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Pesquisa Datafolha: 94% já decidiram voto para presidente e 6% admitem mudar de ideia

Por O Globo — São Paulo 

 

Pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira mostra que 94% dos eleitores estão totalmente decididos sobre o voto para presidente da República, disputado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). A 11 dias da eleição, apenas 6% admitem mudar de escolha.

 

No levantamento anterior, divulgado na última sexta-feira, 93% diziam estar convictos. Houve, portanto, uma oscilação de um ponto para cima, dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Já o percentual de eleitores que podem trocar de ideia permaneceu o mesmo.

 

A certeza do voto é praticamente igual entre eleitores de Lula e Bolsonaro. Considerando os simpatizantes da candidatura do petista, 94% estão certos da escolha, ante 95% na pesquisa passada. Os convictos de Bolsonaro, por sua vez, somam 95%, sendo que eram 94% no último levantamento. A certeza é menor entre os pretendem votar branco ou nulo: 79% bateram o martelo, e 21% ainda podem reconsiderar.

 

O instituto perguntou aos eleitores voláteis, que podem mudar de opinião, o que eles fariam se alterassem de fato a escolha do voto: 61% dizem que votariam nulo ou branco, 16% escolheriam Lula e 20% votariam em Bolsonaro. Outros 3% não souberam dizer. No levantamento anterior, os números eram, respectivamente, 68%, 16%, 14% e 2%. A escolha por Bolsonaro oscilou dois pontos para cima.

 

Contratado pela TV Globo e o jornal "Folha de S.Paulo", o Datafolha entrevistou entrevista 2.912 eleitores de 17 a 19 de outubro para o levantamento, que tem margem de erro estimada em dois pontos percentuais para mais ou menos. O número de identificação no TSE é o BR-07340/2022.

Thomas Traumann: Datafolha aponta para uma reta final de incertezas

Por Thomas Traumann / O GLOBO

 

O novo Datafolha mostra que a eleição presidencial chega na reta final sob a nuvem da incerteza. Faltando 11 dias para o segundo turno, a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) é de quatro pontos percentuais, no limite da margem do empate técnico pela primeira vez na campanha. Na comparação com a semana passada, Lula manteve estabilidade com 49% contra 45% de Bolsonaro, que oscilou um ponto para cima.

 

O estreitamento da disputa é surpreendente por ocorrer num período de notícias ruins para Bolsonaro. Desde o último Datafolha, bolsonaristas fizeram badernas na basílica de Aparecida (SP), o PT intensificou a propaganda negativa na TV e o presidente disse em uma entrevista que havia “pintado um clima” com venezuelanas de 14 anos que ele sugeriu serem prostitutas, sendo obrigado depois a pedir desculpas. No primeiro debate do segundo turno, no domingo na TV Bandeirantes, Bolsonaro foi especialmente mal ao justificar sua gestão na pandemia de Covid. Nada disso, no entanto, afetou o seu desempenho no Datafolha. 

 

O resultado da pesquisa está alinhado ao de outros levantamentos divulgados nesta semana. No Ipec, a distância nos votos totais variou de 9 para 7 pontos percentuais. No Ipespe/Abrapel, a vantagem foi e 8 para 7 e, na Genial/Quaest, de 8 para 5 pontos percentuais. Embora as pesquisas não sejam metodologicamente comparáveis, elas retratam a mesma curva de aproximação dos dois candidatos. 

 

A campanha mais preocupada com as pesquisas é a de Lula. O ex-presidente cancelou uma viagem que faria a Manaus com a senadora Simone Tebet (MDB) para concentrar sua última semana em São Paulo e Minas Gerais. Nesta quarta-feira, Lula lançou uma carta de compromissos com os eleitores evangélicos, segmento fortemente bolsonarista.  

 

A boa notícia para o campo lulista é que Bolsonaro continua sendo o mais rejeitado. Metade dos entrevistados do Datafolha dizem que não votariam pela reeleição, ante 46% dos que recusam Lula.

Como superar o ódio eleitoral no Brasil

Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017 / FOLHA DE SP

O Brasil está em guerra civil. Nos últimos anos, famílias rasgaram-se, amizades desfizeram-se e o contrato social coletivo, já frágil, implodiu. Possivelmente nunca o país esteve tão polarizado. Certamente que há um histórico de conflitos internos violentos ao longo dos últimos cem anos, seja no formato de revoltas (Jacareacanga, Quebra-Milho), levantes (Integralista), revoluções (de 1930, Constitucionalista de 1932,), golpes de Estado (1964), insurreições (anarquista de 1918) e movimentos de guerrilha (Araguaia, Caparaó). O Brasil também é um dos países com maior insegurança urbana do mundo. Mas os conflitos internos sempre foram relativamente efêmeros ou regionais. Nenhum deles opôs dezenas de milhões de brasileiros a outras dezenas de milhões de brasileiros.

