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Após chamar Marçal de ‘transformador de almas’, Tarcísio é alvo de ex-coach por apoio a Nunes e 2026

Por Pedro Augusto Figueiredo /O ESTADÃO DE SP

 

Principal trunfo de Ricardo Nunes (MDB) para conter Pablo Marçal (PRTB), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) dividiu palanque com o influenciador em uma ocasião em 2022, o chamou de “transformador de almas” e agora se vê na mira do candidato do PRTB, que diz que ele sofrerá consequências eleitorais por ter apoiado o prefeito.

 

Interlocutores de Tarcísio avaliam que as críticas de Marçal têm dois objetivos: o mais imediato é descredibilizar o governador para tentar neutralizar o papel dele como cabo eleitoral de Nunes. O segundo é tentar minar a liderança de Tarcísio na direita — com Bolsonaro inelegível, o governador é apontado como candidato a presidente, cargo que Marçal abertamente cogita disputar em 2026. Tarcísio, por sua vez, repete que tentará a reeleição para o governo paulista.

 

Marçal declarou em sabatina à TV Globo na quarta-feira, 25, que ajudou Tarcísio “diretamente” na campanha há dois anos. Interlocutores do governador negam e dizem que eles se encontraram apenas uma vez durante a campanha, quando Marçal declarou apoio a Tarcísio em um comício organizado pela deputada estadual Dani Alonso (PL) em Marília (SP).

 

“Eu vim aqui para abraçar o prefeito Daniel Alonso e junto vem esse transformador de almas, essa pessoa que inspira tantos brasileiros, Pablo Marçal. Eu não esperava isso. Foi uma surpresa maravilhosa. Pablo Marçal eu fiquei sabendo [que me apoia] hoje de manhã. É uma alegria muito grande”, disse Tarcísio no dia 10 de setembro de 2022. Aliados do governador minimizam o ato conjunto, dizem que Marçal foi convidado por Dani Alonso e que o contexto era diferente do atual. A parlamentar confirma que foi a responsável pelo convite a Marçal.

 

Procurado por meio da assessoria de imprensa, Tarcísio não quis se posicionar sobre a declaração e as críticas que o candidato do PRTB faz a ele.. A assessoria de Marçal não respondeu aos contatos da reportagem.

 

Dois anos depois, o governador justifica que Nunes foi parceiro de seu governo e que uma eventual ida de Marçal para o segundo turno favorece Guilherme Boulos (PSOL) e abre as portas para a esquerda vencer a eleição paulistana. Ele também coloca em dúvida a capacidade do ex-coach administrar a maior cidade do país.

 

Marçal tem adotado um discurso duplo: elogia a gestão do governador, diz que o respeita e gosta dele. Ao mesmo tempo, apelidou o chefe do Executivo paulista de “goiabinha” — verde, ou patriota, por fora e vermelho, cor associada ao comunismo, por dentro — e afirma que Tarcísio terá um problema eleitoral em 2026 se continuar o atacando.

 

“Gosto muito dele e sei que ele está errando. Se ele quer defender o prefeito, que ele defenda o prefeito sem me atacar. [...] Algumas vezes ele acaba deslizando, me atacando”, disse Marçal. “Tenho um respeito muito grande por você, Tarcísio. Agora, não enterre sua carreira. É muito ruim. As pessoas estão indo no seu Instagram e sua equipe está bloqueando os comentários”, disse Marçal na quarta-feira.

O ex-coach argumenta que Tarcísio descumpriu um suposto acordo de não agressão entre eles ao citá-lo nominalmente em uma propaganda eleitoral em que pedia votos para Nunes. Após ser expulso do debate do Flow na segunda-feira, o candidato também cobrou o governador em uma transmissão ao vivo nas redes sociais. “Falar em propaganda é fácil, quero ver me peitar pessoalmente”, cobrou Marçal.

 

“Existe uma tática de fazer pressão que comigo não funciona. Eu sou absolutamente inerte a esse tipo de pressão”, disse Tarcísio ao podcast Inteligência Ltda na segunda-feira, acrescentando que é uma “bobagem” Marçal acreditar que “monopoliza os princípios bolsonaristas”. O governador confirmou que se encontrou com o candidato do PRTB. “Eu expliquei por que eu apoio Nunes. Expliquei que Nunes é um cara bom caráter, humilde, trabalha muito e está dando resultado. Foi minha opção lá atrás e vou com ele até o fim”, completou.

