EXAME/IDEIA: Bolsonaro seria reeleito com ao menos 7 pontos de vantagem contra Lula ou Huck em 2022
Por Gilson Garrett Jr. / EXAME
Se a eleição presidencial fosse hoje no Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido) seria reeleito para mais quatro anos de mandato. No primeiro turno, ele tem vantagem de 12 pontos percentuais em relação ao segundo colocado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Já em um eventual segundo turno, o atual presidente aparece com pelo menos sete pontos de vantagem contra Lula e contra o apresentador Luciano Huck (sem partido), os candidatos que mais rivalizam com Bolsonaro.
Os dados são da mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une Exame Invest Pro, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. O levantamento ouviu 1.000 pessoas entre os dias 10 e 11 de março. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Clique aqui para ler o relatório completo.
A sondagem é a primeira feita após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, que anulou todas as condenações de Lula na Lava Jato de Curitiba. Entre os entrevistados, 73% disseram que tiveram conhecimento do julgamento do ministro do STF.
A decisão tornou o ex-presidente apto a concorrer novamente ao Palácio do Planalto. Mesmo dizendo que não sabe se será candidato, Lula fez um discurso, na quarta-feira, 10, em tom de disputa.
“Jair Bolsonaro segue favorito, mas não será simples nem para ele nem para o ex-presidente Lula. Há uma demanda evidente de opinião pública por uma terceira via. Maior mesmo se comparada aos tempos da polarização PT-PSDB. Só falta a oferta”, avalia Maurício Moura, fundador do IDEIA.
A pesquisa EXAME/IDEIA testou três cenários de primeiro turno, todos incluindo Bolsonaro e Lula. Nas sondagens, os dois são os que mais têm chances de irem a um eventual segundo turno. A pesquisa também perguntou se ambos merecem mais um mandato no comando do Brasil. Para 48%, Bolsonaro não merece um segundo mandato, enquanto 46% acham que Lula é quem não merece um terceiro mandato.
Na sondagem de segundo turno, foram testados quatro possíveis cenários. Em uma disputa entre Bolsonaro e Lula, o cenário é de 44% a 37%, respectivamente. Já contra Huck, Bolsonaro tem 46% e o apresentador, 37%. Quando o nome do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT) aparece, ele recebe 34% das intenções de voto e o presidente, 45%. Contra o governador de São Paulo (PSDB), Bolsonaro tem 47%, e João Doria, 26%.
Maurício Moura destaca que, para crescer nas pesquisas, o ex-presidente Lula precisa conquistar a população com maior renda. “Além disso, para 54% dos brasileiros a anulação da sentença de Lula foi injusta. O consenso no imaginário da opinião pública sobre sua inocência é minoritário. O PT e Lula terão de reconquistar a classe média”, afirma.
EXAME/IDEIA: aprovação de Bolsonaro volta a cair e sai de 31% para 26%
Por , Gilson Garrett Jr. / EXAME
O ritmo lento de vacinação no Brasil e a indefinição sobre o retorno do auxílio emergencial voltam a impactar a aprovação do presidente Jair Bolsonaro, que caiu de 31% para 26% nos últimos 15 dias. Após uma recuperação em fevereiro, o percentual é o mesmo registrado no início de janeiro e um dos pontos mais baixos em dois anos. Já a desaprovação ao governo aumentou para 45%.
Os dados são da mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une Exame Invest Pro, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. O levantamento ouviu 1.200 pessoas entre os dias 8 e 11 de março. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Clique aqui para ler o relatório completo.
Entre os que têm ensino superior, 63% desaprovam a gestão do presidente. Na parcela de jovens, entre 18 e 24 anos, a desaprovação é de 53% - ante 21% dos que aprovam o governo Bolsonaro. O melhor desempenho do presidente é na região Norte (36%), e entre os evangélicos (37%).
"A baixa oferta de vacina e um vácuo de auxílio emergencial são as duas variáveis que afetam hoje a avaliação e aprovação presidencial", diz Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto especializado em opinião pública.
Em um outro ponto da pesquisa é possível perceber exatamente como a vacinação influencia a aprovação do presidente. Para 52% dos brasileiros, a culpa deste atraso na imunização é de Jair Bolsonaro. Entre os entrevistados, 19% consideram que a culpa é dos governadores, e outros 4% entendem que é dos prefeitos.
A desaprovação também é maior nas pessoas das D e E, chegando a 41%. Na visão de Maurício Moura, é esta parcela que mais sente os reflexos de uma nova rodada do auxílio emergencial.
