Covid-19: Anvisa libera uso emergencial de medicamentos e oxigênio
Para evitar que haja um desabastecimento de medicamentos e de oxigênio nos hospitais, a exemplo do que aconteceu em Manaus, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou ontem, dia 19, que vai flexibilizar as regras de uso de remédios e de cilindros de oxigênio.
O agravamento do número de casos e mortes causadas pela covid-19 no Brasil tem levado os hospitais ao limite da capacidade de atendimento.
Os estados informaram o governo federal que o estoque de remédios como analgésicos e bloqueadores neuromusculares pode acabar em dez dias, caso não haja reposição na velocidade necessária. Há também um temor em relação à possível escassez de cilindros de oxigênio, monitores de UTI e oxigênio hospitalar.
A decisão da Anvisa tem como objetivo acelerar o fornecimento desses insumos hospitalares, a fim de evitar um desabastecimento generalizado.
A agência autorizou empresas que produzem medicamentos que auxiliam na intubação de pacientes a comercializar esses remédios já após a notificação de uso, flexibilizando temporariamente uma série de etapas do registro sanitário.
A Anvisa explicou, em nota, que "a notificação permite que os produtos possam ser imediatamente fabricados e prontamente disponibilizados aos hospitais e clínicas de todo o Brasil". Medicamentos também poderão ser distribuídos aos hospitais antes da conclusão dos testes de qualidade, desde que tenham sido aprovados nos testes de esterelidade.
"A iniciativa visa atender a necessidade do país neste momento crítico da pandemia, dada a gravidade da situação relacionada à escassez de medicamentos e dispositivos médicos utilizados nos ambientes hospitalares para tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19, em especial aqueles utilizados na sedação e anestesia", disse a Anvisa, em comunicado publicado no site.
Outra medida foi a permissão para a importação de medicamentos e dispositivos médicos usados no tratamento do novo coronavírus e que não tenham registro oficial no Brasil. Caso esses insumos tenham sido aprovados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou por autoridades sanitárias de outros países, a comercialização poderá ser aprovada mais rapidamente por aqui.
Falta de oxigênio
O oxigênio é um importante insumo para o tratamento de pacientes graves da covid-19. Em janeiro, uma escassez do insumo levou à morte de mais de 30 pessoa em UTIs de Manaus. Ontem, dia 19, uma falha de fornecimento de oxigênio também vitimou seis pacientes na cidade de Campo Bom, Rio Grande do Sul.
A Anvisa permitiu que cilindos de oxigênio não-medicinal sejam direcionados aos hospitais, para aumentar o fornecimento do insumo. Além disso, equipamentos industriais poderão ser usados para envasar e encher os cilindros, desde que atendam aos critérios de uso medicinal. EXAME
Vivemos o colapso da sociedade -
Por Natalia Pasternak / O GLOBO
Pouco se fala sobre a responsabilidade social, tanto de cidadãos como de gestores, durante a pandemia. Qual o papel da cidadania? Exercê-la implica prestar socorro aos outros, denunciar crimes, prezar pelo bem comum. Implica exigir que os governantes ajam de acordo com a lei, que façam bom uso dos recursos públicos, prezem pela educação e saúde.
No Brasil, o governo federal abdicou de suas obrigações frente à Covid-19. Mas onde está nossa indignação? Onde está a indignação de prefeitos, governadores, parlamentares? Onde está a cidadania?
Muito mais importante, neste momento, do que nos preocuparmos com as variantes do vírus — que vão continuar aparecendo, principalmente em locais como o Brasil, onde a pandemia corre sem controle — é nos preocuparmos com a qualidade das nossas máscaras, com a implementação efetiva de medidas preventivas, com o auxílio financeiro aos mais vulneráveis.
Mais importante do que discutir pontos porcentuais de eficácia de vacinas, é discutir o que cada um pode fazer para evitar o colapso do sistema da saúde e do sistema funerário. Explicar, para aqueles que ainda estão negando a realidade, que, com o sistema de saúde de joelhos, não podemos mais ficar doentes. De nada. Porque não tem mais hospital. Cada vez mais gente vai morrer agora, de infarto, de derrame, de sepse. Por falta de socorro.
