Justiça sem censura - FOLHA DE SP
Como a perpetuação da vida na Terra se beneficia da diversidade das espécies, a prosperidade material e espiritual da humanidade é favorecida pela pluralidade de ideias e pontos de vista em intercâmbio e entrechoque na sociedade.
Apesar de cristalina na teoria, a garantia à plena liberdade de expressar o pensamento, que decorre daquela premissa, levou muitos séculos para tornar-se prática consagrada numa parte das nações.
Isso porque ela colide com o que vai no âmago do ser humano: quase ninguém gosta de ver-se exposto à crítica, muito menos se ela for ácida. Poderosos, sem os contrapesos institucionais das modernas arquiteturas políticas, tendem a estrangulá-la e a adotar formas veladas ou explícitas de censura.
Se foi longo e acidentado o caminho até o regime em que um indivíduo não teme ser reprimido por suas ideias, também não é sem esforço a manutenção do statu quo.
A nova onda de ascensão de nacionalismos e populismos ameaça, e em alguns casos corrói, as bases que sustentam a livre expressão.
Do outro lado, uma franja radical de seus opositores, em nome de ideais nobres como a reparação de injustiças arraigadas, promove cruzadas contra quem ousa discordar de seus dogmas ou simplesmente dar voz a dissidentes.
A chamada cultura do cancelamento acaba de ser objeto, nos Estados Unidos, de um manifesto de repúdio por parte de um grupo amplo, diverso e representativo de escritores, artistas e intelectuais.
Publicado na revista Harper’s, o texto lembra que não há oposição entre justiça social e liberdade de expressão e que “o melhor modo de derrotar más ideias é pela discussão e a persuasão, não por tentativas de silenciá-las ou simplesmente desejar que não existissem”.
Os ataques raivosos e coordenados contra reputações de quem exprime o que o grupo não tolera produzem bem mais que cancelamentos nos ambientes digitais e demissões nos empresariais. Eles disseminam o veneno da autocensura em terrenos críticos para a evolução da sociedade como o acadêmico e o jornalístico.
Ideias deixam de ser veiculadas por medo de represália, linhas de pesquisa são abandonadas por ferir suscetibilidades, hipóteses sobre o que funciona ou não nas políticas públicas nem sequer são aventadas a título de evitar ondas de achincalhe contra os seus postulantes.
O ensimesmamento reduz a diversidade do debate e restringe o leque de inovações à disposição da sociedade. Quem fica mais pobre no intelecto não costuma escapar do empobrecimento material.
Numa bolha em que todos exprimem apenas o permitido pelo cânon coletivo, a censura se estabelece sem necessidade de ditador.
Após quarentena, Bolsonaro planeja agenda de inaugurações por estados como Bahia, São Paulo e Mato Grosso
BRASÍLIA - De “molho” no Palácio da Alvorada há quase duas semanas por ter contraído o coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro planeja uma série de viagens semanais pelo Brasil para quando deixar a quarentena forçada pela Covid-19. Estão no radar municípios na Bahia, Piauí, São Paulo e Mato Grosso. A ideia das viagens é passar uma imagem para a população de que o governo segue trabalhando.
Até o momento, a Presidência prevê viagens no próximo fim de semana às cidades de Campo Alegre de Loures (BA), para inaugurar a adutora que capta água do Rio São Francisco, e São Raimundo Nonato (PI), onde deve visitar o Museu do Homem Americano ao lado do senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI). O PP é o maior partido do centrão, grupo que agora é tratado como aliado preferencial pelo governo.
Em transmissão ao vivo nas suas redes sociais na quinta-feira, Bolsonaro disse que a ideia de fazer duas agendas por semana para “inaugurar obras” ocorre porque “se depender da mídia local, você não aparece”.
Antes da doença, Bolsonaro fez duas viagens acompanhado do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho: ao Ceará, para inaugurar um trecho da transposição do São Francisco, e a Santa Catarina, para sobrevoar a região afetada por um ciclone.
