Os tormentos da Mata Atlântica
30 de maio de 2021 | 03h00
A Mata Atlântica é o bioma mais devastado do Brasil. Hoje restam apenas 12,4% de sua cobertura original. Apesar disso, a devastação persiste. Segundo o Atlas da Mata Atlântica realizado pelo Inpe e a SOS Mata Atlântica, entre 2019 e 2020 a degradação aumentou em 10 dos 17 Estados que registram a presença do bioma.
Hoje os índices são significativamente melhores do que no fim do século 20. Entre 1985 e 1995 devastavam-se, em média, mais de 103 mil hectares por ano. Entre 2019 e 2020 foram 13 mil hectares. Mas foi um pequeno avanço considerando-se que entre 2017 e 2018 chegou-se a quase 11 mil hectares, o menor nível histórico.
Em termos de escala, as áreas de grandes desmatamentos servem à expansão da agricultura. Mais de 90% estão em apenas cinco Estados, com Minas Gerais em primeiro lugar (4,7 mil hectares), seguida por Bahia (3,2 mil), Paraná (2,1 mil), Santa Catarina (887) e Mato Grosso do Sul (851).
Em termos de volume, o desflorestamento em Estados como São Paulo e Espírito Santo foi pequeno, de 218 e 75 hectares, respectivamente. Mas o aumento em relação ao ano anterior foi grande: mais de 400% nos dois casos. A aceleração é preocupante, primeiro porque são Estados que estavam próximos do desmatamento zero, depois porque nesses casos o desmatamento ocorre em função de exploração imobiliária em volta das cidades, muitas vezes nas áreas de mananciais, trazendo grandes riscos para o abastecimento hídrico.
É preciso ter em mente que a devastação e a preservação ambiental na Mata Atlântica têm características distintas em relação, por exemplo, à Amazônia. A escala é expressivamente menor. Mas a Mata Atlântica está presente em 17 Estados, é o bioma onde vivem mais de 70% dos brasileiros e concentra 70% do PIB nacional. Dela dependem serviços essenciais como abastecimento de água, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo.
Mesmo com uma fração marginal de sua cobertura primitiva, a Mata Atlântica abriga a maior diversidade de árvores por hectare do mundo: 20 mil espécies de plantas, além de 1.300 espécies de animais. Diferentemente da Amazônia, a mera redução do desmatamento não é suficiente para conservar essas características. É preciso visar, a curto prazo, ao desmatamento zero e à restauração em escala.
Um estudo publicado na revista Nature estima que a Mata faz parte de um conjunto de ecossistemas cuja recuperação de 15% da área desmatada evitaria 60% da extinção de espécies ameaçadas no planeta e absorveria 30% do carbono acumulado desde a Revolução Industrial.
Hoje, mais de 90% do território remanescente da Mata Atlântica é composto por espaços fragmentados, com menos de 100 hectares, o que prejudica a preservação de sua biodiversidade. Segundo o diretor do Instituto Internacional para Sustentabilidade, Bernardo Strassburg, um dos autores do estudo da Nature, o mero replantio pulverizado é pouco eficaz. Intervenções que criem corredores verdes conectando as áreas remanescentes podem ter um impacto regenerativo até oito vezes maior.
Diante dessas necessidades, os ambientalistas estão apreensivos com a atmosfera de descaso que impera em Brasília, não apenas por parte do presidente Jair Bolsonaro, de quem nunca se esperou nada a não ser hostilidade à causa ambiental, mas do próprio Congresso. Há pouco, a Câmara dos Deputados encaminhou ao Senado um projeto de lei dispensando o licenciamento ambiental para uma série de atividades agropecuárias, além de projetos de infraestrutura e construção civil.
Muitos governadores dos Estados cobertos pela Mata Atlântica têm manifestado o desejo de mostrar protagonismo em fóruns internacionais como a Conferência do Clima, a ser realizada em Glasgow. Nas condições atuais, precisarão redobrar seus esforços. Não se trata apenas de reforçar a fiscalização contra práticas predatórias locais, mas de defender os próprios instrumentos de fiscalização de políticas predatórias de Brasília. Além disso, os governos estaduais precisam propor metas ambiciosas de restauração da Mata Atlântica.
