Joice diz que PT se mostrou uma quadrilha, não um partido
Para deputada federal mais votada da História do Brasil, STF tem dívida eterna com povo brasileiro, que não suporta mais sustentar privilégios da casta do funcionalismo público
José Nêumanne
24 Outubro 2018 | 19h40 O ESTADO DE SP
A mais votada deputada federal na História do Brasil, Joice Hasselmann (PSL–SP) não tem papas na língua quando o assunto é PT: “Eles mentiam durante a campanha, mentiam na imprensa, mentiam para o mercado, mentiam para o povo e faziam negócios usando o governo como um inesgotável balcão. Defendi ininterruptamente a extinção do PT, que se mostrou uma quadrilha, e não um partido”. Protagonista da série Nêumanne Entrevista no blog, ela também rasga todas as sedas para Sergio Moro, que biografou, e policiais e procuradores federais sob a égide dele: “A Lava Jato tirou as escaras dos olhos do povo e provou que ninguém, nem mesmo o presidente de um país, está acima da lei”.
Aécio Neves, que será seu colega na Câmara, recebeu dela diagnóstico duro: “Ninguém decente e com autoridade moral sai de uma campanha presidencial com 50 milhões de votos, assiste às aves de rapina voltarem ao poder e resolve ‘tirar férias’ a partir daí. Aquela postura do Aécio me parecia muito mais que fraqueza, preguiça, frouxidão. Quando ele apareceu sujo com a mesma lama em que o PT chafurdava, tudo fez sentido”.Prometeu ajudar na Câmara dos Deputados o projeto reformista de Bolsonaro, caso ele passe pelo teste definitivo das urnas. Segundo ela, “o povo não aguenta mais esse engessamento, esse monte de mentiras, essa ostentação cafona dentro da política”.
Eleita deputada federal pelo PSL de São Paulo com 1 milhão e 78 mil votos, Joice Hasselmann é a mulher mais votada da história da Câmara. É e promete continuar sendo jornalista, colunista de política e economia, ativista contra a corrupção e escritora. Foi eleita em 2017 eem 2018 a principal influenciadora do Brasil na web, levando o Prêmio Influenciadores Digitais. Também considerada pelo instituto ePoliticScholl (ePS) uma das personalidades mais influentes e notórias do País nas áreas de política e economia. Hoje tem o mais jovem e maior canal de política nacional e o único do mundo no YouTube feito por mulher e dedicado ao tema política.
Tem também uma página no Facebook com mais de 1 milhão e 700 mil curtidas e com alcance de até 23 milhões de pessoas por semana. Seu canal no YouTube dispõe de mais de 1 milhão de inscritos e mais de meio milhão no Instagram. Foi âncora de Os Pingosnos Is, na Jovem Pan, depois de ter idealizado e sido âncora da TVeja, a primeira TV com grade fixa na internet, criada nas eleições de 2014. Também comandou veículos como CBN, Bandnews FM Curitiba, e as áreas políticas do SBT Paraná e Record Paraná. É autora da biografia de Sergio Moro, de Delatores, lançado em 2017, e outro livro sobre Ascensão e Queda da Esquerda na América Latina, para uma editora americana. Recebeu 12 prêmios de jornalismo, entre eles um da ONU, em 2011, batizado de Parceiros da Paz e Sustentabilidade.
Nêumanne entrevista Joice Hasselman
Nêumanne – Que lições a senhora aprendeu depois de ter acompanhado, como a grande maioria dos cidadãos brasileiros, as sessões históricas do julgamento da Ação Penal 470, o famigerado mensalão, e de ter assistido à tranquila reeleição posterior do chefão Luiz Inácio Lula da Silva, isentado da devassa pela militância do aparentemente rigoroso presidente do Supremo Tribunal Federal à época, ministro Joaquim Barbosa?
Joice – Algumas lições foram aprendidas a duras penas por todos nós, brasileiros. A primeira delas é que o Supremo Tribunal Federal, sob o comando de Joaquim Barbosa, fechou os olhos para a ação da quadrilha que tomava de assalto o País. As sessões foram bonitas, pomposas, com muitos salamaleques, mas na prática Lula saiu ileso, o grupo político mais próximo dele pegou cadeia leve - quase um puxão de orelhas perto da gravidade do crime de compra de votos no Congresso – e a pena pesada ficou para o grupo do Marcos Valério. Ora, como o chefe do esquema saiu impune? Nessa ocasião o STF poderia ter mudado a história do Brasil, mas optou por “pegar leve” com a parte política do esquema. O STF, indiretamente, deu de “presente” ao País o petrolão e a reeleição de Lula. E depois disso o STF gostou da brincadeira de afrouxar a mão para bandido de alto coturno. O STF deve muito à sociedade brasileira. Foi pela mãos do Supremo que Zé Dirceu ganhou a liberdade, que bandidagem da grossa saiu pela porta da frente da cadeia debochando da lei e do povo, que Dilma, mesmo cassada, pôde disputar a eleição. O STF tem uma dívida eterna com o povo brasileiro.