Para socorrer as pessoas mais impactadas economicamente pela pandemia, a Câmara dos Deputados aprovou, na quinta-feira, 11, o texto do projeto que cria mais parcelas do auxílio. Pela proposta, será uma média de 250 reais pagos em quatro meses, sendo a primeira parcela liberada ainda em março. Para 77% dos entrevistados na pesquisa EXAME/IDEIA, a expectativa é que o benefício seja pago novamente ainda neste mês.
Lockdown é apoiado por 53%
Com o objetivo de conter e diminuir a rápida transmissão do coronavírus, governos estaduais e municipais adotam medidas de restrição de circulação. O lockdown é apoiado por 53% dos brasileiros, 22% são contrários, e 19% não são nem a favor nem contra.
“Essa aprovação ao lockdown é reflexo do delicado momento de saúde pública que o país atravessa. Na Europa, por exemplo, essa aprovação passa dos 66%. No Brasil, os segmentos mais favoráveis são os mais velhos [57% de quem tem mais de 45 anos], o Norte [63%], e faixas mais altas de renda [60% dos que ganham mais de 5 salários mínimos]”, explica Maurício Moura, fundador do IDEIA.
Veículo que transportava presidente argentino é apedrejado por manifestantes
Dezenas de pessoas atacaram com chutes e pedras neste sábado (13) o veículo que transportava o presidente argentino, Alberto Fernández, na província de Chubut (sul), para onde ele viajou para constatar os danos dos gigantescos incêndios florestais, segundo imagens da imprensa local.
Fernández deu uma coletiva de imprensa antes dos incidentes, durante a qual disse ter viajado para “ouvir o povo” e anunciou ajuda aos atingidos pelo incêndio.
Ao deixar um centro comunitário na cidade de Lago Puelo, Fernández teve que ser protegido por um corredor humano do avanço dos manifestantes em direção à comitiva presidencial.
Imagens de televisão mostram o presidente correndo até o seu carro e manifestantes batendo no vidro por vários minutos, enquanto a primeira-dama, Fabiola Yañez, tenta se levantar para observar e alguém exige que ela permaneça sentada.
Os manifestantes interromperam a passagem do veículo que transportava Fernández, socando e jogando pedras que quebraram os vidros, conforme observado nas imagens da rede TN e do jornal Clarín.
Com uma presença policial escassa, a multidão conseguiu bloquear os veículos que acompanhavam Fernández por vários minutos, lançando-se inclusive contra a van presidencial. Depois de liberado, os carros saíram em alta velocidade entre os manifestantes.
Segundo o jornal Clarín, os manifestantes protestavam contra projetos de mineração na província de Chubut e também contra o governador do distrito, Mariano Arcioni.
O ex-presidente e antecessor de Fernández no cargo, o liberal Mauricio Macri, repudiou o ataque.
“A violência nunca é o caminho. Repudio o que aconteceu hoje em Chubut durante a visita do presidente. Qualquer diferença tem que ser resolvida por meio do diálogo”, disse Macri no Twitter.
– Incêndios devastadores –
Fernández percorreu neste sábado a região dos incêndios que deixaram um morto, 11 desaparecidos, dezenas de evacuados e mais de 200 casas destruídas pelas chamas que atingiram nesta semana a região de florestas e lagos da Patagônia argentina.
Os incêndios, supostamente intencionais segundo as autoridades, começaram no início da semana atingindo as cidades de Lago Puelo, El Bolsón, El Maitén, Epuyén, Futaleufú, El Hoyo e Las Golondrinas, perto do sopé da Cordilheira dos Andes.
“Há 1.500 hectares de mata nativa consumidos”, informou a Defesa Civil.Versões da imprensa falam de até 15.000 hectares.
O cadáver carbonizado de um trabalhador rural, desaparecido desde terça-feira, foi encontrado na cidade de El Maitén, de acordo com as autoridades locais.
“O incêndio atingiu mais de 200 casas e ainda há 11 pessoas, das quais não sabemos seu paradeiro”, declarou o ministro do Meio Ambiente, Juan Cabandié, a jornalistas, atualizando o número de desaparecidos, que eram 15 na quarta-feira.
Nas províncias de Chubut, Río Negro e Neuquén, afetadas pelos incêndios, dezenas de brigadistas operam com o apoio de 12 carros de bombeiros, três hidrantes e dois helicópteros para conter as chamas.
