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Após gestos de Bolsonaro ao Congresso e STF, ala ideológica admite perda de espaço no governo

Bernardo Mello e Gustavo Maia / O GLOBO

 

BOLSONARO E ACESSORES

 

RIO E BRASÍLIA — Após uma série de gestos de aproximação do Palácio do Planalto em direção ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF), integrantes da ala ideológica do governo e parlamentares alinhados ao grupo passaram a admitir a perda de espaço e a reclamar da falta de apoio do presidente Jair Bolsonaro.

 

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Na terça-feira, o assessor especial Filipe Martins escreveu em uma rede social que o governo tem permitido “que o discurso político-ideológico que lhe dá sustentação seja enfraquecido” e substituído por “uma forma de neutralismo tecnocrático”, em referência ao atual protagonismo dos militares. No início do ano, Martins foi subordinado ao almirante Flávio Augusto Viana Rocha, titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Na semana anterior, o youtuber Allan dos Santos, alvo do inquérito das fake news no Supremo, havia recuperado uma frase dita por Bolsonaro em maio para também questionar um suposto abandono à ala ideológica.

“O ‘acabou, porra’ era para parar os conservadores e deixar que eles fossem criminalizados?”, escreveu Allan.

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O recuo na retórica presidencial coincidiu com a prisão, há um mês, de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Operações determinadas pelo STF no inquérito das fake news e na apuração dos atos antidemocráticos também avançaram sobre integrantes do grupo ideológico, incluindo parlamentares.

Em um aceno à Corte, o governo tirou os deputados Otoni de Paula (PSC-RJ) e Daniel Silveira (PSL-RJ) de cargos de vice-liderança na Câmara. Ambos são alvos de inquéritos do STF. No mesmo dia, Silveira foi às redes sociais para culpar o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, pela articulação.

“Acabo de saber que minha retirada da vice-liderança de governo foi pedido do general Ramos para alocar deputados do centrão. Estranha essa relação de homens tão próximos manobrarem enfraquecimento da base do presidente”, criticou Silveira.

Um deputado bolsonarista ouvido pelo GLOBO avaliou que as trocas ajudam a “distensionar” o clima entre os Poderes, mas simbolizam a perda de força da ala ideológica. Segundo este deputado, “os militares blindam o presidente para não deixar que cheguemos perto dele”.

Disputa nas redes

Na quinta-feira, Bolsonaro rebateu as críticas de excesso de militarização:

— Votaram numa chapa que tinha um capitão como presidente e, como vice, um general. É proibido militar assumir funções de ministro no nosso governo? Não — afirmou Bolsonaro.

Para outro parlamentar, a dúvida na ala ideológica é se o “jogo afinado” para o afastamento do grupo passa pelo crivo do próprio Bolsonaro. A perda de espaço se acentuou com a demissão de Abraham Weintraub do Ministério da Educação. O novo ministro, Milton Ribeiro, é o primeiro no MEC a não ser referendado pelo grupo mais próximo ao ideólogo Olavo de Carvalho, que ameaçou um rompimento, em vídeo, caso o presidente seguisse “covarde”.

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O tom e o protagonismo nas cobranças ao governo também são alvos de disputas no núcleo olavista. Influenciadores bolsonaristas têm criticado a atuação de perfis anônimos que cobram ações do próprio Bolsonaro em defesa da ala ideológica. O youtuber Italo Lorenzon, parceiro do canal de Allan dos Santos, disse não levar a sério anônimos em comparação a “quem dá a cara a tapa”.

Um dos alvos de críticas é o perfil identificado apenas como “Lets_Dex”, com mais de 100 mil seguidores. O autor cobrou uma mobilização para “frear o STF” e incentivou divisões no bolsonarismo “porque um núcleo fiscaliza o outro, enquanto alguns se aproximam demais de políticos”.

Em meio aos sinais de enfraquecimento, Bolsonaro fez dois “afagos” ao grupo na última semana: divulgou um documentário que critica as políticas de isolamento social na pandemia e afirmou nas redes sociais que a esquerda pretende “descriminalizar a pedofilia”.

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