O que o evento de filiação do União Brasil indica sobre a estratégia de Capitão Wagner em 2022
Escrito por Luana Barros, Igor Cavalcante / DIARIONORDESTE
Cercado por uma multidão de aliados, o deputado federal e pré-candidato Capitão Wagner (UB) fez uma demonstração de força da oposição nesta terça-feira (22), na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), ao filiar novos integrantes ao União Brasil.
Em pré-campanhapeloGoverno do Ceará desde o final das eleições de 2020, Wagner agora tenta reagrupar aliados, atrair opositores e reforçar o apoio em bases eleitorais estratégicas, como os evangélicos.
Por enquanto, o político ainda evita falar sobre quem deve ocupar a vaga de vice na chapa. O deputado alega que o arco de alianças que irá apoiar a sua pré-candidatura ao Governo do Ceará ainda está sendo fechado e, apenas depois disso, o martelo sobre quem será o vice deve ser batido.
"A gente vai ter que concluir o arco de alianças partidário, precisamos trazer partidos com mais tempo de TV, com mais estrutura de candidatos para fortalecer ainda mais a candidatura majoritária, mas já temos algumas opções. Mas ainda não é momento de apontar porque o arco de aliança ainda não foi concluído"CAPITÃO WAGNER (UB)Deputado federal e pré-candidato ao Governo do Ceará
Por enquanto, cinco partidos já confirmaram apoio a Wagner para a disputa majoritária: Podemos, Pros, Avante, PSC e PTB. Além deles, existem conversas avançadas com o PL e com o MDB, acrescenta o parlamentar. Partidos da base governista, como PSD e PP, também têm participado dos diálogos.
Mesmo sem ter ainda um nome fechado, o candidato a vice deve ser alguém ligado ao Interior cearense. "Procuramos o perfil de alguém que represente o interior do Estado, (...) que conheça essas áreas, que seja do setor produtivo. Pode ser um homem, pode ser uma mulher. Não há um fechamento de qualquer nome, o que importa é que temos opções e que preenchem esse perfil", detalha.
FOCO EM UNIR OPOSIÇÃO
Formalizado pela Justiça Eleitoral no final desta terça-feira (22), o peso do União Brasil em relação à força partidária nacional tem contribuído para Wagner unir nomes da oposição que atuavam em partidos pulverizados.
O ex-governador Lúcio Alcântara disse que irá se filiar ao União Brasil mesmo sem a intenção de concorrer a nenhum cargo eletivo. "Me filio para que fique bem evidente o meu apoio e a minha solidariedade ao Capitão Wagner, que emerge como grande liderança do Ceará", ressaltou.
Prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa também assinou a ficha de filiação durante o evento desta terça-feira. Durante discurso, ele lembrou da campanha de Eunício Oliveira ao Governo do Estado, em 2014.
"Não vamos ficar de sapato alto que nem o meu amigo Eunício Oliveira. (...) Não vai ser fácil, vai ser difícil. E vamos derrotar nas urnas"ROBERTO PESSOA (UB)Prefeito de Maracanaú
Junto com Pessoa, seguem para União Brasil lideranças do grupo político comandado por ele, como a deputada estadual Fernanda Pessoa e o ex-prefeito de Maracanaú, Firmo Camurça.
Outros prefeitos, como Professor Marcelão, de São Gonçalo do Amarante, e Orlando Filho, de Mombaça também estiveram presentes. Uma das ausências foi a do prefeito de Caucaia, Vitor Valim (Pros), eleito com apoio de Capitão Wagner em 2020, mas que tem feito acenos à base governista.
"O prefeito Vitor estava em Portugal, deve ter chegado ontem, com certeza com uma série de demandas relacionadas ao município dele. (...) Se o prefeito na reta final, avaliar que é mais positivo estar com nossos adversários, eu vou respeitar. Torço pra que ele venha, mas se não vier vamos respeitar", explica.
FORÇA NO LEGISLATIVO
Além de chegar ao comando do Executivo estadual, um dos objetivos de Wagner à frente do União Brasil é ampliar a base parlamentar. Segundo ele, o partido irá sair com “chapa completa”, indicando o maior número de candidatos que a legislação eleitoral permite à sigla.
Ao todo, serão 47 candidatos a deputado estadual e 23 a federal.
“Poucos partidos conseguiram essa composição, cerca de cinco partidos apenas têm o time que temos aqui. Temos pessoas dos diversos setores, incluindo industriais, intelectuais, profissionais da saúde e da educação que têm a capacidade de nos ajudar muito para que tenhamos um Ceará sem medo”, disse.
A projeção do partido é eleger entre quatro e cinco deputados federais e seis estaduais. Somados a eleitos de partidos aliados, a previsão é de ampliação da bancada tanto em Brasília como na Assembleia Legislativa.