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O presidente também disse na quinta que, “acabando a questão do vírus”, irá em agosto ao Vale do Ribeira, em São Paulo, região onde foi criado. Ele quer participar da inauguração de uma ponte em Eldorado (SP), cidade onde viveu e na qual mora sua mãe, Olinda, de 93 anos. Na ocasião, deve pernoitar lá para “matar as saudades”. Ele afirmou que terá “todo o cuidado do mundo”, porque a mãe é “tremendo grupo de risco” para a Covid-19. O presidente quer visitar ainda uma instituição militar que forma atiradores na região.
Bolsonaro pretende começar a viagem por São Vicente, na Baixada Santista, para inaugurar uma ponte que, segundo ele, “tinha que ter recursos do governo do estado”, mas foi concluída com verbas federais. A declaração dá mostras de que pretende usar a incursão para alfinetar o governador João Doria (PSDB), seu desafeto.
Bolsonaro também deve ir ao lançamento de um conjunto habitacional em Santos (SP), parte do programa Minha Casa Minha Vida. A obra chegou a ser paralisada, em 2014, mas foi retomada e, em janeiro, o empreendimento foi incluído no programa.
O presidente quer ainda ir ao Mato Grosso nos próximos meses. Em oura ocasião, ele já se disse grato aos moradores do estado, após ver imagens de instalações de outdoors em seu apoio. O planejamento prevê passagens por Sorriso, Sinop e Nova Ubiratã, onde deve estar para o lançamento da Colheita Nacional do Algodão.
Depois da cloroquina, Bolsonaro diz tomar vermífugo sem comprovação científica contra a covid-19
Manoel Ventura / O GLOBO
BRASÍLIA — Depois de meses recomendando o uso da hidroxicloroquina, o presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado que tomou também outro remédio sem eficácia comprovada para tratar a covid-19. Bolsonaro afirmou que tomou um vermífugo que, assim como a cloroquina, não tem comprovação científica de que pode ser usado no tratamento do coronavírus. O remédio citado por Bolsonaro é nitazoxanida, cujo nome comercial é Annita. Veja o que a ciência diz sobre os remédios usados no tratamento da Covid-19.
— Eu comecei essa semana a tomar também Annita — disse Bolsonaro a apoiadores, no Palácio da Alvorada.
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Bolsonaro voltou a defender uso da cloroquina para o tratamento precoce contra o vírus, apesar dele mesmo admitir que não há comprovação de que o medicamento seja eficaz.
— Está uma briga ideológica em cima da hidroxicloroquina. Lá atrás eu falei sobre isso. Não sou médico, não entendo de nada sobre isso aí, mas tenho experiência com a vida, converso com todo mundo do Brasil todo. Desde lá de trás sabíamos que tínhamos a hidroxicloroquina e não tinha alternativa. Agora, o que eu recomendo, procure o médico — disse Bolsonaro.
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Bolsonaro também voltou a criticar o isolamento social e medidas tomadas por governadores e prefeitos para fechar o comércio e evitar a disseminação da doença.
— Pelo que eu sei, ninguém morreu por falta de UTI ou respirador. Tem que pensar na economia. Não adianta ficar falando em vida, em vida, em vida, porque o isolamento mata.
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Nesta sexta-feira, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou uma nota afirmando que o uso de hidroxicloroquina deve ser abandonado em qualquer fase do tratamento de covid-19.
A nota da SBI tem como base os resultados de dois estudos realizados no âmbito internacional. Em um deles, realizado em 40 estados americanos e três províncias do Canadá, constatou que o uso da cloroquina nos estágios iniciais da doença não teve resultado algum.
O estudo comparou pacientes que tomaram o remédio com um grupo que não tomou e constatou que, no grupo que utilizou, não houve melhora do quadro clínico dos pacientes.
Outro estudo, conduzido na Espanha, tentou medir se o cloroquina tinha a capacidade de reduzir a carga viral dos pacientes infectados. De acordo com os pesquisadores, o medicamento não foi capaz de reduzir essa taxa.