Jair Bolsonaro obtém sua primeira vitória na CPI... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2021/05/26/jair-bolsonaro-obtem-sua-primeira-vitoria-na-cpi.htm?cmpid=copiaecola
Bolsonaro pediu ao senador Jorge Kajuru que o ajudasse a fazer "do limão uma limonada" na CPI. A voz do presidente soou assim no telefonema gravado: "Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello". O que o capitão desejava mesmo é sair da alça de mira, diversificando o número de alvos. Conseguiu. A CPI aprovou a reconvocação do general Pazuello e do sucessor dele, o cardiologista Queiroga. Mas incluiu no pacote a convocação de nove governadores e um ex-governador.
Até agora, o G7 colocava sua maioria a serviço da racionalidade da investigação, concentrando-se na apuração da conduta do governo federal na pandemia. Com os primeiros sinais de rachadura à mostra, o grupo majoritário começou a fazer concessões ao Planalto, que joga no tumulto. Há diversas maneiras de transformar uma Comissão Parlamentar de Inquérito num espremedor de limões. A diversificação da pauta é a mais comum. A pretexto de investigar tudo, apura-se coisa nenhuma.
Duas coisas tornaram a CPI da pandemia inevitável: a inação do procurador-geral da República Augusto Aras e o excesso de cadáveres. Sem vocação para procurar, Aras fechou os olhos para a irresponsabilidade sanitária do governo Bolsonaro. Deixou ao relento o principal bem jurídico de uma sociedade civilizada: a vida humana. O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, teve de acionar o pé de cabra para retirar o pedido de CPI da gaveta do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Ao farejar o cheiro de queimado, o governismo acoplou ao requerimento original um puxadinho prevendo a investigação de governadores. base da saliva. Empurrava o debate sobre os governadores com a barriga. Dizia que necessário aguardar a chegada das informações requisitadas pelos senadores. De repente, surpreendeu os demais membros do G7 com um súbito interesse em incluir os estados na pauta. Incluiria também uma dúzia de prefeitos de capitais. Mas recuou.
Cedo ou tarde a CPI teria de tratar de governadores. Mas imaginou-se que Aziz acionaria a barriga por mais tempo. Não por falta de material. Os assaltos à verba da pandemia ocorreram à farta. Mas o envolvimento prematuro da CPI é inútil e indevido. A inutilidade decorre do fato de que os senadores forçarão portas já arrombadas. Adotou-se como critério a convocação dos governadores cujas administrações já receberam visitas dos rapazes da Polícia Federal. Ou seja: os senadores fingirão investigar o que já foi investigado. Um dos convocados, o ex-governador do Rio Wilson Witzel, já perdeu até o mandato por conta dos desvios. O interesse da CPI pelo esquadrinhamento dos governos estaduais é indevido porque a Constituição atribuiu a tarefa aos legislativos estaduais. Não são negligenciáveis as chances de os convocados recorrerem ao Supremo para obter liminares que lhes permitam fugir da vitrine da CPI.
Depondo ou fugindo, os governadores servirão de pretexto para que Bolsonaro pratique o seu esporte predileto: o arremesso de culpas à distância. Dono da pauta da CPI, Omar Aziz ainda pode jogar os estados para o final da fila. Mas aumentou o risco de a CPI servir ao presidente o suco de limão que ele encomendara ao senador Kajuru.
A perda de foco foi escancarada numa iniciativa do autor do requerimento que levou à instalação da CPI. Vencido na decisão do G7 de premiar o Planalto com a convocação dos governadores, Randolfe Rodrigues protocolou um pedido de convocação do próprio Bolsonaro. Fez isso sabendo que a iniciativa não tem amparo na Constituição. Foi como se o senador quisesse adoçar a limonada de Bolsonaro com algumas gotas de desespero.
Governo recebe 5,9 milhões de doses da vacina de Oxford neste sábado
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) disponibilizará mais 5,9 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca produzidas por ela ao Ministério da Saúde neste sábado (29). O quantitativo começará a ser distribuído aos estados hoje. O envio deve ocorrer pelos próximos dias.
As doses serão entregues ao centro de distribuição do Ministério, na cidade de Guarulhos (SP). O estado do Rio de Janeiro receberá diretamente seu lote, uma vez que a sede da unidade de fabricação da Fiocruz fica na capital fluminense.
Com essas 5,9 milhões, serão 46 milhões de doses de vacinas entregues pelo consórcio. A previsão é que até o início de julho a Fundação Oswaldo Cruz entregue mais 16 milhões de doses, totalizando 62 milhões.
