Líder do PMDB diz a rádio do RS que muitos servidores são 'vadios'
No dia em que o anúncio do parcelamento dos salários dos servidores estaduais do Rio Grande do Sul culminou em uma greve geral no estado, o deputado estadual Álvaro Boessio, líder do PMDB, partido do governador José Ivo Sartori, na Assembleia Legislativa, deu uma declaração polêmica a uma rádio do interior do estado. Em entrevista à estação Spaço FM, de Farroupilha, na Serra gaúcha, o parlamentar afirmou que muitos funcionários públicos são "vadios".
"Boa parte dos funcionários públicos são vadios. E depois que passaram nos concursos e estão lá há tempos, querem mandar mais que os deputados. E assim é no governo, e deve ser na prefeitura", disparou o deputado.
Em relação ao magistério, o deputado afirmou que metade dos professores da rede pública estadual estão sem trabalhar. "Temos 80 mil professores no estado. Sabe quantos estão em atividade hoje? Quarenta mil, a metade. Licença-prêmio, aposentadoria... Que trabalhador tem a cada cinco anos, três meses de licença-prêmio? Tem coisas que não são lógicas."
O G1 tentou contato com o deputado, mas não obteve resposta.
Gilmar diz que despacho de Janot é 'infantil' e sugere atuação 'viciada' da PGR sobre Dilma
Brasília - O ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), classificou como "ridículo" o despacho em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, arquivou um pedido de investigação sobre a campanha que reelegeu a presidente Dilma Rousseff. O ministro disse que a fundamentação para o arquivamento "vai de infantil a pueril". Como revelou o Estado, no último dia 13, Janot decidiu arquivar uma notícia de fato que pedia a apuração de eventuais crimes cometidos na campanha eleitoral do PT em 2014, com relação a serviços prestados por uma gráfica. Em entrevista concedida em seu gabinete no Supremo Tribunal Federal (STF) ao Estado, Gilmar Mendes disse que a conduta da Procuradoria neste caso específico foi distinta da adotada em outras questões eleitorais. "E aí vem com argumentos de pacificação social, até usando um voto meu. Ora, o Ministério Público a toda hora está pedindo cassação de mandato de vereadores, de prefeitos, de governadores, de senadores. Então isto (arquivamento) vale apenas para a campanha da presidente Dilma?", criticou.
Abaixo trechos da entrevista:
Mais casa sem gente do que gente sem casa Read more: http://oglobo.globo.com/economia/meio-seculo-de-espera-17348140#ixzz3kTT8Zo5y
SALVADOR E RIO - O Brasil vive um paradoxo: há mais imóvel vazio do que gente em busca de moradia. O déficit habitacional estimado é de cerca de 5,43 milhões de residências. Enquanto isso, há 6,097 milhões de unidades vagas, segundo dados do Censo. Diferentes razões explicam a situação. Há imóveis de governos das três esferas — União, estados e municípios —, unidades em disputa na Justiça, com dívidas de impostos, cujos proprietários já morreram sem deixar herdeiros, entre outros. Ao contrário de outros países, aqui não há grandes punições para quem deixa caros metros quadrados sem ninguém. Isso pressiona a necessidade por residências e faz com que muitas delas, algumas até em ruínas, sejam invadidas. O governo já estuda incluir a reforma de imóveis vazios na terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida. Não que unir “casa sem gente e gente sem casa” seja simples. Especialistas lembram que é preciso mapear onde estão esses domicílios vazios e onde está o déficit habitacional. Mas defendem serem necessárias políticas para aproveitar as áreas já ocupadas das cidades, que dispõem de infraestrutura, serviços e transportes.
Sérgio Magalhães, presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil, afirma que o governo investe o pouco que tem na expansão das cidades e abandona as áreas consolidadas:
— Cidades espalhadas são mais caras que as compactas, como Paris. Você demanda mais água, energia, serviços, segurança e transporte.
Para o alto e avante
BALNEÁRIO CAMBORIÚ - O horizonte tomado por espigões, alguns com mais de 40 andares, lembra São Paulo, mas é em Balneário Camboriú, cidade à beira-mar com apenas 124 mil pessoas — população equivalente à de Araruama, na Região dos Lagos — que se constrói o futuro maior edifício exclusivamente residencial do país, segundo dados da ONG Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH). O arranha-céu que promete deixar os outros prédios à sombra tem 280 metros de altura. A concorrência é acirrada: ali foram construídos os três maiores empreendimentos residenciais do Brasil, com 160 metros — patamar do prédio comercial do shopping Rio Sul, o mais alto do Rio. Quem chega a Balneário Camboriú, em Santa Catarina, vê que a praia não é mais a protagonista. Os arranha-céus se multiplicam pela cidade e roubam o sol da faixa de areia: a partir de 14h, a sombra começa a se espalhar sobre a Avenida Atlântica — via de mesmo nome da do bairro de Copacabana, com quase sete quilômetros de extensão —, onde estão localizados os maiores edifícios.
Mas a preferência por prédios descomunais, para os quais o céu não é mais o limite — como o One Tower, que tem 280m, segundo a ONG CTBUH, mas que a construtora FG Empreendimentos só informa que tem 70 pavimentos — está longe de ser unanimidade. Balneário Camboriú ostenta o quarto maior índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre as cidades brasileiras — atrás apenas de São Caetano do Sul (SP), Águas de São Pedro (SP) e Florianópolis (SC) — e há mais de dois anos discute um novo plano diretor para definir o que pode e o que não pode ser feito. Durante as negociações, chegou-se a suspender a autorização para novos prédios, mas essa restrição acabou suspensa há alguns meses.
