O desperdício do capital inicial
Por Míriam Leitão / O GLOBO
A morte ou a vida. Em algumas áreas, só com uma categoria dramática assim se pode definir a travessia entre os dois mundos que o Brasil fez em um mês e meio. Pense nas crianças Yanomami, se achar que exagero. Pense na invasão da sede dos Três Poderes e no pacto democrático feito após o atentado. Pense que o Ibama hoje está no comando do combate ao crime ambiental, a Funai acolhe os indígenas, o Brasil restabeleceu o diálogo com o mundo. Por tudo o que mudou, o ruído econômico soa mais estridente. O mesmo governo que faz um resgate do país em tantas áreas cria brigas desnecessárias e prejudiciais na economia.
O inimigo não é a autonomia do Banco Central, não é a meta de inflação, não é nem mesmo a taxa de juros. Ela está alta, sim, como na maior parte do tempo no Brasil. A presidente Dilma deixou a Selic em 14,25%, mais elevada do que a atual. No governo dela, a taxa chegou a cair para 7,25% e depois o Banco Central foi obrigado a subi-la para enfrentar a escalada da inflação. Na gestão de Ilan Goldfajn no BC, houve 12 quedas consecutivas, e o governo de Michel Temer terminou com a Selic em 6,5%. Em março de 2003, no começo do primeiro governo Lula, as taxas de juros foram elevadas para 26,5%. Tudo é bem mais complicado do que parece no debate que o governo iniciou.
O principal inimigo econômico do projeto de um governo que quer resgatar os miseráveis é a inflação. Sempre ela, a que empobrece os pobres. O governo Bolsonaro entregou a inflação de alimentos duas vezes maior do que o IPCA. Ele escolheu baratear combustíveis fósseis, zerando os impostos federais, e impondo aos estados uma perda de receita do ICMS. Isso está tirando R$ 100 bilhões dos cofres públicos ao ano. É um problema grave e será difícil sair dessa armadilha. Vai elevar a inflação e provocar reações da classe média. Mas um governo que quer combater a pobreza não pode concordar que se entregue R$ 100 bilhões para os donos de carros encherem seus tanques.
Os economistas e petistas que estão dizendo que o país não tem risco fiscal, teve superávit primário em 2022 e reduziu a dívida pública, teriam que, por coerência, aplaudir o ex-ministro Paulo Guedes. Eu não aplaudiria, porque acho evidente que o superávit do ano passado tem artificialismos. Precatórios foram rolados, dividendos das estatais foram antecipados, parte do aumento de arrecadação se deveu à inflação que passou vários meses em dois dígitos e despesas indispensáveis foram comprimidas. O país cresceu em 2022 mais do que o previsto pelos estímulos eleitoreiros dados pelo governo Bolsonaro. Quem neutralizou esse populismo econômico e fiscal foi o Banco Central, elevando a taxa de juros de 2% para 13,75%. É desejável que a Selic caia, porque está alta e porque há uma desaceleração da economia, mas o espalhafato gerado pelo governo em torno do Banco Central só criou incertezas.
O presidente Lula e o PT criaram uma agenda prejudicial ao seu próprio governo e da pior forma. Lula dispara frases que alimentam a incerteza. Como o Brasil viveu quatro anos tentando interpretar frases dúbias, Lula deveria ser objetivo. Se quer mudar a meta de inflação, acabar com o sistema de metas, revogar a autonomia do Banco Central, deve apresentar seus projetos e o país discutirá sobre fatos concretos.
Toda a energia deveria estar concentrada em enfrentar o garimpo nas terras Yanomami, Munduruku, Kayapó e tantas mais. Em estabelecer o caminho da lei e da decência no mercado de ouro. Em aumentar a taxa de vacinação, em encontrar a maneira de recuperar a educação do desastre dos últimos quatro anos, em recuperar o respeito aos direitos humanos. Nas tantas tarefas urgentes.
