Pesquisa Ipespe/Abrapel: Lula tem 44%, Bolsonaro 36%, Ciro Gomes 8% e Simone Tebet 5%
Por Matheus Piovesana / O ESTADO DE SP
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 44% das intenções de voto no primeiro turno das eleições de outubro e o presidente Jair Bolsonaro (PL) 36%, de acordo com pesquisa Ipespe divulgada neste sábado, 10.
A diferença entre os dois candidatos caiu para 8 pontos porcentuais. Na pesquisa anterior, divulgada pelo Ipespe na semana passada, a vantagem de Lula era de 9 pontos.
Em relação ao levantamento anterior, divulgado no dia 3, Bolsonaro oscilou 1 ponto porcentual para cima, dentro da margem de erro. Lula manteve o mesmo índice. Na pesquisa espontânea, em que os nomes dos candidatos não são apresentados previamente pelo pesquisador, Lula tem 40% das intenções de voto, e Bolsonaro, 34%.
No levantamento estimulado, o candidato do PDT, Ciro Gomes, tem 8% das intenções de voto. Simone Tebet (MDB) vem em seguida, com 5%. Em relação à pesquisa anterior, Ciro oscilou 1 ponto porcentual para baixo, e Tebet ficou estável.
O Ipespe testou ainda um cenário de segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Neste caso, o ex-presidente tem 52% das intenções de voto, contra 39% de Bolsonaro. Lula oscilou um ponto para baixo, enquanto Bolsonaro oscilou um ponto para cima. Em ambos os casos, a variação se deu dentro da margem de erro.
A pesquisa Ipespe consultou 1.100 eleitores de todo o País por telefone entre os dias 7 e 9 de setembro. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. O código de registro na Justiça Eleitoral é BR-07606/2022. O levantamento foi contratado pela Associação Brasileira dos Pesquisadores Eleitorais (Abrapel).
O TSE acertou ao proibir celular na cabine de votação? NÃO
João Daniel Silva
A OFENSIVA NO LIMITE
William Waack / FOLHA DE SP
No jargão militar a palavra “culminar” significa atingir o ponto máximo, mas sem ter alcançado o objetivo. Nesse sentido, o que aconteceu no 7 de Setembro foi um sinal de que a atual ofensiva de Jair Bolsonaro culminou.
A demonstração de força gerou as pretendidas imagens de nutrido apoio. E a sensação, entre apoiadores de Bolsonaro, de que as pesquisas “mentem”. Como não acreditar que está com a reeleição garantida, se foi capaz de colocar tanta gente na rua?
Manifestações dessa magnitude ajudariam, teoricamente, a virar um jogo eleitoral até aqui desfavorável para Bolsonaro. O problema é a distância em que ele se encontra de um ponto de inflexão em relação a Lula.
Essa distância está bastante clara em dois números. O primeiro é a taxa de rejeição. Nunca antes neste País alguém se elegeu com uma taxa de rejeição como a de Bolsonaro (a de Lula é mais baixa). E que teima em permanecer alta. Seus apoiadores podem se perguntar como é possível, olhando em volta, acreditar numa taxa de rejeição tão alta. O problema para eles é que, olhando em volta, só enxergam outros apoiadores.
O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, durante o desfile cívico-militar do Bicentenário da Independência, em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão - 7/9/2022
O segundo número é igualmente eloquente. É pequena a distância que separa a intenção de voto estimulada da intenção de voto espontânea, tanto para Lula como para Bolsonaro. Séries históricas confiáveis demonstram que ambos estão bem próximos de seus respectivos “tetos” de votos. O “teto” é atingido quando é pequena a distância entre o voto espontâneo e o estimulado.
Ou seja, chegaram até onde dava, e não existe muito espaço para Lula e Bolsonaro alterarem o que as pesquisas dizem que eles possuem hoje. Ocorre que é grande a vantagem do “teto” de Lula em relação ao “teto” de Bolsonaro. Essa vantagem tem variado (nos últimos tempos em favor de Bolsonaro), mas se manteve sólida nos últimos 12 meses.