Com o número de mortes aumentando vertiginosamente, o sistema funerário também vai colapsar. Durante uma pandemia, o sistema funerário já opera com mais lentidão e menos capacidade, porque os cuidados para prevenir contaminação precisam ser redobrados. E, após um funeral, o processo de limpeza e descontaminação também precisa ser cuidadoso. Isso atrasa o serviço, exige capacidade para armazenar corpos na refrigeração adequada para evitar putrefação. A fila aumenta. Neste meio tempo, nos preocupamos com a economia. Pois bem, quem vai pagar por mais frigoríficos e cemitérios?
O Brasil parece ter desenvolvido uma capacidade espantosa de negar a realidade e normalizar a morte. Espantoso o fatalismo e a passividade com que observamos o colapso se instaurar. Até quando vamos ignorar nossa responsabilidade de cobrar gestores, de cobrar o próximo, de cobrar até mesmo os parentes? Quando vamos exigir que os governantes façam aquilo que foram eleitos para fazer?
A ciência fez sua parte. Temos vacinas, sabemos que lockdown funciona, sabemos quais as melhores máscaras. Agora, a questão é social e política. Com três mil mortes por dia, quase 300 mil mortos no país, e com o Brasil se tornando um risco sanitário global, um pária entre as nações, é a vez do cidadão: o mandato político emana do povo, e o povo pode cassá-lo,exigindo que a Constituição se cumpra.
Nosso histórico de impeachments, infelizmente, diz muito sobre os valores da sociedade brasileira. Os dois presidentes impedidos desde a redemocratização caíram por questões que envolviam dinheiro. Nossa incapacidade de depor um presidente que, por sua atitude, segue responsável por ceifar a vida de milhares de brasileiros sugere uma reflexão sobre o quanto nos resta de humanidade.
Peso da inflação de fevereiro é menos desigual
A aceleração da inflação em fevereiro parece ter sido menos desigual socialmente do que foi a evolução dos preços nos meses anteriores. Ela atingiu todas as cinco faixas de renda em que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divide a população para aferir como a alta dos preços afeta os orçamentos das famílias de acordo com seus rendimentos.
No mês passado, a alta de 7,1% dos combustíveis foi um dos fatores mais fortes para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE alcançasse 0,86%, ante 0,25% em janeiro. Todas as faixas de renda sentiram o aumento. Mas as de renda mais alta sofreram mais a elevação dos custos de transportes do que as de renda menor.
Assim, para os brasileiros de renda muito baixa, a inflação aumentou de 0,21% em janeiro para 0,67% em fevereiro. Para os de renda alta, a variação foi mais ampla, de 0,29% para 0,98% entre um mês e outro.
“No caso das famílias de renda mais baixa, além dos combustíveis, os reajustes de 0,33% dos ônibus urbanos e de 0,56% do trem explicam a pressão exercida por esse grupo (transportes)”, destacou a técnica de planejamento do Ipea Maria Andrei Parente Lameiras, responsável pelo acompanhamento da inflação por faixa de renda.
As famílias de renda mais alta igualmente sentiram o impacto da alta dos combustíveis, mas, para parte delas, a queda de 3,09% nos preços das passagens aéreas pode ter atenuado o peso dos transportes em seus orçamentos.
Os aumentos dos aluguéis (de 0,66%), da taxa de água e esgoto (1,0%) e do botijão de gás (3,0%) afetaram mais os orçamentos das famílias de renda mais baixa. Já o reajuste de 3,1% das mensalidades escolares pressionou mais os orçamentos das de renda mais alta.
A desaceleração dos preços de alimentos evitou o aumento da inflação para todas as faixas de renda. Mas os aumentos observados nos meses anteriores, alguns muito expressivos – como os do arroz, do óleo de soja, da carne, entre outros produtos comuns na mesa dos brasileiros –, continuam a pressionar a inflação dos mais pobres no período de 12 meses.
A inflação de 12 meses se acelerou em fevereiro para todas as classes de renda, mas a diferença entre as faixas se mantém. Para as famílias de renda muito baixa, é de 6,75%; para as de renda alta, de 3,43%. = O ESTADO DE SP
Forças Armadas na Operação Covid-19, um ano salvando vidas
20 de março de 2021 | 03h00
No fim de semana passado as Forças Armadas transferiram de Manaus para Porto Alegre um hospital militar de campanha, para atender a população. Viajando, literalmente, do norte ao sul do País, foram percorridos mais de 3 mil km, distância 30% maior que a de Paris a Moscou, para se ter uma ideia dos desafios impostos pelas dimensões continentais do nosso imenso Brasil. Simultaneamente, navios de assistência hospitalar da Marinha levavam vacina às comunidades ribeirinhas da bacia do Amazonas, militares do Exército apoiavam a vacinação de indígenas em locais de difícil acesso e aviões da Força Aérea estavam novamente a transportar o tão vital oxigênio, desta vez para o Acre, onde os casos da doença se intensificaram. São pequenos exemplos do trabalho diário, constante e silencioso das Forças Armadas na Operação Covid-19.