O Plano Nacional de Operacionalização da Imunização Contra a Covid-19 foi atualizado, conforme anúncio do Ministério da Saúde de sexta-feira. Com o fim da imunização das pessoas com comorbidade e pessoas com deficiência, os será a vez dos profissionais da saúde receberem as vacinas. AGÊNCIA BRASIL
Fortaleza tem protesto com cerca de 3 mil pessoas e carreata contra Bolsonaro neste sábado (29)
Manifestantes contrários a Jair Bolsonaro foram às ruas neste sábado (29) em Fortaleza para protestar contra a atuação do presidente no combate à pandemia. O ato que começou na Praça da Gentilândia e carreata realizada nas imediações do Castelão ocorreram de forma simultânea.
Cerca de três mil pessoas se reuniram no protesto iniciado no bairro Benfica, segundo o Diário do Nordeste apurou com a organização no local. Ato foi liderado por frentes da esquerda, movimentos sociais e centrais sindicais.
A manifestação será encerrada no fim da tarde deste sábado na Igreja de Fátima com um ato ecumênico com minuto de silêncio em homenagem às vítimas da Covid-19.
Cartazes pediam mais vacinas e estampavam "Fora Bolsonaro". Já nas imediações da Arena Castelão uma carreata com buzinaços e cartazes foi promovida contra o presidente.
USO DE MÁSCARAS
Ari Areia, do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), um dos organizadores do protesto, pontuou que foram tomados cuidados com o distanciamento social no ato. Álcool em gel e máscaras eram distribuídos aos manifestantes.
PRESENÇA DE IDOSOS
A professora aposentada da Universidade Federal do Ceará Marília Brandão, 71, e a aposentada da Secretaria de Planejamento do Ceará Lígia Luna, 69, alcançaram a manifestação no bairro de Fátima na tarde deste sábado.
"A gente se sente na obrigação de participar disso. É um dever", explicaram as idosas.
Marília, que perdeu um irmão para a Covid comenta que deseja "a volta da democracia para o Brasil". "É fora Bolsonaro. Nós precisamos de vacina para todos. Perdemos irmãos e pessoas próximas", conta.
MARCA DE 450 MIL MORTES NO BRASIL
O médico Leandro Araújo, 38, compareceu ao protesto e relatou a importância de denunciar "que existe uma causa para as mais de 450 mil mortes" por Covid-19 no Brasil. Ele trabalha na linha de frente da rede pública desde o ano passado.
"Existe uma situação sanitária causada pelo presidente da República, que nega a ciência. Ele negou a compra de vacinas e consequentemente levou a tudo isso. A indignação se dá hoje nas ruas, de forma segura, com distanciamento social, álcool em gel e máscara PFF2", afirma.
Leandro comenta ainda sobre o desejo de mais vacinas para população, auxílio emergencial e o impeachment de Jair Bolsonaro, "esse presidente que realmente não representa o povo brasileiro". DIARIONORDESTE
Em meio à crise, Brasil tem fila de 60 mil à espera de cirurgias cardiovasculares
Paula Felix, O Estado de S.Paulo
Desde outubro do ano passado, a ajudante de cabeleireiro Rosilda da Silva Magalhães, de 55 anos, está com os exames prontos para fazer uma cirurgia para a troca de duas válvulas cardíacas e aguarda o chamado do hospital. Enquanto espera, tem episódios frequentes de tontura e mal-estar. Ela está entre os cerca de 60 mil pacientes com doenças cardiovasculares diretamente afetados pela pandemia de covid-19, que tiveram procedimentos suspensos ou adiados porque leitos estavam ocupados com infectados pela doença.
A situação é agravada por uma crise no fornecimento de materiais essenciais para essas cirurgias. Com a alta do dólar e defasagem na Tabela SUS, fornecedores têm dificuldade de repassar os produtos sem prejuízo e hospitais da rede pública nem sempre conseguem repor a diferença para garantir as compras, o que já resulta em desabastecimento de itens em 52% das unidades que fazem o serviço, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV).
“A pandemia simplesmente represou as cirurgias cardiovasculares. Normalmente, a gente faz de 95 mil a 100 mil por ano e, no ano passado, fizemos menos de 40 mil. Então, tem mais ou menos 60 mil cirurgias eletivas que estão represadas. Elas não são de urgência, mas o problema é que estão ficando para trás”, diz Eduardo Rocha, presidente da SBCCV. “Além disso, teve o impacto tributário, o dólar disparou e muitos produtos são importados”, completa.
