Manadas de WhatsApp
Critiquei, recentemente, uma parte do pacote anticrime que o ministro Sergio Moro (Justiça) enviou ao Congresso. Mais precisamente, a que estimula o crescimento da violência policial no país. Moro respondeu com um “post” sem qualquer referência aos dados que citei. Disse, numa alusão ao fato de que sou cineasta, que minha crítica era ficção, como se não existissem milícias no Brasil. O descaso de Moro com dados que contrariam suas crenças é um exemplo do que chamo de desonestidade intelectual.
Outro exemplo é a atitude da maioria dos formadores de opinião brasileiros, à direita e à esquerda. Uma parte se recusa a admitir que caiu no conto do vigário de Lula, se recusa a aceitar que ele capitaneou a associação PT-PMDB com um cartel de empreiteiros que desviou bilhões de dólares dos cofres públicos. A outra finge não ver que JairBolsonaro, além de desqualificado, tem conexões com a esgotosfera da polícia do Rio de Janeiro. No que tange à honestidade intelectual, a direita pró-Bolsonaro e a esquerda pró-Lula se tornaram irmãs siamesas: nunca mudam de opinião.
Não admitem a falibilidade de seus intelectos porque não satisfazem a definição do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein. Não são pensadores, são membros de comunidades de ideias, de grupos de WhatsApp onde identidade tribal é critério de verdade.
A ilegalidade não tolera o jornalismo
Se Sergio Moro tivesse trocado mensagens e dado conselhos, não para o Ministério Público, mas para a defesa de Lula, a militância bolsonarista exigiria sua cabeça imediatamente. E com boa razão. Que o defendam agora e que busquem atacar o material revelado e o jornalista que o revelou é sinal do partidarismo que tomou conta do debate público.
Há diversas defesas plausíveis da Lava Jato. A prisão de Lula assenta sobre bases sólidas, já ratificada já por três instâncias. Há também defesas possíveis do caráter e da imparcialidade de Sergio Moro ao julgar petistas: ele absolveu, por exemplo, Paulo Okamotto. Pode-se também tentar argumentar que, nas mensagens registradas entre Moro e Deltan Dallagnol —dando conselhos, indicando testemunhas— não há nada de irregular.
Infelizmente, não tem sido esse o caminho tomado pelos defensores de Moro e autodeclarados apoiadores da Operação Lava Jato. (Apoiador da Lava Jato eu também sou, mas não de ilegalidades cometidas na Lava Jato.)
Eles levantam, primeiro de tudo, a origem ilegal das informações: o hackeamento de celulares. Uma informação conseguida por um hackeamento ilegal traz consigo, inevitavelmente, dúvidas legítimas quanto à sua autenticidade. Contudo, Sergio Moro e Deltan Dallagnol, em suas notas de esclarecimento, não a contestaram. Moro, pelo contrário, disse que teriam sido tiradas de contexto. Ora, se esse é o caso, então as mensagens são verdadeiras. Temos bons motivos para acreditar na autenticidade delas. E o fato de terem origem ilegal não invalida em nada o teor das informações reveladas.
Governo quer usar dinheiro parado do PIS/Pasep para reduzir rombo fiscal
O governo trabalha para enviar ao Congresso uma proposta para que recursos do PIS/Pasep não sacados pelos trabalhadores sejam usados pelo Tesouro Nacional. O objetivo é aliviar a situação das contas públicas e, assim, evitar novos cortes de recursos em meio à restrição fiscal do país. O governo pretende usar o dinheiro ainda neste ano e, para isso, a equipe econômica vê como o instrumento mais provável uma medida provisória a ser enviada ao Congresso.
Antes de recolher os recursos à conta do Tesouro, o governo planeja lançar uma campanha publicitária para incentivar as pessoas a sacarem o dinheiro a quem têm direito.
Hoje parados em bancos públicos, os recursos poderiam ajudar a reaquecer a economia. Por isso, o valor a ser obtido pelo Tesouro depende do volume de retirada.
O secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, já chegou a afirmar que R$ 22 bilhões poderiam ser injetados na economia com as ações de estímulo aos saques do PIS/Pasep.
Lula, o sujeito oculto do grampo
José Nêumanne / o estado de SP
11 de junho de 2019 | 00h00
A semana foi aberta com a divulgação de pretensos diálogos por WhatsApp entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, coordenados por Deltan Dallagnol, revelando pretenso acordo entre eles na condução dos processos da operação. Se forem verdadeiras – e nada há até agora que possa ser dito em contrário, com a agravante de os acusados em suas manifestações não as negarem -, essas conversas, só pelo que foi divulgado até agora, são nitroglicerina pura na política, na Justiça, no governo e no Brasil.
As alegações apresentadas são desprezíveis. O jornal online The Intercept Brasil, que publicou as mensagens, é editado legalmente no Brasil desde agosto de 2016, pela empresa americana First Look Media, criada e financiada por Pierre Omidyar, fundador da eBay. E editada pelo advogado também americano, especialista em direito constitucional e ex-jornalista do diário britânico The Guardian Glenn Greenwald; pela cineasta, documentarista e escritora Laura Poitras e pelo jornalista investigativo (natural dos EUA) Jeremy Scahill, especialista em assuntos de segurança nacional e autor do livro Blackwater: The Rise of the World’s Most Powerful Mercenary Army. Greenwald é casado com o brasileiro David Miranda, eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e, atualmente, deputado federal na vaga de Jean Wyllys, que renunciou à cadeira na Câmara para sair do Brasil, onde se dizia ameaçado. Adversária do impeachment da petista Dilma Rousseff, a publicação não é certamente imparcial. E daí? A Constituição Federal garante o direito de qualquer veículo de comunicação ter livre expressão de opinião, desde que não divulgue mentiras.
Relator da Previdência conclui seu voto, que terá 40 páginas
O relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), passou a manhã e parte da tarde desta segunda-feira cuidando de seu relatório final, que será apresentado esta semana.
Se reuniu com apenas três assessores numa pequena sala da Consultoria Legislativa da Câmara, mas foi localizado pelo Radar.
Seu relatório já está pronto. Terá em torno de 40 páginas. Na mesa redonda que discutia o assunto com uma consultora da Casa e um assessor, havia uma pilha de papéis que analisava. Era parte das mais de 277 emendas de parlamentares.
As que descartava, rasgava e jogava no lixo. O relator irá ligar para os autores das emendas que foram acolhidas.
Ceará ganha sua primeira estrada construída com cinzas de carvão
Nesta terça (11), os grupos EDP e Eneva vão entregar a primeira estrada do Ceará que reutiliza cinzas de carvão na pavimentação. Esses resíduos são subprodutos da geração de energia elétrica do Complexo Termelétrico de Pecém, em São Gonçalo do Amarante (RMF), composto pela UTE Pecém I (sob a gestão da EDP Brasil) e pela UTE Pecém II (administrada pela Eneva).
Segundo diretores desses grupos, as cinzas são usadas em duas camadas que formam a base da estrada. Em uma delas, vão substituir 50% de solo comum. Na outra, representam 95% da composição. É a primeira vez que esse tipo de aplicação é utilizado fora de ensaios laboratoriais. A via possui extensão de 1,3 quilômetro e 12 metros de largura.