TSE aprova criação do 33º partido político no País: Unidade Popular - O ESTADO DE SP
10 de dezembro de 2019 | 22h53
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou, nesta terça-feira, 10, a criação do partido Unidade Popular (UP). A formalização acontece menos de uma semana depois que o Aliança pelo Brasil, sigla em formação do presidente Jair Bolsonaro, fez o registro de pessoa jurídica, passo necessário para começar a coleta de assinaturas.
A legenda será a 33ª com registro na Justiça Eleitoral. O País chegou a reunir 35 partidos após o Partido da Mulher Brasileira (PMB) ter obtido registro setembro de 2015. O número diminuiu após fusões que ocorreram no final do ano passado para que determinadas siglas pudessem manter o número de deputados federais necessários para usufruir do fundo partidário.
“Foram dois anos extremamente intensos de campanha e de mobilização, quando alguns diziam que não se podia montar um partido sem dinheiro de grandes empresas ou de apadrinhamento de grandes políticos” disse Leonardo Péricles, presidente nacional da Unidade Popular, em transmissão no Facebook de comemoração logo após a confirmação da Justiça Eleitoral.
O partido se diz de “esquerda revolucionária e popular”, esboça críticas a governos do PT, mas representantes dos diretórios estaduais do partido já participaram de atos pedindo e comemorando liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O grupo apoiou a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) nas eleições presidenciais de 2018.
Segundo os dirigentes, o pedido de análise das assinaturas físicas foi protocolado em julho deste ano. O TSE confirmou que o partido conseguiu 497,6 mil assinaturas de eleitores não filiados a outros partidos, distribuídos por 15 estados, em apoio à sua criação. O mínimo, calculado a partir de cada eleição nacional atual é de 491,9 mil assinaturas, em nove estados.
A sigla terá o número 80 nas urnas eletrônicas e poderá participar das eleições municipais de 2020.
Esquerda no rehab - VERA MAGALHÃES - O ESTADO DE SP
O congresso de “refundação”, com todas as aspas e as ressalvas que esta palavra tão gasta pelos partidos brasileiros merece, do PSB jogou luz sobre um processo que a esquerda não-petista brasileira deflagrou de forma atabalhoada em 2018 e, com a soltura de Lula, acelera: o rehab da dependência ao PT.
Como todo processo de desintoxicação, esse inclui hesitação, recaídas e tentativas de redução de danos por meio de paliativos. Também como toda tentativa de largar um vício, não é algo linear nem livre de sofrimento.
Por muitos anos o PSB esteve no lugar em que o PCdoB prefere permanecer e ao qual o antes rebelde PSOL voltou: o de satélite do lulopetismo. Isso começou a mudar com o projeto presidencial de Eduardo Campos, frustrado pela sua morte em plena campanha de 2014, teve idas e vindas e ficou na geladeira em 2018 diante da recusa de Joaquim Barbosa a enfrentar o rojão de uma candidatura presidencial que, mostravam as pesquisas, poderia ser bem-sucedida.
Agora o partido tenta mais uma vez largar a adição. Deixou formalmente o famigerado Foro de São Paulo, que tem pouca relevância prática, mas virou um boitatá a assombrar a narrativa da direita, fez uma crítica à ditadura venezuelana e não se apressou a subir ao palanque de Lula assim que ele foi solto em Curitiba.
O partido descreve, assim, trajetória similar à do PDT de Ciro Gomes, à cada vez mais acanhada Rede, de Marina Silva, e ao PV. Claro que é o próprio Ciro que sonha amalgamar essas legendas em torno de mais uma tentativa de chegar ao Planalto, mas a repetição de seus cacoetes e a falta de um discurso eficaz para quebrar a polarização fazem com que os potenciais parceiros demonstrem dúvida quanto a embarcar em sua canoa.
A ideia de fugir do lulismo esbarra, portanto, na falta de um líder viável. E a culpa, neste caso, é da própria esquerda, que tolheu tentativas de renovação de lideranças ao, por exemplo, ameaçar de expulsão jovens deputados que ousaram votar pela reforma da Previdência, como Tabata Amaral (PDT) e Felipe Rigoni (PSB).