A Operação Covid-19 completa um ano no sábado. Ela foi ativada pelo Ministério da Defesa, conforme diretriz do presidente Jair Bolsonaro, em 20 de março de 2020, para coordenar as ações das Forças Armadas, no combate à pandemia. As enormes dimensões do território nacional, onde cabem praticamente todos os países da Europa, a carência de recursos e as dificuldades de acesso em muitas regiões impuseram o engajamento decisivo dos nossos militares.
Na realidade, as primeiras atividades começaram ainda em fevereiro, quando aeronaves da FAB foram resgatar brasileiros em Wuhan, na China. De lá para cá o trabalho e a luta contra o inimigo invisível cresceram.
O planejamento foi de uma operação militar de guerra. Foram acionados, no Ministério da Defesa, o Centro de Operações Conjuntas e o Centro de Coordenação de Logística e Mobilização, funcionando ininterruptamente, acompanhando o emprego das Forças em todo País. Para assegurar maior proximidade com a população criamos dez comandos conjuntos – integrados por Marinha, Exército e Força Aérea –, cobrindo todo o território nacional, mantendo contato direto com Estados e municípios, permitindo a pronta identificação das necessidades locais. Tal decisão se mostrou valiosa, uma vez que, como ficou evidenciado ao longo desse intenso ano de trabalho, cada região, Estado, cidade ou mesmo localidade vive um diferente momento da pandemia, tendo necessidades específicas. Além disso, um Comando de Operações Aeroespaciais, permanentemente ativado, assegura o transporte aéreo em todo o País. Até o momento, os aviões da FAB já voaram o equivalente a 55 voltas ao mundo transportando oxigênio, respiradores, medicamentos, vacinas, equipes de saúde e pacientes. Só durante a recente crise em Manaus foram realizados mais de 280 voos, transportando milhares de cilindros e reservatórios de oxigênio líquido e evacuando mais de 750 pacientes.
Os números da Operação Covid-19 mostram o tamanho do esforço. São empregados, diariamente, cerca de 34 mil militares, efetivo maior que o da participação brasileira na 2.ª Guerra Mundial. Nossos militares já descontaminaram mais de 8.300 locais e capacitaram em torno de 36 mil profissionais em ações de desinfecção e no atendimento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Famílias carentes, em todo o Brasil, receberam mais 1 milhão de cestas básicas. Foram realizadas aproximadamente 38 mil ações nas fronteiras e nos rios. Atendimento médico foi levado às comunidades aldeadas, atendendo centenas de milhares de indígenas. Na vacinação contra a covid-19 o apoio das Forças Armadas já permitiu, até o momento, imunizar 157 mil indígenas.
A base industrial de defesa, atendendo prontamente ao chamado, colabora no combate à pandemia desde o início. Empresas responsáveis por mais de 1 milhão de empregos diretos adaptaram suas linhas de produção. Equipamentos bélicos deram lugar a equipamentos de proteção individual e outros itens essenciais. A parceria entre a defesa, a indústria e a academia permitiu a produção de novos respiradores, além do reparo de milhares de outros.
Enquanto transcorre a Operação Covid-19, as Forças Armadas desenvolvem outras ações, como a operação de garantia da lei e da ordem ambiental na Amazônia – um trabalho conjunto com órgãos ambientais e de segurança com resultados expressivos na redução do desmatamento, conforme divulgado recentemente. Tudo isso sem descuidar um minuto de sua missão principal de defesa da Pátria e de garantia da soberania nas fronteiras terrestres, nas águas jurisdicionais (Amazônia Azul) e no espaço aéreo.
Mesmo em tempos de pandemia, nenhuma das operações e atividades foi interrompida. A formação de pessoal foi mantida, assegurando a necessária continuidade. Afinal, os militares têm de estar sempre prontos e preparados para atender à Nação.