O governo Lula tem feito uma enorme diferença em inúmeras áreas do país nestes 45 dias. Pense na democracia, se acha que exagero. O governo anterior conspirava contra a Constituição, escrevia minutas de golpes que o ministro da Justiça guardava no armário, ameaçava usar as Forças Armadas contra os poderes da República e insuflava seus seguidores a quebrar os palácios públicos. O alvo sempre foi a democracia. Por isso, tantas forças se uniram ao presidente Lula, por isso, tanto apoio internacional. Diante da colossal tarefa que tem pela frente com o que mesmo o presidente Lula quer gastar seu capital político inicial?
O GOVERNO LULA PARECE PERDIDO
Por Notas & Informações / O ESTADÃO
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, disse, em uma entrevista ao SBT, que a instituição vai organizar um seminário para debater a política fiscal em março. Segundo ele, a ideia do evento é ajudar o governo a formular a nova âncora que substituirá o teto de gastos. O resultado desse debate será entregue ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Aqui, tudo vai para o Lula”, disse.
A iniciativa, por óbvio, foi recebida como uma tentativa de intromissão nos trabalhos da equipe econômica. Se há um assunto que deveria estar sob a liderança do Ministério da Fazenda é o novo arcabouço fiscal, atualmente a parte mais relevante da política econômica. O debate público sobre a âncora é válido e pode contribuir para a construção de um arcabouço crível e estável. No entanto, essa é uma iniciativa que certamente não cabe a Mercadante ou ao BNDES, mas apenas ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O episódio, no entanto, não é um caso isolado. Ele ilustra um problema mais amplo, que não se esperava que ocorresse sob a Presidência de Lula. Em seu terceiro mandato na Presidência da República, o petista não é um novato na atividade de governar. Mas, como se não tivesse vencido as eleições e assumido o País, ele mantém a aposta em um discurso de campanha capaz de mobilizar apenas seus próprios seguidores. Enquanto isso, seu governo está paralisado e batendo cabeças em público.
Desde o dia 18 de janeiro, primeira vez em que Lula criticou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, a autonomia da instituição e o nível da taxa básica de juros, o País assiste a uma novela diária pautada em sua cruzada contra a autoridade monetária. No capítulo mais recente dessa trama de gosto duvidoso, o evento de aniversário de 43 anos do PT foi usado como pretexto para mobilizar sindicatos e militantes a adotar uma nova causa política: “Fora Campos Neto”. Não há como não lembrar o bordão “Fora FHC e FMI” que o partido bradava na década de 1990, período em que se especializou em fazer oposição intransigente ao então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Elegendo Campos Neto como inimigo, Lula dá a entender que os juros altos são uma decisão pessoal do presidente do BC, único problema e verdadeira causa de todos os desafios econômicos e sociais do País. Não são. Há inúmeros outros aspectos da agenda pública a serem tratados com mais urgência e efetividade, a começar pelas relações com o Congresso Nacional. Até mesmo o economista André Lara Resende, que integrou a equipe de transição e é um dos maiores críticos aos juros elevados, considerou um erro o fato de o governo não ter escolhido o novo regime fiscal como tema a abrir a pauta legislativa neste ano.
A aprovação da âncora fiscal não seria exatamente fácil, pois requer um projeto de lei complementar e a construção de maioria absoluta entre os parlamentares. Mas isso certamente é menos trabalhoso do que aprovar as reformas tributárias que tramitam na Câmara e no Senado, ambas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e que demandam maioria qualificada. Ainda assim, o governo hesita em adotar uma delas. Enquanto isso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criou um grupo de trabalho para discutir o tema, e os setores contrários a quaisquer mudanças já começaram a se articular para barrá-las. Dado o histórico de Lula, a letargia da articulação do governo no Congresso seria inexplicável, não fosse o fato de o Executivo ainda não ter conseguido construir uma base aliada que possa ser chamada de estável para submeter seus projetos sem risco de derrota.