Segundo o ministro, “a intencionalidade dos incêndios se manifesta a partir da simultaneidade no início em sete localidades, que, em um período de três horas, tiveram um incêndio. Foi muito planejado”.
Peritos começaram a trabalhar para determinar as responsabilidades.
Os incêndios devoraram dezenas de milhares de hectares na Argentina no ano passado. Eles foram causados intencionalmente, principalmente para fins especulativos de plantio, ou imobiliários, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
As chamas nesta semana deixaram “danos tremendos”, lamentou o ministro. “Não há água em Lago Puelo, em Epuyén, em El Maitén, ou em Las Golondrinas. Não há eletricidade”, completou.
ISTOÉ
Partido de Merkel deve perder eleições regionais na Alemanha por conta de escândalo financeiro
BERLIM - Os alemães votaram neste domingo em duas eleições regionais, nas quais os conservadores da chanceler Angela Merkel, envolvidos em um escândalo financeiro, podem sofrer uma pesada derrota, seis meses antes das legislaturas nacionais.
Covid-19:Com vacinação lenta e novas variantes, Europa corre risco de agravamento da pandemia
Dois deputados são suspeitos de receber comissão pela compra de máscaras no início da pandemia do coronavírus, manchando a imagem da maioria.
As assembleias de voto encerram às 18h00 hora local e as primeiras estimativas serão conhecidas imediatamente.
A União Democrática Cristã (CDU) aparece como a perdedora nas duas regiões do sudoeste, Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado, onde quase 11 milhões de eleitores devem renovar seus respectivos parlamentos regionais
As revelações em cascata sobre o chamado "caso das máscaras" e as crescentes críticas à gestão da crise da saúde anunciam "perspectivas sombrias" para as eleições para os conservadores, opinou o popular diário Bild neste domingo.
Violência:Alemanha divulga relatório sobre infiltração da extrema direita nas forças de segurança
A votação começou em meio a rígidas precauções sanitárias que impõem a obrigatoriedade da máscara, constatou um jornalista da AFP em Stuttgart.
O CDU está passando por "sua crise mais grave" desde o escândalo da caixa preta que precipitou a queda de Helmut Kohl no final dos anos 1990, estimam muitos cientistas políticos.
Verdes em alta
Em Baden-Württemberg, feudo conservador até 2011, as pesquisas preveem o CDU entre 23% e 25% dos votos, o que seria o pior resultado de sua história.
Os verdes, que governaram esta região próspera, o coração da indústria automobilística por uma década, aparecem como vencedores com uma grande vantagem.
Sua vitória ofereceria um terceiro mandato a Winfried Kretschmann, 72, o único ambientalista a liderar uma região alemã. A coalizão com a CDU, que ele lidera há cinco anos, é frequentemente vista como o laboratório para uma possível aliança nacional entre esses dois partidos nas eleições de 26 de setembro.
Na região da Renânia-Palatinado, vizinha à França, Bélgica e Luxemburgo, as coisas não vão bem para o partido da chanceler.
Tendo brincado com a ideia de acabar com três décadas de regime social-democrata, a CDU está ao lado do SPD e a líder cessante da região, Malu Dreyer, pode renovar seu mandato.
Política: Fortalecimento de Merkel freia o crescimento da extrema direita na Alemanha
Já a Alternativa de extrema direita para a Alemanha (AfD), que caiu nacionalmente, também deve perder votos nas duas regiões.
Devido a limitações de contato social impostos pelo coronavírus, a votação pelo correio aumentou consideravelmente este ano.
Desgate de restrições
Merkel, que esperava deixar o poder no auge de sua popularidade, vê seus planos frustrados pelas dificuldades da CDU e de seu aliado bávaro CSU.
Dois deputados, Georg Nüsslein (CSU) e Nikolas Löbel (CDU), tiveram que deixar seus respectivos partidos nos últimos dias por suspeita de terem se enriquecido com a epidemia, atuando como intermediários junto aos fabricantes na compra de máscaras.
Além disso, o conservador Mark Hauptmann renunciou ao mandato na quinta-feira após ser acusado de colocar publicidade azerbaijana no jornal regional que dirige.
No passado, os parlentares da CDU foram acusados de receber dinheiro deste país rico em hidrocarbonetos. Um deles perdeu recentemente a imunidade parlamentar.
Na tentativa de apagar o incêndio, a CDU e a CSU deram aos parlamentares até a noite de sexta-feira para declarar eventuais ganhos financeiros com a epidemia.
A polêmica cai no pior momento para os conservadores, que logo devem indicar seu candidato à chancelaria.