N – Como a senhora se sentiu após ter participado, como milhões de brasileiros de classe média, das manifestações contra os péssimos serviços de nosso Estado estroina e voraz, ao ter de engolir a seco as promessas de pactos vazios de significado da então presidente Dilma Rousseff e a permanência do Partido dos Trabalhadores no poder?
J – Eu me senti agredida, senti a democracia ameaçada e ao mesmo tempo me senti de pés e mãos amarrados, pois tudo estava acontecendo nas barbas da Justiça. Dilma Rousseff e a tropa toda do PT protagonizaram uma espécie de seriado hollywoodiano em que vendiam ao povo uma sequência de mentiras sem fim com superprodução. Eles mentiam durante a campanha, mentiam na imprensa, mentiam para o mercado, mentiam para o povo e faziam negócios usando o governo como um inesgotável balcão. Defendi ininterruptamente a extinção do PT, que se mostrou uma quadrilha, e não um partido. Durante a campanha eleitoral, assumi a posição de defender a ideia de que se Dilma fosse eleita seria cassada, tamanhos o estelionato eleitoral e os crimes que estavam acontecendo dentro da campanha e do governo. Minha indignação pulsava nas veias.
N – Depois da catarse de 2013, veio o banho de água gelada da reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Como a senhora se sentiu à época e como reage hoje, após ter tomado conhecimento de que o Tribunal Superior Eleitoral absolveu a chapa vencedora por “excesso de provas”, como dizia o relator vencido, Herman Benjamin, e de Antônio Palocci ter revelado que foram torrados R$ 600 milhões de dinheiro público naquela campanha?
J – Eu me senti roubada, literalmente roubada. Assistir à Dilma, o poste, sendo arrastada de novo para o poder foi desesperador. Eu sabia que a reeleição de Dilma Roussef seria o sepultamento de parte do nosso futuro. Eu nunca escondi o desprezo pela política que essa gente fazia. Quando saiu o resultado, e Dilma foi reeleita, pensei seriamente em sair do País, como muitos brasileiros. Naquela época eu já temia que nosso país se tornasse uma grande Venezuela. Mas, mesmo com as adversidades, fiquei e fui para a luta fazendo oposição ao PT, oposição de fato, porque o PSDB – irmão engomadinho do PT – nem oposição soube fazer. A partir dali intensifiquei meu trabalho como colunista de política, em especial na internet, com o foco de enfrentar a quadrilha petista e me tornei ativista declarada contra a corrupção.
Logo depois da eleição, fiz um vídeo na TVeja, onde eu trabalhava, e expressei parte da minha indignação com aquele momento da política brasileira. O vídeo, batizado de Lula e Dilma, a dupla que roubou o futuro da Nação, rendeu milhões de visualizações, minha demissão e um processo movido pelo ex-presidente Lula contra mim, que, diga-se de passagem, eu ganhei. Apesar de toda a confusão, pressões e ameaças que sofri, eu faria tudo de novo, pois cada palavra que eu disse foi confirmada pouco tempo depois. Já a absolvição da chapa por “excesso” de provas só mostrou que os nossos tribunais que julgam os poderosos, em geral, seguem o exemplo do STF. Todos preferem fingir que não enxergam, mesmo quando figuras como Palocci desenham o caminho do crime.
N – A que conclusões a senhora chegou a respeito destes quatro anos de atividade da Operação Lava Jato e do trabalho honesto e competente de policiais, procuradores e do juiz Sergio Moro, que, aliás, a senhora biografou, e da batalha permanente que os jovens profissionais da Polícia, do Ministério Público e da Justiça Federais tiveram de travar com a mentalidade tolerante dos ministros do Supremo Tribunal Federal?
J – Sem dúvida, sem a Lava Jato nosso país permaneceria nas mãos da quadrilha petista. Nunca houve um trabalho como esse liderado por Sergio Moro no Brasil. Nunca houve uma força-tarefa que realmente enfrentasse os bandidos com mandato, os empresários mais poderosos e ricos do País. Mexer com a mais alta casta da bandidagem de colarinho branco era quase que um tabu, até mesmo no meio do Poder Judiciário. Não fossem a força, a coragem e o trabalho brilhante da turma da Lava Jato, Dilma Rousseff não teria caído, Lula teria sido nomeado ministro-chefe da Casa Civil e hoje seria presidente da República. A Lava Jato tirou as escaras dos olhos do povo e provou que ninguém, nem mesmo o presidente de um país, está acima da lei.
