Bolsonaro minimiza a pandemia e Guedes ‘não é sério’, diz Rodrigo Maia
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está em rota de colisão com o chefe da equipe econômica, Paulo Guedes. O motivo é o seguinte: em meio à pandemia de coronavírus, o “primeiro-ministro”, como o deputado é chamado por colegas, está prevalecendo sobre o “Posto Ipiranga” de Jair Bolsonaro na elaboração de medidas destinadas a atenuar os efeitos econômicos da crise. O mais recente embate entre os dois envolve o projeto de socorro financeiro a estados e municípios. Guedes tachou a proposta defendida pelo parlamentar de bomba fiscal e disse que, se aprovada, teria um impacto de 285 bilhões de reais. Deixando o tom moderado de lado, Maia afirma que o ministro está distribuindo informação falsa à sociedade. E emenda, num ataque frontal: “Ele não é sério. Se fosse sério, não tentaria misturar a cabeça das pessoas”. O deputado também critica o presidente da República, que estaria empenhado em segurar a ajuda financeira a governadores como forma de enfraquecê-los, especialmente aqueles que podem disputar com ele o Planalto em 2022. A seguir os principais trechos da entrevista, concedida por videoconferência, como manda a cartilha em tempos de distanciamento social.
Como o senhor avalia a atuação do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia de coronavírus? O presidente minimiza o problema, o que pode ter consequências enormes num país continental como o Brasil. Outro dia, ele disse numa live que teríamos menos mortes com o novo coronavírus do que com a H1N1, o que, em poucas semanas, foi desmentido pelos dados oficiais. O presidente segue a linha daqueles que, em outros países, entenderam que o custo do não isolamento era menor que o custo do isolamento. A diferença é que a maioria dos governantes que seguiram esse caminho já recuou. A postura de Bolsonaro de minimizar a pandemia levou a equipe econômica a demorar muito tempo para se convencer de que o impacto seria grande. Essa postura também provoca conflitos.
Que tipos de conflito? Todos os problemas enfrentados pelo presidente são resultado de seu diagnóstico errado. Todos os conflitos partem de uma divergência dele com a maioria da sociedade brasileira. É uma coisa estranha porque parece que o Bolsonaro sai da posição de presidente e fica sendo o comentarista e crítico, como se não tivesse responsabilidade sobre determinada decisão ministerial. Outro dia, a esposa do ministro Sergio Moro postou um apoio a Mandetta e, depois, o apagou. Há um mal-estar não só com o Ministério da Saúde, mas com o segmento mais racional do governo.
O senhor disse recentemente que o governo dá coice. Toda vez que você diverge, como ocorreu em relação ao Ministério da Economia, o governo parte para o ataque. Em vez de fazerem um debate transparente e sério, o ministro (Paulo Guedes) e sua equipe passam informações falsas à sociedade em relação ao que deve ser a crise de estados e municípios nos próximos meses. Da forma como Guedes faz, a impressão que dá é que ele quer impor a posição dele — e, numa democracia, isso não existe. Tínhamos uma proposta de como ajudar estados e municípios, fomos convencidos de que parte dela estava equivocada, mudamos o texto e aprovamos uma versão muito equilibrada. Chegou a ponto de ele dizer que o impacto do projeto pode ser de 285 bilhões de reais. Sabe o que significa? Queda de 100% na arrecadação do ICMS e do ISS. Se ele acha que pode ser isso, o que não será nunca, está dizendo que a crise é muito mais grave do que estamos imaginando. Ou seja: ele não é sério. Se fosse sério, não tentaria misturar a cabeça das pessoas.
