Bolsonaro afirma que foco da Previdência é União: 'se forçar a barra, pode não aprovar nada'
14 de junho de 2019 | 13h21
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira, 14, que o foco do governo é garantir no Congresso a economia para a União com a reforma da Previdência e que, se for possível incluir Estados e municípios no texto, "melhor". Segundo o presidente, se "forçar a barra", há risco de "não se aprovar nada".
Desastre, o destaque do Brasil
14 de junho de 2019 | 03h00
Com 13,2 milhões de desempregados, ou 12,5% da população ativa, o Brasil se destaca na cena mundial pelo enorme custo social de uma recessão iniciada há quatro anos, mal superada e ainda presente, como assombração, no dia a dia da maior parte das famílias. Filas de pessoas em busca de uma vaga, comuns no dia a dia das cidades brasileiras, são um dos símbolos mais dramáticos de uma crise ainda sem perspectiva de rápida solução. São também, além disso, uma das diferenças mais impressionantes entre a situação do País e a dos países emergentes e desenvolvidos. A economia global tem perdido impulso, mas, ainda assim, o desemprego brasileiro é maior que o de quase todos os países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nesse conjunto, formado por 36 associados, o desemprego médio em abril ficou em 5,2% da força de trabalho, menos de metade da taxa nacional registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em março e abril, só três desses países tiveram desemprego maior que o do Brasil. Não por acaso, são três das economias mais atingidas pela crise financeira iniciada em 2007-2008 e por gravíssimos problemas fiscais. Na Grécia, havia 18,1% de desocupados em março, pelos últimos dados da OCDE. Na Turquia, ainda em março, 13,6%. Na Espanha, em abril, 13,8%. Em 23 países do grupo, os últimos dados indicaram desocupação inferior a 6%. Alguns exemplos: Estados Unidos (3,6%), Holanda (3,3%), Israel (3,8%), México (3,5%), Alemanha (3,2%), Coreia (4,1%) e Canadá (5,7%), entre outros.
A reforma e seus inimigos
14 de junho de 2019 | 03h00
Muito ainda se falará sobre o relatório da reforma da Previdência, lido ontem na Comissão Especial da Câmara. Lá estão as linhas gerais do que poderá ser encaminhado para votação, no Congresso, com vista a mudar o sistema de aposentadorias, cujo déficit crescente consome grande parte do Orçamento federal, o que ameaça inviabilizar em breve o próprio funcionamento do Estado. Agora que a reforma começa a tomar forma, poderá ser discutida em todas as instâncias democráticas, nas quais sofrerá as mudanças que os representantes eleitos diretamente pelos cidadãos julgarem necessárias.
Enquanto isso, os inconformados com a democracia se preparam para fazer o que melhor sabem: em lugar de encaminhar suas reivindicações pelos meios próprios da política institucional, preferem apelar para a bagunça.
Se a reforma não incluir os estados, eles quebram
Administrando o Rio Grande do Sul aos 34 anos, Eduardo Leite é o governador mais jovem do Brasil. A precocidade vem de longe. Aos 28 anos, elegeu-se prefeito de sua cidade natal, Pelotas, onde foi também vereador. Tomou gosto pela política ainda aos 16 anos, quando filiou-se ao PSDB, partido do qual é hoje um dos expoentes. À frente de um estado praticamente falido, com déficit previdenciário de R$ 12 bilhões, rombo que cresce ao ritmo de R$ 1 bilhão por ano, Leite tem se colocado ao lado dos demais governadores no apoio à Reforma da Previdência. Ele luta para que os estados não fiquem de fora da mudança, pois, se isso acontecer, muitos quebrarão. Ele diz que apoia a agenda reformista de Bolsonaro, mas não as iniciativas do governo nas questões de costumes. É crítico quanto ao armamento da população e contesta as medidas que afrouxam as regras de trânsito, mas isso não quer dizer que faça oposição ao presidente. O governo, segundo ele, deveria ter como foco a recuperação da economia e não se concentrar em questões de menor importância, como vem fazendo até aqui. “O que anima é que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem mantido o foco no que é essencial”.
O partido da intriga
Fundado em 1994, o PSL sempre foi visto como um partido de aluguel. Uma sigla cujos princípios ideológicos nunca foram claros. Até o nome da agremiação é confuso: Partido Social Liberal, juntando doutrinas filosoficamente distintas. Nos bastidores da Câmara, é visto como feudo partidário do seu fundador e hoje presidente, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE). A questão é que, depois do pleito de 2018 que elegeu Jair Bolsonaro, o partido tornou-se a segunda maior bancada, com 54 deputados, ganhou musculatura política, mas passou a se ressentir da falta de unidade. Hoje, encontra-se completamente desorganizado, imerso em disputas internas, com acusações de desvios e desmandos, e até troca de ofensas e baixarias entre os parlamentares que o integram. Crises que têm prejudicado a governabilidade. A mais recente instabilidade ocorreu por conta de irregularidades cometidas por Bivar, que teria comprado notas frias para justificar seus gastos de campanha junto ao TSE. O episódio deixou o presidente Bolsonaro transtornado, por entender que as práticas pouco republicanas do presidente de seu partido podem respingar no governo. Afinal, Bolsonaro foi eleito pregando a lisura na política.
Institucionalismo de coalizão
Quem vai para a rua criticar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal exerce o legítimo direito de manifestação. Mas defender o fechamento de ambos é um contrassenso típico de quem não imagina o que é viver em um regime que suprime os poderes ou os têm apenas como peça de decoração política.
Nosso Executivo e nossa imprensa não são os ideais. Estamos ainda em processo de construção de uma democracia e todos os nossos poderes apresentam distorções relacionadas à formação de uma nação. Porém, mesmo não sendo ideais, são imprescindíveis. Sem eles seríamos uma imensa Cuba, país em que as instituições existem apenas para sancionar decisões de um grupo ditatorial.