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O HORIZONTE DA BARGANHA

Por William Waack / O ESTADÃO

 

Jair Bolsonaro e Arthur Lira estão no topo da lista de personagens políticos nos quais o STF “aplicou freios”. Enquanto Bolsonaro era considerado por integrantes do STF como “um louco” capaz de irresponsabilidades, Lira “a gente sabe quem é e dispensa apresentações”. Capaz de qualquer coisa para satisfazer a voracidade fisiológica.

 

Ao frear Lira e favorecer Lula o STF inaugurou uma nova fase nas barganhas políticas. Seus integrantes paralisaram um julgamento, envolveram-se numa negociação direta com o Legislativo sobre os termos de uma peça (que o Supremo acabou rejeitando) e desembocaram numa ação coordenada para livrar o presidente eleito de um presidente da Câmara praticando o que parecia ser um tipo de extorsão.

 

O resultado é um alívio temporário e um mal-estar generalizado. A “institucionalidade” hoje se traduz numa inversão de sinais: o Executivo se sentia sob Bolsonaro como refém do Supremo. Hoje está sendo protegido, mas não é o tipo de “guarda-chuva” que proporcione a Lula vida fácil com o Legislativo. Mesmo com o freio aplicado a Lira, que o atribui a Lula.

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Lula anuncia novos ministros e primeiras mulheres, mas não conclui montagem da Esplanada

Por André Borges, Vinícius Valfré e Weslley Galzo / O ESTADÃO

 

BRASÍLIA – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta quinta-feira, 22, mais uma leva de ministros para compor sua equipe. A maior surpresa ficou por conta da confirmação do futuro vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que acumulará agora suas funções com a de ministro da Indústria e Comércio.

 

Alckmin aceitou a missão após os empresários Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e Pedro Wongtschowski, do grupo Ultra, recusarem o convite para assumir a pasta.

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ESTADÃO / ECONOMIA EDVAR RODRIGUES XIMENES ‘Entra um novo presidente, muda todo mundo. E quem paga o pato é o País’, diz Elie Horn

Por Circe Bonatelli / O ESTADÃO

 

“A economia não deixa a gente sossegado. Entra um novo presidente, muda todo mundo”, diz o empresário Elie Horn, de 78 anos, com a experiência de quem comanda uma empresa de construção que completou 60 anos de existência e já atravessou períodos de crise e bonança em diferentes governos. Para o fundador e presidente do conselho da Cyrela Brazil Realty, é ruim que o País esteja passando por mais uma guinada. A falta de continuidade das políticas públicas, segundo ele, cria incertezas, espanta investidores e atrapalha os negócios.

Exemplo negativo dessas reviravoltas, segundo ele, está nas vendas de imóveis residenciais. Elas iam bem até o terceiro trimestre, mas encolheram pelo menos um terço nessa reta final do ano. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Programa Olhar de Líder, do Estadão/Broadcast.

Vendas de imóveis encolheram um terço no último trimestre, à espera das mudanças pós eleição
Vendas de imóveis encolheram um terço no último trimestre, à espera das mudanças pós eleição Foto: Cyrela/Divulgação

Mesmo fora da presidência executiva, o senhor mantinha o hábito de ir diariamente à Cyrela. Esse hábito continua?

Desde a pandemia, não fui mais ao escritório. Faço tudo em casa pelo Zoom (aplicativo de videochamada). Eu faço meu trabalho de conselheiro, não de executivo. Eu gosto de ver terrenos nas regiões onde me interessa, gosto de estudar a viabilidade. Vejo as coisas que me interessam como acionista.

Como o sr. acompanha o dia a dia da empresa?

Eu participo do comitê de terrenos. Não tenho voto, mas opino. Acompanho as reuniões de conselho, olho como estão os estandes e os plantões de domingo. Um pouco de tudo.

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ENTRE AS CHAMAS E O ATRASO

Por Denis Lerrer Rosenfield / O ESTADÃO

 

Benjamin Constant, o célebre liberal francês do início do século 19, escreveu que as chamas de Moscou eram a aurora da humanidade. Referia-se ele à derrota de Napoleão ante o Exército russo, pois, em sua perspectiva, o governante francês era um ditador, que viveria, naquele então, o seu ocaso. Este dizer veio-me à mente ao visualizar as chamas de Brasília, sem que, para além do estertor de Jair Bolsonaro, não se consiga entrever uma aurora qualquer, senão a volta a um suposto idílio petista anterior. Se as chamas mostram a violência do bolsonarismo, incapaz de conviver com as diferenças e a liberdade, o seu estertor, graças aos novos governantes, está sinalizando para o passado.