Lula completou 45 dias na Presidência, período em que desperdiçou uma janela rara para apresentar a agenda de um governo recém-eleito e unir o País. Se não a aproveitou, não foi por falta de experiência ou liderança. Das duas uma: ou não sabe o que fazer e para onde ir ou sabe o que precisa fazer pelo País, mas não quer arcar com o alto custo político imposto por essas impopulares decisões.
NUNCA HOUVE NA HISTÓRIA BRASIELEIRA TANTOS PRESOS POR RAZÕES POLITICAS
Por J.R. Guzzo / O ESTADÃO
O que está acontecendo com as mais de 900 pessoas presas em Brasília, acusadas ou suspeitas de participar da depredação dos edifícios-sede dos Três Poderes no dia 8 janeiro, é uma desgraça para o Brasil. Como pode haver democracia, mesmo em sua definição mínima, num país com prisões em massa, cárceres políticos e centenas de pessoas presas sem que haja acusação individual contra elas? Nunca houve na história brasileira, mesmo em seus piores momentos de treva, tantos presos por razões políticas – não ao mesmo tempo, e nem por tanto tempo.
O mais sinistro nos acontecimentos de hoje é que a repressão é executada em defesa do “regime democrático de Direito”. Para salvar a democracia, alegam os carcereiros, é preciso passar por cima da lei – e não existe democracia se não há absoluto respeito à lei por parte da autoridade que tem o poder de investigar, prender e punir os cidadãos.
É chocante que não uma meia dúzia, mas centenas de homens e mulheres estejam presos há mais de 40 dias sem que a polícia e o aparelho judiciário tenham sido capazes, até agora, de dizer o que eles fizeram. Não existem crimes coletivos; a acusação de cada delito tem, obrigatoriamente, de ser individualizada, e essa exigência elementar da legislação penal brasileira está sendo ignorada pela autoridade pública.
Há, no ataque aos prédios das instituições, criminosos já identificados e com participação comprovada nos atos de vandalismo – inclusive através de imagens. Mas há centenas de pessoas que não quebraram nada, nem desrespeitaram lei nenhuma.
Muitos nem estavam na cena do crime; foram presos em frente a quartéis do Exército em Brasília, onde faziam manifestações pacíficas e legais. Outros entraram só para espiar, em lugares que estavam com as portas abertas. Estão sendo punidos como aqueles que efetivamente praticaram crimes; seu crime é estar em local próximo ao crime. O fato é que a justiça não sabe se os 900 presos cometeram ou não infrações ao Código Penal. Enquanto tenta descobrir, fica todo mundo no xadrez.
As organizações de defesa dos direitos humanos e do direito de defesa, a Ordem dos Advogados e os que se consideram heróis por terem assinado manifestos em favor da democracia estão em silêncio absoluto diante de tudo isso. É a nova ordem do Brasil. Não há nenhum corrupto na cadeia – nem o ex-governador Sérgio Cabral, condenado a 400 anos de prisão por roubo de dinheiro público no Rio de Janeiro. Um assassino preso em flagrante é libertado em menos tempo que os acusados de terrorismo em Brasília.
Mas não existem direitos para os que estão do lado errado da ideologia que comanda atualmente o aparelho judicial brasileiro.
Grupos de extremistas invadiram as sedes dos Três Poderes Foto: Wilton Junior/Estadão
O MUNDO REAL É MAIOR DOQ UE A TAXA SELIC
Por Jorge J. Okubaro / JORNALISTA/ O ESTADÃO
A inflação de 0,53% em janeiro, que levou a alta acumulada de preços em 12 meses para 5,77%, foi puxada por alimentos e combustíveis. É uma variação muito alta. Problemas que nos assombraram há pouco podem estar voltando. Mas ninguém no governo parece estar preocupado com isso. Também não há preocupação com os sinais de desaceleração da economia, o que antecipa problemas de emprego e renda. Indicações mais sombrias sobre a economia mundial começam a esmaecer, mas é pouco para desenhar um cenário colorido. Intencionalmente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está longe de ser um aprendiz em política, parece disposto a tornar ainda mais turvo um quadro preocupante com sua insistência, e sua veemência típica de palanque, em criticar o Banco Central (BC).