A entidade tem alertado sociedades médicas e instituições ligadas à indústria desde o fim do ano passado e começou a se deparar com o apagão de materiais em janeiro deste ano. “Começaram a faltar alguns produtos, como válvulas cardíacas, oxigenadores e cânulas para poder operar dentro do coração. São usados em cirurgias de ponte de safena, correção de defeitos congênitos de adultos e crianças, trocas de válvulas. E para cirurgia cardíaca de peito aberto.”
Procedimentos também são prejudicados por escassez de medicamentos do "kit intubação"
A retomada dos procedimentos eletivos não amorteceu o problema, pois esbarrou em outra questão que preocupou o País neste ano: a escassez de sedativos, analgésicos e bloqueadores, medicamentos do chamado “kit intubação”, que também são usados em cirurgias cardiovasculares. “Tivemos um primeiro trimestre com UTIs ocupadas, sem o kit intubação e isso é muito grave. Mesmo quem conseguir assistência pode ter o quadro agravado e muita gente vai morrer antes de ter assistência adequada. Estamos muito preocupados”, diz ele.
Rosilda precisa trocar as válvulas mitral e aórtica e chegou a ter uma previsão de cirurgia para dezembro. Enquanto a data não é marcada, sofre com os impactos do problema de saúde. “Não consigo andar na rua de máscara, tenho tontura e preciso parar e sentar. Até hoje, ninguém me ligou. Era para fazer no Hospital Evangélico, aqui em Belo Horizonte. Tem a falta de alguma coisa para o procedimento, mas não falam diretamente.”
Em nota, o hospital confirmou a situação. “Praticamente, toda a linha de materiais da cirurgia cardíaca não está sendo atendida pelos fornecedores. Desde janeiro de 2021, os fornecedores informaram sobre a dificuldade de atender os hospitais com os valores da tabela do SUS, sendo necessário uma complementação de valores, que hoje é inviável para os hospitais filantrópicos custearem.”
A fila tem, atualmente, 34 pessoas. Para resolver a situação, o hospital relatou o quadro para a Secretaria Municipal da Saúde e para o Ministério Público, solicitando “até mesmo encaminhamento desses pacientes para outros hospitais que tenham materiais disponíveis”.
A espera do aposentado Victor Camilo de Souza, de 72 anos, por três pontes de safena começou no mês passado. “O coração dele está fraco. O cardiologista recomendou ficar em repouso, não pode ter nenhum estresse nem estado nervoso. Só que causa uma ansiedade no paciente e na família. Não tem previsão da data e ele fica nervoso com a espera”, conta a filha do paciente, a autônoma Rosimeire Camilo de Sousa, de 43 anos. A reportagem tentou contato por e-mail e telefone com o Hospital Evangélico Goiano, em Anápolis (GO), mas não conseguiu retorno.
Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Celso Amodeo explica que a fila já era um desafio antes da pandemia, mas que a covid-19 piorou a situação. “A pandemia veio mostrar uma série de deficiências do sistema público de saúde.” Com o represamento de cirurgias, o quadro de saúde pode se agravar, demandando tratamentos mais complexos e, em casos extremos, levando o paciente à morte. “Pode ter situações em que o momento cirúrgico é bom e se perde isso”, afirma.
Crise afeta setor de materiais para cirurgias
A queda de procedimentos somada à questão dos reajustes da Tabela SUS impactou o setor que atua com esses materiais, segundo Fernando Silveira Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed). “No que diz respeito aos impactos da pandemia da covid e da redução de cirurgias eletivas, 89,66% das associadas reportaram queda na receita, 10,34% aumento do endividamento, 13,79% viram reduzir o número de clientes e 79,31% observaram aumento no valor da aquisição de produtos e insumos.”
Superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo), Paulo Henrique Fraccaro diz que o principal componente para esses procedimentos é o oxigenador, que está, desde 2002 sem reajuste. “A inflação neste período, pelo IPCA, foi de 181%. Pedimos para o governo federal que, pelo menos, tenha um reajuste de 107,8%.”
O Ministério da Saúde informou, em nota, que tanto a compra de insumos quanto a realização de procedimentos cardiovasculares são responsabilidades dos gestores locais e que faz os repasses que “correspondem aos procedimentos realizados e informados pelas Secretarias de Saúde, de acordo com a Tabela SUS.” De acordo com o ministério, desde 2010, mais de mil procedimentos tiveram seus valores reajustados.
Origens do coronavírus: o que se sabe sobre o laboratório de Wuhan e a transmissão animal?