“O União Brasil tem sido muito procurado. Nós temos um número passando de candidatos a federais e estaduais. Uns dez que estão passando irão para outros partidos (aliados) do Capitão. (...) Isso é bom porque o Capitão terá cinco, seis partidos coligados e nós teremos forças de todos os lados”HEITOR FREIRE (UB)Deputado federal e vice-presidente do UB
Entre os parlamentares que exercem mandato, pelo menos sete irão passar a integrar os quadros do União Brasil. Os deputados federais Danilo Forte (ex-PSDB) e Vaidon Oliveira (ex-Pros) irão se filiar a legenda, além dos estaduais Fernanda Pessoa (ex-PSDB), Tony Brito (ex-Pros), Heitor Férrer (ex-SD) e Soldado Noélio (ex-Pros).
Além deles, os vereadores de Fortaleza Sargento Reginauro e Julierme Sena, atualmente filiados ao Pros, devem se filiar ao União Brasil até o final do prazo da janela partidária. Ambos são pré-candidatos a deputado estadual e federal, respectivamente.
Mesmo que não tenham direito à janela partidária e possam sofrer sanções, os vereadores receberam carta de anuência de Vaidon Oliveira, que estava à frente do Pros estadual.
"Estamos aguardando o parecer da (Executiva) nacional. O Pros nacionalmente está vivendo um momento de instabilidade, o que não é bom para a gente do ponto de vista eleitoral. Existe um entendimento jurídico que essa motivação pode garantir ao parlamentar se desligar do partido", explica Reginauro.
O vereador Inspetor Alberto também deve sair do Pros, mas ainda não definiu se irá se filiar ao União Brasil ou ao PL.
RELAÇÃO COM ELEITORADO EVANGÉLICO
No evento, Wagner também reforçou os acenos que tem feito à fatia mais religiosa do eleitorado. Em um discurso repleto de referências e agradecimentos religiosos, ele disse que irá agir com os novos aliados assim como padres e pastores agem nas igrejas.
“Quem quiser vir para cá será acolhido com todo o carinho para contribuir dentro do que pode contribuir”, disse. O pré-candidato foi, inclusive, consagrado pela esposa, Dayany Bittencourt (UB), que deve disputar vaga como deputada federal.
Em ato religioso liderado pelo reverendo Munguba Júnior, o político ficou de joelhos e foi cercado também pelo deputado federal Heitor Freire (UB). "Hoje consagramos a vida e a história do Capitão Wagner, o nosso próximo governador", disse a liderança religiosa. O religioso chegou a pedir a benção para "vencer o mal" na eleição deste ano.
Em seu pronunciamento, Wagner também fez acenos aos religiosos. “Vamos usar a instituição mais importante na questão social, a igreja, que vai ser a maior parceira desse projeto, seja qual for a igreja que queira contribuir”, disse o parlamentar.
A aproximação do pré-candidato com o eleitorado religioso, principalmente evangélico, não é recente. Aliado de Jair Bolsonaro (PL) no Ceará, Wagner também tem um forte apoio de lideranças religiosas no Estado. Nas redes sociais, ele costuma publicar participação em cultos e eventos de igrejas na Capital.
No mês passado, ele viajou a Israel onde foi batizado nas águas do Rio Jordão. A cerimônia foi conduzida pelo deputado estadual Apóstolo Luiz Henrique (Republicanos). O episódio lembrou também o batismo do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2016, o então pré-candidato à Presidência visitou Israel para o ato religioso. À época, a aproximação rendeu frutos ao presidente.
Conforme pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em outubro de 2018, a cada 10 evangélicos, 7 optaram pelo então candidato Jair Bolsonaro. Para a disputa deste ano, Wagner deve receber apoio de parlamentares como o deputado federal Dr. Jaziel (PL), a deputada estadual Dra. Silvana (PL) e a vereadora Priscila Costa (PSC), políticos que compõem a bancada religiosa do Ceará e endossam a base de apoio de Bolsonaro no Ceará.
TENTAR EVITAR DESGASTES
De licença até junho deste ano do mandato como deputado federal, Capitão Wagner assistirá, no início do próximo mês, a uma troca no comando do Governo do Estado. O oposicionista também comentou sobre a expectativa com a saída de Camilo Santana (PT), com quem vem acumulando desgastes desde 2020, e a chegada da vice-governadora Izolda Cela (PDT) à chefia do Executivo estadual.
“Antes de fazer oposição, estamos preocupados em construir um projeto. Então, o que tiver ao nosso alcance iremos ajudar o Governo do Estado, como ajudei enviando recursos ao governador que hoje está à frente da gestão”CAPITÃO WAGNER (UB)Deputado federal e pré-candidato
Recentemente, a vice-governadora minimizou críticas feitas pelo parlamentar à segurança pública do Ceará. À época, ela disse considerar críticas “absolutamente naturais e desejáveis”. Contudo, ponderou algumas “têm intenções”, “são críticas que fazem mais parte de um embate político”.
Izolda, inclusive, pode ser o nome governista que irá enfrentar Wagner na disputa pelo Executivo. Ela é cotada para liderar a chapa pedetista. Também são pré-candidatos do PDT o ex-prefeito Roberto Cláudio, o deputado federal Mauro Filho e o presidente da Assembleia do Ceará, Evandro Leitão.