São críticas que agradam à base do PT, que nunca aceitou bem a ideia de autonomia do BC. Foi à sua base que Lula pareceu estar se dirigindo quando se referiu ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, como “esse sujeito”, ou quando citou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para afirmar que “é uma vergonha esse aumento de juros” (embora o Copom tivesse mantido inalterada a taxa básica Selic em 13,75% ao ano, que de fato é alta). A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi além ao dizer que Campos Neto está do lado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Campos, de fato, deve ter votado no ex-presidente em outubro do ano passado e participou de grupos de conversa de ministros do governo anterior, o que, segundo Gleisi, mostrou que, ao tempo de Bolsonaro, não tinha autonomia nem independência política.
O fato de pesquisas regulares do BC com analistas financeiros de 130 instituições privadas balizarem algumas das mais importantes decisões de política monetária, sem que outras áreas do poder público e outros segmentos sociais sejam igualmente auscultados quanto a suas expectativas, talvez possa fortalecer argumentos de apoiadores de Lula de que a autoridade monetária só ouve o mercado financeiro. Críticas ácidas de operadores desse mercado a toda ação ou decisão do governo que não lhes agradem reforçam a resistência de apoiadores de Lula.
Campos, de fato, apoiou Bolsonaro. Mas o Banco Central, como instituição do Estado, não apoia candidatos nem pode fazer escolhas político-eleitorais. Sua autonomia, tão criticada por Lula e por parte de seus apoiadores, tem justamente o objetivo de evitar que suas decisões venham a ser contaminadas por interferência política. E o combate à inflação – qualquer que seja a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional, no qual o governo tem maioria – destina-se a assegurar condições mais adequadas para que as decisões sobre investimentos sejam tomadas com mais segurança, ajudem a atividade econômica e gerem emprego. Inflação em alta, de sua parte, prejudica mais os pobres, os que menos podem se defender da aceleração dos preços.
E aqui, sim, está a questão que deveria ocupar o centro das preocupações, e dos discursos, de Lula e dos que o apoiam. Problemas sociais que estiveram no foco das atenções de gestões anteriores do PT, e que por isso registraram melhora expressiva naquele período, voltaram a mostrar sua gravidade. O País registra novamente altos índices de pobreza, de deficiência alimentar, de carência de atendimento em saúde, de mau desempenho escolar, de atraso nos programas de saneamento básico, de despreparo na formação de mão de obra capaz de enfrentar os novos desafios do mercado de trabalho, de perda de competitividade. Há mais de 1 milhão de brasileiros na fila esperando a aposentadoria. A indústria se esvai em crise, sem que, além de uma ou outra referência, o governo apresente diagnósticos ou propostas para enfrentar um dos problemas mais perturbadores para os que pensam na economia brasileira nos próximos anos. A reforma tributária precisa andar. E há muitas outras urgências.
Um mês e meio após sua posse, Lula tem um saldo favorável, que lhe assegura confiabilidade e preserva a confiança que milhões de brasileiros nele depositaram. A diversidade simbolizada nas pessoas que com ele subiram a rampa do Palácio do Planalto na sua posse é um retrato de seu governo. A derrota dos golpistas de 8 de janeiro e, no dia seguinte, a caminhada de Lula ao lado dos presidentes das duas Casas do Congresso, da presidente Rosa Weber e de outros ministros do Supremo Tribunal Federal e de mais de 20 governadores na Praça dos Três Poderes, de sua parte, demonstraram unidade institucional no repúdio aos ataques de bolsonaristas contra a democracia. A firme posição pessoal de Lula, seguida de ações concretas de seu governo, em defesa da população Yanomami deixou claro de que lado ele está e como sabe agir em emergências de natureza social.