A divisão atual entre bolsonaristas e lulistas, ou entre a direita radical e a esquerda democrática já não pode ser retratada como uma antipatia ou embirração, própria de disputas eleitorais. É de ódio e repugnância que falamos. Tal como um qualquer país em guerra civil, parte do Brasil cortou relações com a outra parte de si próprio. E sem a necessidade de universalizar o uso da violência armada.

Qualquer que seja o resultado destas eleições, o Brasil precisa iniciar um longo processo de pacificação. Além de recuperar a economia e reduzir a pobreza, o cardápio de prioridades do presidente eleito deveria ser reconciliar o país.

Mas como fazê-lo? A coluna entrevistou Guy Banim, um reconhecido especialista internacional, com 25 anos de experiência em mediação de conflitos em países como Nepal, Mianmar, Moçambique, Afeganistão ou Irlanda. Já trabalhou para várias organizações multilaterais e é atualmente professor visitante no Colégio da Europa, um instituto de ensino e treinamento de pós-graduação dedicada a temas internacionais.

Pós-eleições, o primeiro desafio para o presidente brasileiro é reconhecer de que há uma hostilidade de massas que precisa ser resolvida. Não será fácil. A inclinação natural de qualquer político é de exacerbar a sua base de apoio para engordar as expectativas de vitórias eleitorais futuras. No caso de vitória de Bolsonaro, a pauta será a da destabilização, não a da harmonização cívica.

Depois, em sociedades desmembradas, o lado que adquirirá o poder não poderá expropriar o lado perdedor. Guy Banim salienta que a literatura acadêmica e a experiência de dezenas de conflitos demonstram que "a exclusão sistemática de algum grupo específico do acesso ao poder, a oportunidades, a serviços e à segurança cria um terreno fértil para a mobilização de protestos e reivindicações legítimas. Quem vencer as eleições terá de adotar políticas de longo prazo que considerem também as aspirações econômicas e sociais dos derrotados. Fomentar a participação de jovens, organizações, movimentos e redes que apoiaram Bolsonaro ou Lula é fundamental." Se excluído ou perseguido, o bolsonarismo ou o lulismo crescerá e poderá tornar-se violento. A coesão social não representa o cancelamento do debate, mas um espaço democrático no qual o pluralismo pode florescer pacificamente.

As artes e a cultura também podem exercer um papel fundamental. Os criadores e gestores culturais têm de puxar os extremos pelas orelhas para os trazer para um espaço comum de debate, imaginação e criação. Funcionou na Colômbia e na Irlanda. Cabe às artes transpor o seu vínculo político natural à esquerda para criar elementos de partilha coletiva.

Guy afirma também que, no caso brasileiro, tal como no americano, se o teatro de guerra está nas redes sociais, as estratégias de resolução de conflitos deveriam priorizar este território digital. As redes, apesar de todos os seus benefícios, tornaram-se também instrumentos que acentuam estratificações e categorizações sociais, além de amplificarem as fraquezas e vulnerabilidades humanas. Uma boa solução para mitigarmos a versão nefasta das redes sociais é o The Commons Project, um projeto lançado em 2017 com o objetivo de despolarizar o debate público e privado nos Estados Unidos.

A premissa central do The Commons é que a maioria das pessoas nos EUA não é promotora ativa da polarização. Em vez disso, a polarização é algo que lhes acontece. São vítimas, não réus. Através de ferramentas próprias, o The Commons consegue identificar os milhões de pessoas no Twitter e Facebook que estão mais suscetíveis a serem polarizadas. Depois criam conteúdos moderados para testar reações. Em seguida, facilitadores entram em contato direto com os usuários das redes de forma a desmistificar dogmas, aquietar medos e a incutir alguma literacia digital. As metodologias aplicadas permitem chegar de forma direta e personalizada a potencialmente milhões de pessoas. O Brasil precisa de um programa semelhante.