 

Apesar das ressalvas ao influenciador, Tarcísio declarou que apoiará Marçal se ele for para o segundo turno contra Boulos. “Marçal é uma incerteza. O Boulos é certeza de dar errado”, concluiu.

 

Além das declarações públicas, o governador também teve atuação relevante nos bastidores para ajudar Nunes e neutralizar Marçal. Ele atuou para impedir que Jair Bolsonaro (PL) continuasse flertando com a candidatura do ex-coach e também se reuniu com líderes evangélicos para convencê-los a apoiar o prefeito quando o candidato do PRTB intensificou os acenos ao público desta religião.

Eleições municipais: muito além da zoeira paulistana

Por Miriam Leitão / O GLOBO

 

A lógica de uma eleição municipal vai muito além do barulho que se ouve em São Paulo. Existe uma correlação entre os prefeitos bem avaliados e as intenções de voto. Alguns governadores também estão desempenhando um papel decisivo. No entanto, essa conexão com outras eleições ocorre de maneira diferente do que se imagina. O cientista político Felipe Nunes, da Quaest, avalia, à luz dos dados dos pleitos passados, que dificilmente a escolha nas cidades é um indicador do que acontecerá na presidencial. Mas, até 2018, era possível constatar uma correlação de 90% entre o desempenho nas municipais e a disputa seguinte para a Câmara dos Deputados.

 

Neste tipo de eleição, a tomada de decisão dos eleitores mistura desejos do morador da cidade com escolhas de outros campos de interesse. É muito mais do que essa sucessão de agressões verbais e físicas vista na maior cidade do país. Pablo Marçal tem capturado a atenção usando truques surrados e, infelizmente, eficazes de exposição na imprensa. Ele mirou o engajamento nas redes sociais, e conseguiu muito mais. Se forem medidos os centímetros e minutos dedicados a Pablo Marçal pelo jornalismo profissional ficará comprovado que é o candidato da eleição municipal que tem tido o maior volume de atenção, mesmo sem qualquer ideia que fique de pé. É uma pessoa nefasta para a democracia, mas nem a Justiça Eleitoral nem a imprensa têm o antídoto certo. O país está caindo nas mesmas armadilhas montadas pela extrema direita em 2018. Mas o que são, afinal, as eleições municipais?

 

— São “quasi-referendos” de governos nacionais, mas não permitem antecipar os resultados das disputas presidenciais subsequentes — diz Felipe Nunes.

 

Os números impressionam. Em 1988, o PSDB tinha 18 prefeituras. Na eleição de 2000, na metade do segundo mandato do presidente Fernando Henrique, o partido fez 990 prefeituras. O PT, saiu de 187 prefeituras em 2000 e, em 2012, no auge do seu poder, chegou a 637, vencendo inclusive em São Paulo. Só que as eleições municipais não predizem o que acontecerá na disputa presidencial seguinte. Em 1994, os partidos que tinham mais prefeituras eram o PMDB e o PFL, mas o vencedor da eleição foi Fernando Henrique, do PSDB. Na eleição de 2002, o PMDB era o maior partido em números de prefeituras, seguido pelo PFL, e quem ganhou foi o PT.

 

— As eleições municipais são, no entanto, excelentes termômetros do clima eleitoral para a Câmara dos Deputados dois anos depois. Até 2018, encontramos uma forte correlação entre a votação de prefeitos e vereadores e a votação de deputados federais na eleição seguinte, que podia chegar a 90%. Os dados das capitais sugerem uma consolidação de partidos de centro e centro-direita como protagonistas na Câmara — considera Felipe Nunes.

Ora direis, olhar os números. Pois é. Sem eles é difícil entender o que se passa na eleição de 2024, ficaremos apenas nas cadeiradas, murros em publicitários e punhos de falso gesso. É de 90% a correlação entre a avaliação dos prefeitos e as intenções de voto. E isso explica o que acontece no Recife, no Rio de Janeiro, em Maceió, Salvador, entre outras. Reforça um lado dessa escolha, que é o do síndico da cidade.