Sem Mandetta, Bolsonaro planeja mudança arriscada no combate à Covid-19
Não foi exatamente uma surpresa. Fazia tempo que Jair Bolsonaro ameaçava demitir Luiz Henrique Mandetta do cargo de ministro da Saúde e dar uma guinada na estratégia de reação à pandemia do coronavírus. O presidente foi convencido por militares a adiar a decisão por enquanto, mas as divergências foram maiores. Na tarde da quinta 16, depois de conseguir algum consenso dentro do governo e o nome do oncologista Nelson Teich para substituí-lo, Bolsonaro finalmente mandou Mandetta embora. Por trás do desligamento do ministro, um aspecto maior: o governo vai mesmo flexibilizar a quarentena. E pretende fazer isso o mais breve possível, antes mesmo da chegada do período de pico da Covid-19 ao Brasil (o que, segundo as estimativas mais recentes, acontecerá nos meses de maio e junho). Com a troca, o objetivo é incentivar uma retomada mais rápida da atividade econômica, para atenuar a queda do PIB neste ano, que poderá chegar a 5%. O temerário plano, que desconsidera as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) neste estágio da pandemia, pretende implantar um isolamento seletivo da população. Isso significa que apenas os infectados e pessoas dos grupos de risco, como idosos, devem ficar em casa. As demais poderão retomar suas atividades, desde que usem máscara de proteção e álcool em gel.
Embora a ciência e as estatísticas mostrem que este ainda não é o momento, o governo quer adotar a quarentena apenas em pontos geográficos com maior concentração de casos suspeitos, e não mais obrigar uma cidade inteira a ficar em casa. Assim, municípios e regiões industriais voltariam a funcionar normalmente, mesmo com determinadas zonas interditadas. O presidente e seus auxiliares reclamam do excesso de medidas restritivas de governadores e prefeitos, que teriam travado até mesmo polos industriais que não haviam apontado casos de contaminação pelo novo coronavírus. Um oficial da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que acompanha a evolução do vírus, ouvido por VEJA, diz que a orientação do Ministério da Saúde em favor do isolamento, seguida por governadores e prefeitos, provocou paralisação em cidades como Jandaia do Sul e Cambé, no Paraná, e Patrocínio, em Minas Gerais, antes mesmo da chegada da doença. “O vírus não chegou a 80% das cidades brasileiras, mas grande parte delas sofre um verdadeiro lockdown”, diz ele. A avaliação (que despreza o fato de que, dessa forma, o vírus vai chegar nesses lugares) é que é possível reativar com segurança parte da produção. “Estamos estudando como diminuir o impacto da pandemia na economia e, ao mesmo tempo, começar a impulsionar o crescimento”, disse um assessor da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Não haverá ‘cavalo de pau’ em quarentena, diz Bolsonaro ao lado de Teich
Ao lado de Jair Bolsonaro na tradicional live de quinta-feira no Facebook, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, procurou novamente, como havia feito na entrevista à tarde logo após ser convidado, mostrar que está alinhado ao presidente nas estratégias para combater o avanço do novo coronavírus.
Antes de passar a palavra ao novo titular da Saúde, Bolsonaro agradeceu ao ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, mas disse que a “linha dele (Mandetta) era voltada quase que exclusivamente para a questão da vida”, sem levar em conta os efeitos do isolamento horizontal na economia do país. “É importante, não tem nada mais importante que a vida, mas sabemos que os efeitos colaterais de uma quarentena muito rígida poderiam causar problemas seríssimos para o Brasil, a ponto de a economia não se recuperar mais”, disse.
Segundo Bolsonaro, as consequências econômicas da quarentena “também levam à morte”. E reforçou o que o ministro havia dito à tarde: não haverá mudanças bruscas em relação ao isolamento social. “Não vai ser um cavalo de pau que vamos dar nessa questão, mas gradativamente o Brasil vai votar a trabalhar”. Ele, no entanto, ressaltou que isso vai depender de governadores e prefeitos, já que o Supremo Tribunal Federal decidiu na quarta-feira 15 que estados e municípios têm autonomia para decretar quarentenas.
Questionado pelo presidente sobre como enxergava a questão, Teich disse que “a gente caminhou para uma separação entre saúde e economia”, ressaltou que não era assim que via o problema e fez um discurso que agradou a Bolsonaro. “Um país que cresce economicamente arrasta com ele o crescimento da saúde, da educação. Essa separação é irreal. Tudo vai influenciar no tempo de vida, na qualidade de vida e no bem-estar. Quando imagino cuidar da saúde das pessoas, é uma combinação de muitas coisas”, afirmou.