O nosso otimismo leva-nos a acreditar que muitos dos que votam em Lula ou Bolsonaro têm mobilidade ideológica e fazem opções políticas de forma utilitarista. Não guardam rancores nem pularam para nenhuma trincheira. Mas há dezenas de milhões de brasileiros que são agudamente bolsonaristas, lulistas, antibolsonaristas ou antilulistas. É nesta fatia demográfica que nos deveríamos concentrar. No final do século 19, o Brasil teve um presidente que recebeu a alcunha de "Pacificador", depois de ter posto termo à Revolução Federalista. Vamos precisar de um novo presidente com as mesmas habilidades. Para isso, precisa de ser um presidente democrático.

Jerônimo atrai apoio até de bolsonaristas, que criam voto 'JeroNaro' na Bahia

João Pedro Pitombo / FOLHA DE SP
SALVADOR

O revés do candidato a governador ACM Neto (União Brasil), que começou a campanha na liderança, mas foi superado em votos por seu adversário, fez com que parte de seus aliados iniciasse uma debandada em direção ao candidato governista Jerônimo Rodrigues (PT).

Empurrado pela força de Lula e da máquina governista, Jerônimo teve 49,45% dos votos válidos no primeiro turno contra 40,8% de ACM Neto e 9,08% do bolsonarista João Roma (PL), resultado que fez com que os ventos mudassem de lado no meio político neste segundo turno.

Prefeitos, deputados, vereadores e líderes políticos que haviam apoiado ao ex-prefeito de Salvador no primeiro turno, agora aderiram ao petista em alianças pouco ortodoxas que incluem até um movimento "JeroNaro", com voto casado em Jerônimo e no presidente Jair Bolsonaro (PL).

O movimento partiu de setores mais conservadores que não tiveram sucesso nas urnas. O primeiro a mudar de lado foi o vereador e deputado federal em exercício Joceval Rodrigues (Cidadania). Ligado à Igreja Católica, ele foi líder da maioria na Câmara Municipal de Salvador na gestão ACM Neto.

Também aderiu a Jerônimo uma parcela do PSC, legenda ligada à Assembleia de Deus. Derrotado nas urnas, o presidente estadual do partido, Heber Santana, rompeu com ACM Neto, de quem foi secretário municipal, e se engajou na campanha do petista.

O apoio a Jerônimo, contudo, não se estende a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial, diz Eliel Santana, vice-presidente nacional do PSC.

"Nacionalmente, continuamos com Bolsonaro. Mudamos de posição aqui na Bahia por insatisfação com o tratamento que foi dado ao nosso partido. Fomos convidados por Jerônimo e vamos fazer a interlocução dele com o segmento evangélico", afirma Eliel Santana, pai de Heber.

Ele admite que houve críticas à decisão por parte dos filiados e da militância do partido. Mas diz acreditar que as resistências podem ser contornadas: "O eleitor vota com sua consciência. Não queremos induzir ninguém."

Com a força da máquina governista, Jerônimo conseguiu trazer para o seu lado mais de uma dúzia de prefeitos de diferentes partidos que no primeiro turno estavam com ACM Neto. O movimento foi apelidado de maneira jocosa de "portabilidade" de prefeitos.

Entre aliados de ACM Neto, a estratégia é vista como pouco efetiva. Eles alegam que dificilmente os eleitores vão mudar a escolha do primeiro para o segundo turno tão somente por orientação de um prefeito ou líder político.

Enquanto intensifica as articulações políticas com o apoio do governador Rui Costa (PT), Jerônimo começa o segundo turno jogando parado: evita polêmicas e já negou o convite para participar de debates em duas emissoras de televisão.

No caso da TV Band, disse que houve problema de agenda. Na TV Aratu, alegou "aparente parcialidade" da emissora, uma vez que esta pertence à família de Ana Coelho (Republicanos), candidata a vice-governadora na chapa adversária.

Folha apurou, contudo, que a decisão de não participar dos debates faz parte de uma estratégia de não expor o candidato. E justificam a decisão alegando que o adversário fez o mesmo no primeiro turno: ACM Neto faltou a 2 dos 3 debates televisivos que aconteceram no primeiro turno.

O petista também aposta na vinculação com Lula, que desembarcou em Salvador nesta quarta-feira (12) para participar de um ato de campanha de seu aliado. Juntos, fizeram uma caminhada com trio elétrico e ares entre o bairro de Ondina e o Farol da Barra.

Segundo os organizadores, cerca de 100 mil pessoas participaram do ato, quando Lula foi mais incisivo no pedido de votos ao aliado: "Eu preciso que vocês elejam o Jerônimo governador da Bahia"

O ex-prefeito de Salvador ACM Neto, por sua vez, tem adotado um discurso mais racional, que procura colocar água na fervura da polarização nacional. Para convencer o eleitor, aposta em uma comparação de propostas, currículo e de trabalho realizado.