 

Os governadores têm influência? Em alguns casos, sim. A campanha em Belém, em 31 de agosto, parecia assustadora para a capital da COP30. Estava na frente um candidato negacionista da mudança climática, o delegado Eder Mauro do PL, com 23%. O governador Helder Barbalho entrou de cabeça em favor de Igor Normando, do MDB, que estava com 21%, e, na pesquisa de 21 de setembro, ele atingiu 42%. Seu oponente oscilou para 21%.

 

Acontece o mesmo em Goiânia, com o apoio do governador Ronaldo Caiado a Sandro Mabel e em Campo Grande com o governador Eduardo Riedel em campanha por Beto Pereira. A mesma situação é vista em Manaus, em que o governador Wilson Lima sustenta Roberto Cidade, em Curitiba com Ratinho Jr. na campanha de Eduardo Pimentel e até, em certa medida, com o apoio do governador Tarcísio de Freitas ao prefeito Ricardo Nunes.

 

Há uma tentativa no país de colocar grupos eleitorais complexos e pulverizados em categorias que não as comportam. Por exemplo, os evangélicos. O fato de um estridente líder evangélico berrar em cima de um palanque seu ódio ao próximo, não significa que os crentes vão segui-lo, porque esse grupo eleitoral é diverso, como todos os outros. Há muito mais entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.

Urna eletrônica funciona fora da internet e é auditável; conheça etapas de segurança

Matheus Tupina / folha de sp

 

urna eletrônica, inaugurada no país em 1996 e utilizada em todas as eleições desde 2000, tem instrumentos que tornam a votação auditável e não trabalha online, ou seja, não pode ser acessada por um usuário externo em nenhum momento da votação.

O equipamento passa por uma série de testes públicos antes do pleito e também durante o pleito. Entre eles, está o teste público de segurança, que convida profissionais de tecnologia da informação a verificar o sistema e a parte física da urna, tentando invadi-la, e a cerimônia de lacração do equipamento.

Conheça os métodos de segurança da urna eletrônica e sua auditabilidade:

Teste público de segurança

Em todos os anos anteriores a uma eleição, seja ela nacional ou municipal, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) realiza o Teste Público de Segurança, quando uma série de profissionais de tecnologia da informação, programadores e outros especialistas vão à sede da corte eleitoral para verificar a integridade da urna.

Eles podem avaliar todos os componentes do equipamento, como o sistema, o gerenciador de dados, a interface e os verificadores pós-pleito instalados. A ideia é atacar a urna, tentando adulterar a integridade da votação, inserir ou remover votos ou quebrar o sigilo da escolha.

Caso, nesse teste, sejam constatadas vulnerabilidades, os profissionais devem propor soluções. Já ocorreram sete edições da auditoria, e nenhuma delas encontrou fragilidades capazes de alterar o resultado de uma eleição.

Cerimônia de lacração e código-fonte

O TSE ainda torna disponível o código-fonte, ou seja, o código que forma o sistema usado pela urna eletrônica, aberto a todos por um ano para fiscalização de entidades como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Polícia FederalMinistério Público e partidos políticos.

Após a finalização das auditorias, os programas recebem hashes —um código único que corresponde a uma impressão digital de cada sistema instalado, para verificação da integridade.

As cópias primárias desses programas são inseridas em uma mídia não regravável (ou seja, não suporta a inserção de nada diferente daquilo que já foi inserido) e guardadas em sala-cofre da corte eleitoral.

Cada TRE (Tribunal Regional Eleitoral) faz ainda uma cerimônia de lacração das urnas, quando os programas desenvolvidos são instalados nas máquinas publicamente, a lista de eleitores de cada seção e dos candidatos é inserida, e os equipamentos são lacrados fisicamente, com assinatura do juiz eleitoral. A partir desse ponto, os equipamentos não são mais alterados até chegarem às seções.

Votação paralela

Outro instrumento usado pelo TSE no dia do pleito é a votação paralela. Cerca de 2.000 cédulas de papel são preenchidas por representantes dos partidos políticos com votos nos candidatos oficiais e guardadas.

Durante o horário da votação, funcionários da Justiça Eleitoral digitam em urnas eletrônicas os votos contidos nas cédulas de papel, em procedimento filmado e realizado com presença da imprensa, fiscais de legendas e da sociedade civil.

Assim que o pleito se encerra, os votos são apurados, e o resultado deve coincidir com os votos em papel, comprovando não haver adulteração.