E completou: “Quando eu discuto emprego, quando eu discuto economia, estou pensando em pessoas, estou pensando na sociedade. É difícil às vezes você não poder dar o mínimo para a sua família, sei como isso é difícil para um pai”, disse, ecoando de novo um discurso recorrente de Bolsonaro. “Quando você começa a separar uma coisa da outra, você começa a trazer competição para onde deveria haver colaboração. Trabalhar pela saúde vai além do Ministério da Saúde”, afirmou.
Bolsonaro aproveitou, dizendo que muitos não entenderam as suas ressalvas à quarentena. “Eu fui muito criticado por ter ficado muito preocupado com a economia”, disse. “Vamos tomar as medidas que precisam ser tomadas com muito cuidado, com muita responsabilidade”, disse.
E sacou de novo a cloroquina, medicamento cuja defesa não fazia em público desde o dia 9 de abril. Ele vinha se notabilizando pela pregação da possibilidade de o remédio ser fundamental no tratamento do coronavírus, embora isso ainda careça de estudos científicos conclusivos.
“A cloroquina pode dar certo. Por que eu digo que pode? Porque não tem comprovação ainda. Mas pode se chegar à conclusão de que ela é eficaz. O que eu vejo no Brasil são muitos médicos aplicando a cloroquina. A cloroquina não é uma imposição minha, não é uma decisão de quem quer que seja, mas é algo que pode ser eficaz”, afirmou.
Questionado pelo presidente, Teich saiu pela tangente. Disse que quando um medicamento ainda está sendo testado, se criam alguns critérios, disponibilizando-o para algumas pessoas, sempre dependendo de decisão do médico. “Há algumas indicações de que ela funciona e outros colocam alguns questionamentos sobre a eficácia e a toxicidade. Esse equilíbrio entre disponibilizar quando você acha que pode estar funcionando, em situações críticas em que as pessoas podem morrer, você coloca na mão do médico, o médico vai fazer essa escolha, vai ter essa responsabilidade”, disse. E no fim ressaltou que são necessários “dados mais precisos e mais confiáveis”. VEJA
Novo ministro da Saúde diz que existe 'alinhamento completo' com Bolsonaro
BRASÍLIA — O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou nesta quinta-feira que existe um "alinhamento completo" entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, assim como com a equipe da pasta. Bolsonaro e Teich fizeram um pronunciamento no Palácio do Planalto após o anúncio da exoneração de Luiz Henrique Mandetta do cargo.
— Deixar claro que existe um alinhamento completo aqui entre mim e o presidente e todo o grupo do ministério. E que realmente o que a gente está fazendo aqui hoje é trabalhar para que a sociedade retome, de forma cada vez mais rápida, uma vida normal. E a gente trabalha pelo país e pela sociedade — disse o novo ministro.
Teich afirmou que não fará nenhuma mudança "brusca" ao assumir a pasta e defendeu que é preciso ter mais informações sobre as ações que estão sendo tomadas no combate ao novo coronavírus.
— Não vai haver qualquer definição brusca, radical, do que vai acontecer — declarou Teich. — O que é fundamental hoje? Que a gente tenha informação cada vez maior sobre o que acontece com as pessoas sobre cada ação que é tomada. Como a gente tem pouca informação, como é tudo muito confuso, a gente começa a tratar a ideia como se fosse fato e começa a trabalhar cada decisão como se fosse um tudo ou nada, e não é nada disso.
Teich também afirmou que não faz sentido colocar "saúde" e "economia" como questões opostas:
— Isso é muito ruim porque, na verdade, estas coisas não competem entre si. Elas são completamente complementares. Quando você polariza uma coisa dessas, você começa a tratar como se fosse pessoas versus dinheiro, o bem versus o mal, empregos versus pessoas doentes. E não é nada disso.
O oncologista defendeu a necessidade obter "informações sólidas" para decidir qual a melhor ação, entender o momento e definir "qual a melhor forma de isolamento, distanciamento".
— Quanto menos informação você tem, mais aquilo é discutido na emoção. Isso não leva a nada porque isso é absolutamente ineficiente.
— Tudo aqui vai ser tratado absolutamente de uma forma técnica e científica — acrescentou.