Portanto, para ser o “evento decisivo” numa corrida eleitoral, a mobilização do 7 de Setembro em favor de Bolsonaro teria de conseguir alterar o quadro mais geral. É a persistente liderança de Lula nas camadas mais pobres, inclusive no Sul e Sudeste. Dependendo da base de dados que se utiliza, essa faixa supera a metade do eleitorado – e é justamente a faixa menos envolvida ou “arrebatada” nos embates político-eleitorais.
E a mais suscetível ao custo de vida e bondades do governo, algo que até aqui não funcionou (pelo menos não na proporção esperada) em favor de Bolsonaro. As ferramentas da ofensiva já foram todas colocadas em campo: ajuda emergencial, uso da máquina pública, maciça barragem de artilharia de propaganda e, culminando no 7 de Setembro, a grande mobilização de rua.
A esperança agora é o tempo até o segundo turno.
BOLSONARO JOGOU AS REDES E COLHEU O SETE DE SETEMBRO, BICENTENÁRIO E TODA A MIDIA
Eliane Cantanhêde / O ESTADÃO
O presidente Jair Bolsonaro não só implodiu a Constituição e as leis, sequestrou o 7 de Setembro e o bicentenário da Independência do Brasil e pôs a estrutura, os recursos, os funcionários públicos e as Forças Armadas a serviço da reeleição como também capturou toda a mídia nacional e os jornalistas com a armadilha da “princesa” e o “imbrochável”.
Não há uma só referência do presidente ao Dia da Pátria e à Independência na quarta-feira, em que rádios, televisões, internet e nós, editores, comentaristas, colunistas, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas demos ao candidato Bolsonaro uma exposição que nenhum de seus concorrentes terá em toda a campanha, na cobertura e na propaganda eleitoral.
As cartas foram embaralhadas neste 7 de Setembro, Bolsonaro deu sua última cartada e a oposição se assustou e entra com ações na Justiça que não darão em nada, só em mais propaganda para ele. Foto: André Borges/AFP
“Trending topics” do Twitter e citado até no The New York Times, o “imbrochável”, difícil de traduzir, foi o sucesso do Dia da Pátria. Tão abjeto quanto o presidente comparar sua mulher e a dos adversários e convocar solteiros a casar com “princesas”. Ou quanto o então presidente Lula se referir-se ao “ponto G” feminino numa entrevista com o americano George W. Bush em São Paulo. Isso tudo diminui homens, mulheres e o País.
Tal como na facada de 2018, o País, a mídia e os candidatos foram todos abduzidos pela campanha de Bolsonaro, principalmente em Brasília, sem os presidentes dos Poderes, e na icônica Copacabana, embalada pela Esquadrilha da Fumaça da FAB, por navios da Marinha brasileira e das armadas de países aliados e tiros de canhão do Exército. Não foi só o general Eduardo Pazuello, foram as Forças Armadas num comício. Mil anos de sigilo?
Depois da implosão da compostura, do desmanche de ambiente, saúde, educação, cultura, relações externas, lei eleitoral, do teto de gastos e da responsabilidade fiscal, do uso de militares, PGR, Câmara, PF, Receita e Coaf a favor dele, filhos e aliados... Não sobra pedra sobre pedra.
E nós? Nós vamos assistindo a tudo, esperando a próxima pesquisa, a próxima agonia, a próxima “gripezinha” que matou 680 mil brasileiros e a nova “cartinha” em defesa da democracia, temendo que o presidente, se reeleito, “extirpe” os adversários e nos enquadre a todos nas “quatro linhas da Constituição” – a dele – e o “povo” – o dele – armado, crente em mitos e fake news.
As cartas foram embaralhadas neste 7 de Setembro, Bolsonaro deu sua última cartada e a oposição se assustou e entra com ações na Justiça que não darão em nada, só em mais propaganda para ele. Não custa lembrar, porém, que o “Datapovo” bolsonarista só olha para as redes amigas e militantes de comício. O “povo” é muito, muito maior do que isso. Que venham as reais pesquisas!