No momento da eleição

Na hora da votação, os mesários são quem ligam a urna eletrônica e a preparam para receber os eleitores. Eles acompanham a inicialização do equipamento e a série de verificações internas que a própria máquina realiza para confirmar a integridade dos programas.

Vale ressaltar que nenhuma urna eletrônica é conectada à internet, ou seja, não há a possibilidade de interferências externas, já que a ela só está ligado o equipamento de identificação do mesário.

Antes de abrir a votação, o equipamento imprime a zerésima, relatório atestando não haver voto para nenhum candidato antes da abertura do pleito. Os mesários precisam verificá-lo e assiná-lo, assumindo responsabilidade sobre a eleição.

Boletim de urna e apuração

Terminado o período de votação, a urna eletrônica imprime o boletim de urna, relatório com a quantidade de votos que cada candidato recebeu. Ele é verificado e assinado pelos mesários e tornado público na frente da seção de votação.

São impressas cinco vias —uma para fiscalização, outra fica guardada com o presidente da seção, duas são encaminhadas ao cartório eleitoral, e a última é fixada na porta da seção. Os boletins possuem um código QR que atesta a autenticidade do documento, podendo ser escaneado por qualquer um.

Após a impressão do relatório, o mesário rompe um dos lacres da urna e remove a mídia de resultado, um pen drive que carrega o total de votos. Ele é enviado ao cartório eleitoral e acoplado a um computador que possui os programas da eleição.

Os votos são transmitidos em rede segura para o TSE, em Brasília. Para confirmar que não houve interferências, são rechecados e, depois, contabilizados por um supercomputador que reúne todos os votos e anuncia os resultados.

Depois da eleição, qualquer um pode somar os resultados de todos os boletins de urna disponíveis e compará-los com a apuração final, tornando o resultado auditável em termos de contagem de votos.

URNA ELETRONICA

 

Fortaleza vive ataques entre 4 favoritos e tem até chuva de ovos em disputa parelha

Fabio Victor / FOLHA DE SP

 

 

Fortaleza

Não teve cadeirada nem soco na cara, mas a disputa pela Prefeitura de Fortaleza, a mais parelha entre as principais capitais, chega à reta final em alta voltagem, com troca de posições nas pesquisas, crescimento de acusações e um acirramento nas ruas que teve até chuva de ovos sobre um dos concorrentes.

Quatro candidatos seguem com chances de ir ao segundo turno na quarta cidade mais populosa do país. Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta (25), André Fernandes (PL) tem 27% das intenções de voto, Evandro Leitão (PT), 25%, Capitão Wagner (União Brasil), 17%, e José Sarto (PDT), prefeito que tenta a reeleição, 15%. A margem de erro do levantamento, contratado pelo jornal O Povo, é de três pontos para mais ou para menos.

Outros institutos mostram uma disputa ainda mais embolada –em agregadores de pesquisas, a diferença entre o primeiro e o quarto colocados tem sido de menos de dez pontos.

Wagner começou a corrida liderando com folga. No primeira Datafolha, no fim de junho, tinha 32%, seguido de longe por Sarto (19%), André (14%) e Evandro (8%). A novidade das últimas semanas foi o crescimento de André, que assumiu a liderança numérica em meados deste mês, e de Evandro, cuja subida é proporcionalmente a maior.

Apesar de a troca de fogo ser generalizada, como mostra a guerra de jingles entre André e Sarto (o primeiro fez "É Culpa do Sarto", adaptada pelo segundo para mostrar suas realizações), os ataques mais constantes e virulentos ocorrem entre os candidatos do mesmo espectro ideológico: os dois alinhados à direita (André e Wagner) se digladiam, e o mesmo se dá entre os esquerdistas Evandro e Sarto.

Líder de um motim da PM cearense ocorrido na passagem de 2011 para 2012, Wagner depois se elegeu vereador, deputado estadual e deputado federal. Foi segundo colocado em três das últimas eleições (para prefeito de Fortaleza, em 2016 e 2020, chegou ao segundo turno; para governador, em 2022, caiu no primeiro turno, vencido pelo petista Elmano de Freitas).

A perda de eleitores para André, um ex-youtuber bolsonarista que foi o deputado federal mais votado do Ceará em 2022, fez Wagner transformar o candidato do PL de ex-aliado em alvo preferencial, usando boa parte de suas peças de campanha e entrevistas para fustigá-lo.