Referindo-se ao tratamento dos contaminados com a Covid-19, ele disse que vai disponibilizar o que existe hoje em termos de vacina ou de medicamentos "dentro de coisas que funcionem como projeto de pesquisa".
— Isso vai te ajudar a entender o que faz diferença ou não para as pessoas, para os pacientes e para a sociedade. E isso é um compromisso que a gente tem, entender claramente o que está acontecendo não só no Brasil, no mundo em relação a tudo o que representa cuidar destas pessoas — apontou, prometendo ainda trabalhar na área de dados e inteligência.
Adeus à normalidade -
17 de abril de 2020 | 03h00
Os filósofos sempre interpretaram o mundo. Agora que ele está revirado e quase todos recolhidos na quarentena, a tendência é uma grande produção de cenários sobre o mundo de amanhã, o pós-coronavírus.
Alguns queimaram a largada considerando a pandemia um exagero da imprensa, uma fantasia tirânica. Temiam, à esquerda, uma sucessão de ditaduras e, no outro polo, temiam o desgaste de seus populistas no poder.
Uma ditadura oportunista acabou se instalando apenas na Hungria. Noutros países segue o debate democrático sobre controle da pandemia, liberdades individuais e privacidade.
Em muitos casos, a sensação que tenho é de que as previsões nada mais são do que nossas expectativas projetadas no futuro. Talvez essa sensação pessoal venha das inúmeras vezes na história em que li a frase: o capitalismo está em crise terminal e no seu lugar virá um regime social mais fraterno e humano. Como disse o intelectual sul-coreano Byung Chul Han, o vírus não é revolucionário. As mudanças certamente vão depender das pessoas.
De fato, as esperanças de transformação se apoiavam na classe operária, houve quem as deslocasse para o lúmpen proletariado. O vírus seria o novo agente transformador?
De fato, a crise em que o capitalismo se move no momento é a mais grave de sua história, muito mais ampla e profunda que a de 1929. No entanto, alguns de seus movimentos clássicos se repetem: transformar-se e aprofundar-se com a crise.
A passagem para a economia virtual foi precipitada. As grandes empresas telefônicas, provedoras de internet, estão em alta. A Amazon contratou centenas de novos empregados. O comércio eletrônico ampliou-se, possivelmente liquidando milhares de lojas físicas que já estavam em decadência. Os patrões descobriram o home office e suas vantagens econômicas, pois sem grande perda de produtividade economizam na montagem de pesadas estruturas. É preciso ver humildemente o que vai sair daí, reconhecer também que não prevíamos a extensão da catástrofe.
O papel do Estado se acentua com a clara necessidade de sistemas de saúde universais e frentes de trabalho estimuladas pelos recursos públicos. Mas daí a afirmar que todo o processo de liberalização da economia foi um erro, é difícil. Como enfrentaríamos a pandemia sem o nível de comunicações que existe hoje, sem os milhões de smartphones espalhados pelo País? As velhas telefônicas estatais entrariam em colapso.
Da mesma forma existe uma onda real de solidariedade que nos enche de orgulho. Mas o discurso de que as pessoas serão transformadas e ficarão mais humanas e fraternais por causa do vírus lembra um pouco aquela figura do “novo homem” das utopias passadas.
O homem tal como descreveu Shakespeare e sempre existiu, com sua coragem, suas fraquezas e misérias, continua de pé. Como explicar, ao lado de tantas bondades, que exista gente roubando testes de coronavírus, insultando profissionais de saúde porque entram com suas roupas de trabalho no transporte público? E a quantidade de aplicativos falsos para lesar os que necessitam da ajuda de R$ 600 do governo?
Tudo isso não é para negar as transformações que virão. Apenas para abordá-las de forma mais modesta, como já faziam alguns intelectuais com a realidade imediatamente anterior ao vírus.
Edgard Morin, que já esteve no Basil nos anos 60, fazendo conferências, é um caso de evolução com humildade diante da complexa realidade. Na Inglaterra, Ziauddin Sardar desenvolve os estudos de pós-normalidade, uma época em que, segundo ele, muito pouca coisa faz sentido, pois as velhas ortodoxias morreram e as novas ainda não nasceram. Se os tempos anteriores ao vírus nos pareciam normais e já eram, para muitos teóricos, pós-normais, o que diríamos agora, depois da passagem do corona?