Leilão pelo voto dos pobres
10 de setembro de 2022 | 03h00
Em uma das edições do programa eleitoral veiculada nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro se comprometeu a viabilizar um pagamento adicional de R$ 200 aos beneficiários do Auxílio Brasil que arrumarem emprego. “Os mais de 20 milhões de brasileiros que recebem Auxílio Brasil de no mínimo R$ 600 agora receberão mais R$ 200 se começarem a trabalhar. Vai ser R$ 800 mais o salário do trabalho”, diz o locutor. A promessa é, evidentemente, inviável, mas nem por isso deve ser ignorada. Ela expõe uma tentativa de compra do voto da parcela mais vulnerável da população, revela uma visão absolutamente distorcida sobre a realidade vivenciada por essas pessoas e demonstra o quanto o governo subestima a inteligência da maioria da sociedade.
A proposta de Orçamento enviada pelo governo ao Congresso é pública. Nela, o Executivo admitiu oficialmente não haver recursos suficientes para manter o piso do Auxílio Brasil em R$ 600 no ano que vem e, por isso, fixou um valor médio de R$ 405,21. Não havendo verba disponível para R$ 600, tampouco haverá para R$ 800. Logo, é possível inferir que, quando Bolsonaro faz essa promessa, sua única intenção é superar o compromisso de seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Líder nas pesquisas de intenção de voto, sobretudo entre os eleitores de menor renda, Lula anunciou a intenção de incrementar o benefício social com o pagamento de um bônus de R$ 150 por criança de até seis anos de idade, um dos pilares do antigo Bolsa Família.
É sob essa lógica, semelhante à de um leilão a viva voz, que tem se pautado a atuação social do governo nos últimos anos. Ela foi inaugurada nas discussões do Auxílio Emergencial, no início da pandemia de covid-19. À época, o ministro da Economia, Paulo Guedes, propôs um pagamento de R$ 200, mas a Câmara dos Deputados considerou o valor insuficiente e o elevou a R$ 500. Foi somente depois disso que o governo contrapôs o valor de R$ 600 – não por uma genuína preocupação com os mais carentes, mas para impedir o Legislativo de ficar com os méritos do programa.
Superar um adversário político deveria passar longe dos objetivos de qualquer política pública consistente e orientada pelo combate à pobreza. Mas para um presidente beligerante e que se sustenta na base do conflito, essa talvez seja a única razão a justificar a generosa oferta bolsonarista. A contraposição fica ainda mais clara em outro trecho do programa eleitoral de Bolsonaro veiculado nesta semana. Nele, o locutor afirma que o bônus é um incentivo ao trabalho e faz críticas à política do petista, o Bolsa Família, que, segundo o programa, suspendia os pagamentos quando os beneficiários encontravam emprego. Ora, num programa social com foco, em um país com enormes desigualdades sociais e um orçamento apertado, a prioridade sempre deve ser atender os que mais precisam; manter a assistência a um beneficiário que tem condições de obter renda de outra forma é contraproducente e ineficaz.
Pagar um bônus para o beneficiário que encontrar trabalho, ademais, atesta uma leitura profundamente enviesada e determinista da realidade socioeconômica brasileira, segundo a qual o desemprego – e a pobreza, em última instância – é fruto de escolhas individuais, e não consequência de uma educação de péssima qualidade, da falta de políticas públicas para promover a qualificação profissional e da omissão do Estado em ofertar vagas em creches e em escolas de ensino integral. Quando um programa social tem entre as mulheres a maioria de chefes de família, esperar que elas tenham condições de assumir postos de trabalho formais sem proporcionar uma rede de apoio para suas crianças beira a ingenuidade. Ao contrário do que pensa Bolsonaro, a porta de saída para uma situação de miséria, muitas vezes, não está na empregabilidade dos adultos, mas na educação de seus filhos e no acesso às oportunidades que foram negadas às suas mães. As mulheres de baixa renda sabem disso e, pelo que dizem as pesquisas, não parecem dispostas a vender seu voto por migalhas.