Por que, nesse quadro, investir tão duramente contra o Banco Central e gerar turbulências? Isso não ajuda o País. Seu governo não pode ser só para petistas. Deve ser para todos os brasileiros.
JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME)
Banco do Brasil tem lucro recorde de R$ 31,8 bilhões em 2022
O Banco do Brasil (BB) teve lucro líquido ajustado recorde de R$ 31,8 bilhões em 2022, com crescimento de 51,3% em relação a 2021. Segundo balanço divulgado hoje (13) à noite pela instituição financeira, apenas no quarto trimestre, o lucro totalizou R$ 9 bilhões, alta de 52,4% em relação ao mesmo período do ano anterior.
De acordo com o BB, o crescimento no lucro pode ser explicado pelo crescimento na concessão de crédito com inadimplência controlada. O banco também atribui o lucro recorde à diversificação de receitas, à disciplina na gestão de custos e à solidez na estrutura de capital.
Segundo o Banco do Brasil, 40% do lucro será distribuído aos acionistas na forma de dividendos e de juros sobre o capital. Isso equivale a R$ 11,8 bilhões.
Carteira de crédito
A carteira de crédito ampliada do Banco do Brasil encerrou 2022 acima da marca histórica de R$ 1 trilhão, com alta de 14,8% em relação a 2021. Os destaques foram as operações com pessoas físicas, com empresas e com o agronegócio.
Em relação às pessoas físicas, a carteira de crédito cresceu 9% no ano passado, somando R$ 289,6 bilhões. A expansão foi influenciada pela carteira de crédito consignado, que encerrou 2022 em R$ 115,1 bilhões. A carteira de crédito para pessoas jurídicas totalizou R$ 358,5 bilhões, com alta de 12,8% em 12 meses.
A carteira ampliada do agronegócio somou R$ 309,7 bilhões, batendo o recorde registrado em 2021. O crescimento totalizou 8,3% em relação ao trimestre anterior e 24,9% em 12 meses. O BB manteve a liderança no crédito ao segmento.
O índice de inadimplência acima de 90 dias das operações de crédito do banco ficou em 2,5%. Apesar do aumento em relação ao fim de 2021, quando estava em 1,75%, o indicador continua inferior à média do Sistema Financeiro Nacional, de 3%.
A carteira de negócios sustentáveis, que engloba os empréstimos a projetos com impacto social e ambiental positivo, somou R$ 327,3 bilhões no ano passado, com alta de 12,3% em 12 meses. O montante corresponde a um terço do crédito total do banco.
Receitas e despesas
As receitas com prestação de serviços totalizaram R$ 32,3 bilhões em 2022, alta de 10,2% quando comparado com 2021. Os destaques foram os segmentos de administração de fundos (+11,8%); seguros, previdência e capitalização (+14,6%); e operações de crédito e garantia (+27,4%).
As despesas administrativas aumentaram 5,6% no ano passado, abaixo da inflação acumulada no ano passado e dentro das projeções do banco, que variavam entre 4% e 8%.
O BB também divulgou as projeções para 2023. Para este ano, a instituição prevê lucro líquido ajustado entre R$ 33 bilhões e R$ 37 bilhões, expansão de 8% a 12% na carteira de crédito e crescimento de 7% a 11% tanto nas receitas com prestação de serviços como com gastos administrativos. Em abril, a instituição financeira fará um concurso. As inscrições encerram-se no próximo dia 24.
Edição: Aline Leal / AGÊNCIA BRASIL
Lula agradece a José Dirceu e chama Bolsonaro de genocida em festa de 43 anos do PT
Por Felipe Frazão e Weslley Galzo / O ESTADÃO
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a comemoração de 43 anos do PT nesta segunda-feira, dia 13, em Brasília para mandar recados ao antecessor, Jair Bolsonaro – chamado de genocida –, defender um processo de “limpeza” na máquina pública e enaltecer lideranças do partido atingidas por escândalos de corrupção, como o ex-ministro José Dirceu. Condenado e preso no mensalão e na Lava Jato, Dirceu ocupou um assento ao fundo no palco e foi citado nominalmente por Lula.
