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Jair Bolsonaro obtém sua primeira vitória na CPI... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2021/05/26/jair-bolsonaro-obtem-sua-primeira-vitoria-na-cpi.htm?cmpid=copiaecola

Josias de Souza

Colunista do UOL

26/05/2021 16h39

Bolsonaro pediu ao senador Jorge Kajuru que o ajudasse a fazer "do limão uma limonada" na CPI. A voz do presidente soou assim no telefonema gravado: "Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello". O que o capitão desejava mesmo é sair da alça de mira, diversificando o número de alvos. Conseguiu. A CPI aprovou a reconvocação do general Pazuello e do sucessor dele, o cardiologista Queiroga. Mas incluiu no pacote a convocação de nove governadores e um ex-governador.

Até agora, o G7 colocava sua maioria a serviço da racionalidade da investigação, concentrando-se na apuração da conduta do governo federal na pandemia. Com os primeiros sinais de rachadura à mostra, o grupo majoritário começou a fazer concessões ao Planalto, que joga no tumulto. Há diversas maneiras de transformar uma Comissão Parlamentar de Inquérito num espremedor de limões. A diversificação da pauta é a mais comum. A pretexto de investigar tudo, apura-se coisa nenhuma.

Duas coisas tornaram a CPI da pandemia inevitável: a inação do procurador-geral da República Augusto Aras e o excesso de cadáveres. Sem vocação para procurar, Aras fechou os olhos para a irresponsabilidade sanitária do governo Bolsonaro. Deixou ao relento o principal bem jurídico de uma sociedade civilizada: a vida humana. O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, teve de acionar o pé de cabra para retirar o pedido de CPI da gaveta do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Ao farejar o cheiro de queimado, o governismo acoplou ao requerimento original um puxadinho prevendo a investigação de governadores. base da saliva. Empurrava o debate sobre os governadores com a barriga. Dizia que necessário aguardar a chegada das informações requisitadas pelos senadores. De repente, surpreendeu os demais membros do G7 com um súbito interesse em incluir os estados na pauta. Incluiria também uma dúzia de prefeitos de capitais. Mas recuou.

Cedo ou tarde a CPI teria de tratar de governadores. Mas imaginou-se que Aziz acionaria a barriga por mais tempo. Não por falta de material. Os assaltos à verba da pandemia ocorreram à farta. Mas o envolvimento prematuro da CPI é inútil e indevido. A inutilidade decorre do fato de que os senadores forçarão portas já arrombadas. Adotou-se como critério a convocação dos governadores cujas administrações já receberam visitas dos rapazes da Polícia Federal. Ou seja: os senadores fingirão investigar o que já foi investigado. Um dos convocados, o ex-governador do Rio Wilson Witzel, já perdeu até o mandato por conta dos desvios. O interesse da CPI pelo esquadrinhamento dos governos estaduais é indevido porque a Constituição atribuiu a tarefa aos legislativos estaduais. Não são negligenciáveis as chances de os convocados recorrerem ao Supremo para obter liminares que lhes permitam fugir da vitrine da CPI.

Depondo ou fugindo, os governadores servirão de pretexto para que Bolsonaro pratique o seu esporte predileto: o arremesso de culpas à distância. Dono da pauta da CPI, Omar Aziz ainda pode jogar os estados para o final da fila. Mas aumentou o risco de a CPI servir ao presidente o suco de limão que ele encomendara ao senador Kajuru.

A perda de foco foi escancarada numa iniciativa do autor do requerimento que levou à instalação da CPI. Vencido na decisão do G7 de premiar o Planalto com a convocação dos governadores, Randolfe Rodrigues protocolou um pedido de convocação do próprio Bolsonaro. Fez isso sabendo que a iniciativa não tem amparo na Constituição. Foi como se o senador quisesse adoçar a limonada de Bolsonaro com algumas gotas de desespero.

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