Asfalto morno indica que a raiva exige previsão

Protestos de 13 de dezembro pelo país35 fotos
13.dez.2015 - Manifestantes carregam um caixão com uma bandeira do Partido dos Trabalhadores (PT) e foto de Dilma Rousseff em apoio ao impeachment da presidente, em Brasília Leia mais Dida Sampaio/Estadão Conteúdo. Os brasileiros contra o governo, hoje majoritários, já informaram o que não querem: Dilma e o PT no poder. Se o impedimento for decretado pelo Congresso, assume o vice. É do jogo. Mas o que vem junto com Michel Temer?
O pacote do vice inclui Eduardo Cunha? E quanto ao resto da banda apodrecida do condomínio? O PSDB unificou-se em torno do impeachment. Beleza. Mas ajudará a resolver os problemas ou lavará as mãos no dia seguinte? As pesquisas informam que a sociedade continua irritada. E o asfalto esclarece que a raiva exige um mínimo de previsão. Ao longo de 2015, os poderosos da nação revelaram que não estão entendendo o que se passa. Dilma desperdiçou a sua hora atacando os delatores da Lava Jato, terceirizando o governo ao Lula e culpando a conjuntura internacional pela crise econômica. Quem levou madame para uma taxa de aprovação de 10% foi ela mesma. Os adversários de Dilma perderam o nexo ao imaginar que a aliança com Eduardo Cunha os levaria a algum lugar. Ao exagerar no cinismo, os antagonistas da presidente comportaram-se como crianças que brincam no barro depois do banho. Hoje, Cunha frequenta os protestos ao lado do boneco de Lula-Pixuleko e Dilma-Pinóquia.
De tanto observar o absurdo, o brasileiro vai adquirindo certa prática. A raiva exige alguma previsão justamente por saber que o Brasil deixou de ser um país imprevisível. Tornou-se uma nação tristemente previsível. Nela, costuma-se mudar o status sem mexer no quo. JOSIAS DE SOUZA
Movimento dos Sem-Tetas Estatais consegue levar milhares às ruas
Chega a ser patético. Vejo alguns “analistas” — afetando grande seriedade, como se tivessem tido um trabalho hercúleo — vindo a público para anunciar que o Planalto avalia que as mobilizações deste domingo foram um insucesso. Que bom! Prefiro que o Planalto realmente acredite que o pior pra eles — e o melhor para o Brasil — já passou. Estou convencido do contrário: acho que o melhor para o país ainda virá. E, por óbvio, para “eles”, o pior. Qualquer que fosse o número que não superior ao já alcançado seria lido como evidência de insucesso. O governo está na dele em espalhar essa versão. Vergonhoso é que a imprensa a reproduza como se fosse apenas bom senso e ponto de vista neutro. O MBL, o Vem Pra Rua, o Revoltados Online e outros movimentos tiveram pouco mais de uma semana para organizar a manifestação. Ao contrário do que anunciam alguns boquirrotos, o que se tem é uma evidência de sucesso.
Na quarta-feira, a CUT manda para a rua os seus aparelhos financiados com imposto sindical. Na quarta-feira, o MTST, que recebe verba oficial, despacha seus milicianos para o protesto a favor. Na quarta-feira, o MST, que também se alimenta com o leite de pata do estado, mobiliza os seus fanáticos. Na quarta-feira, até a extinta UNE ressuscita alguns cadáveres, também com grana pública, para fazer figuração. Os movimentos pró-impeachment só contam com o povo. Os movimentos pró-impeachment só contam com os sem-teta! REINALDO AZEVEDO
Milhares nas ruas; violência zero
Mais uma vez, milhares de pessoas se reúnem para pedir o impeachment de Dilma Rousseff em pelo menos 100 cidades Brasil afora. E, de novo, registro aqui o que já nem deveria ser notícia: não houve um só incidente, um único ato de violência, nada. A agressão máxima de que se tem notícia é uma repórter chamando um dirigente do MBL de “otário”. Onde quer que me chamem para falar, tenho chamado atenção para isto: um país novo está nascendo. Ou melhor: já nasceu.
