A força do Congresso - FHC / ISTOÉ
Aos 88 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vê o atual momento da pandemia do coronavírus com apreensão. Não apenas pelo temor de contrair o vírus, pois vem se mantendo trancado em seu apartamento tendo apenas a companhia da mulher, Patrícia, e respeitando todas as recomendações do isolamento total propostas pelas autoridades sanitárias. O que o está deixando intranquilo é a insistência de Jair Bolsonaro em demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na tentativa de forçá-lo a relaxar a quarentena. Segundo FHC, isso seria temerário: “Não se tira da linha de frente o general que está comandando a guerra”. Mas o que mais o está preocupando, a ponto de abandonar sua postura normalmente moderada, é o futuro político do Brasil. Nessa entrevista exclusiva à ISTOÉ, ele subiu o tom contra Bolsonaro, diz que ele não sabe governar e que está ficando sozinho, sem apoio do Congresso, do Judiciário, da mídia e da sociedade: “O Brasil está à deriva”. FHC lembrou que “todos os presidentes que desprezaram o Congresso acabaram caindo”.
O que o senhor achou do episódio da fritura do ministro da Saúde?
Achei temerário o que o presidente fez. Nesse momento, tirar da linha de frente o general que está comandando a guerra, me parece perigoso. Nós tínhamos um sistema de presidencialismo de coalizão. Isso já foi. Agora, tem que ser um presidencialismo compartilhado, com a sociedade, com a mídia, com o Congresso, com o Judiciário, com os governadores.
‘Eu teria cortado a cabeça dele’, diz Onyx sobre Mandetta
O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) discutiram, na manhã desta quinta-feira, 9, a saída do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em conversa divulgada pela CNN Brasil, Onyx diz que não fala com Mandetta há dois meses e que, se estivesse na cadeira do presidente Jair Bolsonaro, teria “cortado a cabeça” dele após a reunião no Palácio do Planalto na segunda, 6.
No diálogo, Terra se propõe a ajudar na saída do ministro da Saúde. O deputado, que também é médico, defende a flexibilização do isolamento social e o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, mesmo ainda sem pesquisas conclusivas sobre a eficácia e efeitos coletarias do medicamento. Por se tornar uma voz contrária a Mandetta e alinhado ao que deseja o presidente, Terra passou a ser cotado para chefia a Saúde.
A conversa indica que, apesar dos esforços da ala militar para estabelecer uma trégua entre Bolsonaro e Mandetta, a fritura do ministro da Saúde segue em alta nos bastidores por seus pares e auxiliares do presidente alinhados à ala ideológica.
De acordo com o trecho da conversa divulgado pela CNN, Onyx elogia Terra por fazer um contraponto a Mandetta. “Ele (Mandetta) não tem compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo”, diz o ministro da Cidadania. O deputado responde dizendo que Mandetta “se acha.”
“Eu acho que (Bolsonaro) deveria ter arcado (com as consequências de uma demissão)…”, diz Onyx, segundo o trecho transcrito pela CNN. Terra, então, diz que “o ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro”.
“Uma coisa como o discurso da quarentena permite tudo. Se eu tivesse na cadeira… O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele…”, diz Onyx.
Em resposta, o deputado chama a atenção para a fala do ministro da Saúde após a reunião de segunda-feira. Em declaração à imprensa, sem o aval do Planalto, Mandetta, aplaudido por técnicos, anunciou que seguiria no cargo e pediu paz para trabalhar. Em sua fala, porém, deu vários recados. Reafirmou que as orientações de governadores sobre isolamento devem ser seguidas e citou o “Mito da Caverna”, texto de Platão, que discute o conflito entre a ignorância e o conhecimento.
“Eu fui ler O Mito da Caverna, que é um dos diálogos de Platão que eu tinha lido aos 14 anos pela primeira vez e já li umas 20 vezes até e até hoje não consigo entender. Continuei sem entender”, disse o ministro aos jornalistas.
Sobre as declarações de Mandetta, Onyx comentou: “Ali para mim foi a pá de cal. Eu já não falo com ele há dois meses. Aí acho que é xadrez. Se ele sai vai acabar indo para a secretaria do Doria”, disse referindo-se ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Segundo o trecho divulgado pela CNN, Terra responde dizendo que ajuda e que ele não precisa ser indicado o substituto de Mandetta. “Eu ajudo Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser.”
Onyx Lorenzoni e Osmar Terra foram procurados pela reportagem, mas, por meio de suas assessorias, alegaram se tratar de uma conversa particular e não se manifestaram sobre o diálogo.
No final da tarde desta quinta, havia a previsão de Mandetta participar da entrevista coletiva no Planalto sobre os dados da pandemia do coronavírus no País, como vem sendo feito nos últimos dias. Logo após a divulgação da conversa, a participação do ministro foi cancelada. ISTOÉ
Bolsonaro: “O médico não abandona o paciente, mas o paciente troca de médico”
O presidente Jair Bolsonaro usou da analogia do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para sinalizar que ainda estuda a permanência do auxiliar à frente da pasta, após os atritos que ambos tiveram sobre as orientações para isolamento social. “O médico não abandona o paciente, mas o paciente pode trocar de médico”, disse Bolsonaro.
No início da semana, Mandetta havia respondido, sobre a possibilidade dele próprio pedir para deixar o cargo, que “o médico não abandona o paciente”.