N – Qual foi sua reação ao descobrir, graças à citada Operação Lava Jato e outras congêneres, que o senador tucano mineiro Aécio Neves, que saiu da eleição presidencial de 2014 como esperança de alternativa à arrogância e rapina do Partido dos Trabalhadores, na verdade comia no mesmo cocho das propinas das empreiteiras e outros prestadores privados de serviços públicos para fazer uma oposição de fancaria?
J – Foi de decepção. Pura decepção, porém não de surpresa absoluta. Quando Aécio Neves aliviou a mão demais e não assumiu o papel de oposição ferrenha ao PT, quando afrouxou sua atuação dentro do PSDB e no Senado, eu desconfiei que alguma coisa estava errada. Ninguém decente e com autoridade moral sai de uma campanha presidencial com 50 milhões de votos, assiste às aves de rapina voltarem ao poder e resolve “tirar férias” a partir daí. Aquela postura do Aécio me parecia muito mais que fraqueza, preguiça, frouxidão. Quando ele apareceu sujo com a mesma lama em que o PT chafurdava, tudo fez sentido.
6 – Em que exato momento de sua carreira profissional a senhora desistiu de ser uma voz da dissidência da corrente politicamente correta nos meios de comunicação para ser política profissional e por que motivos a senhora empreendeu essa travessia dificultosa e complicada?
J – Na verdade, não desisti (risos). Vamos por partes. Sobre comunicação. Vou continuar sendo uma voz da dissidência nessa turma do politicamente correto das redações. Não deixo de ser jornalista, nem de dar toda a atenção às notícias em minhas redes sociais.
Quando à política, vamos lá. Nos meses que antecederam a eleição eu fui procurada por vários partidos com convites para concorrer aos mais diversos cargos. Teve de tudo. Convite para ser candidata ao Senado, governo, Câmara, vice-presidente e um partido chegou a me sondar para disputar a Presidência da República. Os convites chegavam, mas nada me convencia, afinal, é uma guinada, um cavalo de pau na minha vida. Até que Jair Bolsonaro me fez mais do que um convite. Ele me intimou, até publicamente, e me chamou para, nas palavras dele, “assumir minha responsabilidade com o povo brasileiro e sair da zona de conforto”. Eu já conhecia Bolsonaro havia alguns anos e nutríamos uma relação de respeito e admiração. Depois desse convite eu fiquei bastante incomodada porque, de fato, se só os maus optarem pela política, tudo fica na mesma. Foram dois meses de muito sofrimento para mim. Fiquei muito dividida. Eu queria ajudar meu país, mas não tinha certeza se o melhor caminho era continuar na comunicação ou aceitar o convite de Bolsonaro. Junte a isso o fato de todos da minha família terem se posicionado contra minha ida para a política. Foi muito difícil. Às vezes, sozinha em casa, eu tinha crises de choro, pedia a Deus uma resposta, um caminho. Eu sofria porque eu queria ajudar o Brasil, mas não queria entrar para a política, e ao mesmo tempo eu sabia que o povo precisava de nomes limpos, de gente de coragem e que o Bolsonaro também precisaria de um braço forte no Congresso. No meio dessa minha crise de “vai ou não vai”, tive algumas conversas com Bolsonaro e houve um dia em que ele, com olhos marejados, depois de ser carregado por uma multidão, me disse: “Se eu tiver um Congresso forte, eu mudo este país”. Aí não teve jeito. Eu não tinha o direito de fugir dessa responsabilidade. Depois da decisão tomada, o passo mais difícil foi convencer a família. Mas deu tudo certo e hoje estou aqui num namoro intenso com o povo brasileiro.
N – Em que momento e por que motivos a senhora aderiu à caminhada do capitão reformado e deputado federal Jair Bolsonaro, num momento em que ele ainda era um político já longevo e do baixo clero do Congresso? O que a senhora detectou de promissor nele?
J – De fato, eu me posicionei ao lado do Bolsonaro quando ele ainda podia andar tranquilamente nas ruas, quando ele ainda não era esse “pop star”da política. Ele já tinha em mente que poderia ser candidato a presidente, mas nem os partidos acreditavam nele. Teve de buscar outras legendas, teve de quase construir um partido praticamente do zero.
