PT tenta reescrever a história do País para edulcorar sua trágica passagem pelo poder rivaliza com o sistemático embuste bolsonarista, o que permite prever que a campanha de 2022, mantido o favoritismo de Lula e Bolsonaro, fará corar o próprio Pinóquio.