Costumo dizer que no Brasil pouco se pensa ou fala em defesa. Para muitos se trata de um tema distante, uma espécie de seguro não usado. Engana-se quem pensa assim. Proteger a população brasileira é dever das Forças Armadas. Para isso elas têm de estar treinadas e bem equipadas, com capacidade de responder rapidamente às demandas inesperadas.
Há um ano, Marinha, Exército e Força Aérea correm contra o tempo e lutam, no limite das suas capacidades, para salvar e preservar vidas. E assim será enquanto se fizer necessário.
MINISTRO DE ESTADO DA DEFESA
Sob o império da mentira - Bolívar Lamounier, O Estado de S.Paulo
Faz tempo que nós, brasileiros, vimos sentindo nossa autoestima baixar cada vez mais. Não vendo muito de positivo a celebrar, ressaltamos nossos defeitos, que, de fato, não são poucos.
Mas, sinceramente, nunca me ocorreu que tantos de nós fôssemos imbecis, canalhas e irresponsáveis como essas multidões que estão antepondo todo tipo de obstáculos ao combate à pandemia. Pondo em risco não só a nossa vida, mas também a deles.
A pandemia já ceifou quase 300 mil vidas e uma parcela importante dessa perda se deve ao comportamento do insano que nos preside. Seu objetivo parece ser muito mais o de impedir a ascensão eleitoral do governador João Doria do que livrar o nosso país dos riscos trazidos pelo coronavírus. Sabotando o trabalho dos agentes de saúde, fomentando aglomerações, insuflando fanáticos que o apoiam, mentindo sem nenhum pudor (por exemplo, quando afirma que o Supremo Tribunal Federal o impede de agir), ele vem tornando nossa tragédia muito maior do que ela precisaria ser. Hoje somos uma “ameaça global” e uma vergonha para o mundo.
Era o caso de esperar mais de um capitão excluído das Forças Armadas por indisciplina para em seguida se tornar um lídimo representante do “baixo clero” na Câmara dos Deputados? Justiça feita, ele não é um caso isolado. O que hoje temos na cúpula dos três Poderes é provavelmente a pior composição da nossa História. No próprio Supremo, guardião da Constituição, alguns ministros parecem empenhados tão somente em combater o combate à corrupção.
O império da mentira parece não ter limites. Veja-se o caso de Lula. Minutos após ter suas condenações pelo triplex e pelo sítio em Atibaia invalidadas pelo ministro Fachin, fazendo pose de estadista ele proferiu uma mentira que o futuro certamente lembrará como um notável paradoxo. Afirmou ter sido “vítima da pior mentira jurídica de nossa história”. Proferiu, portanto, uma mentira que se autodesmente, como na história do cachorro correndo atrás de seu próprio rabo. Mesmo o período de um ano e meio em que esteve preso em Pinheirais é uma grande mentira, pois esteve confortavelmente instalado, com direito a televisão e a visitas de seus advogados e outras pessoas. Lula sabe muito bem que, no espaço de dois ou três meses, sob os governos militares, muita gente sofreu centenas de vezes mais do que ele.
Lembremos, contudo, que algumas das piores coisas que ouvimos ultimamente não são mentiras. Minutos após ser empossado como presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Arthur Lira (PP-Alagoas) manifestou sua intenção de restabelecer a coligação entre partidos nas eleições legislativas. Essa, sim, é de cabo de esquadra.
A revogação das coligações (efetivada na reforma de 2017) foi a única medida séria que logramos aprovar no terreno da reforma política em mais de 30 anos de tentativas. A referida modalidade de coligação era uma evidente fraude da vontade do eleitor e da consistência que temos o direito de esperar dos partidos políticos. Minigrupos que, isoladamente, não conseguiriam atingir o chamado quociente eleitoral, habilitando-se a participar da distribuição das cadeiras, aliavam-se – como se fossem um partido! – a fim de atingi-lo. Concretizado esse objetivo espúrio, separavam-se, juntavam-se a outros e faziam o que bem entendiam com a parcela da representação popular que supostamente teriam angariado.
A vedação das coligações foi aplicada na eleição municipal de 2020, com resultados por enquanto modestos, mas positivos.