Há quatro anos eu tive a chance de conhecer mais de perto o Bolsonaro. Assim como boa parte da mídia, eu tinha uma visão equivocada sobre ele. Bastou uma conversa pessoalmente para eu enxergar que por trás daquele homem com posições fortes havia um coração bom, honesto, e uma espinha ereta que não se dobra. A partir dali eu comecei a expor minha simpatia pela postura moral do Bolsonaro e na época do impeachment da Dilma estivemos juntos em alguns momentos na luta contra a corrupção. Também comecei a dar espaço para ele nos veículos em que eu tinha voz para mostrar o Bolsonaro de verdade. Isso me rendeu muitas críticas dentro do meio jornalístico. Ninguém queria “se expor”. Fui a primeira pessoa pública a de fato ficar ao lado dele. E a história mostra que fiz o certo. Bolsonaro será um grande presidente, podem apostar. Detectei isso nele há quatro anos.
N – Desde que resolveu candidatar-se a uma vaga na Câmara dos Deputados a senhora sempre manifestou sua confiança de ter uma votação muito acima da média,garantindo a eleição num partido que, em circunstâncias normais de temperatura e pressão, exigiria um quociente eleitoral altíssimo para ocupação da cadeira. Em que se baseava?
Na vontade do povo de mudança. Apesar de não entender de política partidária como os “profissionais da área”, eu entendo de gente. Entendo o sentimento das pessoas. Havia uma onda de fora pra dentro de pessoas que queriam que eu fosse candidata. Nos eventos de que eu participava Brasil afora, era recebida sempre por centenas e até milhares de pessoas e eu via esperança no olhar dessa gente. Quando decidi ser candidata, esse movimento ficou ainda mais intenso. Essa onda que vimos em São Paulo aconteceu em outros lugares do País, tanto que fiz campanha pelo Bolsonaro em outros Estados, como Paraná, Minas e alguns do Nordeste. Mas nunca imaginei que seria uma eleição fácil. Muito menos que eu faria mais de 1 milhão de votos. Isso é inimaginável!!! Foi uma surpresa para todos. No dia da eleição fiquei com medo de não conseguir os 30 mil votos necessários para não ser cortada pela cláusula de barreira. Quando vi que com 20% da urnas apuradas eu já tinha feito minha cadeira, achei que o site do TSE estava com problema. E quando passou de 1 milhão foram só lágrimas escorrendo pelo meu rosto. E olha que meu sobrenome é Hasselmann, hein! Brinquei com Bolsonaro que se meu sobrenome fosse o mesmo dele eu teria feito 3 milhões (risos).
N – Esta campanha feriu de morte velhos conceitos de
política profissional arraigados no cenário brasileiro. Cito especificamente o custo exagerado (absurdo até) das campanhas, o horário eleitoral nos meios eletrônicos de comunicação de massas, o debate de candidatos, o Fundo Partidário com dinheiro público, o foro de prerrogativa de função e a barganha que transforma o Congresso Nacional num mercado de pulgas. A seu ver, essas serão conquistas que remanescerão ou sumirão sob o ataque sempre corrosivo das organizações criminosas que controlam os cordéis da atividade política no Brasil?
J – Essas conquistas na mudança do jeito de fazer política no Brasil precisam permanecer. Não dá para abrir mão de tudo isso. Veja, eu e Bolsonaro mostramos matematicamente que as campanhas milionárias, que os acordões para conseguir tempo de TV, que o balcão de negócios podem ser aposentados. Tanto minha campanha como a dele foram totalmente com base em redes sociais. São os votos mais baratos da História. As pessoas fizeram campanha de graça. Acho que esse jeitão novo de fazer política veio para ficar. O povo não aguenta mais esse engessamento, esse monte de mentiras, essa ostentação cafona dentro da política.
N – O que a senhora espera fazer de útil em seu mandato, a ponto de se orgulhar disso daqui a quatro anos, para considerar, por fim, que cumpriu o que pretendia fazer como deputada federal?
J – Pretendo ser o braço forte do Bolsonaro dentro na Câmara para ajudá-lo a fazer as reformas de que o Brasil precisa, a desburocratizar o País, reduzir a máquina pública e promover uma onda de privatizações responsáveis. Junte a isso dois temas que me são muito caros e estão entre as minhas bandeiras: combate à corrupção e corte de privilégios nos três Poderes. Vou trabalhar para aprovar o mais rápido possível as Novas Medidas Contra a Corrupção e a transformação de corrupção em crime hediondo. Com o Legislativo renovado creio que conseguimos passar o projeto com menos resistência. Em relação aos privilégios, o Brasil não aguenta mais a lista infindável de “extras” que a alta casta do funcionalismo público, deputados, senadores, ministros do Executivo e STF têm. No caso de Congresso e Judiciário, têm até as “férias de inverno e de verão”. Isso é uma excrescência. Vou propor projeto pra acabar com essa brincadeira. Também trabalharei pela privatização dos presídios, pelo fim do auxílio-reclusão pago com dinheiro público e pela reformulação total da educação. Temos muito trabalho pela frente.