Brasília teimosa volta a ter palafitas
RECIFE - Marco do governo petista, Brasília Teimosa ganhou este sobrenome pela insistência de pescadores pobres em permanecer na região, área nobre de Recife. O local foi o primeiro destino visitado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva logo que assumiu o Planalto — e fez questão que todos os ministros o acompanhassem. Foi alvo de um grande programa de reurbanização, mas as palafitas, que já tinham sido erradicadas, voltaram teimosamente a dominar a paisagem.
Nunca passou pela cabeça da cozinheira Valéria Maria de Andrade morar numa casa de retalhos de madeira. Muito menos invadir área pública. Há cinco anos, gastava os R$ 500 que ganhava como cozinheira com o aluguel. O marido, pescador, botava comida na mesa. Até que um dia, descobriu que estava grávida e, para completar, passou a cuidar dos três filhos do primeiro casamento do companheiro, abandonados pela mãe. Com tantas bocas para alimentar, o casal resolveu construir uma palafita, uma das 150 que já foram erguidas no bairro nos últimos anos:
— Nunca tinha morado em palafita, mas decidimos por causa dos meninos. E invadimos. Se a gente pagar aluguel, vou dar o quê para os meus filhos comerem?
O marido de Valéria trocou a rede de pesca pela carteira assinada como porteiro em Boa Viagem. Depois do expediente, varava madrugadas para construir a palafita de 40 metros quadrados e inacreditáveis dois andares só com martelo, serrote e pregos. Um gato na conta de luz garante o lazer: assistir DVDs piratas numa TV de 42 polegadas.
A louça, a casa, as crianças são lavadas com o auxílio de uma cuia. Ela sente falta de um chuveiro, coisa que sempre teve. O vaso sanitário foi colocado sobre um buraco na madeira e o esgoto vai direto para o mar. Com lágrimas, diz que queria um lugar digno para morar:
— Não quero muito, quero só dignidade para os meus filhos. A gente que mora em palafita é muito discriminado. Brasília é teimosa porque as pessoas invadiram e lutaram. Aqui você não passa fome, vai ali e pesca sururu. Não queria sair, mas construir uma casa de chão aqui.
NOS FUNDOS DO SHOPPING CENTER
Valéria já ouviu falar no programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), que não existe no bairro — que tem 1.800 pessoas sem moradia e até quatro famílias morando sob o mesmo teto. Mas ela não se vê no programa. Acha que há apenas as modalidades de empréstimo e desconhece que há subsídios maiores para os mais pobres: — O MCMV virou para os ricos. Só vejo gente de carro nesses edifícios.
A porteira de motel Flávia Tiburcio pagou R$ 2 mil pela habitação de apenas 25 metros quadrados em que vive com o marido e os dois filhos. Num único cômodo, há fogão, mantimentos, a cama do casal e dos filhos. Tudo sob um teto de zinco que torna a casa praticamente uma estufa sob o sol nordestino. Por isso, o lugar predileto da família é a varanda. É lá que ela espera o marido voltar do mar. Apesar de ter trabalho, sente-se frustrada por não poder pagar uma casa de verdade:
— Graças a Deus trabalho com carteira assinada, mas por causa disso cortaram o meu Bolsa Família e não tenho condições de pagar o aluguel.
Outra área de Brasília Teimosa, banhada pelo mar, agora é alvo da especulação imobiliária. Um carro de som pede que as pessoas não vendam suas casas ou o lugar será dominado por prédios de luxo. A resistência tem seu preço: terrenos valem até R$ 500 mil. O aluguel ficou mais caro, às vezes, impossível de pagar.
Em Florianópolis, casa popular em frente ao mar Read more: http://oglobo.globo.com/economia/meio-seculo-de-espera-17348140#ixzz3kTPlaEaN
FLORIANÓPOLIS - A imagem de palafitas construídas à beira d’água remete à população ribeirinha da Amazônia. Mas é na beira-mar da área continental de Florianópolis que uma comunidade se organizou, a partir de ranchos de pesca nos anos 1960, e ainda hoje sobrevive sem esgoto ou abastecimento de água. A realidade das cem famílias da Ponta do Leal, no entanto, está perto de mudar com a chegada do Minha Casa Minha Vida. O município, com o terceiro maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no país, era a única capital fora do programa. A cidade terá dois empreendimentos do programa de habitação popular. Além dos imóveis na Ponta do Leal, serão construídas 78 unidades no bairro de Jardim Atlântico, que devem ser entregues até o fim do ano, seis anos após o lançamento do Minha Casa Minha Vida.
Se a demora em levar moradias populares para a capital de Santa Catarina está longe de ser motivo de comemoração, os projetos que agora se tornam realidade têm um perfil diferente do que se tornou quase um padrão no programa de habitação: localização em áreas distantes, sem infraestrutura ou acesso de transporte. As duas construções estão em bairros da área continental da cidade. Apesar de não ficarem na ilha, que é a área mais valorizada, têm infraestrutura já constituída e transporte público.