 

Se fosse para regressar ao passado, seria mais sábio Lula voltar para o seu primeiro mandato. Lá, para além de esbravejar contra a “herança maldita”, numa deslavada mentira, soube se cercar de uma equipe econômica competente, tendo à frente Antonio Palocci e Henrique Meirelles, um na Fazenda, outro no Banco Central. Política fiscal responsável de mãos dadas com a política monetária. Na verdade, o ministro Palocci teve a inteligência de seguir os passos de seu antecessor, Pedro Malan, tendo sido ambos brilhantes na condução da política econômica, sem ranços ideológicos. Se Palocci tornou-se um nome proibido dentro do PT, nada disso deveria obscurecer toda a sua contribuição para o País. Corrupção não foi exclusividade sua, mas de toda a cúpula petista e, também, de partidos aliados.

 

Entretanto, o presidente eleito esquece-se dessa parte de seu passado, aquela que apontaria para o futuro. Em vez disso, está optando pela segunda metade do seu segundo mandato e pelo governo Dilma, que terminou em fracasso econômico e no seu impeachment. Em vez de pautar-se por Lula 1, a escolha consiste numa reedição de Dilma. Se não deu certo lá, por que daria certo agora?

 

Nunca está por demais lembrar que Lula não foi eleito pelo programa e pelas ideias de seu partido, mas por ter constituído uma frente ampla, visando a derrotar um governo que jogava no limite, senão para além das regras do sistema democrático. Até economistas liberais afiançaram o candidato, acreditando, provavelmente, numa reedição de Lula 1. A hegemonia petista na tal frente mostra-se, aliás, por todos os lados, expondo não apenas fraturas, mas falta de compromisso com um governo plural. O que se observa de pluralismo é a continuação das negociações partidárias que já estavam em curso no governo Bolsonaro, mormente com o Centrão. Se Lula surpreendeu positivamente em seu primeiro mandato, a surpresa agora tem um amargo gosto negativo.

 

A declaração do novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que teria um compromisso com a responsabilidade fiscal, carece de credibilidade. Os fatos desmentem qualquer discurso de responsabilidade. A PEC da gastança é uma licença ilimitada para gastar, com a máscara de um discurso social. Se fosse para suplementar o Bolsa Família e o apoio às crianças de famílias carentes, bastariam entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões, algo completamente justificável numa situação de carência social. Ora, o que pretende o novo governo é agir como se nenhuma limitação fiscal devesse ter. O anúncio de que uma nova regra fiscal seria apresentada dentro de seis meses não denota seriedade, pois, primeiro, há o gasto descontrolado; depois, uma possível regra futura de seu controle. Isso seria equivalente a construir uma casa começando pelo teto: só pode cair! E os mais necessitados serão os mais atingidos.

 

A aprovação na Câmara dos Deputados de uma nova lei, feita às pressas, para revogar a Lei das Estatais, que impõe condições para políticos ocuparem cargos em empresas estatais, mostra a intenção de aparelhamento futuro da máquina pública. A Lei das Estatais foi um feito do governo Temer, ao estabelecer princípios de uma gestão pública responsável, avessa a indicações políticas indiscriminadas. A Petrobras, graças a isso, conseguiu sair do vermelho, após a experiência do petrolão. Agora, abrem-se as portas para más administrações públicas. É uma péssima sinalização para investidores nacionais e estrangeiros.

 

Por último, note-se a aversão petista e de Lula em relação à economia de mercado e aos seus pilares, como o direito de propriedade. Não conseguiram compreender que a economia de mercado caracteriza-se pela impessoalidade das relações empresariais, que regulam, por mecanismos próprios, os investimentos, os salários, os lucros, em escala não somente nacional, mas planetária. Ou seja, não é uma relação pessoalizada, não havendo nenhuma conspiração por trás dos agentes econômicos. Achar que a cooptação de grandes empresas ou bancos resolva uma questão econômica é uma concepção atrasada, própria de um capitalismo de compadrio, atrelada à mera satisfação imediata de interesses particulares, os mais influentes e poderosos.

Não é este o caminho de um novo Brasil.

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PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL:  O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Ensaio de acordo - editoriais@grupofolha.com

Em arranjo de última hora, votado numa sexta-feira (16), dia em geral vazio em Brasília, o Congresso aprovou resolução que visa dar sobrevida ao instituto de emendas definidas pelo relator-geral do Orçament, b julgamento do Supremo Tribunal Federal.

Tais emendas compartilham defeitos de outras modalidades de despesas criadas por parlamentares, bancadas ou comissões do Congresso. Faltam critérios de definição de prioridades e controle de eficiência do gasto. Nas emendas de relator, há o agravante da falta de transparência quanto à autoria e acompanhamento da execução

Como disse a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal, a experiência mostra que, em vez de dar aos congressistas a oportunidade de atender reivindicações mais urgentes da população, emendas parlamentares vêm servindo ao "proveito de interesses de cunho privatístico e eleitoral, muitas vezes envolvendo esquemas de corrupção".

