Terceira via não forma rede própria de mobilização no Facebook como Lula e Bolsonaro
Marlen Couto / O GLOBO
A menos de um ano das eleições, os pré-candidatos da chamada “terceira via” não são capazes de formar redes próprias de mobilização no Facebook, maior plataforma digital em operação no país. É o que revela um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV). A análise aponta que o debate sobre possíveis presidenciáveis na rede social, por enquanto, consolida a polarização entre as candidaturas do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula.
O relatório considerou 450 mil postagens em mais de 30 mil páginas e grupos públicos do Facebook publicadas em setembro. As redes pró-Bolsonaro e pró-Lula somaram mais de 90% das interações (curtidas, comentários e compartilhamentos) registradas e reuniram 76% dos perfis que participaram do debate. Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) aparecem como atores coadjuvantes na oposição à esquerda, dominada por Lula.
Os pré-candidatos do PSDB, João Doria e Eduardo Leite, não integram nenhum dos principais conjuntos formados. Apesar disso, se deslocaram da rede principal e formaram pequenos grupos de apoio. Já o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta integra um grupo formado por organizações sociais que fazem oposição ao governo Bolsonaro e à esquerda, como Vem Pra Rua. Essa rede somou pouco mais de 3% das interações no período.
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Salvaram-se todos no debate dos pré-candidatos do PSDB
Aparentemente, vai ser menos complicado do que se supunha garantir a unidade dos tucanos após as prévias para escolher o candidato do partido à Presidência da República. O que parecia estar caminhando para um confronto aberto sobre as regras da disputa, com o governador paulista João Doria se insurgindo contra possíveis manobras que lhe tirem o favoritismo dentro do PSDB, acabou refluindo, pelo menos neste primeiro momento, para um debate civilizado em que o partido mostrou que ainda tem fôlego para discutir os grandes temas nacionais sem grande divisões.
Os três pré-candidatos - o próprio Doria, o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgilio - defenderam os pontos partidários básicos, como o equilíbrio fiscal e as privatizações, divergiram em pouca coisa, como quanto à reeleição, que também é uma marca do partido. Embora o próprio Fernando Henrique Cardoso já tenha admitido que foi um erro a implantação do sistema de reeleição.
Arthur Virgilio foi o mais ortodoxo dos tucanos, defendeu a reeleição naquele momento, em que era preciso consolidar o Plano Real, e também hoje, quando lembra que será preciso muito tempo para resgatar o país da crise em que vive desde o caos econômico implantado pelo governo Dilma, o último do PT. O governador do Rio Grande do Sul já anunciou que é contra a reeleição e considera que esse desapego facilita acordos políticos com outros partidos na hora de ter que montar um governo de coalizão. E pode ajudá-lo também nas negociações internas do próprio PSDB, pois não será empecilho a projetos de outros políticos do partido.
A seu favor tem a realidade de que abriu mão de se candidatar à reeleição ao governo do Rio Grande do Sul, que seria o passo mais natural na sua bem sucedida carreira política, de vereador a prefeito e governador do estado. Aliás, este parece ser o ponto nevrálgico de suas preocupações, a experiência administrativa e política. Basta que algum de seus oponentes sugira que é inexperiente para que Eduardo Leite se preocupe, tentando desfazer essa imagem.
No final, não houve mortos nem feridos, e o partido saiu fortalecido em suas linhas mestras. O que os dirigentes presentes consideram o maior ganho das prévias. Para Doria, que continua sendo o favorito, o primeiro debate não parece ter limitado sua ambição. Já Eduardo Leite segue perseguindo o governador de São Paulo com mais chances de ganhar hoje do que tinha quando começou a campanha. Ambos aproveitaram a oportunidade para fazerem mea-culpa do apoio que deram a Bolsonaro na eleição de 2018. Virgilio foi o mais cáustico a esse respeito, mas como Doria e Leite é que estão na disputa, esse não será um calcanhar de Aquiles para nenhum dos dois nas prévias. Pode ser, porém, na campanha presidencial.
MERVAL PEREIRA / O GLOBO
Faltando exatamente um ano para o eleitor ir às urnas nas disputas majoritárias de 2022, a corrida presidencial já teve início. O jogo de alianças, conchavos, promessas (vagas e falsas, em muitos casos) e apresentações de candidato está em campo. De forma
Não haverá showmícios nas eleições de 2022. Não será desta vez que assistiremos à batalha entre representantes da MPB que apoiam o PT e sertanejos que cerram fileiras em torno de Jair Bolsonaro.