O ex-PM levou à TV vídeos de André adolescente cheirando um pó branco e esfaqueando um papelão em que está escrito "minha namorada". Eram "desafios" ou "brincadeiras" do então youtuber (o pó branco era sal), mas a edição eliminou o contexto. André, hoje com 26 anos, diz que eram "bobagens de adolescente" e se declarou decepcionado com o ex-aliado. "É como se eu estivesse sendo apunhalado pelas costas."

Wagner também tem exposto as posições de extrema direita do rival, como votos contrários ao projeto de lei que ampliou a pena para feminicídio e ao que impõe igualdade salarial entre mulheres e homens.

"O sonho do PT é enfrentar o candidato do PL e nacionalizar o debate", diz Wagner, para quem o governo cearense estimulou a cisão na direita para aumentar suas chances de vitória. "Querem fazer isso para que no segundo turno seja fácil desmontar a candidatura de um jovem que infelizmente não tem a menor condição de governar a cidade."

O racha na esquerda era mais esperado, desde o rompimento da aliança estadual entre o PT do ex-governador e atual ministro da Educação, Camilo Santana, e o PDT de Ciro Gomes. Na briga, o senador Cid Gomes, irmão de Ciro, trocou o PDT pelo PSB –e apoia Evandro Leitão.

Deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, Evandro foi outro que, na cisão, deixou o PDT e se filiou ao PT –a ex-prefeita Luizianne Lins também pleiteou a candidatura, mas perdeu nas prévias e não tem feito campanha para o novo correligionário.

Enquanto Evandro vem subindo nas pesquisas, Sarto tenta conter sua queda registrada pelo Datafolha investindo contra o petista recém-convertido, principalmente explorando os altos índices de crimes violentos registrados no Ceará, governado pelo PT. Embora a segurança seja da alçada estadual, é um tema onipresente na campanha em Fortaleza.

Evandro, por sua vez, gruda em Sarto a criação da taxa do lixo, sancionada pelo prefeito em 2023 e naturalmente impopular entre os eleitores.

"São quatro candidaturas fortes, não menosprezo absolutamente nenhuma, tenho muita humildade. Mas, apesar de os números demonstrarem proximidade, a campanha que mais cresce é a minha: comecei com 3%, 4% e estou com mais 20%", afirma Evandro, que ressalta o apoio do presidente Lula, do ministro Camilo Santana e do governador Elmano de Freitas –que em 2022, à maneira dele, começou atrás e cresceu ao longo da campanha.

Em carreata no último dia 17, Evandro foi alvo de uma chuva de ovos. O candidato não se manifestou, mas, nos bastidores, seus aliados atribuem a ação a partidários de Sarto.

Em parte decorrente do racha na esquerda, outra novidade desta campanha é, na verdade, uma ausência: o sumiço de Ciro Gomes. Principal liderança política de expressão nacional do Ceará há até poucos anos, o pedetista virou agora um padrinho tóxico. Apoia Sarto, mas praticamente não aparece na campanha.

Em debate promovido pelo grupo de comunicação O Otimista no dia 16, acompanhado do estúdio pela reportagem, o nome de Ciro não foi pronunciado nenhuma vez. O debate durou mais de quatro horas.

Para Evandro, "os resultados das eleições de 2022 respondem por si". Ciro teve apenas 3% dos votos e terminou em quarto, atrás de Lula, Jair Bolsonaro e Simone Tebet. Foi disparado o pior desempenho dele entre as suas quatro disputas à Presidência (em 1998 teve 10,9%; em 2002, 11,9%; e em 2018, 12,4%) e a única vez em que não foi o mais votado no Ceará.

Embora observe que Ciro, "pela inteligência e pela experiência que tem", está contribuindo com o seu programa de governo, Sarto relativiza a importância do aliado: "Eu tenho luz própria. Fui eleito prefeito com o apoio de parceiros que partilham o mesmo projeto, mas eu não tenho chefe político".

Indagado se Ciro estaria morto politicamente, o prefeito afirmou: "De forma nenhuma. Vou lembrar do que dizia Maluf: a política é o único ambiente em que se morre e se ressuscita várias vezes".