“Companheiro Zé Dirceu, agradecer você, porque eu sei o quanto você foi solidário ao que eu passei”, afirmou Lula.
O presidente voltou a citar o período de 580 dias que passou na cadeia em Curitiba, por causa dos processos da Lava Jato que respondeu, e agradeceu a solidariedade de Dirceu, também ex-deputado e ex-presidente do PT, que ficou preso na carceragem da Polícia Federal por acusações de corrupção. Lula demonstrou gratidão ainda aos militantes petistas que montaram uma vigília ao lado do cárcere em Curitiba e que “enfrentaram chuva, sol e provocação da Polícia Federal”, afirmou o presidente.Por suspeição do ex-juiz Sergio Moro, os processos contra Lula fora anulados no Supremo, o que permitiu que ele disputasse e vencesse as eleições presidenciais do ano passado contra Bolsonaro.
“Tudo que nós fizemos em 13 anos de governo do PT foi destruído em 6 anos depois do golpe e depois do último mandato de quatro anos do genocida, que haverá de ser julgado pela quantidade de pessoas que morreram inocentes nesse País”, afirmou o presidente da República, citando o aumento de pessoas em situação de rua e a crise humanitária do povo indígena ianomâmi. “Vamos brigar pelo nosso partido e pelo povo brasileiro para que nunca mais um genocida ganhe as eleições com base na indústria da mentira.”
“Um dos melhores momentos desse País foi no meu governo, onde banqueiro ganhou, empresário ganhou e trabalhador ganhou. E agora eles dizem ‘que Lula vai voltar’? Vai voltar o Lula que a dona Lindu pariu para governar esse País da forma que o País precisa ser governado”, disse.
No ato público, Lula subiu ao palco com traje mais de líder político do que presidente. Ele deixou de lado assuntos de governo, sobretudo na esfera econômica, como as críticas à cobrança por responsabilidade fiscal, e terceirizou a ofensiva à taxa básica de juros e ao Banco Central para a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.
Lula voltou a reclamar da quantidade de dinheiro público que o ex-presidente entregou durante as eleições e disse que Bolsonaro não esperava ser derrotado. Ele disse que vai “levar um tempo” para organizar o governo e reconheceu a necessidade de “fazer mais” do que nos três mandatos anteriores do PT. O petista criticou a herança bolsonarista.
“Se a gente fizer menos, será muito ruim para o futuro do nosso partido. Mas vocês precisam compreender que recebemos um País em 2023 muito pior do que em 2003. Muito mais incivilizada a sua máquina pública, muito mais gente que não tem direito e que entrou nessa máquina pública e vamos levar um tempo para fazer um processo de limpeza, fazer com que pessoas que pregam ódio, que vivem xingando e ofendendo as pessoas na rua sejam isoladas da sociedade brasileira”, afirmou o presidente.
Lula discursou diante de uma faixa que pedia: “Golpistas na cadeia. Punição aos crimes eleitorais”. Lula já havia defendido a “desmilitarização” e a “desbolsonarização” do governo e do Palácio do Planalto, mas ministros envolvidos no pente fino negavam um processo de “higienização” com viés ideológico. Embora tenha escancarado a “limpeza”, Lula disse que o PT voltou ao Planalto “sem ódio e sem rancor”.
Segundo o líder do PT, os fundadores do partido eram cobrados e precisavam explicar, ao londo de anos, por que a bandeira era vermelha, o motivo de usarem barba e a razão de o símbolo da sigla ser uma estrela.