Armin Laschet, o novo líder da CDU, aspira a suceder Merkel, embora o presidente da Baviera, Markus Söder, pudesse ter a mesma ambição.
Extremismo: Neonazistas galgam posições no Exército da Alemanha e país caça 'inimigo interno'
O caso das máscaras só aumenta o desgaste de milhões de alemães com as restrições e duvidam da estratégia do governo.
Desde o início do ano, os conservadores perderam a imagem de gestores eficazes da crise epidêmica e de suas consequências econômicas.
As dificuldades de obtenção das vacinas contra a Covid-19 só têm acentuado o descontentamento, tendo como pano de fundo o aumento das infecções nos últimos dias. As autoridades de saúde não escondem sua preocupação no início de uma terceira onda. AFP/ O GLOBO
Polarização não significa disputa entre extremos, diz Cláudio Couto
Por Bernardo Mello Franco / O GLOBO
Polarização eleitoral não é sinônimo de disputa entre extremos, afirma o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo.
Ele diz que o presidente Jair Bolsonaro deverá ser o único radical no páreo em 2022. E aposta que o ex-presidente Lula buscará uma aliança “além da esquerda” para enfrentá-lo.
O professor avalia que a volta do petista reduz o espaço para pré-candidatos que tentam se apresentar como alternativas de centro.
Para Couto, o país vive um processo de “deterioração democrática”, marcado pela hostilidade do governo à cultura, à imprensa, às universidades e às organizações da sociedade civil.
Leia a seguir trechos da entrevista:
O que muda com Lula livre para disputar eleições?
É um movimento muito importante no cenário de 2022. Lula fez um discurso mais amplo, falou em conversar com setores conservadores. Buscou mostrar que não é extremista, que é diferente do atual presidente. Foi um discurso de candidato, sem dúvida.
Para o governo, a volta de Lula é um abalo sísmico. Ele já obrigou Bolsonaro a usar máscara e botar um globo terrestre na mesa (em transmissão ao vivo na quinta). Isso mostra que o presidente acusou o golpe.
Como seria uma candidatura Lula em 2022?
Lula está claramente em busca de uma aliança que vá além da esquerda. Isso significa que ele tentará atrair partidos da base do governo, como o PSD. Muita gente que está com Bolsonaro hoje não vai acompanhá-lo até o cadafalso.
O discurso mostrou uma estratégia eleitoral clara. Havia um debate sobre a construção de uma candidatura de centro, alternativa a Lula e Bolsonaro. O que Lula quis dizer foi: "O candidato de centro sou eu". Isso muda o cenário, e vai tornar a vida do Ciro Gomes particularmente difícil.
Lula ainda é eleitoralmente viável após a prisão na Lava-Jato?
Lula não voltará a ser o que era em 2010, quando deixou o governo. No entanto, não estamos mais em 2016, quando o Congresso aprovou o impeachment de Dilma Rousseff e o PT perdeu 60% das prefeituras na eleição municipal. O antipetismo ainda é forte, mas mas passou a ser contrastado pelo antibolsonarismo.
Em 2018, candidatos ditos de centro somaram menos de 10% dos votos. Como fica este campo numa disputa com Lula e Bolsonaro?
Já está claro que não vai haver espaço para todo mundo. Alguns pré-candidatos correm o risco de repetir o que aconteceu com a Marina Silva, que encolheu de 20% para 1% em 2018.
Os candidatos à esquerda de Bolsonaro e à direita de Lula deverão lutar por cerca de um terço do eleitorado. Se houver dois candidatos nessa faixa, a coisa já complica.
Entre os pré-candidatos, quem parece ser mais viável?
Não creio que João Doria tenha potencial para se expandir além das fronteiras de São Paulo. O governador paulista sempre é visto como um candidato forte, mas o último a chegar à Presidência foi Jânio Quadros, em 1960.
Não sabemos se Luciano Huck quer ser presidente ou substituto do Faustão. Se eu fosse fazer uma aposta hoje, apostaria no Luiz Henrique Mandetta. Ele pode se apresentar como uma voz de sensatez na direita moderada.
E o ex-ministro Sergio Moro?
Moro sofreu muito desgaste e perdeu fôlego como fenômeno de massa. Ele parece não levar jeito para a coisa. Talvez seu momento tenha passado.
É correto dizer que o país pode se polarizar entre dois extremos em 2022?
Na literatura de ciência política, polarização é um confronto entre alternativas claras. É uma disputa entre dois polos, não necessariamente entre dois extremos. Por muitos anos, as eleições presidenciais foram polarizadas por PT e PSDB, e nenhum deles era extremista.
