Delcídio mete medo - ISTOÉ
Conhecedor das entranhas da Petrobras, o senador detido há três semanas em uma saleta da Polícia Federal decidiu que vai fazer uma delação premiada e pode envolver Dilma no escândalo de Pasadena
Marcelo Rocha
Na terça-feira 8, Brasília ainda ardia com os detalhes da carta que Michel Temer enviara à presidente Dilma Rousseff na noite anterior, quando o advogado Antonio Bastos cruzou os portões da sede da Polícia Federal na capital da República. Defensor de personagens chaves do maior escândalo de corrupção que já veio à tona no País, como o doleiro Alberto Youssef e o empresário Ricardo Pessoa, Bastos foi à PF visitar o mais novo e ilustre encarcerado da Operação Lava Jato. Por mais de uma hora o advogado teve uma conversa dura e franca com o ainda senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, acusado de tentar sabotar a Lava Jato com um mirabolante plano para tirar do País o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. Preso há três semanas em uma sala improvisada na sede da PF, Delcídio capitulou. Decidiu fazer uma delação premiada e escolheu Antônio Bastos como seu estrategista para convencer o Supremo Tribunal Federal a aceitar uma redução de pena com base no que ele tem a contar.
CONSELHOS Delcídio contratou o mesmo advogado que negociou as delações de Alberto Youssef e Ricardo Pessoa
A informação de que Delcídio decidiu jogar a toalha causou calafrios em gente graúda no Planalto. E a razão disso não é exatamente porque se trata de um ex-líder do governo no Senado, com trânsito livre com Dilma Rousseff e a cúpula do governo. Os temores, bastante justificáveis, encontram lastro na vasta experiência que Delcídio acumulou na própria Petrobras e seu papel protagonista em alguns dos negócios mais cabeludos envolvendo a estatal nas últimas décadas. Delcídio tem muito a contar.
O fantasma das contas eleitorais ISTOÉ
Enquanto governo e oposição se digladiam no Congresso pelo avanço no processo de impeachment, o TSE acelera as investigações que podem levar à cassação dos mandatos de Dilma e Temer
Marcelo Rocha / ISTOÉ
Na última semana o Brasil parou para acompanhar o caos que se instalou na Câmara dos Deputados por conta do vai e vem na abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e das tramóias criadas por Eduardo Cunha para se manter no poder. Enquanto nobres parlamentares trocavam tapas, acusações e se esmeravam em destruir urnas eletrônicas, o Tribunal Superior Eleitoral acelerou ainda mais os processos que apuram irregularidades na campanha de reeleição de Dilma e que podem, em última instância, cassar não só o mandato da presidente, mas também do vice Michel Temer.
VOTO DE MINERVA O ministro Dias Toffoli, presidente do TSE, comandará o andamento dos processos que podem tirar Dilma e Temer do poder
Hoje são cinco os procedimentos instaurados no TSE que podem, a depender de uma decisão do Tribunal, tornar-se um só processo. Nas últimas semanas as investigações avançaram com mais rapidez após a Corregedora-Geral Eleitoral, ministra Maria Thereza de Assis Moura, receber um vasto volume de informações que foram levantados pela força tarefa da Operação Lava Jato. Em diferentes depoimentos e delações premiadas há denúncias e citações de que recursos desviados da Petrobras e de empreiteiras que tinham contrato com a estatal foram parar no caixa de campanha do PT.
Na rua ou em casa vendo TV, você decide
Teodiceia é a parte da teologia que investiga as origens do mal. Trata, portanto, de perguntas que angustiam o ser humano desde tempos imemoriais.
No Brasil, essa disciplina teológica tem milhões de cultores – e não sem razão. Por que nosso país se desenvolveu muito menos do que poderia e permanece impotente para erradicar sua imensa chaga de pobreza? Por que temos uma multidão de analfabetos funcionais e um sistema educacional vergonhoso? Como pudemos chegar a índices absolutamente espantosos de corrupção e criminalidade violenta?
Durante séculos, centenas de eruditos escritores, ensaístas e antropólogos perscrutaram nossa História em busca das raízes profundas de nossos males. Sem pendor para inquirições tão abrangentes, tentarei examinar a questão em função do momento imediato. A questão, agora, é que o enorme estoque de maldições que a História nos legou entrou numa trajetória de acelerado crescimento. Podemos afirmar sem temor a erro que o futuro da próxima geração será rapidamente destruído se nada for feito para reverter tal processo. A raiz desse mal específico está à vista de todos: um governo grotescamente incompetente, prepotente e sem rumo. As alternativas ao nosso alcance são, pois, meridianamente claras: ou o impeachment, para que um novo governo se possa organizar sobre os escombros do atual, ou deixar o País por mais três anos nas mãos de Dilma Rousseff e de tudo o que ela representa.
PSDB cumpre seu papel
O que se espera de um partido de oposição é que esteja permanentemente disposto e preparado para, coerente com sua própria linha programática, posicionar-se claramente como contraponto aos detentores do poder. O que não impede, é claro, que, quando assim determinar o interesse nacional, eventualmente apoie o governo. Mas fazer oposição não é fácil. O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), por exemplo, desde que deixou o poder se tem debatido com grande dificuldade para sintonizar suas principais lideranças em torno de questões vitais, o que resulta frequentemente – talvez para evitar a exposição das contradições internas – em ambiguidades e omissões que acabaram custando aos tucanos a má reputação de estarem sempre em cima do muro. Estava mais do que na hora, portanto, de o PSDB se posicionar claramente sobre o tema mais relevante da pauta política: o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na quinta-feira passada, a direção do partido fechou questão a favor do afastamento da chefe do governo.
A gravidade das pedaladas de DILMA
A presidente Dilma Rousseff aproveita qualquer oportunidade que surge para minimizar a gravidade das pedaladas fiscais. Na quarta-feira passada, durante cerimônia em Boa Vista (Roraima) de entrega de casas do programa Minha Casa, Minha Vida, a presidente voltou ao tema, tratando-o como se fosse uma questão formal. Em dilmês castiço, disse: “É por conta que nós fomos capazes de fazer o maior programa habitacional da história que nós hoje somos responsabilizados (...) é uma ação porque eles discordam da forma pela qual nós contabilizamos o gasto”.
Mais uma vez a presidente Dilma usava a retórica do conflito – “nós” contra “eles” – para desviar a atenção do que realmente está em jogo. Não está em julgamento uma opção política, e muito menos uma simples questão contábil – “a forma pela qual contabilizamos o gasto”. O que está em juízo é se Dilma cumpriu ou não a lei. Mas isso a presidente tem dificuldade de entender. Em Roraima, chegou a dizer que “não há nenhum delito, nenhum crime apontado contra nós”.
PSDB: base do impeachment é a 'voz de milhões de brasileiros'
Partido presidido pelo senador Aécio Neves (MG) disse em nota à imprensa nesta tarde que a base do impeachment "não está um partido político, mas a voz de milhões de brasileiros"; declaração foi em resposta à fala da presidente Dilma Rousseff, que afirmou a jornalistas que a base do impeachment "é e sempre foi" o PSDB; apoiador do golpe contra a democracia, o partido tucano destaca o fato do jurista Hélio Bicudo, um dos autores do pedido de impeachment, ser um dos fundadores do PT e diz que o pedido – "ao contrário do que o PT fez no passado, ao propor o impeachment dos ex-presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso" - tem fundamento. PORTAL 247