Diante dos questionamentos sobre qual versão de si voltou ao poder, respondeu que se trata do Lula “que não pode esquecer suas origens”. Emotivo, afirmou que viveu repartindo espaço “com rato e barata”, que “passou fome e comeu pão pela primeira vez ao sete anos de idade” e que não vai permitir mais que crianças morram de fome no Brasil.
Lula assinou autorização para contribuição ao PT por meio de débito em conta corrente. O valor não foi divulgado. Mas pelo estatuto petista os ocupantes de cargos públicos devem contribuir com o cofre da legenda. Lula pediu que outros militantes doem para que o partido mostre a diferença e não fique dependente dos fundos partidário e eleitoral, sujeitos à fiscalização de contas nas cortes superiores. “Temos que ter o fundo da moral, da ética e da vergonha”, afirmou Lula.
Lula embargou a voz quatro vezes. Sem a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, recorreu a um garçom para aplacar as falhas frequentes na voz com água. Janja ausentou-se porque passara por exames oftalmológicos que impediram sua participação, explicou sua assessoria.
Ex-presidente do PT durante o escândalo do mensalão (2003-2005) e um dos condenados e presos no processo, o ex-deputado federal José Genoino defendeu que o partido não pode mais errar no governo e deve construir um polo à esquerda. O ex-dirigente petista, um dos ícones do partido, ausentou-se do ato de comemoração dos 43 anos da sigla, em Brasília, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou.
“Temos que atualizar nossa linha política e mudar os métodos de organização para que o PT se coloque à altura de construir um polo à esquerda neste momento. Vai ser preciso a gente não errar no atendimento à população mais pobre, excluída, às mulheres, aos indígenas, á comunidade LGBTQIA+, à nova classe trabalhadora, à luta contra o racismo e à luta pela soberania nacional”, disse Genoino, em recado transmitido por meio de vídeo gravado. “A democracia não é apenas um enfeite, a democracia tem que ser substantivada para melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro.”
A sugestão de um polo à esquerda vai na contramão da construção de uma frente ampla, com partidos de centro e centro-direita, que Lula organizou na campanha de 2022 para derrotar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O presidente tentou espelhar a pluralidade de partidos na formação do governo e na construção agora de uma base de apoio parlamentar, com participação de legendas do Centrão que fizeram oposição a ele.
Em indireta a Jair Bolsonaro, a ex-presidente Dilma Rousseff disse que PT voltou ao poder porque Lula não fugiu, embora tenha sido aconselhado a sair do Brasil. “Nosso grande líder que caminhou de cabeça erguida, não fugiu, não correu e não se esquivou. Não saiu do Brasil, ficou aqui e enfrentou os 580 dias de prisão”, disse Dilma. “Muitas pessoas aconselharam o presidente a ir embora do País. Não fugiu da raia, encarou e enfrentou. Eu sei e muitos aqui sabem, Fernando Pimentel (ex-governador de Minas Gerais) está aqui e sabe, não é fácil ir para prisão, e o presidente foi com a cabeça erguida. E por isso nós conseguimos voltar, o voltaremos se realizou.”
Na economia, Dilma disse que neoliberalismo criou imensa desigualdade, criticou a privatização da Eletrobrás “por um prato de lentilha”, e afirmou que o PT trabalhou para manter integridade da Petrobras.
Durante o governo dela, revelou-se o escândalo da Lava Jato. Depois de ter sofrido impeachment, em 2016, ela afirmou que o governo enfrenta um cenário de adversidade no Congresso Nacional. Segundo ela, a missão do PT agora é muito mais exigente e desafiadora, após o fim do governo Bolsonaro - que classificou como de índole fascista - e pediu “sem anistia”.
“Nosso partido tem um desafio, ser capaz de dar sustentação para nossas mudanças, a nossos parlamentares tem uma correlação adversa de forças no parlamento. Nosso parlamento é conservador, nosso governo precisa de sustentação no parlamento e na sociedade. É hora de nos organizarmos e nos conscientizarmos de quais são as lutas que temos de enfrentar”, afirmou a ex-presidente.