Não creio que Bolsonaro e Lula sejam comparáveis. Dizer que Lula é um extremista não só é uma rematada bobagem, como pode levar a uma escolha desastrosa. Em 2018, esse discurso levou a uma falsa simetria entre Bolsonaro e Fernando Haddad.
Depois de dois anos de governo, Bolsonaro pode ser classificado como um extremista?
Sem a menor dúvida. O Brasil está sofrendo um processo de deterioração democrática. Bolsonaro enxerga quem não se curva a ele como um inimigo a ser destruído. E reproduz essa lógica na relação com a cultura, a educação, as universidades, as organizações da sociedade civil.
O extremismo também está claramente configurado na negação da ciência, na ideia de que é preciso pegar em armas contra os governadores e prefeitos que não se alinham a ele.
Chamo Bolsonaro de fascista subletrado. O culto a morte e à violência, que está presente no discurso dele, é uma características do fascismo. A frase do general franquista Millán-Astray, "Abajo la inteligencia, viva la muerte!", caberia neste governo.
Como o presidente chegará a 2022?
Ele tende a sofrer uma corrosão, como já disse o senador Tasso Jereissati. A questão é que o bolsonarismo tem raízes profundas no nosso modo de ser. Por isso ele mantém o apoio firme de parte do eleitorado, por mais barbaridades que diga.
Em caso de derrota, Bolsonaro vai aceitar o resultado das urnas?
O cenário é muito preocupante. Nós vimos o que aconteceu nos EUA com a invasão do Capitólio após a derrota de Donald Trump.
A principal variável é saber o tamanho do desgaste de Bolsonaro, se ele sairá da eleição com apoio significativo ou não. Se ele sair muito frágil, terá dificuldade para mobilizar os grupos radicalizados que o apoiam.
A política e as crises - folha de sp
Acontecimentos ciclópicos, como a emergência sanitária que há mais de um ano se abate sobre todo o planeta em sincronia, deixam inevitavelmente marcas na política.
Basta notar o impacto da pandemia de coronavírus em duas das principais reviravoltas dos últimos cinco anos: a vitória do brexit no Reino Unido e o triunfo de Donald Trump nos EUA, ambas em 2016.
No primeiro caso, a convulsão neopopulista transformou-se, dobrada pela premência da epidemia, num governo conservador tradicional, sob a versão atenuada de Boris Johnson. No segundo, o negacionismo irresponsável ajudou a derrotar o incumbente da Casa Branca, fato pouco frequente na história eleitoral norte-americana.
O Brasil não ficaria de fora dessa grande onda. Consuma-se a desmoralização, em meio à trágica aceleração de internações e mortes, de um presidente da República estrambótico e irresponsável.
Em paralelo, o acerto de contas do establishment político e jurídico com a Lava Jato --em parte impulsionado pelos abusos cometidos por procuradores e juízes, em parte embalado pelo desejo de escapar das garras da lei-- devolveu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao jogo eleitoral de 2022.
De imediato, a peripécia parece que ajudou a precipitar na gestão de Jair Bolsonaro uma comichão rumo às vacinas e até ao uso de máscaras em atos públicos. Reação muito tardia, e por ora ainda deveras postiça e hipócrita para ser levada a sério, infelizmente.
Personalidades que traçavam rota para a candidatura presidencial agora refazem seus cálculos. É o caso do governador João Doria (PSDB), do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), do ativista Guilherme Boulos (PSOL) e do apresentador de TV Luciano Huck, pleiteante a aventureiro da rodada.
O quadro se reorganiza com a reabilitação do desafiante que encarna como ninguém os 13 anos do PT no governo, com suas notáveis conquistas, concentradas na área social, e trepidantes fracassos na economia dos anos finais e na convivência desabrida com a corrupção.
O quadro se reorganiza, mas não se define. Há variáveis poderosas em atuação --a pandemia, o desemprego, a fragilização das contas públicas, a escalada no preço dos alimentos, a valorização das abordagens técnicas dos problemas coletivos-- capazes de colocar tudo de pernas para o ar até o distante outubro do ano que vem.
Seria uma lástima se a reentrada de Lula no certame eleitoral reavivasse a polarização estéril com o bolsonarismo, o que parece animar militantes dos dois lados. O Brasil já conhece os estragos que o dogmatismo causa e não merece atravessar mais quatro anos de destruição do futuro a partir de 2023.