Redação, O Estado de S.Paulo
WUHAN - Cientistas em todo o mundo estão revisitando um mistério central da pandemia de covid-19: onde, quando e como o vírus que causa a doença se originou? Há duas principais teorias: uma diz que o vírus saltou de animais, possivelmente morcegos, para humanos; a segunda defende que ele escapou acidentalmente de um laboratório de virologia em Wuhan.
Isto é o que se sabe até agora:
Por que um laboratório em Wuhan é foco de interesse?
O Instituto de Virologia de Wuhan é um centro de pesquisa de alta segurança que estuda patógenos com potencial para infectar humanos, causando doenças exóticas e mortais. O laboratório tem feito um amplo trabalho com vírus transmitidos por morcegos desde o surto internacional de SARS-CoV-1 de 2002, que começou na China, matando 774 pessoas em todo o mundo.
A busca pelas origens do SARS-CoV-1 levou anos depois à descoberta de vírus semelhantes em uma caverna de morcegos no sudoeste da China. O instituto coleta material genético de animais selvagens para experimentação em seu laboratório de Wuhan. Os pesquisadores experimentam vírus vivos em animais para avaliar a suscetibilidade humana.
Para reduzir o risco de escape acidental de patógenos, a instalação deve aplicar protocolos de segurança rigorosos, como vestimentas protetoras e super filtração de ar. Mas mesmo as medidas mais rígidas podem não eliminar completamente esses ricos.
Por que alguns cientistas suspeitam de um acidente de laboratório?
Para alguns cientistas, é possível que o descuido de um trabalhador do laboratório possa ter liberado o vírus. O instituto não fica longe do Huanan Seafood Market, apontado no início da crise como o marco zero da pandemia, onde o vírus teria sido transmitido de um animal para um humano.
O mercado também foi o local do primeiro evento "superespalhador" de covid-19. A proximidade entre os dois espaços levantou suspeitas imediatas, alimentadas pela falha, até agora, em identificar qualquer vida selvagem infectada com a mesma linhagem viral. Além disso, as dificuldades levantadas pelo governo chinês nas tentativas de investigação do laboratório despertaram desconfiança.
Embora os cientistas do laboratório de Wuhan tenham dito não possuir nenhum vestígio de SARS-CoV-2 em seu inventário na época, 24 pesquisadores enviaram uma carta à Organização Mundial da Saúde (OMS) solicitando uma investigação independente e rigorosa. A primeira missão da OMS na China, realizada este ano, não foi a fundo o suficiente, escreveram eles.
Um informativo do Departamento de Estado dos EUA, divulgado antes da missão da OMS nos últimos dias da administração Trump, alegou, sem provas, que vários pesquisadores do laboratório adoeceram com sintomas parecidos aos da covid-19 ou outras doenças sazonais comuns antes do primeiro caso ser confirmado publicamente em dezembro de 2019.
Quais são os argumentos a favor da teoria de transmissão entre animais e humanos?
Muitos cientistas acreditam que a teoria da origem natural do vírus é muito mais provável e não viram nenhuma evidência científica que sustente a hipótese do vazamento. Kristian G. Andersen, um cientista da Scripps Research que fez um extenso trabalho com coronavírus, Ebola e outros patógenos transmissíveis de animais para humanos, disse que sequências genômicas semelhantes ocorrem naturalmente em coronavírus e são improváveis de serem manipuladas de certas maneiras.
Os cientistas que defendem a hipótese das origens naturais contam em grande parte com a história. Algumas das novas doenças mais letais do século passado foram atribuídas às interações humanas com a vida selvagem, incluindo a primeira epidemia de SARS (morcegos), MERS-CoV (camelos), Ebola (morcegos ou primatas não humanos) e Nipah vírus (morcegos).
Embora uma origem animal não tenha sido identificada até agora, amostras recolhidas em barracas na seção de vida selvagem do mercado de Wuhan após o surto estavam contaminadas com o vírus, sugerindo a possibilidade de um animal infectado ter estado lá.
Novas informações surgiram nos últimos tempos?
A carta que os cientistas enviaram em 4 de março à OMS redirecionou a atenção para o cenário de vazamento em laboratório, mas não ofereceu nenhuma nova evidência. Nem a prova definitiva de uma origem natural apareceu. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em 26 de maio, disse que sua equipe de segurança nacional não acredita que haja informações suficientes para avaliar que uma teoria é mais provável do que a outra. Ele instruiu oficiais de inteligência a coletar e analisar informações que pudessem apresentar uma conclusão definitiva em 90 dias. /REUTERS