Após gestos de Bolsonaro ao Congresso e STF, ala ideológica admite perda de espaço no governo
Bernardo Mello e Gustavo Maia / O GLOBO
RIO E BRASÍLIA — Após uma série de gestos de aproximação do Palácio do Planalto em direção ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF), integrantes da ala ideológica do governo e parlamentares alinhados ao grupo passaram a admitir a perda de espaço e a reclamar da falta de apoio do presidente Jair Bolsonaro.
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Na terça-feira, o assessor especial Filipe Martins escreveu em uma rede social que o governo tem permitido “que o discurso político-ideológico que lhe dá sustentação seja enfraquecido” e substituído por “uma forma de neutralismo tecnocrático”, em referência ao atual protagonismo dos militares. No início do ano, Martins foi subordinado ao almirante Flávio Augusto Viana Rocha, titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Na semana anterior, o youtuber Allan dos Santos, alvo do inquérito das fake news no Supremo, havia recuperado uma frase dita por Bolsonaro em maio para também questionar um suposto abandono à ala ideológica.
“O ‘acabou, porra’ era para parar os conservadores e deixar que eles fossem criminalizados?”, escreveu Allan.
O recuo na retórica presidencial coincidiu com a prisão, há um mês, de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Operações determinadas pelo STF no inquérito das fake news e na apuração dos atos antidemocráticos também avançaram sobre integrantes do grupo ideológico, incluindo parlamentares.
Em um aceno à Corte, o governo tirou os deputados Otoni de Paula (PSC-RJ) e Daniel Silveira (PSL-RJ) de cargos de vice-liderança na Câmara. Ambos são alvos de inquéritos do STF. No mesmo dia, Silveira foi às redes sociais para culpar o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, pela articulação.
“Acabo de saber que minha retirada da vice-liderança de governo foi pedido do general Ramos para alocar deputados do centrão. Estranha essa relação de homens tão próximos manobrarem enfraquecimento da base do presidente”, criticou Silveira.
Um deputado bolsonarista ouvido pelo GLOBO avaliou que as trocas ajudam a “distensionar” o clima entre os Poderes, mas simbolizam a perda de força da ala ideológica. Segundo este deputado, “os militares blindam o presidente para não deixar que cheguemos perto dele”.
Disputa nas redes
Na quinta-feira, Bolsonaro rebateu as críticas de excesso de militarização:
— Votaram numa chapa que tinha um capitão como presidente e, como vice, um general. É proibido militar assumir funções de ministro no nosso governo? Não — afirmou Bolsonaro.
Para outro parlamentar, a dúvida na ala ideológica é se o “jogo afinado” para o afastamento do grupo passa pelo crivo do próprio Bolsonaro. A perda de espaço se acentuou com a demissão de Abraham Weintraub do Ministério da Educação. O novo ministro, Milton Ribeiro, é o primeiro no MEC a não ser referendado pelo grupo mais próximo ao ideólogo Olavo de Carvalho, que ameaçou um rompimento, em vídeo, caso o presidente seguisse “covarde”.
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O tom e o protagonismo nas cobranças ao governo também são alvos de disputas no núcleo olavista. Influenciadores bolsonaristas têm criticado a atuação de perfis anônimos que cobram ações do próprio Bolsonaro em defesa da ala ideológica. O youtuber Italo Lorenzon, parceiro do canal de Allan dos Santos, disse não levar a sério anônimos em comparação a “quem dá a cara a tapa”.
Um dos alvos de críticas é o perfil identificado apenas como “Lets_Dex”, com mais de 100 mil seguidores. O autor cobrou uma mobilização para “frear o STF” e incentivou divisões no bolsonarismo “porque um núcleo fiscaliza o outro, enquanto alguns se aproximam demais de políticos”.
Em meio aos sinais de enfraquecimento, Bolsonaro fez dois “afagos” ao grupo na última semana: divulgou um documentário que critica as políticas de isolamento social na pandemia e afirmou nas redes sociais que a esquerda pretende “descriminalizar a pedofilia”.