Nesta tarde vieram a tona conversas entre o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e o antigo ocupante do cargo, o atual deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), conspirando pela saída de Mandetta. Bolsonaro, em transmissão ao vivo pela internet, havia dito que “quem está esperando eu falar do Mandetta, do Onyx e do Osmar pode pular para outra live. Não vai ter esse assunto aqui”. ISTOÉ
Bolsonaro abraça pessoas e posa para fotos em padaria de Brasília
Por Pedro Henrique Gomes, G1 — Brasília
O presidente Jair Bolsonaro abraçou pessoas e posou para fotos nesta quinta-feira (9) em uma padaria de Brasília.
Bolsonaro visitou o comércio no final da tarde desta quinta-feira (9), após deixar o Palácio do Planalto, depois do expediente.
Uma aglomeração se formou em frente ao estabelecimento com a presença do presidente. A recomendação do Ministério da Saúde é permanecer em casa e evitar aglomerações, como forma de não facilitar a transmissão do coronavírus. A assessoria do Palácio do Planalto informou que não comentará.
No último dia 29, um domingo, o presidente já tinha feito um passeio por Brasília. Na ocasião, conversou com vendedores ambulantes, fez fotos, foi a uma farmácia e também a uma padaria.
Padarias de Brasília estão autorizadas a abrir as portas durante a pandemia por um decreto do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Costureiras de Heliópolis ganham emprego temporário ao produzir máscaras de pano para os moradores
"O mais gratificante para mim é saber que além de ajudar a minha família, eu também estou ajudando outras pessoas".
É o que Maria Paulina sente, ao lado de outras 63 mulheres, ao fazer parte do projeto "Heróis Usam Máscaras" em Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo.
- Heliópolis é uma comunidade de São Paulo criada na década de 1970;
- O local tem hoje cerca de 200 mil habitantes
Na última quarta-feira (1º), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que máscaras simples, feitas em casa, devem ser usadas por qualquer pessoa como forma de diminuir o risco de contaminação por coronavírus. E reforçou que as cirúrgicas, já em falta, devem ser exclusivas dos hospitais.
Após o pronunciamento, a procura pelas máscaras aumentou ainda mais. Por conta disso, uma parceria entre o Instituto Bei, União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (Unas) e o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS), responsável pela administração das Etecs de São Paulo, iniciou a produção em massa de máscaras de pano para distribuir para a população de Heliópolis.
Produção das máscaras de pano dentro da carreta — Foto: Deslange Paiva/ G1
O projeto, com apoio de instituições privadas e do governo estadual, contratou 64 costureiras que moram no bairro para trabalhar 8 horas por dia de forma remunerada, 50 delas em regime de home office. O restante, que não tem máquinas de costura para trabalhar em casa, está exercendo a função em uma carreta estacionada na Etec Heliópolis.
Adesão à quarentena cai, e Doria ameaça prender quem desrespeitar regras
Sistemas que monitoram aglomerações e deslocamentos indicam que mais brasileiros saíram às ruas nos últimos dias, marcados pela pressão do presidente da República e de parte das empresas por um afrouxamento nas restrições ao funcionamento de comércio e escolas. Com isso, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que poderá ordenar a prisão de quem não obedecer à quarentena.
"Se não houver neste final de semana consciência das pessoas, seja na capital de São Paulo ou em qualquer outra região neste fim de semana, nós estamos monitorando isso pelos celulares, a partir de segunda-feira o governo do estado de São Paulo tomará medidas mais rigorosas e mais duras, inclusive com a penalização de prisão para as pessoas que desobedecerem essa orientação", declarou Doria em entrevista ao SPTV, da Rede Globo.
Segundo ele, a movimentação deste fim de semana será avaliada e, se não atingir os parâmetros desejados —Doria espera obter ao menos 60% de abrangência da quarentena no estado, e nesta quinta-feira (9) o governo estadual afirmou ter aferido uma adesão de 49%—, medidas mais duras serão anunciadas a partir da próxima segunda (13), em conjunto com a prefeitura da capital.
"Eu espero sinceramente que nós não tenhamos que chegar a esse patamar, a esse nível, mas, se tivermos que fazer, vamos fazer em defesa da vida", afirmou. "Eu queria evitar isso", disse ainda o governador, acrescentando que "as pessoas precisam ter consciência da gravidade da situação em que nós estamos".
"Nós não estamos fazendo aqui um programa de férias para que você fique em casa, é um programa de preservação de vida."
A fim de evitar a disseminação do novo coronavírus, o contágio acelerado e o colapso dos sistemas de saúde, todos os 26 estados e o Distrito Federal suspenderam as aulas e a maior parte deles mandou fechar o comércio.
A medida provocou redução brusca na circulação de pessoas. A In Loco, empresa que usa uma base de dados de aplicativos que pedem acesso à geolocalização do usuário, chegou a identificar que 57,6% da população do país estava em isolamento no último dia 26.
Monitoramento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que analisa diariamente dados do aplicativo Waze, mostra que um dia depois, em 27 de março, o trânsito no país era 73% menor do que a média da primeira semana daquele mês.
Temendo o impacto na economia que a medida causaria, porém, empresários e até o presidente Jair Bolsonaro passaram a questionar as medidas do estados, defendendo que apenas a população do grupo de risco da Covid-19 (idosos e pessoas com outras doenças) fique isolada.
Prefeitos e alguns governadores, como o de Rondônia, passaram a readmitir a abertura dos comércios, e o Ministério da Saúde orientou que cidades que tiverem menos de 50% dos leitos médicos ocupados podem adotar regras mais brandas, isolando apenas grupos de risco e reabrindo comércio. Nesta quinta, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ofereceu apoio a prefeitos que queiram programar uma abertura controlada.
As discussões aparentemente provocaram impacto no isolamento da população. O monitoramento da In Loco mostrou que na última terça (7) mais da metade (50,4%) da população do país estava em casa.