A intenção externada pelo presidente da Câmara é um péssimo augúrio. Sugere que uma parte da classe política persiste na obtusidade que a caracteriza há várias legislaturas. Que não compreende que o Brasil precisa de uma reforma política séria e abrangente, sob pena de não lograr o impulso necessário para retomar o crescimento econômico e a busca do bem-estar. Nesse mister, não estamos lutando para evitar um retrocesso, estamos metidos até o pescoço num retrocesso gravíssimo, que implica nossa permanência num nível de pobreza avultante por toda uma geração. Tal reforma terá de ser feita, cedo ou tarde, e num contexto preocupante. Trata-se de uma reforma difícil, que por certo envolverá alterações constitucionais, portanto, um desafio de grande monta para a atual geração política, sabidamente mediana.
Trinta e cinco anos atrás, no Congresso Constituinte, qualquer cidadão informado não precisaria de mais que cinco minutos para apontar dez, quinze ou vinte líderes de expressão nacional. Falo da qualidade de tais líderes, não da ideologia de tal ou qual. De A a Z, dispúnhamos de figuras públicas habilitadas a representar a sociedade nos escalões mais altos. Lá estavam Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Mário Covas, Roberto Campos, Delfim Netto, Fernando Henrique Cardoso.
Hoje, se me permitem um breve resumo, temos um cenário extremamente preocupante para as próximas duas ou três décadas e uma classe política, ao que tudo indica, despreparada para enfrentar esse magno desafio.
SÓCIO-DIRETOR DA AUGURIUM CONSULTORIA, É MEMBRO DAS ACADEMIAS PAULISTA DE LETRAS E BRASILEIRA DE CIÊNCIAS
Vacinas contra covid: como está a vacinação no Brasil e no mundo
BBC NEWS BRASIL -
Quando se trata da vacina contra a covid-19, há uma pergunta que a maioria das pessoas está se fazendo - quando ela vai chegar a todos? Afinal, vacinar o mundo contra o novo coronavírus é uma questão de vida ou morte.
Alguns países definiram metas muito específicas, mas para o restante do mundo a imagem é muito menos clara, pois envolve processos científicos complicados, corporações multinacionais, promessas governamentais conflitantes e uma grande dose de burocracia e regulamentação. Não é nada simples.
Quando vou receber a vacina?
No Brasil, a vacinação começou no fim de janeiro. Até agora, segundo a plataforma de dados Our World In Data, mais de 10 milhões de doses já foram administradas.
Mas uma grande parcela da população ainda falta ser vacinada.
Foram 5,05 doses por 100 habitantes. Já em Israel, o país com a maior taxa de vacinação do mundo, 106,5. No Chile, o país da América Latina que mais rapidamente tem vacinado sua população, essa taxa é de 32,09.
Em números absolutos, os Estados Unidos são o país que mais administrou doses de vacinas contra a covid-19, cerca de 98,2 milhões até agora.
Especialistas alertam que, em meio ao pior momento da pandemia, a única solução para o Brasil é a adoção de um confinamento mais rígido e a aceleração da vacinação.
Nos últimos dias, o Brasil vem batendo seguidos recordes de mortes diárias e, em muitos Estados, já não há mais leitos UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Eles dizem que o número alto de mortes pode ser explicado, principalmente, pela livre circulação de pessoas e por uma variante (P.1) do coronavírus mais transmissível e que, de acordo com estudos preliminares, causaria reinfecçãonaqueles que já tiveram a doença.
Em entrevista recente à BBC News Brasil, o biólogo e divulgador científico Átila Iamarino sugeriu que o Brasil deveria fazer "o que o restante do mundo fez: decretar um lockdown mais rígido e correr com a vacinação. Isso é o mínimo".
Mas, sem uma estratégia a nível federal, acrescentam, esse objetivo dificilmente será cumprido.
"De que adianta um município ou um Estado decretar um confinamento se as pessoas de municípios ou Estados vizinhos continuarem circulando? Isso faz com que a localidade tenha todo o prejuízo econômico e político de confinar sua população, mas sem o sucesso que poderia ter se essa ação fosse coordenada. A falsa impressão é de que o esforço não funciona, quando, na verdade, ele está sendo sabotado a nível federal", assinalou Iamarino.
"Por isso, digo que temos dois inimigos para enfrentar no Brasil. Um é a nova variante e o outro é a falta de estratégia do governo federal".
"Como resultado, temos pronta a receita para que mais variantes perigosas surjam", acrescentou Iamarino.