"Essa é a minha grande diferença para o candidato do PT aqui na Bahia: ele foi testado e reprovado. Eu fui testado e considerado o melhor prefeito de todo o Brasil", afirma.

Nos atos de campanha, tem priorizado cidades de grande e médio porte, além dos municípios da região metropolitana de Salvador, onde teve mais votos que Jerônimo, mas não o suficiente para neutralizar os resultados das pequenas cidades do interior.

Neste segundo turno, manteve a posição de neutralidade em relação à eleição presidencial que já havia adotado no primeiro. Mas passou a fazer acenos mais claros aos bolsonaristas que votaram em João Roma. Aposta no antipetismo para conquistar esses votos, mesmo diante de uma relação turbulenta com o ex-ministro de Bolsonaro.

Amigos e aliados por mais de duas décadas, ACM Neto e Roma estão rompidos desde fevereiro de 2021 e trocaram duros ataques na campanha. Ainda assim, Roma anunciou apoio a ACM Neto no segundo turno, mas se manteve distante da campanha do ex-aliado.

Ao mesmo tempo, aliados próximos a ACM Neto que estavam neutros no primeiro turno aderiram a Bolsonaro, incluindo o vice-governador da Bahia e deputado federal eleito João Leão (PP).

Ao romper com o governador Rui Costa em março deste ano, Leão reafirmou seu apoio a Lula, mas meses depois passou a defender uma condição de neutralidade para atrair votos dos dois lados. Agora, já eleito deputado federal, subiu no barco bolsonarista e afirmou que "chega de PT".

Outros aliados do ex-prefeito como os deputados federais reeleitos Arthur Maia e Elmar Nascimento, ambos da União Brasil, também desceram do muro e apoiam o presidente no segundo turno.

Houve ainda movimentos em direção a Lula: o principal foi do deputado federal eleito Leo Prates (PDT), considerado braço-direito de ACM Neto, que seguiu a orientação de seu partido e agora apoia o petista na eleição presidencial.

Entre apoiadores e líderes políticos locais, é comum a adoção de adesivo com os emblemas "LulaNeto" e "BolsoNeto". Assim como no primeiro turno, o ex-prefeito de Salvador segue com o discurso de que está preparado para governar com qualquer presidente que for eleito.

Os adversários criticam a estratégia e apelidaram o ex-prefeito como o candidato do "tanto faz". Diz Jerônimo: "Se ele quiser continuar assim, a conta é dele. Nós vamos querer debater qual o compromisso que nós temos do Lula em relação à nossa Bahia".

 

Datafolha: Bolsonaro lidera em SP com 47%, contra 43% de Lula

Igor Gielow / FOLHA DE SP
SÃO PAULO

O presidente Jair Bolsonaro (PL) lidera a disputa presidencial no estado de São Paulo. Ele marca 47% das intenções de votos, contra 43% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais. Eles estão no limite máximo da margem de erro, quando a situação de empate é improvável.

Os votos totais incluem ainda 8% de brancos e nulos e 2% de indecisos.

 

Na semana retrasada, Bolsonaro tinha 46% e Lula, 44%, configurando empate na primeira pesquisa do Datafolha no segundo turno.

No estado, que tem 34 milhões de eleitores aptos, o presidente acabou o primeiro turno à frente do petista no primeiro turno, com 47,7% dos votos válidos (excluindo brancos e nulos, que é a métrica da Justiça Eleitoral no dia do pleito), ante 41% do rival. A situação se inverteu no país como um todo: o ex-presidente ficou com 48,4% e o atual, com 43,2%.

O acirramento da contenda entre os oponentes impacta a disputa estadual, na qual o segundo turno é disputado por um candidato escolhido por Bolsonaro, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), e outro protegido de Lula, Fernando Haddad (PT).

Eles deixaram o PSDB, que governou São Paulo por quase três décadas, fora da disputa final. Terceiro colocado, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) declarou apoio à dupla bolsonarista e foi amplamente criticado por integrantes de seu partido.

Seja como for, passa por isso a manutenção de espaços na máquina pública, que soma 19 mil cargos de confiança no estado, por membros da base de apoio de Rodrigo. E um lugar no bonde do conservadorismo paulista, que até aqui sempre deu as cartas na política local, caso Tarcísio vença.

O instituto ouviu 2.912 pessoas em 181 municípios de segunda (17) a esta quarta (18), em um levantamento encomendado pela Folha e pela TV Globo que está registrado sob o código BR-07340/2022 no Tribunal Superior Eleitoral. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

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