Verdade que alguns políticos previram. Barack Obama fez um discurso sobre o perigo de uma gripe do tipo espanhola de 1918 e disse que era preciso montar uma estrutura global para fazer frente a ela. Mas disse isso num país onde a ciência, o saber acadêmico, a própria imprensa já entravam em declínio sob o impacto do populismo de direita.
Os laços horizontais de solidariedade diante de políticos que se apagam na crise, o intercâmbio planetário de cientistas em busca de saídas para a crise, a entrega cotidiana dos profissionais de saúde, tudo isso é legado benéfico para os tempos que virão. Mas o gatilho de novas crises não será completamente desarmado.
Antes da chegada do vírus já vivíamos uma sucessão de eventos extremos potencializados pelo aquecimento global, negado enfaticamente pelos mesmos que negam hoje a dimensão da tragédia. Antes de entrarmos neste século perigoso, em que um vírus pode ser um acidente de laboratório, pouco adiantava lembrar que estacionamos no século 19 com nosso déficit em saneamento básico. Quem sabe agora, com dinheiro público e força de trabalho, não damos pelo menos esse modesto passo?
Os grandes lances do futuro são imprevisíveis. Mas não há desculpa para protelar os passos óbvios do presente. Em nome não somente das pessoas, mas do próprio sistema de saúde, que hoje tanto agradecemos.
JORNALISTA
Homicídios se mantêm elevados no Ceará durante isolamento
Apesar de política de isolamento social decretada pelo governador Camilo Santana (PT) em 19 de março no Ceará, a violência não diminuiu. Entre 20 de março e 13 de abril, data do mais recente registro da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), foram 302 homicídios no Estado.
A média durante esses 25 primeiros dias de isolamento social é de 12,08 homicídios por dia no Ceará. De 1º a 19 de março, no período que antecede o início do isolamento, foram 229 homicídios em 19 dias. A média é de 12,05 homicídios por dia.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) divulgou o número dos crimes violentos letais intencionais (CVLI) do mês de março. Foram 359 mortes violentas no mês. Em 1º de março chegaram ao fim os 13 dias de paralisação da Política Militar. O motim alavancou os assassinatos em fevereiro, que chegaram a 459. Houve, portanto, uma queda em março, com 100 mortes a menos - redução de 21%. Os CVLIs incluem homicídios dolosos/feminicídios, lesões corporais seguidas de morte e roubo seguido de morte (latrocínio).
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Contudo, na comparação com o mesmo mês do ano passado, o crescimento em março de 2020 é expressivo, apesar do isolamento social. Em março de 2019, haviam sido 189 homicídios. O aumento é de 89,9%. O número mostra que não houve queda das mortes violentas durante o período de isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus. E indica também que, apesar da queda em relação a fevereiro, os crimes contra a vida continuaram num nível elevado após o motim policial de fevereiro.
Foi registrada ainda em março a primeira morte violenta dentro de unidade prisional. O mês teve também o maior número de mortes em intervenções policiais: 10. Haviam sido 8 em janeiro e 7 em fevereiro.
O horário mais comum dos homicídios e demais mortes violentas intencionais ocorridos em março foi à noite. Foram 45,4% dos CVLIs entre 18 horas e 23 horas e 59min. No intervalo da 0 hora às 5h59min, foram 17,5% dos casos. Das 6 horas às 11h59min, 13,9%. De meio-dia às 17h59min, 23,1%.
Segunda-feira foi o dia mais comum das mortes violentas em março no Ceará. Foram 17,3% dos crimes neste dia. Já a quinta-feira foi quando menos houve homicídios, latrocínios e crimes que resultaram em lesões seguidas de morte: 11,4%. A terça concentra 15,6% dos casos; quarta, 12,3%; sexta, 13,6%; sábado, 13,9%; domingo, 15,9%.
Em pouco mais de 100 dias do ano, o Ceará totaliza 1.236 mortes violências, de 1º de janeiro a 13 de abril. Os números até março são consolidados pela SSPDS. Já os dados de 1º a 13 de abril são ainda parciais e passíveis de revisão. OPOVO