Essa dualidade entre quererem se mostrar responsáveis do ponto de vista fiscal, diferentemente do PT, mas não ousarem dar o passo, cobra um preço dos pacientes da reabilitação, mas não é um mal exclusivo da esquerda.
Basta ver que o chamado centro, que abarca legendas como PSDB, DEM e Cidadania, se vê perplexo ante o desafio de apoiar as reformas liberais de Paulo Guedes e ao mesmo tempo traçar uma linha divisória que o separe do reacionarismo bolsonarista e represente uma crítica sem meandros a retrocessos nos campos dos direitos individuais, da cultura, da educação e das conquistas sociais.
Não deveria ser difícil para alguém com um projeto social-democrata responsável fiscalmente, mas vira uma geleia geral quando João Doria fica num ioiô entre se diferenciar do presidente ao mesmo tempo que pisca a seus eleitores e Luciano Huck parece viver um eterno dilema entre se expor ao tiroteio ou manter o conforto da vida de celebridade.
Diante de uma esquerda que vira e mexe tem crise de abstinência do cachimbinho lulista e um centro que ameaça descer do muro, mas não desce, pesquisas mostram Bolsonaro e Lula confortáveis na situação de dois polos do cada vez mais interditado debate político no Brasil.
A ponto de Lula nem esconder, para silêncio cúmplice do eleitorado de esquerda que adora gritar “fascismo!” nas redes sociais, que prefere perder de novo para Bolsonaro a abrir uma alternativa de esquerda ou de centro à cada vez mais putrefata hegemonia petista. E há quem assista anestesiado a isso e entoe o refrão: “Mais uma dose? É claro que eu tô a fim”.
Bolsonaro empata com Lula no 1° turno; Moro supera com folga o petista
Enquanto Bolsonaro e seu círculo mais próximo lembram fantasmas autoritários enxergando no horizonte a possibilidade de protestos radicais como os que ocorreram nas últimas semanas no Chile (a repetição disso por aqui representa uma miragem, diga-se), Lula saiu da cadeia justamente convocando a população a ir reclamar nas ruas contra o governo. Assim, os dois extremos vão se retroalimentando, tática que parece funcionar entre boa parte dos eleitores, conforme mostra a nova rodada de pesquisa eleitoral VEJA/FSB. Ambos representam as principais forças do momento, à direita e à esquerda. O primeiro levantamento com o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de ele ter deixado a prisão em Curitiba mostra o petista empatado tecnicamente com o candidato da situação no primeiro turno, seja ele o presidente Jair Bolsonaro, seja ele o ministro Sergio Moro (Justiça). Nos dois cenários, Lula tem 29% das intenções de voto, contra 32% dos dois adversários — a margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.
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Ora, polarização - Rosângela Bittar, O Estado de S.Paulo
Então, chega um novo Datafolha e desmente a impressão geral de que a polarização é irreversível e que o radicalismo é marca irremovível do cenário político. Com uma revelação adicional: os brasileiros são legalistas apaixonados, têm um olho na lei e outro na emoção.
Os mesmos 54% que antes apoiaram a decisão de prender Lula aprovam agora sua libertação, simplesmente porque assim foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal.
Como a política vive da projeção eleitoral, os planos de Lula pós-prisão guardam certa identidade com a percepção que vem tendo o eleitorado. Pode-se aprovar e desaprovar, não é preciso temer, discurso não machuca nem muda o mundo, deixa acontecer e o que vai lograr. As instituições são sólidas, tudo tranquilo. Até aqui, brother.
A miragem da polarização aconteceu de fora para dentro do governo e do PT. Dois dias depois que Lula saiu da prisão, Bolsonaro saiu do silêncio que se impôs sobre o fato e passou a revidar o ataque sofrido nos discursos da celebração.
Foi o que bastou, e parecia interesse de ambos, para revigorar o extremismo. Não era uma estratégia. A polarização entrou no clima eleitoral antes mesmo que se definissem os candidatos. Uma divisão tão profunda quanto falsa.
Até porque só há candidato de um lado, Jair Bolsonaro. Lula está em campanha, como sempre. Para que, ou para quem, eis a questão. No momento, para ele mesmo, embora esteja inelegível com base na Lei da Ficha Limpa.