No caso sob juízo, trata-se de saber se as emendas de relator estão previstas pela Carta de 1988 (literalmente, não estão) e se atendem a princípios de transparência, publicidade e impessoalidade. Para Rosa Weber, não. A votação do caso foi suspensa na quinta-feira (15), com placar de 5 a 4 contra as emendas. Ainda não votaram Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.

Caso o STF derrube as emendas de relator, pode haver embaraços ou crises na relação entre Judiciário e Legislativo, além de transtornos na tramitação de projetos de interesse do Executivo, prestes a mudar de comando. Há sinais, porém, de acordo implícito entre parte do Supremo e lideranças do Congresso, do PT inclusive.

Ministros aceitariam as emendas de relator, desde que obedeçam a certos critérios, em particular o de transparência. Lewandowski disse que levará em consideração a resolução do Legislativo.

A nova norma exige, em tese, a nomeação dos parlamentares que requererem as emendas, destina no mínimo 50% de seu valor para saúde ou assistência, limita a despesa a 1,2% da receita corrente líquida e especifica a divisão dos quinhões.

Fica definido quanto cabe às direções de Senado e Câmara, a bancadas partidárias, ao relator-geral e ao presidente da Comissão Mista de Orçamento. Assim, o acordo de cúpula fica mais claro.

Esse pode ser um arranjo conveniente para a maioria do STF, para o situacionismo do Congresso e para o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assim se livraria dos estilhaços de uma crise causada pelo fim das emendas.

A conveniência política pode falar mais alto, o que neste momento parece menos danoso do que um impasse entre os três Poderes.

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Governo Lula terá 37 ministérios, dois a menos que recorde de Dilma

Por Daniel Gullino — Brasília / O GLOBO

 

O governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), terá 37 ministérios no total, o mesmo número de pastas que havia no fim do seu segundo mandato e apenas dois a menos que na administração de Dilma Rousseff (PT), o recorde desde a redemocratização do país. O anúncio foi feito neste sábado pelo governador da Bahia, Rui Costa, indicado para ser ministro da Casa Civil, após encontro com Lula.

 

Além da criação de novos ministérios, a ideia é dividir algumas estruturas que existem no governo atual, como na economia. Além do Ministério da Fazenda, que será ocupado por Fernando Haddad, haverá o do Planejamento, da Indústria e Comércio, além de um específico da Gestão. A pasta da Infraestrutura também será desmembrada, com a recriação de Portos e Transportes. Além disso, haverá a criação do inédito Ministério dos Povos Originários. A lista de todos os ministérios não foi divulgada, mas Costa confirmou também que serão criadas ou recriadas Cidades, Esportes e Pesca.

 

O objetivo, segundo o futuro chefe da Casa Civil, é uma estrutura parecida com a do segundo mandato de Lula (2007-2010), quando também havia 37 pastas. Atualmente, no governo do presidente Jair Bolsonaro, existem 23 ministérios. A previsão é de que já no dia 1° de janeiro uma Medida Provisória seja publicada pelo novo governo para a viabilizar os cargos de ministros.

 

— A ideia central é repetir o que a gente está chamando o Lula 2, que seria a estrutura do segundo governo de Lula, que encerrou em 2010. Então, o esqueleto central é esse — afirmou, em entrevista após o encontro.

 

Desde o governo de José Sarney (1985 a 1989), o número de ministérios na estrutura do Executivo tem variado de 12 — no início do mandato de Fernando Collor — aos 39 do segundo mandato de Dilma. Quando assumiu pela primeira vez, em 2002, Lula tinha 35 pastas, mas criou mais duas. Durante a campanha, ele chegou a prometer que dividiria o Ministério da Justiça e Segurança Pública, mas desistiu após ser eleito.

 

Além de Costa, participaram da reunião com Lula a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), e o ex-ministro Aloizio Mercadante, indicado para ser presidente do BNDES. O encontro ocorreu no hotel onde Lula está hospedado em Brasília.

 

Ao anunciar as novas estruturas, o governador disse que a ampliação de ministérios não significará a criação de novos cargos.

 

— Iremos ampliar dos 23 ministérios existentes para 37, mas utilizando o mesmo volume de cargos. Com isso, iremos melhorar a representatividade por meio dos ministérios, já que os diversos segmentos da sociedade querem se ver representados no governo, mas sem implicar no aumento do gasto público — afirmou ele.

 

Costa disse que a ideia do futuro governo é fazer com que os ministérios utilizem a mesma área meio, que compreende áreas jurídica, orçamento, entre outras. A nova estrutura funcionará em articulação com a Secretaria Geral e a Casa Civil. Ele ainda afirmou que ao longo da semana, Lula irá anunciar os novos nomes que comandarão os ministérios.

 

Até agora, seis ministros já foram anunciados: Rui Costa, Fernando Haddad (Fazenda), Flávio Dino (Justiça), José Múcio Monteiro (Defesa), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Margareth Menezes (Cultura).

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