A guinada à direita
Jair Messias Bolsonaro ainda não foi eleito Presidente da República, mas sua candidatura já representa um fenômeno na política brasileira.
Durante a campanha, a esquerda anunciou estrepitosamente que a vitória do seu demonizado adversário da direita seria o fim da democracia, mas o que vimos de ameaça à democracia saiu da faca de um fanático da esquerda, da boca de José Dirceu e das inúmeras denúncias de prováveis fraudes nas urnas eletrônicas, todas elas prejudicando o candidato do PSL.
Quadro é favorável a Bolsonaro
A vitória de Jair Bolsonaro com quase o dobro de votos de Fernando Haddad sinaliza que o candidato do PSL entrará no segundo turno em posição de vantagem, embora todos considerem essa uma nova eleição. Mas quando um candidato sai do primeiro turno em ascensão, o clima que se cria em torno dele é favorável a novas adesões, e as negociações beneficiam o vencedor.
Por isso, nunca um candidato que entrou no segundo turno na dianteira da disputa presidencial deixou de se eleger. Foi assim com o expresidente Lula, que não ganhou eleições no primeiro turno – em 2006 chegou a ter 49% —, mas sempre saiu vencedor com cerca de 60% dos votos no segundo turno, contra candidatos do PSDB.
Eleitor brasileiro tocou fogo no circo da política
Dizer que o 7 de outubro de 2018 foi o mais eloquente recado enviado pelas urnas à oligarquia política desde a redemocratização do Brasil é pouco. Houve algo bem mais grave: o eleitor tocou fogo no circo. Foi como se quisesse deixar claro que não tem vocação para palhaço. As urnas carbonizaram parte do elenco que reagia à Lava Jato com malabarismo verbal, trapezismo ideológico e ilusionismo.
A velha política está em chamas. Tomado pelas proporções, o incêndio lembra aquele que consumiu o acervo do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Salvaram-se múmias como Renan Calheiros, Jader Barbalho, Ciro Nogueira e Eduardo Braga. Mas viraram carvão as pretensões eleitorais de peças como Dilma Rousseff, da sessão de paleontologia. Reduziram-se a cinzas mandatos do porte dos de Romero Jucá, Eunício Oliveira e Edson Lobão, da ala dos invertebrados.
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A raiva venceu. Apertará confirmo dia 28?
Para parafrasear um slogan que se tornou viral, como se diz hoje, oresultado do primeiro turno pode ser lido como a raiva venceu a esperança (ou qualquer outro sentimento positivo).
Pensando bem, não é que a raiva venceu no domingo. Na verdade, ela já vinha vencendo antes, desde pelo menos 2013, o ano dos grandes protestos contra, basicamente, tudo o que está aí. O brasileiro que foi às urnas, conforme mostrou o Datafolha uns dias antes, estava na maioria com raiva (68%), triste (79%), desanimado (78%) ou inseguro (88%).
Convém saber que segundo turno é uma outra partida; ela carrega apenas o saldo moral de gols.
Na Câmara, o antigo centro político — Como? Você não gosta dessa ideia? Ok! — foi miseravelmente atropelado. O PMDB tem hoje uma bancada de 51 deputados e passará a contar com prováveis 33. O PSDB, que agoniza, terá apenas 29. Aquilo a que se chama “Centrão” (PP, PR, PRB, DEM e SD) deve reunir 137 membros, e o PP deve ser o mais bem aquinhoado, com 37.