Enquanto reacende a militância em caravanas, palanques, articulações, reuniões, com o objetivo que der e vier, Lula deixa que os profissionais, eles sim, toquem uma estratégia bem definida.
A questão central para o PT é fazer um esforço conjunto de advogados e líderes políticos para resolver a situação jurídica de Lula e tirá-lo da Lei da Ficha Limpa. Isso significa trabalhar para atingir a nulidade dos processos do triplex e do sítio de Atibaia, remover o cipoal de ações judiciais que tramitam em Curitiba e em Brasília.
Os advogados acham que devem dar mais atenção a Curitiba, onde constatam muita perseguição e pouca observância das normas jurídicas, das decisões do STF, da jurisprudência. Em Brasília, a seu ver, há maior equilíbrio.
Se obtiver êxito, o que se considera quase impossível, muito difícil mesmo, Lula será o candidato.
Se não, entrará em cena um segundo momento, o de escolha de um candidato do PT, com menos perspectivas de sucesso do que Lula, mas mantendo-se a fidelidade ao princípio da candidatura própria. Hoje, a cartola está vazia, os nomes são os do senador e ex-governador Jaques Wagner e do ex-prefeito Fernando Haddad.
Embora mais desgastado que Wagner, Haddad teria a vantagem, segundo previsões internas, dos bons resultados obtidos em 2018: com 20 dias de campanha foi ao segundo turno e, lá chegando, fez quase 50 milhões de votos.
Lula não considera que está isolando o PT e acredita que se juntarão ao partido, mesmo que o candidato não seja ele, o PCdoB, o PSOL e parte do PSB. Nenhum desses com peso político para fazer diferença, com exceção do PSOL, que, já foi registrado, pretenderia absorver o espólio do PT em pouco tempo. E o PSB, se tiver candidato, não vai se dividir.
A impedir o crescimento desta aliança está Ciro Gomes, no comando do PDT. É explícito o movimento de Ciro para se descolar do PT e os ataques a Lula já definiram sua posição contra o ex-presidente de cujo governo participou.
O PT mapeou três bandeiras adversárias, o que comprovaria que a polarização inexiste: o anti-Lula da extrema direita, Jair Bolsonaro; o anti-Lula da direita, João Doria; e o anti-Lula do centro, Ciro Gomes.
Não há como ignorar que é amplo o espaço vazio por onde podem entrar as novidades da política.
Treze partidos apoiam fundo eleitoral de R$ 3,8 bi... JOSIAS DE SOUZA
Relator da proposta de Orçamento da União para 2020, o deputado Domingos Neto (PSD-CE) enfiou dentro do seu relatório uma emenda que eleva de R$ 2 bilhões para R$ 3,8 bilhões o fundo eleitoral. O dinheiro será usado no financiamento das eleições municipais do ano que vem, quando serão escolhidos prefeitos e vereadores.
Numa tentativa de se proteger dos trovões e raios que o partam que chegam pelas redes sociais, Domingos Neto muniu-se de um documento revelador. Trata-se de um pedido suprapartidário de elevação da caixa eleitoral. Escancara uma evidência incômoda: a desfaçatez não tem ideologia.
Assinam a requisição da nova emboscada contra o bolso do contribuinte 13 partidos. São eles: PP, MDB, PTB, PT, PSL, PL, PSD, PSB, Republicanos, PSDB, PDT, DEM e Solidariedade. O relatório de Domingos Neto será votado nesta quarta-feira na Comissão de Orçamento. Depois, segue para o plenário do Congresso.
Considerando-se a ausência de debates, os defensores da ideia de transformar o fundo eleitoral num fundão desejam que você faça como eles: se finja de bobo pelo bem das eleições.
Para quem está no Congresso, a pose de desentendido é corriqueira. Mas o convite ao cinismo é duro de roer na fila do desemprego, nos corredores dos hospitais ou nas salas precárias das escolas públicas.
Nesses ambientes, marcados pela penúria, o Brasil é um país muito distante de uma democracia representativa. Ali, os males sempre vêm para pior.