 

Um partido ‘popular’ sem os votos do povo

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

Há 20 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) vivia o seu zênite eleitoral. No segundo ano do primeiro mandato de Lula da Silva, o PT levou nada menos que nove capitais. No total, foram 411 prefeituras. Já em 2020, o partido amargou o seu nadir. Foram zero capitais e 183 prefeituras, 71 a menos do que em 2016. Foi o pior desempenho desde a redemocratização. Mas tudo indica que o pior está por vir.

 

Hoje o partido só tem chances de eleger candidatos em quatro capitais, mas a tendência é de derrota em todas. O cenário em São Paulo, berço do PT, é sintomático. Em 2012, o PT elegeu prefeitos em quase um terço dos 39 municípios da Grande São Paulo. Hoje não lidera em nenhum. Mesmo em seu tradicional bastião eleitoral, os sete municípios do Grande ABC, o PT é competitivo só em dois, e mesmo aí seus candidatos estão tecnicamente empatados com os adversários e lideram os índices de rejeição.

 

O que mudou? Certamente não o PT. É a mesma ideologia estatizante, a mesma hostilidade à iniciativa privada, o mesmo corporativismo com setores do funcionalismo público, o mesmo discurso da “luta de classes”, a mesma retórica maniqueísta do “nós contra eles”, a mesma geopolítica terceiro-mundista.

 

O que mudou foi o Brasil, esse é o problema – do PT, claro, não do Brasil. E mudou, em grande parte, pelos desmandos do PT. Nos últimos 20 anos, o partido governou o País por 14. Apesar de Lula propagandear a ilusão de que sabe como fazer a economia crescer, nesse período – mesmo durante o superciclo das commodities – o País cresceu abaixo da média dos países emergentes. Quando os dogmas desenvolvimentistas petistas foram aplicados em toda a sua pureza pela criatura de Lula, Dilma Rousseff, o resultado foi uma recessão que devorou cerca de 10% do PIB em dois anos, dizimando os supostos avanços da “classe trabalhadora”.

 

Foi o PT que protagonizou os grandes escândalos de corrupção da Nova República, o mensalão e o petrolão, que tanto fizeram para desmoralizar a política e alavancar candidatos ditos “antissistema” como Jair Bolsonaro. Lula só venceu em 2022 com uma margem apertada pela aversão dos moderados a mais quatro anos de razia bolsonarista. Ainda assim, perdeu entre as classes médias e nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

 

Mas Lula é, há tempos, muito maior que o PT. O verdadeiro tamanho do petismo se mede muito mais pelos minguados 130 deputados eleitos pela sua coalizão. Mais eloquente é a imagem das ruas vazias nas manifestações lideradas pelo PT em março, e ainda mais nos tradicionais festejos do Dia do Trabalho, quando o demiurgo em pessoa discursou para meia dúzia de gatos-pingados (os sindicalistas de sempre) no estacionamento do estádio do Corinthians.

 

As eleições municipais são particularmente reveladoras, porque nelas o que está em jogo não é tanto a ideologia, mas a gestão pura e simples. Quem experimenta o modo petista de governar quer ver o partido pelas costas. Fernando Haddad, o último prefeito petista da capital paulista e cotado a sucessor de Lula, por exemplo, perdeu a disputa à reeleição em 2016 no primeiro turno. Em 2020, Jilmar Tatto terminou a corrida em sexto lugar. Tamanho é o vácuo de lideranças novas e críveis que, contrariando seus instintos mais viscerais, o PT renunciou a ter um candidato em São Paulo e apoia o psolista Guilherme Boulos. Mas nem Lula nem a dinheirama do fundo eleitoral estão conseguindo alavancar Boulos, que mal consegue chegar a 30% de intenção de voto e periga nem ir para o segundo turno.

 

Não é só o PT. Entre as legendas de esquerda que conquistaram sete capitais há quatro anos, só um candidato, João Campos (PSB), no Recife, tem chances reais de vitória. A esquerda, é verdade, experimenta em todo o mundo uma crise de identidade. Mas, no Brasil, paga mais caro pelas décadas de subserviência ao projeto hegemônico do PT.

 

“O PT é um partido de trabalhador que não trabalha, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam”, disse certa vez Roberto Campos. Seria o caso de acrescentar uma quarta contradição: é um partido que se diz “popular” sem os votos do povo.

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