O Supremo Tribunal Federal registrou maioria de 8 dos 10 ministros para manter tais eventos proibidos, como determina legislação de 2006. Para a maioria dos magistrados, o veto à participação de artistas em comícios eleitorais não viola a liberdade de expressão, hipótese em que a norma poderia ser declarada inconstitucional.
Para complicar as coisas, sete ministros votaram para permitir que músicos se apresentem a um público pagante com a finalidade de arrecadar fundos de campanha.
Se a norma for aplicada da forma que o STF definiu, seu efeito mais notável será que os cidadãos mais ricos, isto é, as pessoas com renda suficiente para fazer doações eleitorais, poderão desfrutar de um show com seus artistas preferidos, mas os mais pobres, não.
No plano eleitoral, temos uma receita para a confusão. Uma apresentação destinada a angariar recursos, mas aberta também ao público não pagante é um evento de arrecadação ou um showmício? Não há como saber, o que significa que cada juiz eleitoral determinará o que lhe vier à cabeça.
A razão alegada para a proibição dos showmícios é manter uma certa paridade de armas entre os candidatos. Trata-se de ideia fadada ao fracasso, mas que ao menos segue alguma lógica. Quando o STF mantém o showmício vetado, mas libera eventos de arrecadação, aniquila essa lógica.
A ciência política já escrutinou as razões pelas quais o eleitor vota num postulante —e o apoio de artistas não figura entre as relevantes. Isso significa que os músicos são muito mais úteis para ajudar a arrecadar fundos do que votos. A paridade de armas é mais afetada pelo que foi liberado do que pelo que permaneceu vetado.
Esse é mais um exemplo dos problemas gerados por uma legislação eleitoral excessivamente detalhista e paternalista, que serve mais para estimular a judicialização dos pleitos, com todas as incertezas que isso acarreta, do que para promover uma ilusória justiça na disputa entre os candidatos.
Extrema direita no Brasil já não precisa de Bolsonaro para se mobilizar, revela pesquisa
18 de outubro de 2021 | 05h00
Os atos e manifestações do bolsonarismo não precisam mais da presença de Jair Bolsonaro para acontecer. Dezoito meses de mobilização das ruas deixaram como herança uma extrema direita rapidamente mobilizada em torno de pautas que vão do combate às medidas de isolamento social à defesa do voto impresso e à guerra contra instituições.
É o que mostra pesquisa inédita coordenada pela antropóloga Isabela Kalil, Democracia Sitiada e Extremismo no Brasil: 18 meses de manifestações bolsonaristas, do Núcleo de Etnografia Urbana e Audiovisual da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (NEU-FESPSP). Ao todo foram mapeadas 45 manifestações entre março de 2020 e setembro deste ano, em que o bolsonarismo atuou por meio do que os pesquisadores classificaram como “extremismo estratégico”.
Mas o que seria esse extremismo e por que essa história não acaba com a declaração à nação feita por Bolsonaro para recuar dos ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na manifestação de 7 de Setembro? Para Kalil, apesar de ser impossível saber se o presidente continuará a participar desses eventos após o recuo, é certo que os atos não precisam mais de Bolsonaro para ocorrer. “Há vários exemplos na pesquisa. Bolsonaro pode moderar o tom e mudar a performance sem que os atos sejam desmobilizados.”
Como exemplo, a antropóloga citou as ações recentes de caminhoneiros e grupos como o 300 do Brasil. “Nas manifestações, sua base cobra mais radicalismo e diz: ‘eu autorizo o que for necessário’. Mas institucionalmente não aconteceu nada.” Ao não poder entregar o radicalismo esperado pelos extremistas, Bolsonaro “entrega a performance”. É assim, segundo ela, que se explica o desfile de carros de combate da Marinha em Brasília, no dia da votação da PEC do voto impresso, rejeitada pelo Congresso.
Para o cientista político José Álvaro Moisés, a história das manifestações é marcada pelo crescimento do que chamou de “expressões mais radicais do bolsonarismo”. O professor da USP alerta, no entanto, que os fracassos do governo desativaram a força do bolsonarismo radical para se impor ao País. “A declaração à nação de Bolsonaro foi um recuo tático. É preciso ainda entender seu impacto sobre o movimento.”
A resposta para isso tem relação com as táticas e a estratégia do movimento até as eleições de 2022. Moisés acredita que Bolsonaro deve adotar a visão escatológica, da luta final contra o petismo e o comunismo, como forma de mobilizar sua base, ainda mais do que o discurso antissistema que alimentou o extremismo estratégico nos 18 meses de atos de rua.