E esse país não aceita pagar por aquilo que a Constituição nos dá de graça! Ou melhor: por aquilo que nos deu a luta de todos os brasileiros.
Não ousem deter a marcha dos pacíficos! REINALDO AZEVEDO
Lideranças pró-impeachment passam a ser alvos do bullying de alguns jornalistas
O pior cego, reza o ditado, é aquele que não quer ver. Era até este domingo. A partir de ontem, o pior cego é o que mente sobre aquilo que vê — e sobre o que não vê — para atender a uma ideologia, a um preconceito, a uma causa ou, pura e simplesmente, à metafísica influente burra e militante dos botecos onde se aprende que ser de esquerda é uma virtude — ou vá lá, endossar ao menos os valores de esquerda. Apesar de amplos setores da imprensa — e não que estes devessem ajudar, porque não é o seu papel —, o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua, em parceria com outros grupos pró-impeachment, mostraram ser possível levar perto de 100 mil brasileiros às ruas com uma semana, uma semaninha só, de mobilização.
E eles não têm aparelhos sindicais financiados com dinheiro público. E eles não têm movimento estudantil financiado com dinheiro público. E eles não têm milícias fascistoides financiadas com dinheiro público, a exemplo de MST e MTST. O Planalto diga o que quiser: sabe que os milhares deste domingo são muitos milhões. São dois terços, no mínimo, da população. No dia 16, as esquerdas vão para as ruas, sob a proteção subserviente desses mesmos setores da imprensa. O governo sabe que o barulho que farão será muito maior do que a sua real representatividade. O Brasil vê mais longe. Em síntese: o país que quer Dilma fora é maior do que vê. O Brasil que quer Dilma dentro é menor do que vê.
Esperando o japonês
Quando voltava da padaria, empurrando a bicicleta, fui abordado, de forma simpática, por um leitor. Por que escrevia apenas sobre Dilma e o governo? Não é um simpatizante do PT, muito menos de Dilma. Mas fixar-se nisto, de uma certa forma, reduz o vasto horizonte cultural, disse. Respondi que concordava com ele. Mas, no momento, não conseguia me esquecer da crise em que nos metemos. No caminho de casa, pensei: poderia estar escrevendo sobre Clarice Lispector, Frida Kahlo ou mesmo Simone de Beauvoir. Para ficar apenas nas que voltaram à evidência.
Clarice foi uma das admirações literárias da juventude, e agora seus contos são reconhecidos nos Estados Unidos. Frida Kahlo, cuja casa, transformada em museu, na Cidade do México, tornou-se um ícone popular. E a velha Simone reapareceu no vestibular do Enem. Hoje tenho algumas divergências. Mas seu livro “O segundo sexo” inspirou um artigo que publiquei no “JB”, na década dos 1960, com título “Amélia não era mulher de verdade”. Isso posso deixar para o próximo Enem.
Falar do Brasil e da crise tem prioridade para mim. Dilma, o leitor que me desculpe citá-la de novo, é presidente. É impossível ignorá-la, nesse momento. Felizmente, outros colunistas escrevem sobre a cultura mais ampla. Isso me enriquece como leitor. Pessoalmente, no entanto, não consegui achar a porta de saída da política.
Papa Francisco perdoa Padre Cícero
O bispo da diocese de Crato, no Ceará, dom Fernando Panico, divulgou neste domingo (13), que o Padre Cícero foi perdoado pelo Vaticano das punições impostas pela igreja Católica entre 1892 a 1916; a reconciliação é um passo definitivo para a reabilitação de padre Cícero na Igreja Católica; segundo a carta, assinada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, “a presente mensagem foi redigida por expressa vontade de Sua Santidade o Papa Francisco, na esperança de que Vossa Excelência Reverendíssima não deixará de apresentar à sua Diocese e aos romeiros do Padre Cícero a autêntica interpretação da mesma, procurando por todos os meios apoiar e promover a unidade de todos na mais autentica comunhão eclesial e na dinâmica de uma evangelização que dê sempre e de maneira explicita o lugar central a Cristo, principio e meta da História” PORTAL 247 / CE