'A conta vem, e não só para aqueles que causaram o dano', diz Gisele Bündchen sobre política brasileira ambiental
Gilberto Júnior / O GLOBO
Gisele Bündchen queria festejar seus 40 anos, amanhã, com a família e os amigos, plantando árvores na Amazônia. A intenção era reflorestar a região que vem sofrendo com o desmatamento — em junho, um recorde foi quebrado na série histórica do mês, com 1.034,4 km² devastados, área quase do tamanho da cidade do Rio. “Queria chamar a atenção para a importância de preservamos o que já temos. Com a pandemia, isso não será possível”, conta a übermodel. Para a data não passar em branco, celebrará o aniversário em casa com o marido, o jogador de futebol americano Tom Brady, e os filhos, Benjamin e Vivian Lake. “Vou ter um bolinho.”
Da Flórida, onde vive, Gisele ficou pensando em como realizar seu desejo apesar da crise sanitária. Decidiu unir forças com o Instituto Socioambiental (ISA) para colocar em prática o plano de plantar 40 mil árvores. “Minha vontade é retribuir, de alguma forma, à mãe Terra por ter me nutrido todos esses anos. Desde que nascemos, ela nos provê tudo o precisamos: o ar que respiramos, a comida que comemos, as casas em que vivemos”, diz. “ Imagina que incrível se cada um plantasse uma árvore para celebrar o seu aniversário! Poderíamos regenerar o mundo.”
Em entrevista à ELA, a gaúcha, com fortuna estimada em 400 milhões de dólares, fala sobre sua conexão com a natureza, o título de “má brasileira” que ganhou da atual ministra da Agricultura e a relação com os filhos. Confira os melhores trechos da conversa, realizada por e-mail.
Como é chegar aos 40 anos como uma das figuras mais conhecidas do brasil e do mundo?
Meu coração está cheio de gratidão. Tenho refletido bastante sobre o momento em que vivemos, quais são os meus sonhos e o que quero realizar nessa nova fase que se inicia em minha vida. Esses últimos 40 anos me trouxeram muitos aprendizados. Sinto-me mais segura e tenho clareza do meu propósito.
Envelhecer é um drama para uma modelo?
O corpo não responde da mesma forma, envelhecer também mexe com a nossa vaidade. As rugas fazem parte e, hoje, existem mil artifícios para ajudar a manter a aparência um pouco mais jovem. Só não dá para ficar querendo ter a mesma cara que você tinha no passado. É importante aceitar as transformações.
Você já declarou que se arrependeu de ter colocado silicone. Faria uma plástica hoje, aos 40?
Tudo na vida nos ensina algo e, nessa situação, aprendi que não vale a pena fazer algo por me sentir pressionada e querer agradar aos outros. Eu me arrependi e não sei se faria plástica novamente. Não tenho essa necessidade. Mas nunca sabemos como nos sentiremos no futuro e se fará algum sentido para mim.
Quais são os objetivos do projeto “Viva a Vida”?
Vou começar plantando 40 mil árvores na Amazônia Legal para celebrar o meu aniversário. Familiares e amigos queriam me presentear, então, pedi a eles que me ajudassem. Para facilitar as doações, criei uma plataforma on-line (www.vivaavida.gift). Assim, outras pessoas também podem participar.
CGU projeta em R$ 1,9 bilhão sobrepreço de compras para combate ao coronavírus
SÃO PAULO — Análise da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre 19,8 mil contratações realizadas no âmbito do combate à Covid-19 por estados, capitais e outras grandes cidades projetou em R$ 1,9 bilhão o sobrepreço aplicado em compras desde o início da pandemia no Brasil, em março. Somados, os contratos chegam a R$ 13 bilhões.
Foi considerada a aquisição de itens como respiradores, máscaras, aventais, medicamentos e equipamentos, além de custos com gestão de hospitais de campanha em 357 municípios e entes federados.
Durante live: Bolsonaro critica projeto contra fake news: ‘não vai poder mais se manifestar sobre nada’
O aumento da demanda mundial por itens e a urgência de aquisição são algumas das causas da ocorrência de preços mais altos. Mas há também indícios de conluio e má-fé entre empresas e agentes públicos.