A pesquisa do NEU-FESPSP mostra que a formação desse extremismo é indissociável da covid-19. De acordo com ela, a pandemia se transformou em uma oportunidade para mobilizar os apoiadores do presidente. A maioria dos atos em 2020 trazia como pauta a defesa do tratamento precoce e o ataque a governadores e prefeitos que defendiam medidas de isolamento social, como o fechamento do comércio.
A pesquisa também detectou uma mudança da retórica bolsonarista. Antes da pandemia, os alvos prioritários eram os políticos e partidos tradicionais. Depois, passaram a ser instituições, como o Congresso e o STF. O deslocamento das pautas dos protestos é acompanhado pelo aumento do radicalismo, incluindo “atos de insurgência”. Um exemplo foi a tentativa de invasão do Congresso, em 13 de junho de 2020, quando o grupo 300 do Brasil subiu na cúpula do prédio após ter seu acampamento desmontado em Brasília.
Os pesquisadores identificaram ainda a presença cada vez maior de símbolos militares e de novos tipos de protestos, como os encontros de motociclistas – as motociatas –, que predominaram nos atos em 2021. Onze delas contaram com a participação presidencial – Bolsonaro esteve presente em 25 dos 45 eventos estudados.
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O vale tudo de Lula - Germano Oliveira / ISTOÉ
O ex-presidente Lula tem se mostrado disposto a romper com qualquer valor, seja ético, moral ou ideológico, para voltar ao governo. Adota o chamado vale tudo eleitoral. E o caso mais concreto nesse sentido é o empenho em atrair para seu projeto de poder os “traidores” do MDB, como o PT classificou os líderes do partido que levaram Dilma ao impeachment. Embora a maioria esmagadora dos petistas ainda não tenha perdoado os emedebistas, Lula dá de ombros a esses lampejos moralistas e fez questão de jantar com os algozes na semana passada, em Brasília, na casa do ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE), investigado por corrupção, como o próprio petista.
Mas se Lula já passou uma borracha no passado, os próprios caciques do partido de Michel Temer demonstraram que ainda não engoliram os ataques sofridos por terem punido a ex-presidente por suas pedaladas fiscais e não compareceram ao banquete, como foi o caso de Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e o governador Ibaneis (DF), além de tantos outros próceres emedebistas. Só foi a raia miúda.
Os dirigentes do MDB já entenderam que Lula só quer usá-los como escada para obter uma roupagem moderada e, uma vez no poder, chutá-los para fora do governo. Basta ver que o petista já está defendendo o fim do teto de gastos, criado por Temer, a interrupção dos projetos de privatização e a revisão das reformas, as principais bandeiras do partido.
O mesmo está acontecendo em relação aos partidos do Centrão. Lula está correndo atrás do PP de Ciro Nogueira e Ricardo Barros, além do PL de Valdemar Costa Neto, todos investigados por malfeitos, muitos deles praticados quando eram aliados dos governos do PT. Os “petistas de raiz”, como os da corrente sindicalista, torcem o nariz para essa reaproximação, pois foi o resultado dessa aliança que levou a maioria dos seus companheiros para a cadeia, inclusive Lula.
Ora, gente como Zé Dirceu, que voltou a coordenar a estratégia lulista, e que até recentemente também estava atrás das grades por corrupção, pode dizer que isso faz parte do pragmatismo da esquerda, como ocorreu em 2002, ano que o partido do ABC chegou ao poder pela primeira vez. Esquece-se de lembrar, porém, que o “lulinha paz e amor” da época só deu certo graças ao engodo da “carta aos brasileiros” em que se prometeu um governo com justiça social, mas que serviu apenas para encher o bolso de empresários inescrupulosos por meio de empréstimos subsidiados do BNDES. Sem contar a criação de mecanismos que permitiram o maior assalto aos cofres públicos em toda a história da República, principalmente ao caixa da Petrobras.
O certo seria Lula se apresentar aos eleitores pedindo desculpas pela roubalheira que o PT impôs à Nação e fazendo mea culpa pelos desmandos cometidos por ele e sua trupe em 13 anos de fraudes. Ao que parece, contudo, é que o velho Lula, empurrado pela extrema-esquerda petista, continua defendendo a regulação da mídia (censura à imprensa livre), a adoção de uma série de retrocessos econômicos e o enterro da Lava Jato, além da consolidação de alianças com a velha política. É por essa e por outras que as pesquisas mostram que a maioria dos eleitores não quer nem Lula e nem Bolsonaro.